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terça-feira, 29 de agosto de 2017

Documentário revisita trajetória da "inconclusa" anistia brasileira

Memórias Reveladas/Arquivo Nacional
Vitor Nuzzi - Rede Brasil Atual

Filme será lançado nesta segunda, quando se completam 38 anos da lei, e discute importância de sua revisão

Em Olhares Anistia, o diretor do documentário, o cineasta e historiador pernambucano Cleonildo Cruz, diz que busca "decodificar e revisitar a luta pela anistia" no Brasil. Enquanto narra o processo político que resultou na Lei 6.683, de 28 de agosto de 1979, o autor quer estimular o debate sobre a necessidade de revisão da norma, algo que o Supremo Tribunal Federal (STF) não permitiu, em 2010, mas que segue na pauta da Corte. O filme, afirma Cleonildo, termina "expondo a multiplicidade de opiniões" sobre o tema e o caminho para buscar uma justiça de transição "que ainda hoje torna a anistia inconclusa".
 
O documentário será lançado nesta segunda-feira (28), quando se completam 38 anos da lei, em Recife, seguido de debate com o ex-preso Gilney Viana, o ex-exilado Anacleto Julião e o advogado Fernando Coelho, presidente da Comissão Estadual da Memória e da Verdade Dom Helder Câmara. Tem previsão de exibição na última semana de setembro em Minas Gerais e em novembro no Rio Grande do Sul. Em dezembro, será exibido no Museu da Memória e dos Direitos Humanos de Santiago, Chile. Cleonildo também é autor de filme sobre a Operação Condor, sobre a união entre ditaduras sul-americanas nos anos 1970 para perseguir militantes de esquerda.
 
Aprovada sob protestos pelo Congresso em 22 de agosto e sancionada uma semana depois, a lei teve a peculiaridade de ser discutida e votada ainda durante a ditadura. Em 1979, assumia aquele que seria o último dos generais-presidentes, João Figueiredo. Seria a anistia "possível", em meio a ofensivas da linha dura contra o tímido processo de abertura política, com atentados a bomba em bancas de jornal e os que aconteceram na seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que matou a secretária Lyda Monteiro, em 1980, e no Riocentro, em 1981, que terminou com a morte de um militar envolvido na frustrada operação.
 
Militares como o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como chefe do Doi-Codi paulista e torturador, são ouvidos no documentário. "Não poderia me furtar de ouvir os militares. Pretendo revelar as perspectivas de ambos os lados, extrair de cada fato o contraditório", diz Cleonildo, que falou com Ustra durante um encontro de militares em Brasília. 
 
A Lei de Anistia segue sendo usada como argumento jurídico para barrar pedidos de punição de agentes do Estado envolvidos com tortura, morte e desaparecimento de militantes políticos durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Ainda hoje, o país resiste a investigar crimes cometidos durante aquele período.
 
Ustra repete uma palavra: esquecimento, esquecer. O passado deve ficar para trás. 
 
Esquecer como?, pergunta-se Criméia Schmidt de Almeida, militante e sobrevivente da Guerrilha do Araguaia. "Ele foi responsável pela tortura de toda a minha família."
 
Para o jurista Fábio Konder Comparato, a anistia brasileira foi um "atestado de impunidade para todos os militares e agentes policiais que partiram da repressão".
 
Além de Crimeia, Comparato e Ustra, o documentário traz depoimentos da ex-presidenta Dilma Rousseff, do ex-deputado e preso político Adriano Diogo, o também ex-preso Theodomiro dos Santos, o  jurista Ives Gandra da Silva Martins e os procuradores da República Eugênia Gonzaga e Marlon Weichert, entre outros. Com duração de 70 minutos, o filme começa com imagens do julgamento do STF em 2010.
 
Com produção da Tempus Comunicação, o roteiro é assinado pela jornalista Micheline Américo, que ressalta o conteúdo polêmico do trabalho na atual conjuntura "polarizada" da política. Assim, acredita, as reações do público "podem variar da náusea à empatia".


