A edição do último domingo – 25 de setembro, da revista Época trouxe
em sua capa uma manchete que diz: “Educação em ruínas”. A ilustração da
capa deu destaque para o prédio em construção que abrigará as futuras
instalações da UNILA – Universidade Federal da Integração
Latino-Americana, localizada em Foz do Iguaçu.
À primeira vista, a percepção do leitor é de que a matéria irá
abordar o desmonte em curso na educação, atingida com os cortes que
reduziram as verbas de custeio e praticamente zeraram os recursos para
investimento nas universidades, em 2017. A UNILA é um caso destes, junto
com quase uma dezena de universidades federais em implantação no Brasil
que sofrem as consequências destas medidas. A matéria, no entanto, não
dedica uma linha sequer ao efeito devastador do corte. Critica a
ampliação das vagas nas universidades públicas nos anos dos governos
Lula e Dilma, aponta para o alto custo de manutenção do sistema de
universidades e escandaliza o orçamento da construção do campus da
UNILA. Na ânsia de impressionar seus leitores, chega a afirmar que a
área do campus possui 380 mil quilômetros quadrado, o que se fosse
verdade corresponderia a uma área equivalente a dois estados do Paraná,
onde a UNILA está localizada.
No subtítulo da matéria, ainda na capa, vê-se que não se trata
propriamente de uma abordagem sobre educação, quando se lê: “Escolhas
ideológicas e erros de gestão estão destruindo as universidades públicas
brasileiras”. Como o próprio título diz, o alvo central é a questão
ideológica e o caráter público das universidades, e neste contexto, a
UNILA tem sido o modelo principal a ser combatido por setores da extrema
direita. Há meses, a UNILA está sofrendo uma escalada de ataques de
natureza ideológica por parte dos setores mais conservadores do
Congresso e da grande mídia.
Em outubro de 2016, o locutor da rádio Jovem Pan, Marco Antonio Villa
teceu comentários contra a UNILA, esbanjando ignorância diante das
nomenclaturas das disciplinas de alguns cursos oferecidos pela
universidade. O senador Álvaro Dias usou a tribuna do Senado e as redes
sociais para desferir ataques contra a UNILA, classificada por ele como
“bolivariana”. Recentemente, o deputado Sergio Souza, do PMDB do
Paraná propôs a extinção da UNILA e no lugar dela, a criação de uma
universidade vocacionada para o desenvolvimento do agronegócio da região
oeste do estado. A proposta não avançou.
A abordagem da revista Época demonstra a continuidade de uma antiga
aliança entre os setores mais retrógrados do Congresso e a grande mídia
para destruir o programa que expandiu e ampliou o acesso às
universidades públicas brasileiras, e no caso da UNILA, deu um passo
histórico na direção da integração científica e cultural da
América Latina. Se, para estes setores a UNILA é uma escolha ideológica
do governo Lula, combatê-la e esmagá-la é uma questão de honra e um
desafio também ideológico.
Estes algozes exercem uma patrulha semelhante
à das milícias da Escola Sem Partido, como numa guerra contra o livre pensamento. É neste terreno que a UNILA está
situada, com o agravante do caráter xenofóbico que possui seus mais
vorazes críticos. A presença de estudantes estrangeiros na UNILA também é
alvo de ataques de ódio praticados por agressores encorajados por
alguns políticos e pelos grandes meios de comunicação de massa.
Exemplo
incontestável foi o do estudante haitiano agredido enquanto seus
agressores gritavam dizeres xenofóbicos e evocavam temas políticos para
justificar que o estudante deveria voltar para seu país de origem.
Recentemente, uma Audiência Pública no Senado convocada pela Comissão
dos Direitos Humanos e presidida pelo senador Paulo Paim discutiu a
crise das universidades e dos institutos federais. A Audiência contou
com as presenças de representantes de entidades da educação, MEC e
representantes das IES, como o reitor da UNILA, Gustavo Vieira. O
principal encaminhamento da Audiência foi o da criação da Frente
Parlamentar em Defesa das Universidades Públicas em Implantação, que
inclui a UNILA, a UNILAB e outras seis instituições. A criação da Frente
é uma forma de legitimar o trabalho de parlamentares alinhados com a
pauta da defesa dessas universidades, como já demonstrado
pelos senadores Paulo Paim e Fátima Bezerra e pelos deputados Orlando
Silva e Maria do Rosário.
A defesa da universidade pública brasileira e da UNILA enquanto
estratégia de integração regional está distante dos interesses
corporativos dos grupos empresariais que pretendem feudalizar o sistema
de educação brasileiro. A ofensiva destes grupos se deve ao fato de que,
sob a liderança de Michel Temer é possível fazer todo o serviço sujo,
como fechar UNILA a pedido de empresas agroindustriais, como a Frimesa, a
Cocamar e a Lar. Os nomes destas empresas estavam citados na
justificativa do deputado Sergio Souza, quando propốs a uma Medida
Provisória, a emenda que previa a extinção da UNILA.
Servindo-se de panfleto destes políticos e grupos empresariais, a
revista Época bradou que os ricos devem pagar para estudar e os pobres
ocuparem vagas gratuitas nas universidades públicas. A UNILA é
alternativa de universidade da integração para estudantes das
periferias de diversos países latinoamericanos. Uma das tragédias que
esses países compartilham em comum são suas crianças e jovens segregados
em escolas, onde os que pagam têm direito à qualidade e os que não
pagam, não. As elites que querem destruir a UNILA jamais admitiram pagar
para o filho do pobre estudar na mesma escola que o filho deles.
O mesmo não fariam nas universidades.
Nós bem os conhecemos.
#UNILAfica
Nós bem os conhecemos.
#UNILAfica
*Rafael Gomes é estudante da UNILA
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