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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

E eu, não sou uma mulher, Unimed?

 


Por ANA PAULA CAMPOS

Inicio meu relato saudando o Orixá da comunicação, Exú, pedindo que cuide para que  - eu diga a verdade e fique livre da má interpretação das pessoas que agem de má-fé. Em tempo, o título é uma inferência ao célebre discurso da feminista negra, Sojourner Truth, em 1851. Laroyê! Salve os orixás e minhas ancestrais, que me conduzem e me fazem ficar firme e de pé, diante das agruras do racismo! 

 
Como boa parte das pessoas que me acompanham sabe, na última quarta-feira, dia 20 de outubro fui vítima do racismo na unidade de fisioterapia da UNIMED, localizada no bairro Pretrópoles, em Natal-RN. O caso prosseguiu na sexta-feira, ainda na unidade. 
 
Sendo colunista deste jornal, farei uso desde espaço, não apenas visando escurecer os fatos, mas também como forma de refletirmos sobre alguns desdobramentos. Para que o texto não se alongue, diante da impossibilidade de discutir tantas questões em poucas linhas, farei isso em dois momentos diferentes. Duas quartas-feiras seguidas. 
...
 
Em razão da sua última cirurgia, eu e minha filha iniciamos uma rotina de fisioterapia para reabilitação dos seus movimentos. Pela falta de opções de centros de fisioterapia pelo plano, sempre recorremos ao mesmo espaço. Esta é a sua quarta cirurgia, logo, quarta reabilitação. Sendo uma mulher afrocentrada, juremeira e candomblecista, sempre vou a todos os espaços vestida com roupas que remetem à cultura africana e usando minhas contas de Entidades e Orixás no pescoço. 
 
Na quarta-feira (20/10/21), acompanhava minha filha, que estava fazendo um exercício na cama elástica, quando, devido a um desconforto durante sua execução, ela desceu do aparelho. Quase que imediatamente uma mulher branca e loira subiu e iniciou sua sequência.  
 
Educadamente, informei: “com licença, minha filha ainda está usando este aparelho”. Ela desceu visivelmente contrariada e retrucou: “eu pensei que ela tinha acabado, porque ela desceu”. Não respondi. Minha filha deu continuidade ao exercício, mas devido à instabilidade na coluna, a fisioterapeuta solicitou que ela o realizasse no chão, por segurança.
 
Logo em seguida, a tal moça, branca e loira, retorna e, desta vez, dirige-se diretamente à fisioterapeuta com voz debochada: “fulana, ela já acabou?”, dando a entender que eu a estava impedindo de usar a cama elástica. 
 
Continuei fazendo a contagem e observando os movimentos da minha filha em silêncio. Ao final, virei-me para voltar para a sala onde normalmente é finalizado o processo. No instante em que me viro, a mulher branca e loira se joga na minha frente. Diante da sua postura até aquele momento, pude intuir qual era sua intenção e fiquei firme, de pé em sua frente, de cabeça erguida, segurando a mão da minha filha, imaginando que ela estaria assustada com a cena. Uma vez que tive meu trajeto bloqueado, não saí. Por que pessoas negras têm que dar passagem a pessoas brancas que, propositadamente, bloqueiam nossa passagem?
 
Ao perceber meu posicionamento, a mulher branca e loira começa a gritar para que todes na clínica pudessem ouvir: “meu deus, o que é isso?” Ela, novamente, sem nenhum impedimento, arrodeou e seguiu para outra sala; no que eu falei no mesmo tom que o dela: “não está satisfeita, compre uma clínica só pra você!”, e seguimos para uma sala oposta. Lá, percebendo o nervosismo da minha filha, perguntei se ela estava com medo e diante da confirmação, tentei acalmá-la. Ao final, pensando ingenuamente que tudo estava resolvido; fui para casa sem procurar o responsável do recinto. 
 
Na noite da quinta para a sexta, minha filha estava agitada e nervosa, sem conseguir dormir. Disse que estava com medo de retornar à clínica. Eu disse que tudo estava resolvido e que, por segurança, faríamos nossos exercícios longe da mulher branca e loira. 
 
