As
desigualdades raciais, de gênero e sociais continuam altas no país. A
constatação é do relatório do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), divulgado esta
segunda-feira (28). Os dados indicam que as mulheres negras estão em
desvantagem em relação a outros grupos.
Carla Lima é a primeira
da família a concluir o ensino superior. Ela, assim como muitas mulheres
negras, considera que ainda tem que trabalhar a mais para provar a competência
e se manter na profissão que escolheu."Esse acúmulo de trabalho, essa
[necessidade] de mostrar eficiência, e dizer: 'eu cheguei lá por mérito', isso
é muito dolorido", afirma a advogada. "Tem o quanto abandonamos de
nossa vida pessoal, social e afetiva", destacou, sugerindo que nem todas
as pessoas tem oportunidades iguais.
O relatório elaborado pelo Grupo de Estudos
Disciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA), do IESP, mostra que, apesar do
desenvolvimento econômico dos últimos anos, as desigualdades não diminuíram e
dificultam a vida dos brasileiros. O documento analisou os números de 2011 a
2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), elaborada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo a pesquisa, pessoas pretas e pardas
(chamadas negras pelo próprio IBGE), quando somadas, são maioria entre os
brasileiros, 55% da população. No entanto, em relação aos rendimentos desse
grupo, à escolaridade e às classes sociais, estão em desvantagem quando
comparadas às pessoas brancas, no topo dos indicadores.
As mulheres negras, em geral, estão sempre nos mais
baixos patamares. O rendimento delas era o menor da pesquisa, R$ 800, enquanto
as mulheres brancas obtinham, por mês, R$ 1.496. Já homens brancos alcançaram
quase o dobro do rendimento médio das pretas e pardas, R$ 1.559.
No quesito educação, as desigualdades permanecem,
mostrando que o caso da advogada Carla Lima é exceção. O estudo do GEMAA afirma
que entre as raças, não há mobilidade social. Ou seja, é muito difícil para uma
pessoa negra ascender socialmente e melhorar de vida ou se manter lá.
"Pretos e pardos que nascem, ou melhor, que
estão no alto, que têm os melhores empregos, têm mais dificuldade de manter
esse status social, tendem a cair mais do que os brancos que nascem nessa
condição", explicou o cientista político João Feres Júnior, que é coordenador
do GEMAA e do levantamento com base na PNAD. Ele também afirmou que os negros
que nascem pobres têm mais dificuldade de subir para as ocupações mais altas ou
médias do que os brancos que nascem pobres.
A pesquisa alerta que, em tempos de crise, a
tendência é que as desigualdades se aprofundem, como é o caso do desemprego. A
falta de trabalho já atinge de maneira mais severa a população preta, depois a
parda e, por fim, a branca. "A tendência histórica em sociedades marcadas
pela desigualdade, como a nossa, é de as elites perderem menos em tempos de
crise e ganharem mais em tempos de bonança", conclui o documento,
defendendo a manutenção de políticas públicas específicas para negros.
Fonte: Agência Brasil
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