Foto: Pedro Vitorino
Por: Eliade Pimentel / especial para o Potiguar Notícias.
Ao encerrar sua visita ao Rio Grande do Norte, o ex-presidente Luís
Inácio Lula da Silva passou rapidamente pelo Centro de Convenções, na
manhã desta quarta-feira (25), em evento promovido pelo Consórcio
Nordeste, entidade formada pelos nove estados da região, e concedeu uma
entrevista coletiva. Considerada a liderança política mais popular do
Brasil, ele falou sobre a viagem, em que está percorrendo o país, sobre a
possível candidatura em 2022 e também respondeu se existe sentimento de
vingança sobre aqueles que lhe imputaram acusações, das quais ele foi
inocentado 15 vezes, ou seja, é considerado inocente em todos os casos
em que foi julgado.
Lula disse que, caso opte por se candidatar e seja reconduzido à
presidência, seu objetivo maior vai ser reconstruir o país, missão para a
qual ele contará com todos os setores da sociedade, da classe política,
à classe trabalhadora. "Eu não faço política por raiva. Quando se entra
na política, tem que se pensar no bem comum, tem que se pensar no povo.
Caso eu volte à presidência, a minha 'vingança' será fazer mais pela
educação, mais pelos jovens, será fazer com que o país cresça. Eu sei o
que me fizeram, em nove meses eu fui alvo de mentiras, mas eu tinha
certeza que a verdade iria prevalecer e a gente iria ganhar",
enfatizou.
De partida para a Bahia, ele explicou que a viagem pelo Nordeste é é um
encontro com a região que mais precisa de atenção nesse processo de
reconstrução do Brasil, açodado, segundo suas palavras, pela política
genocida do presidente Jair Bolsonaro. "Estamos dentro de uma crise
sanitária jamais vista em todos os tempos, sendo que parte dela poderia
ser evitada se nós tivéssemos feito o que toda sociedade civilizada
fez. Se o governo tivesse feito comitê de crise, na hora certa e com
as pessoas certas, principalmente conversado com os governadores e
ouvido os profissionais da saúde, teríamos evitado a morte de mais de
570 mil brasileiros e brasileiras", disparou.
Lula repudiou a atitude da maior autoridade do país, que "continua
tripudiando todas as pessoas, não usando máscara, ignorando os mais de
14 milhões de desempregados e as mais 40 milhões de pessoas que vivem em
situação de insegurança alimentar", disse. Ele relembrou que, em 2012,
quando encerrou o segundo mandato como chefe do Executivo nacional, não
existia mais fome no Brasil e que agora não é possível que um dos
maiores produtores de grãos do mundo considere normal "continuar
assistindo as pessoas morrerem de fome".
O ex-presidente também destacou que Bolsonaro se contradisse em seus
propósitos de campanha, de ser uma via política alternativa, visto que
ele tem se aliado às velhas oligarquias. "Ele caiu na ratoeira da velha
política. Hoje o que temos é um país destroçado. Temos um presidente que
só é amigo da ignorância, das fake news, da mentira, que não conversa
com governadores, com prefeitos, com empresários, com trabalhadores e
com movimentos sociais", disparou o líder que, na véspera (24),
considerado o dia do(a) artista, recebeu a classe artística e os
movimentos sociais para dialogar sobre a conjuntura nacional e discutir
sobre o futuro da nação.
"Vamos precisar reconstruir o Brasil juntos, esse mesmo país que esteve
no sexto lugar da economia quando eu saí da presidência. A tarefa de
reconstruir a nação é de todos nós", enfatizou. E, com um sorriso largo
no rosto, declarou: "Eu comi carne do sol todos os dias em que estive
aqui, a melhor do Brasil". Antes de Lula falar aos jornalistas, a
presidente do Partidos dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann falou aos
presentes e distribuiu o Memorial da Verdade, publicação editada pelo PT
que conta a histórias de todos os processos que resultaram em sua
prisão arbitrária, e que trata de sua inocência.