Ao chegar lá, seguimos nossa rotina normalmente. Como faço de costume, depois de posicionar minha filha na bicicleta ergométrica, sentei e dei continuidade à leitura do meu livro. Ironicamente, um livro sobre racismo da filósofa negra, Sueli Carneiro, que vem, em seus artigos, apresentando e discutindo o apartheid racial no Brasil. Olhando ao redor, tive a impressão de estar sendo observada com certo receio, por fisioterapeutas e pacientes, o que se confirmou com o gesto do fisioterapeuta da mulher branca e loira, que veio buscar sua sandália esquecida próxima a mim. 
 
Fizemos todas as sequencias de exercícios tentando manter o bom humor habitual, para dispersar o medo e a dor da minha filha. Ao me despedir, fui informada pela fisioterapeuta de que precisava passar pela administração. O fato em si já me soou bem humilhante e eu já sabia do que se tratava. 
 
Ao abrir a porta e ser reconhecida pelas pessoas – todas brancas – que ocupavam a sala, percebi os olhares espantados e o silêncio imediato. Cumprimentei a todes. Ao entrar, fui encaminhada para uma salinha pequena dentro do mesmo espaço. O administrador, um homem cis branco, pediu que fechasse a porta. Eu estava acompanhada da minha filha. Não vi necessidade de deixá-la fora da sala, uma vez que já havia presenciado toda a cena. Aproveitaria a situação para que ela aprendesse como devemos nos defender em situações como esta, uma vez que ela é surda e passa, corriqueiramente, por situações de preconceito.
 
O homem branco disse que recebeu uma reclamação da paciente –branca e loira. De modo geral, ela estava com medo da minha presença no local porque, segundo ela, eu atravessei seu caminho, impedindo que ela passasse. Alegando estar prezando pela harmonia no local, o homem branco disse que “sondou” com seus funcionários sobre minha conduta na clínica, recebendo ótimas referências das fisioterapeutas anteriores, que atenderam minha filha.
 
 Esperei o homem branco terminar de falar e falei, sem arrodeios, que isso se tratava de um episódio de racismo. O que estava acontecendo era que aquele plano de saúde vem sendo aburguesado nesse Estado e pessoas brancas, maioria nas clínicas da UNIMED, não estão acostumadas a conviver no mesmo espaço com pessoas negras e de terreiro, que seguem altivas e seguras da sua herança ancestral. 
 
Além disso, pessoas brancas estão mal-acostumadas a terem tudo que querem, ou tomarem à força, quando algo não lhes é cedido, como ocorreu com a cama elástica. Ao ser contrariada em seus devaneios de privilégios, a mulher branca e loira forjou uma cena, fazendo uso da imagem da negra raivosa versus a branca sexo frágil, criando um cenário no qual pessoas negras seriam perigosas e estariam colocando em risco a integridade física dos seus iguais, brancos. Toda essa lógica já fora, inclusive, apresentada e discutida pelos psicanalistas negres, Neuza Santos Souza e Frantz Fanon. 
 
Alertei que sou uma intelectual e pesquisadora sobre as questões raciais, referência em todo o Estado do RN, educadora da Rede Pública e de Axé. O que por si só já diz muito sobre a filosofia que sigo, mas que nada disso me protegeria da imagem criada sobre mim no Ocidente. 
 
Ao ouvir meus argumentos com expressão confusa e espantada, como se minha fala não correspondesse ao arquétipo de negra barraqueira e sem estudo, o homem branco saiu em defesa da mulher branca, pedindo que eu “relevasse, pois` claramente a moça não estava bem”. Esta conduta nos evidencia a lógica do pacto narcísico da branquitude, como nos ensina a intelectual negra, Aparecida Bento, e do contrato social da branquitude, irrefutavelmente descrito por Sueli Carneiro em sua tese de doutorado. 

