Matias Spektor revelou a existência do documento |
O memorando da CIA traz informações novas sobre a
política de execuções sumárias na segunda
metade da ditadura militar
O Palácio do
Planalto decidiu sobre a vida e a morte de presos políticos sob a guarda do
Estado. Ou seja, além da já sabida luta contra os guerrilheiros do Araguaia e
outros grupos organizados, o documento implica os presidentes Emílio Garrastazu
Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo na política de eliminação de
oponentes desarmados.
O documento ainda revela que Geisel,
dias depois de assumir o poder, chamou para si a responsabilidade de arbitrar a
respeito dessas execuções. Ele iria abrir o regime, mas o faria mantendo viva a
caça a subversivos perigosos. Essa transição
ocorreria junto com a linha mais dura do regime, e não em detrimento dela.
A fonte primária também estima em 104
o número de execuções sumárias pelo Centro de Informações do Exército durante
os 12 meses anteriores ao encontro relatado, no governo Médici. E joga luz sobre
o fato de que o general Figueiredo, ao promulgar a Lei da Anistia, estava, na
prática, concedendo uma anistia a si próprio.
Há ainda muito que não sabemos. Como a CIA obteve a informação? Aqui, há três possibilidades: uma escuta secreta, um depoimento direto de um dos quatro participantes ou um relato de segunda mão, dado por um assessor do governo brasileiro de segundo ou terceiro escalão.
Qual era a avaliação da CIA a
respeito da conversa? Isso o memorando não revela. Para responder a essa
pergunta, será necessário suspender o sigilo dos trechos ainda tarjados nesse
documento, que permanecem fechados à pesquisa pública, ou correr atrás de
fontes novas.
Durante mais de 30 anos, a CIA
guardou seu segredo a sete chaves. Mas a documentação da época sugere que a
agência também manteve a informação sobre essa conversa longe da própria
embaixada americana no Brasil. Ao que tudo indica, os diplomatas lá lotados não
tinham informação sobre a ligação dos presidentes brasileiros à política de
assassinato de opositores.
Este documento é apenas um de muitos
outros que virão a público nos próximos anos, graças à abertura sistemática de
fontes secretas nos Estados Unidos sobre aquele período. É lamentável que os
documentos brasileiros daquela época tenham sido destruídos, perdidos ou
permaneçam escondidos.
"O que sinto nesta ocasião/ o terei de comunicar,/ algo triste vai ocorrer,/
algo horrível nos sucederá./ É a morte que surgirá,/ galopando
na escuridão,/ já sou velho e sei que ela virá"
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