Cinco dos 11 juízes que compunham o Supremo naquele 29 de abril saíram: Eros Grau (relator), Ellen Gracie, Cezar Peluso, Ayres Britto e Joaquim Barbosa, que não votou por estar de licença médica. Dias Toffoli declarou-se impedido, porque era advogado-geral da União. Muitos ainda esperam que a Corte reveja a sua decisão – sete votos contra a revisão da anistia e dois favoráveis (Ayres Britto e Ricardo Lewandowski). A Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 153 segue à espera, em mais um capítulo incompleto da história recente brasileira.

Carta Maior

Projeto dá visibilidade a mulheres negras e indígenas na área tecnológica

Divulgação/Olabi MakerSpace
Projeto possibilita o mapeamento e a participação de mulheres negras e indígenas na área de tecnologia

Empoderar e dar visibilidade às mulheres negras e indígenas nas áreas tecnológicas. Este é o objetivo da Pretalab, uma iniciativa que utiliza a tecnologia como ferramenta de transformação social, buscando mudar o que está culturalmente associado às mulheres negras e indígenas, no Rio de Janeiro. De acordo com Silvana Bahia, comunicadora social e diretora de projetos do Olabi, depois de perceber a baixa representação de mulheres negras e indígenas na tecnologia, as fundadoras da organização social sentiram a necessidade de alterar essa realidade. Isso porque, das 19 mulheres citadas na história científica no Brasil, nenhuma é negra; apenas 10 mulheres negras se formaram na Escola Politécnica da USP em 120 anos; e 4% é o percentual de negras entre as fundadoras de startups de tecnologia comandadas por mulheres nos EUA. O projeto PretaLab possibilita o mapeamento e a participação de mulheres negras e indígenas na área de tecnologia, fazendo uma rede de colaboração, além de oferta de oficinas como o WordPretas, em parceria com "minasqueprogramam".

Como surgiu a Pretalab?

A Pretalab é uma iniciativa do Olabi - organização social com foco na promoção da diversidade na produção de novas tecnologias. Nós nascemos em 2014 com a missão de democratizar o acesso às ferramentas e às máquinas de fabricação digital, partindo da ideia de que a inovação está na mão de quem tem as ideias, e não apenas nos grandes centros de pesquisa. Em 2016, já tínhamos a ideia de criar um hub [centro] para mulheres negras trocarem saberes em tecnologia. Só que não conhecíamos mais do que dez meninas negras no Rio de Janeiro que trabalhassem no campo da inovação e tecnologia, considerando os limites da nossa bolha. Decidimos mudar de estratégia, porque, quando começamos a pesquisar dados sobre gênero e raça nas tecnologias, vimos que esse recorte interseccional não é feito nas pesquisas, geralmente. Hoje, temos muitos dados sobre mulheres nas tecnologias (o que é muito bom), mas é complicado olhar para essa questão sem a interseccionalidade que ela demanda, sobretudo quando falamos de Brasil - o último país a abolir a escravidão. A gente olha para os dados do levantamento feito pelo grupo Poligen da USP que diz que em 120 anos a Escola Politécnica da USP não formou nem 10 mulheres negras, mas quando a gente pensa que esse ano completou 130 anos da abolição, a gente entende por que é impossível a USP formar mais mulheres negras em 120 anos.

Hoje, a Pretalab é uma iniciativa com dois objetivos gerais: levantar dados sobre mulheres negras e indígenas nas tecnologias a partir de um mapeamento colaborativo na rede e uma ação de comunicação: estamos fazendo dez vídeos para a internet com meninas e mulheres que consideramos referência nesses campos para inspirar outras meninas e para que elas possam considerar esse universo para elas também.

Como você avalia a participação de mulheres negras e indígenas na produção de ciência e tecnologia?

