Na vergonhosa história da escravidão no
Brasil, a zona portuária do Rio de Janeiro ficou marcada, nos séculos
XVIII e XIX, pelo desembarque de milhares de africanos escravizados. O
Cais do Valongo, aterrado por anos e redescoberto apenas recentemente, é
a principal representação das políticas públicas que tentaram esquecer
esse passado. A população da antiga zona portuária, majoritariamente
negros e pobres, ainda resiste às tentativas de embranquecimento social,
cultivando suas tradições. Seu futuro, entretanto, encontra-se em
risco. A especulação imobiliária promovida pela operação urbana Porto
Maravilha e a ausência de recursos públicos para a moradia social
constituem uma grande ameaça para a permanência dessas famílias.
Objetivando resgatar a memória e
valorizar a cultura negra, foi proposto à UNESCO o reconhecimento do
Sitio Arqueológico Cais do Valongo como Patrimônio da Humanidade. A
proposta, possível referência para outras áreas da zona portuária, é
tornar a Rua São Francisco da Prainha em local de convivência para a
comunidade afrodescendente do quilombo urbano Pedra do Sal.
Foi proposto a sua transformação em rua
de pedestres bem como a recuperação dos imóveis pertencentes ao
quilombo, convertendo-os em usos residencial, comercial e cultural, que
gerem trabalho e renda para a população. A promoção do respeito dar-se-á
através: da regularização fundiária e recuperação do casario,
utilizando recursos públicos em projetos que respeitem o patrimônio; da
garantia de moradia digna às famílias, organizadas em associações,
cooperativas de autogestão ou outros instrumentos de defesa contra o
processo de gentrificação; da geração de renda para a comunidade e para a
manutenção dos imóveis; e do resgate e preservação da memória, com
atividades religiosas, gastronômicas e culturais que valorizem a matriz
africana.
Os residentes do Rio de Janeiro,
artistas, ativistas, performers e outros foram convocados a identificar
um espaço ou relação social na cidade, que segundo eles, produza uma
condição de desrespeito. Em seguida, projetaram intervenções
arquitetônicas, urbanas, performáticas e/ou organizacionais, que
promovam o respeito entre as pessoas em meio à diferença e potencialize o
respeito abundante ao invés de um recurso escasso.
As propostas foram enviadas até o dia 07
de setembro e a premiação ocorrerá no dia 4 de outubro, às 9h, no Museu
do Amanhã. No mesmo dia da premiação, os projetos serão apresentados
nas dependências do Studio-X, localizado na Praça Tiradentes, a partir
das 19h. As dez propostas selecionadas ficarão expostas no museu durante
o mês de outubro. Ambos os eventos são abertos ao público.
O grupo responsável pelo projeto em
parceria com a comunidade quilombola é coordenado pela Universidade do
Quebec em Montreal (UQAM). Todos os projetos inscritos entrarão para o
arquivo global de propostas sobre projeto e política, e poderão ser
exibidas mais tarde.
Anne-Marie Broudehoux é
doutora em Arquitetura pela Universidade da Califórnia em Berkeley. É
professora da Escola de Design da Université du Québec à Montréal desde
2002. Sua pesquisa, financiada pelo Conselho de Pesquisa em Ciências
Humanas do Canadá (CRSH), trata das transformações socioespaciais da
zona portuária do Rio de Janeiro.
Helena Galiza é arquiteta e doutora em Urbanismo pela UFRJ. Trabalhou no governo federal com políticas públicas de reabilitação de áreas centrais, tema em que atua como pesquisadora acadêmica e ativista social, na assessoria técnica a movimentos que lutam pela moradia digna, incluindo as famílias do Quilombo Pedra do Sal.
João Carlos Monteiro é geógrafo, mestre em Planejamento Urbano e Regional e doutorando em Estudos Urbanos pela Université du Québec à Montréal. Há dez anos realiza pesquisas sobre a zona portuária do Rio de Janeiro, principalmente sobre o tema da habitação de interesse social.
Jonathan Simard é arquiteto e mestrando em Arquitetura pela Université Laval. Seu projeto final de mestrado trata da reabilitação de um edifício da comunidade quilombola Pedra do Sal. Ele foi responsável pela apresentação gráfica da proposta e participou da concepção do projeto
Serviço
Studio-X
Endereço: Praça Tiradentes, 48 – Centro, Rio de Janeiro, RJ.Telefone: (21) 2507-8505
Museu do Amanhã
Endereço: Praça Mauá, 1 – Centro, Rio de Janeiro, RJ.
Telefone: (21) 3812-1800
Coordenadora do projeto: Anne-Marie Broudehoux
E-mail: broudehoux.anne-marie@uqam.ca
Endereço: Praça Tiradentes, 48 – Centro, Rio de Janeiro, RJ.Telefone: (21) 2507-8505
Museu do Amanhã
Endereço: Praça Mauá, 1 – Centro, Rio de Janeiro, RJ.
Telefone: (21) 3812-1800
Coordenadora do projeto: Anne-Marie Broudehoux
E-mail: broudehoux.anne-marie@uqam.ca
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