sábado, 2 de junho de 2018

LUGAR DE PRETO E LUGAR DE BRANCO NA SOCIEDADE BRASILEIRA

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Imagem do filme "Será Que Vai Chover?"

Trabalhamos nesse Artigo com as Categorias: Negro/Preto/Branco

Passaram-se mais de 121 anos de abolição da escravidão no Brasil e questiono: Qual o lugar do negro e da negra na sociedade brasileira?

A Lei Áurea foi constituída sem estar alicerçada por uma Política Social que pudesse incluir o Homem negro e a Mulher negra agora como pessoas “livres” na sociedade brasileira e com direitos a educação de qualidade, saúde, moradia, renda e trabalho.

Ações afirmativas, Políticas Sociais desenvolvidas hoje pelo Governo Federal como: o PAC, a bolsa Família e as cotas na Universidade, apresentam-se como uma tentativa de mais um século de atraso, com o objetivo de reparar uma divida Histórica do Governo brasileiro com os Negros e Negras desse país.

Não quero aqui entrar no mérito do valor dessas ações afirmativas e políticas públicas, mas penso que está até certo ponto diminuindo o abismo Social entre o povo negro e os não negros nesse país, entretanto pouco se percebe a diminuição de práticas e ações racistas e preconceituosas. A mais recente dessas práticas foi o episódio que ocorreu num shopping Center em São Paulo, quando um homem negro por está próximo do seu automóvel no estacionamento do shopping, enquanto sua família, esposa e filhos faziam compras, foi brutalmente espancado por seguranças sem que estivesse a menor possibilidade de comprovar que o automóvel era seu: Será que sendo um homem branco teria acontecido tal agressão?

Não cabe aqui nesse momento julgarmos, mais precisamos analisar as práticas existentes em nossa sociedade, uma vez que temos a certeza que vivemos numa sociedade multirracial.

Esse episódio ocorrido em São Paulo é apenas um dos muitos que acontece em todo o país de forma velada e sem que venha a ser divulgado para a sociedade brasileira. Mas o episódio de preconceito e racismo que são tornados públicos como assassinato do compositor negro Gerô que aconteceu em São Luís-MA, cometido por policiais militares de forma hedionda, tortura seguida de morte, foi minimizada pela justiça do Maranhão ao sentenciar os criminosos à pena mínima nesse mês de outubro de 2009.

No inicio desse ano viajei até a região da baixada para acompanhar na qualidade de Diretor Sindical uma Assembléia de Professores que estavam em greve. Após minha participação na referida Assembléia, retornei para São Luis, aproximadamente seis meses depois ao retornar a cidade da referida região fui surpreendido pela coordenadora do Sindicato de Trabalhadores em Educação (SINPROESEMA), que me comunicou que quando da minha passagem na cidade no início do ano, um comerciante da cidade chegou a comentar com ela que: “Nós não somos bestas, ou seja, bobos, você foi até uma cidade próxima e trouxe um preto dizendo que era do sindicato de professores, nós não acreditamos nisso”.

Talvez esse seja um dos episódios velados que me referi anteriormente nesse artigo, que acontece todos os dias em nosso extenso e multirracial país.

Podemos então a partir do comentário do comerciante da baixada maranhense, região que historicamente tem uma grande quantidade de negros e de negras e muitas comunidades remanescentes de quilombos e que durante o apogeu da economia maranhense entre os séculos XVIII e XIX e as grandes produções açucareira, algodoeira e a rizicultura, recebeu grande quantidade de escravos, ou seja, justamente desse lugar que tem uma grande população negra culturalmente enraizada, é que tentaremos traçar um paralelo entre o pensamento dos vigilantes do Shopping Center em São Paulo e o comerciante maranhense. Nos dois casos eram “impossíveis” os atores sociais deixassem de acreditar que os dois negros, o cliente do Shopping e o professor não podiam pertencer aqueles “lugares de branco”. Será que temos espaços definidos para negros e para negras em nossa sociedade? Qual o lugar dos negros? Qual o lugar dos brancos? O que faltou para o professor ser agredido fisicamente por está no espaço delimitado por um etnocentrismo a branco? , Podemos compará a agressão simbólica sofrida pelo professor com a agressão ao homem do Shopping Center?

Esse espaço é construído pelo imaginário social? Esse espaço está politicamente definido? Se não fosse sindicato de professores e sim de outra categoria de trabalhadores, categoria essa instituída socialmente após a abolição como categoria de trabalhadores negros, ou seja, trabalhos exercidos outrora por escravos que agora são “legalmente e politicamente corretos”, estarem sendo exercidos por negros e por negras, livres”.

Observamos a partir dessas impressões que se o preconceito social tende a diminuir a partir de políticas públicas e ações afirmativas, o preconceito racial está bem longe de ser excluído da nossa sociedade em todas as suas camadas.

Podemos também traçar uma ponte entre os espaços, Shopping em São Paulo e baixada maranhense, no primeiro talvez a quantidade de negros seja pequena e no segundo é muito grande, por que então as práticas são tão parecidas?

Estamos aqui mais como o objetivo de levantarmos questões para que possamos repensar nossas práticas nas relações étnicas raciais diárias em nosso país multirracial, verdades absolutas aos nossos questionamentos.

Cabem a nós negros, negras, brasileiros, unirmos pela igualdade. Entendemos que a partir da grande miscigenação desse país, ser negro ou negro no Brasil passa por opção política também.

Carlos Alberto Campelo Costa
Secretário de Políticas Sociais do SINPROESEMA
Membro da UNEGRO-MA (União de Negros e Negras pela igualdade)
Professor de História da rede Estadual e Municipal, São Luis-Maranhão

Publicado em, 01 de Novembro de 2009.

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