Concluí minha fala relatando como toda a situação afetou o emocional da minha filha e de como eu, enquanto mãe, estava insegura em frequentar o mesmo espaço que aquela mulher branca e loira. Exigi que ela fosse chamada novamente para uma conversa de alerta, como se fez comigo. 
 
Na manhã desta última segunda-feira, ao descer a rampa dou de cara com o administrador, que me informa que, de fato, chamou a mulher branca para conversar e colocar meus apontamentos, no que ela alegou “mal-entendido” e “não ter a intenção de ser racista”. Típico! 
 
A boa notícia foi o posicionamento da UNIMED, que se colocou a minha disposição para resolver o caso da forma que melhor me atendesse, assim como a minha filha, e disposta a dialogar e nos proteger. Isso é um avanço, mas não é mais do que a obrigação da instituição, uma vez que um atendimento humanizado é o que pessoas racializadas e de terreiro esperam e merecem enquanto seres humanos. Sigamos!

Recomeça julgamento de Assange hoje no Reino Unido

 

Recomeça hoje o julgamento do pedido de extradição de Julian Assange aos Estados Unidos. Se for extraditado, Assange pode ser condenado a 175 anos de prisão e apodrecer numa prisão de segurança máxima dos EUA por ter revelado ao mundo os crimes de guerra cometidos por aquele país e aliados.
 
O julgamento de hoje vai tratar da apelação dos Estados Unidos contra a sentença da Juíza Vanessa Baraitser que determinou a não extradição do líder do Wikileaks.
 
A promotoria dos EUA alega que o médico que deu o laudo de que Assange poderia muito provavelmente se suicidar na prisão omitiu o fato de Assange ser pai de dois filhos de sua noiva Stella Moris.
 
Em favor de Assange há dois fatos novos, surgidos depois do julgamento da juíza Vanessa Baraitser em janeiro deste ano: a informação da principal testemunha apresentada pelos Estados Unidos de que seu depoimento era falso e foi forçado pelo FBI (como as delações premiadas da Lava Jato aqui no Brasil). O outro, a informação publicada em setembro no Yahoo de que a CIA teria realizado planejamento para sequestrar e até assassinar Assange.
 
A testemunha dos EUA é o islandês Sigurdur Thordarson, que declarou que mentiu em seu depoimento, pressionado e acobertado pelo FBI. Ele  está preso agora em seu país, Islândia. É "um hacker pedófilo condenado por abusar sexualmente de nove crianças, tendo sido absolvido de cinco outros casos por falta de provas". Ponto importantíssimo em favor de Assange, já que Thordarson foi a única testemunha contra Assange.
 
Outro ponto em favor de Assange foi a reportagem de Zach Dorfman, Sean D. Naylor e Michael Isikoff publicada no Yahoo News que revelou que a CIA tinha planos e estudos para sequestrar e até assassinar o líder do WikiLeaks.
 
O ano foi 2017, quando Assange já estava havia cinco anos asilado na embaixada do Equador e ilegalmente era espionado por câmeras e captadores de áudio infiltrados pelo governo dos Estados Unidos.
 
A ideia do sequestro e até do assassinato surgiu em função de novos pacotes de dados revelados pelo WikiLeaks, que atingiam o coração de operações de hackers da CIA, conhecidas coletivamente como "Vault 7".
 
reportagem publicada no Yahoo é extensa e vale a conferida [em inglês]. Mas, de prático, o que se vê é que os Estados Unidos acabaram por optar usar contra Assange o mesmo que fizeram com Lula e o PT no Brasil: ação judicial. Sequestro e assassinato jurídico. 
 
Com os novos fatos, a liberdade de Assange deveria ser o resultado final do julgamento que recomeça hoje. Mas, aí, muito provavelmente os Estados Unidos vão apelar à Suprema Corte britânica e o calvário de Julian Assange vai prosseguir, pois nem permitir que ele responda em liberdade permitem.
 
