Os debates de sábado (22) se deram em torno do movimento popular
abrangendo as lutas do campo, das cidades e territórios. As lutas indígenas e
quilombolas, dos seringueiros da Amazônia, do povo pobre e negro das periferias
das grandes cidades, dos trabalhadores do campo e pequeno agricultores.
O objetivo da mesa foi expor a situação de importantes lutas
populares com as quais a CSP-Conlutas está envolvida ou que compõem a Central.
A iniciativa é parte da busca de aprofundar essa relação, uma necessidade
criada pela luta de classes. “Uma ação necessária para construir que os debaixo
possam derrubar os de cima”, conforme falou Helena Silvestre, do Luta Popular.
Esta reunião da Coordenação debruçou-se sobre os setores
desprovidos de direitos mínimos na sociedade como terra, moradia urbana ou
vivem superexplorados no trabalho. São os que mais sofrem na lutas por seus
direitos. São o segmento da sociedade que enfrentam cotidianamente a violência,
o genocídio e a criminalização de suas mobilizações.
A realidade dos trabalhadores do campo, assalariados e da
agricultura familiar do interior de São Paulo e de Pernambuco foi um dos temas
abordados a partir das dificuldades enfrentadas, principalmente diante da
agroindustria.
O presidente interino da Feraesp (Federação de Empregados Rurais
Assalariados do Estado de São Paulo) Aparecido Bispo frisou entre outros temas
o problema que trouxe a automatização para o trabalhador do campo, que sem
emprego vai buscar sobreviver nas grandes cidades e na maioria das vezes não
consegue emprego porque o que sabe fazer é plantar. “Não adianta abrir postos
de emprego na cidade, é preciso ficar na terra, produzindo alimentos,
precisamos ocupar as terras desse país”, clamou.
A realidade não é diferente da apresentada pelo dirigente
Francisco Chagas, o Piaui. “Em Ribeirão Preto, Barretos, Araraquara também tem
muito desemprego”, frisou e lembrou do grito de guerra na luta do campo: “Se o
campo não planta a cidade não janta”. Piauí pediu o apoio da Central à
agricultura familiar.
Amaro da Silva da Federação dos Empregados Rurais de Pernambuco
ressaltou o descumprimento da convenção coletiva na região de cana de açúcar e
o quanto é agressivo à população local a agroindústria. “O agronegócio é tão
sério no nosso estado que alavanca a miséria e fome, onde tem isso tem miséria,
fome e desemprego”.
A trabalhadora rural de Pernambuco Maria Joelma denunciou a
perseguição que os trabalhadores rurais sofrem e o quanto tiveram que lutar
contra superexploração. “Em 1993 tivemos a primeira assinatura da convenção
coletiva de trabalho, naquela época muita criança trabalhava, mulheres
desmaiavam, os salários eram divididos em quatro ou cinco vezes”, contou.
Helena Silvestre do Luta Popular abordou a luta por moradia na
cidade, apontando três desafios: construir uma central que fosse capaz de
aglutinar não só trabalhadores do movimento sindical, mas todos os oprimidos
para enfrentar o capital, unificando os trabalhadores da cidade e do campo nas
lutas cotidianas; construir organizações nacionais num país tão grande e, por
fim, a perspectiva internacionalista “a perspectiva de unidade para além do
nosso país, unidade do mundo inteiro”, ressaltou.
A representante do Luta Popular também mencionou a quantidade de
lutas espontâneas por moradia nas cidades. “A nossa classe está em luta, as
ocupações tem acontecido com ou sem movimentos organizados”, acrescentou que
são trabalhadores, trabalhadoras, desempregados, que não conseguem pagar o
aluguel.
Denunciou a burguesia e sua relação com o estado burguês que
governa e legisla em causa própria. “Trabalhador sofre como bicho sem saber
porque está sofrendo”, mostrou a consequência dessa realidade para os
“debaixo”.
Helena finalizou afirmando: “Direito de comer, morar, viver nas
nossas terras, direito de trabalhar, só vamos conseguir na marra organizando os
debaixo pra derrubar os de cima”.