"Quero agradecer a todos que nos receberam muito bem, em especial a
governadora Fátima Bezerra e à miliância, e dizer que estamos nessa
viagem pelo Brasil, especialmente no Nordeste, difundindo que o
presidente Lula foi inocentado, está livre e é inocente. O que ele
passou foi o maior processo de perseguição a um líder político no
Brasil", resumiu a deputada federal. Além da companheira de Lula,
Rosângela da Silva (Janja), também estavam presentes os políticos
petistas, senador Jean Paul Prates, deputada federal Natália Bonavides,
deputado federal eleito Fernando Mineiro (que briga na justiça pela vaga
ocupada por Beto Rosado) e a deputada estadual Isolda Dantas.
TEMAS TRATADOS NA COLETIVA
Regulação da mídia - Pauta histórica do PT, Lula foi
provocado a falar sobre a Rede Globo e sobre a regulamentação da mídia e
critérios regionais para dirimir as verbas públicas para publicidade.
"Eu trabalho com a consciência sei como foi o escárnio com que foi
criada a Lava-jato. Eu acho difícil que a rede Globo vá se redimir, vá
pedir desculpas. Eu estou com minha consciência tranquila, porque quando
eu fui dar meu depoimento a Moro, eu disse que ele estava condenado por
me condenar. Sobre a comunicação do Brasil, não é possível continuarem
gastando verba apenas na imprensa do Sul e Sudeste, não é democrático.
Vamos sim regulamentar a comunicação no Brasil com o propósito de
democratizar o acesso à informação".
Petrobras - "Eu sei o quanto o petróleo é associado ao
desenvolvimento do Rio Grande do Norte, aqui descoberto ainda no no
século 19. O Petróleo mudou a realidade do estado. A gente tem que
pensar na Petrobras como a maior empresa para promover o desenvolvimento
do Brasil. Quando não tiver mais nada no Brasil, quando venderem as
empresas de gás, as empresas navais, e deixarem tudo na mãos das
multinacionais, terão alcançado o objetivo de destruir a nação".
Pesquisa, eleições 2022, vice e Moro candidato - "Eu
não posso discutir pesquisa, está muito longe ainda, temos cerca de 14
meses para a frente. Mas, eu adoraria que Moro saia presidente para a
sociedade conhecer o carácter dele, mas acho que ele não tem coragem". E
sobre o perfil para o vice de sua possível candidatura, Lula brincou em
princípio, depois voltou a falar sério: "não pode ser mais bonito do
que eu, mais pode ser mais alto do que eu, ou mais forte do que eu. Sei
que será difícil encontrar um José de Alencar, então tem que ser uma
pessoa que pense como eu penso no povo. É como encontrar uma mulher para
casar. Eu já encontrei a minha, então vou escolher com muito cuidado o
vice".
Crescimento da Economia - "Eu acredito que a economia
pode crescer quando os empresários acreditarem nisso, mas o mercado não
só investe para ter lucro, ele investe sobretudo para não ter prejuízo. E
para aumentar a rentabilidade, os estados têm que fazer a sua parte.
Estado junto com empresários, junto com a sociedade, ajudando a conduzir
o crescimento da economia. O Estado é tutor. Se o estado não investe, a
economia não cresce. Por isso construirmos a BR-101, por isso que
pensei em fazer a transposição, que não deixaram Dom Pedro fazer, porque
a gente tem que investir e acreditar no Nordeste. Quando tudo isso
acontecer, o Nordeste voltará a crescer".
Militares na política - "As forças armadas foram
constituídas para defender nossas fronteiras, nossa florestas, defender a
soberania nacional. Se algum militar quiser se candidatar, que se
aposente, só não dá para as forças armadas se meterem na política".
Alianças com MDB no RN - "É preciso lembrar que
Garibaldi Filho foi ministro de Dilma, e eu preciso pensar de forma
civilizada sobre como manter as relações políticas e não posso definir
como serão as eleições aqui. Quem define é o partido do Rio Grande do
Norte. Eu sou um democrata. Eu sou um político civilizado. O que esse
governo faz é pregar o ódio".
Fonte: Potiguar Notícias
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