A maioria das universidades e institutos
federais não aderiu ao ensino remoto durante a pandemia do novo coronavírus
(COVID-19). Conforme página criada para monitorar o
funcionamento das Instituições de Ensino Superior, apenas nove das 69
universidades federais implementaram este modelo e, mesmo assim, com grandes
problemas e dificuldades. A Portaria nº 544 do MEC, de 16 de junho, prorrogou
até dezembro a autorização para aulas online.
As universidades que aderiram às aulas online
são: do ABC (UFABC), do Ceará (UFC), da Fronteira Sul (UFFS), do Maranhão
(UFMA), de Mato Grosso do Sul (UFMS), de Santa Maria (UFSM), de Itajubá
(UNIFEI) e, mais recentemente, de Alfenas (UNIFAL) e Lavras (UFLA). A FASUBRA
Sindical ouviu representantes de entidades de base e estudantes sobre como anda
a adoção desse modelo. O resultado é unânime: a improvisação e precarização
demonstram que não há preocupação com os estudantes e sim com o desmonte da
universidade pública.
UFABC – ABC
Para Felipe Cesar Torres Antonio, coordenador do
SinTUFABC (Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do ABC) e
também da FASUBRA, a UFABC conseguiu “maquiar” o seu programa de ensino remoto
como se fosse um programa emergencial. “Nós do Sindicato, junto com o DCE
(Diretório Central dos Estudantes) e diversos membros da comunidade tentamos
combater a sua implementação, infelizmente sem sucesso”, lamenta.
Na opinião de Felipe, o programa tem um formato
totalmente excludente porque não contempla diversas questões da vida familiar,
em um momento em que a universidade foi transferida para a casa do aluno. “Nem
todos têm os mesmos recursos. O Ensino Continuado Emergencial (ECE) foi
aprovado de uma forma que não enxerga o corte de renda. Ele pressupõe que as
pessoas têm acesso à internet e à tecnologia, não é inclusivo, não pensa em
estrutura familiar. É um projeto elitista, segregador. Ele ensina que no
momento de dificuldade devemos excluir o nosso semelhante, principalmente os
mais vulneráveis”, destaca.
Victória Rossetto Costa, graduanda em Ciência e
Tecnologia e representante Discente da Comissão Permanente de Acessibilidade da
UFABC, também concorda que falta acessibilidade nessa modalidade. “Não existem
recursos necessários para os estudantes com deficiência, o que é grave porque
desrespeita o artigo 55 da Lei 13.146”, afirma.
Kaio Barbosa Laurentino, formado em licenciatura
em Filosofia e bacharelado em Filosofia e Políticas Públicas na UFABC, concorda
que há uma grande contradição ao instituir o ensino emergencial. “A própria
UFABC, por ser uma das universidades que foi modelo do programa de
reestruturação universitária, o Reuni, carrega essa discussão de inclusão que é
um dos pilares do projeto pedagógico”, lembra.
UFFS – Fronteira Sul
Alexandre Luis Fassina, coordenador-geral do
Sindtae (Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação de
Universidades Federais nas cidades de Chapecó, Estado de Santa Catarina, Cerro
Largo, Erechim e Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul, Laranjeiras do Sul e
Realeza, Estado do Paraná) explica que, na UFFS, uma resolução do Consuni
(Conselho Universitário) normatiza a modalidade, mas as aulas só podem ser
ministradas mediante solicitação do docente e se todos os alunos concordarem.
“No total, a adesão da modalidade é baixa”, afirma.
Na avaliação de Alexandre, as principais
dificuldades são acesso à infraestrutura por parte de alunos, computador e
mesmo internet, além da ausência de capacitação dos docentes, o que prejudica
muito a qualidade do ensino e aprendizagem. “Não é uma modalidade usual na
UFFS, apenas pequena porcentagem são semipresenciais, dificilmente
ultrapassando 20% da carga horária total”, disse.
UFC – Ceará
Conforme Edvanira Oliveira Brito (Nira), formada
em Geografia, pós-graduada em Gestão Ambiental, técnica-administrativa da base
do SINTUFCE (Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do Estado
do Ceará) e representante dos TAEs no Conselho Universitário da UFC, a educação
remota é importante em situações peculiares e específicas, cuja implementação
deve ser planejada e adaptada.
“O ensino remoto cabe bem a algumas comunidades,
para pessoas que não têm tempo disponível para estar num processo presencial e
que têm como única opção para capacitar, ter uma instrução”, analisa.
O coordenador-geral da FASUBRA José Maria Castro
destaca que a Federação é contrária ao ensino remoto. “Achamos que é um
equívoco hoje a reitoria da UFC estar fomentando esse tipo de aprendizagem”,
criticou.
UFSM – Santa Maria
Luiz Eduardo Boneti Barbosa, estudante de
Direito da UFSM e integrante do DCE (Diretório Central dos Estudantes), diz que
foi implementado o programa Rede (Regime de Exercícios Domiciliares Especiais),
mas o diretório defende a suspensão imediata do projeto. “Foi uma decisão
unilateral da atual gestão da reitoria, não foi construída em conjunto com as
categorias, sendo que afeta diretamente os docentes e os discentes”.
Ele defende que questões centrais devem ser
avaliadas, como o acesso a meios digitais de qualidade; a saúde mental, por
conta da pandemia; e a situação financeira das famílias. “A gente promoveu uma
pesquisa de opinião pública e as respostas que obtivemos, mais de mil,
mostraram os problemas que a adoção de um regime remoto traz”.
A FASUBRA reconhece que
neste momento é necessário manter e ampliar o isolamento social como forma de
manutenção da vida. Reconhece também o papel fundamental que as universidades e
institutos federais têm no combate à COVID-19, tanto pelo desenvolvimento
científico e produção acadêmica, como pelas atividades de atendimento à
comunidade em campanhas de solidariedade e por meio do atendimento nos
Hospitais Universitários (HUs) que estão na linha de frente de combate.
As Instituições Públicas de Educação têm o papel
de focar na utilização dos recursos tecnológicos e também financeiros para
garantir a saúde mental, a saúde coletiva, além de desempenhar atividades que
impulsionem o combate ao novo coronavírus. Não concordamos com o uso da
pandemia para “passar a boiada” nem “colocar a granada” no bolso, como disseram
os ministros de Bolsonaro.
Educação não é mercadoria!
Fora Bolsonaro e Mourão!
Todas as Vidas Importam!
A Vida Acima do Lucro!
Fonte: FASUBRA
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