O dia a dia e a luta dos trabalhadores rurais do Acre foram
apresentados por Derci Teles, vice presidente do Sindicato dos Trabalhadores
Rurais de Xapuri, de onde também Chico Mendes foi presidente. Um breve
histórico dessa trajetória desde a fundação do sindicato em 1977 até o processo
de transição da extração da seringueira para a venda de madeiras da região e a
pecuária que provocaram a modernização da escravatura. “A modernização no
Brasil não foi abolida, foi modernizada”, afirmou ao expor a situação em que
vivem os povos da floresta, sob a nefasta política ilegal de corte de madeira
madeira para exportação para países como Japão e China.
As dificuldades da organização do movimento devido à degradação de
dirigentes e manobras de governos locais, estadual e federal levaram a essa
situação.
Explicou como se dão os “empates”, forma de mobilização
desenvolvida pelos extrativistas no final da década de 1970 e dos anos 1980. “É
um grande mutirão onde se mobilizava a população e se ia pra frente do
desmatamento pra sensibilizar trabalhadores que estavam prestando serviços aos
fazendeiros”, mas garantiu que a mercantilização dos bens comuns da natureza
está agravando a marginalização de seu povo. “Se nada for feito os
extrativistas estão com dias contados”, sentenciou.
O cacique Guarani Kaiowá Ladio Veron, da aldeia Takuara em Mato
Grosso do Sul, falou sobre o quanto os povos indígenas são violentados em seus
direitos básicos e os diversos casos de assassinato por fazendeiros e jagunços
da região. “Falta água potável, falta alimentação, estamos na beira da estrada,
nossas crianças estão morrendo”, lamentou.
Explicou a situação da região que não proteção ao índio,
demarcações não são cumpridas e que desde 2003 380 indígenas foram assassinados
na região e 400 estão presos.
“Já perdi meu pai três irmãos, uma sobrinha, um tio, na aldeia
Takuara pra retomar aquela terra, se precisarem me prender podem prender, mas
meu povo vai ficar lá”, disse.
Uma das características do povo Guarani Kaiowá é não desistir da
luta de reaver suas terras e ter direito a viverem de acordo com sua cultura,
por isso são tão agredidos pelos fazendeiros da região e pelo agronegócio com a
anuência de governos locais e do governo federal.
Os povos indígenas da região de MS se reúnem em Aty Guassu, grande
assembleia das diferenças indígenas, e a presença do cacique na reunião da
Coordenação foi para pedir apoio ao fortalecimento da organização de seu povo e
conhecer outras formas de luta com as quais querem estreitar relações.
Os quilombolas do Maranhão tiveram sua experiências abordadas por
Wagner da Silva, do Moquibom (Movimento dos Quilombolas do
Maranhão). “ A violência dos fazendeiros que tocam fogo nas casas, a não
garantia do governo de meios que nos permitam a utilização de terras
quilombolas” foram alguns do empecilhos apresentados que dificultam a luta na
região.
O Moquibom faz parte de uma articulação nacional, com quebradeiras
de coco, indígenas e pescadores. Em 2010 decidiram se organizar por fora do
governo petista, buscando uma organização independente.
Wagner ressaltou que a luta pela terra é a luta pela vida do
quilombola: “Ele não compreende a vida sem a terra, sem tocar seu tambor ou
fazer seus rituais, quando retoma a terra, está resgatando a sua história”.
Após a exposições da mesa, abriu-se para um debate rico, quando
novas experiências foram apresentadas e esforços para o fortalecimento desta
luta que envolve a unidade de tantos setores que compreendem a diversas das
lutas que ocorrem no Brasil.
A iniciativa foi saudada por muitos que defendem a peculiaridade
da CSP-Conlutas em aglutinar setores do movimento sindical com popular,
juventude e lutas contra a opressão, como forma de organização que reflete a
necessidade de organizar os que lutam no país.
Os trabalhados de sábado encerram-se com as reuniões dos setoriais
e, à noite, a Central comemorou com uma confraternização os 10 anos da
Conlutas.
Fonte: CONLUTAS
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