Como já escrevi aqui, na prática Assange está sequestrado pelo governo dos EUA na prisão do Reino Unido em que se encontra, numa solitária e quase incomunicável. Para que sirva de lição aos jornalistas de todo o mundo de que não se pode divulgar crimes dos Estados Unidos.
 
Por isso é fundamental que todos lutemos pela liberdade imediata de Assange e sua não extradição aos Estados Unidos.
 
#FreeAssange
COM Bog do Mello

Já é hora de abolir o uso obrigatório da máscara? - Por: Otávio Albuquerque

Foto: jovempan.com.br

Ontem (terça-feira), Eduardo Paes (PSD-RJ), prefeito do Rio de Janeiro, anunciou o fim da obrigatoriedade do uso da máscara contra a covid-19 na cidade. 

O decreto será publicado hoje e prevê a liberação do equipamento de segurança em lugares ao ar livre, além de locais como pistas de dança, em que a capacidade de público seja até de 50%.

O anúncio da suspensão da máscara protetiva foi feito em entrevista coletiva. Daniel Soranz, secretário municipal de saúde, esteve na transmissão ao vivo com Eduardo Paes e fez questão de ratificar a necessidade da proteção para pessoas que apresentam sintomas de gripe. Nos locais fechados, no entanto, ainda é obrigatório o uso da máscara.


O chefe do executivo municipal ressaltou que a decisão tem embasamento técnico e foi tomada conjuntamente com o Comitê Científico, o qual oferece respaldo à Secretaria Municipal de Saúde nas medidas de combate à pandemia do novo coronavírus. Nesse sentido, Paes enalteceu a confiança nos profissionais médicos e ressaltou que, dependendo das circunstâncias, poderá retroceder na decisão. “Se a gente sentir uma piorazinha que seja, a gente volta as regras". disse Paes


Conforme os dados da prefeitura, a cidade atingiu 65,3% da população da cidade totalmente vacinada, com a segunda dose ou dose única. Em relação à primeira dose, são 87,5%. Ademais, a Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) também aprovou um projeto de lei que viabiliza o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos no estado. Portanto, o PL segue para a avaliação do governador Cláudio Castro (PL), que deverá sancionar.

Com POTIGUAR NOTÍCIAS

Por que nos identificamos com Belchior?

 

Compositor cearense inovou com seu som único em abordagem de sentimentos profundos humanos e fez assim sua marca ultrapassar gerações

Há mais ou menos quatro meses eu comecei a fazer psicanálise, daquelas freudianas, no qual o paciente fica deitado dando as costas para o profissional e relata ali suas tempestades emocionais. O que mais me chamou atenção nesse processo, já que o sentido da terapia é “se ouvir”, foi a utilização de trechos da literatura para tentar traduzir meus pensamentos mais profundos.

Nos meus devaneios, menciono muito o poeta Vinicius de Moraes, a magnífica Cecília Meireles e até o obsceno Charles Bukowski. Na música, arte que me move diariamente, também sigo tomando trechos de canções para definir o que se passa no meu coração. E não poderia ser diferente, o compositor mais presente nas minhas catarses é o nosso “Rapaz Latino Americano”, o eterno Belchior, que se vivo fosse completaria hoje 75 anos.

Belchior

A relação do sobralense com esse turbilhão de sensações nos quais só sinto a liberdade de falar no divã, me fez analisar suas letras de outras formas e entender o motivo da sua atemporalidade diante de gerações. Ouvir Belchior é muito mais profundo do que um encontro casual e posso provar isso.

O olhar que mescla som e fúria, faz vir à tona um íntimo de muitos sentimentos não aceitos ou até escondidos pelas pessoas no cotidiano banal.

Somos todos cidadãos comuns, e o compositor decifra isso de uma forma libertadora. Suas canções entram em empatia instantânea com o público por descrever o que muitas vezes não sabemos explicar.

Mesmo surgindo oficialmente como artista na década de 1970, Antônio Carlos Belchior, ex-seminarista e quase médico, ao alçar seus altos vôos na música não bebeu do Tropicalismo, comum entre seus contemporâneos, e criou um estilo muito distinto para a sua obra.

Edgar Allan Poe, Dante Alighieri e até Beatles

Temáticas como “medo”, “angústia”, “solidão” e a “morte” estão presentes nas suas composições mas sem carregar um peso mórbido. De forma genial, o cantor costura tais sensações dentro da vida de todas as pessoas, independente de outros fatores.

São pensamentos tão duros, mas importantes de serem ditos, que suas frases agora seguem estampadas em camisas, quadros, slogans e até anúncios. Na verdade, “Bel” não quer o que cabeça pensa e sim o que a alma deseja e isso pode ser tão questionador, que muitos resolvem nadar nessa onda.

Suas referências são muitas e valiosas, o que torna ainda mais rica, sensorialmente falando, suas ideias musicalizadas. Dante Alighieri é uma dessas inspirações, o poeta nascido em Florença no século XII, também mesclou os pavores humanos ao falar na sua “Divina Comédia Humana” sobre os tão temidos “inferno” e “purgatório”.

O autor vasculhou a essência do homem dentro da sua vastidão de temores diante a morte. Misturando estudos teológicos e da própria filosofia, fazendo de sua literatura um marco para o mundo. Foi dentro dessas outras (auto)questões que Belchior se inspirou para fazer várias de suas letras. Dante Alighieri fascinava tanto o sobralense, que em uma de suas últimas entrevistas, o compositor confessou que estava fazendo uma releitura das obras do poeta.

Outra nítida inspiração para Belchior foi o escritor estadunidense Edgar Allan Poe, principalmente por meio de sua célebre obra, “O Corvo”, no qual o nosso compositor invocou o “BlackBird” em Velha Roupa Colorida, gravada pela pimentinha Elis Regina no seu álbum Falso Brilhante (1976).

A inteligência do cearense é tanta, que em uma jogada de mestre, ainda na composição, ele compara Beatles à Luiz Gonzaga, e afirma que aqui nós temos nosso Assum Preto que gorjeia: passado nunca mais!

Aliás, “os meninos de Liverpool”, são mencionados em outras tantas músicas do artista. Dentre elas, cito o “Comentário a respeito de John” que torna brasileiro o inesquecível John Lennon ao chamá-lo de “João” e afirmar que “o tempo andou mexendo com a gente sim”.

João Cabral de Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Bob Dylan e outros nomes foram embalados na alucinação de Belchior, o que mostra a grandeza de seu “Coração Selvagem” repleto de pressa de viver. O cantor incorporou o Brasil e seus fantasmas escondidos em porões de memórias.

Conheço o meu lugar

Escrever sobre Belchior é sempre um desafio, principalmente na data que celebra seu 75º aniversário. Ele se foi em 2017, mas com essa sua última e talvez maior andança, mostrou que “punhais de amor traídos, completaram seu destino” e se fez eterno no imaginário de tantos fãs pelo mundo afora.

Sem qualquer medo de errar, afirmo que sua imagem é a de maior importância dentro do leque musical cearense. Sua identificação com o público é enorme e ouso dizer libertário. Até quando resolveu se auto exilar de sua carreira, o sobralense fez o que muitos de nós queríamos fazer: jogar tudo para cima e aprender de que lado nasce o sol.

São 75 anos de sonho, sangue e América do Sul! Belchior segue estampado pelos muros do país e invoca uma revolução individual em corpos e mentes. Seu nome faz crer que nas artes, diferentemente do mundo, as pessoas não são substituíveis e vidas não são postas em vão pois permanecem tendo sentido mesmo após do fim.

O tempo pode ter passado, as velas do Mucuripe até estão diferentes, mas a música segue viva em peitos desertos. Os galos, noites e quintais permanecem na memória do cearense, repleta de medo da morte ou do avião.

É Belchior, hoje só resta a saudade do verde marinho, mas sigo cantando muito mais sem esquecer que sou pessoa e conheço o meu lugar! Obrigado, poeta!

Publicado originalmente no Diário do Nordeste. 

Fonte: brasilcultura.com.br