Sabemos que somos poucas, mas sabemos que existimos. Porém quando a gente não tem informação ou dados é difícil até dizer que existimos. No final do dia, o que a gente quer é levantar essa pauta e influenciar políticas de acesso e permanência dessas mulheres, no mercado de trabalho ou em instituições de ensino formal. Acreditamos no protagonismo de negras e indígenas nesses campos, porque sabemos que existem muitas de nós produzindo e usando tecnologias para diferentes fins.

Temos uma teoria de que essa ausência está ligada diretamente a dois fatores: falta de acesso e referência. Acesso porque estudar no Brasil é privilégio e aqui classe tem cor. Dentro do guarda-chuva “acesso” também estão questões econômicas e de língua. A maioria desses conteúdos é em inglês e sabemos que poucos são os pobres que falam outro idioma em nosso país. É muito difícil você imaginar algo ou atuar em algum campo que você não vê ninguém parecido contigo. Normalmente, esses lugares techs estão destinados aos filhos e às filhas dos patrões. Para nós, negras e indígenas, ter a profissão de empregada doméstica é um destino quase certo. Minha avó era empregada doméstica, minha mãe é empregada doméstica. Costumo dizer que contrariei as estatísticas quando não me tornei uma.

As mulheres ainda são minoria nessas áreas ainda predominantemente masculinas. Que iniciativas podem contribuir para a inclusão?

A primeira iniciativa é olhar para essa questão e discutir muito, tanto no campo profissional como no campo da educação. Não é possível a sociedade achar normal só ver homens brancos ocupando esses espaços. É só a gente olhar para esses eventos de tecnologia e inovação, normalmente quem discute nas mesas são homens, brancos e de classe média alta. De alguma forma isso hoje está mudando, embora precisemos avançar muito. Mas também acho que, mesmo entre as mulheres brancas, tem que existir uma solidariedade para que as mulheres negras estejam lá também e isso se passa primeiramente por olhar essas questões. Nós, negras, somos a base da pirâmide social, lideramos os piores índices quando o assunto é mercado de trabalho, saúde e educação. Somos as mais desempregadas, as que mais morrem em situação de partos, feminicídio, entre outros índices que são tão tristes e me deixam angustiada. Isso significa que ser mulher é um guarda-chuva mais amplo do que parece e dentro dele existem muitas camadas. Mulheres negras não são todas iguais, precisamos reconhecer a diversidade que existe quando usamos essas categorias.

Qual a importância da apropriação das tecnologias?

Hoje, o mundo é cada vez mais digital. Não voltaremos ao analógico. E se a gente não entender minimamente os processos em que estamos inseridas, isso nos deixa com muita desvantagem. Essas desvantagens são fruto de um processo histórico e precisamos olhar para elas. Não é uma ou duas iniciativas que vão dar conta de resolver o todo, mas podemos influenciar esse olhar e as pessoas para que pensem “fora das caixinhas”. Mesmo quando a gente não se considera alguém das tecnologias é preciso entender que na contemporaneidade estamos o tempo todo lidando com elas, seja na rede social ou na nota fiscal de uma compra na farmácia. Estamos gerando dados e informações sobre nossas vidas a todo tempo, mas a quem servem esses dados?


Além disso, todas as tecnologias que usamos, desde os aplicativos às redes sociais, são desenvolvidas por pessoas que carregam visões de mundo, culturas. Todas as tecnologias são dotadas da visão de mundo e cultura de quem as cria. Então, não existe neutralidade. Se só usamos coisas feitas por homens, brancos e de classe média como poderemos ser entendidas nas nossas completudes? O que pode mudar quando as tecnologias são desenvolvidas por pessoas negras, trans, deficientes? É essa pergunta que norteia boa parte do que fazemos no Olabi, mas ainda estamos numa fase de mais perguntas do que respostas.

Fonte: Carta Maior

Desigualdades raciais e de gênero se mantêm no país, segundo estudo

 

As desigualdades raciais, de gênero e sociais continuam altas no país. A constatação é do relatório do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ), divulgado esta segunda-feira (28). Os dados indicam que as mulheres negras estão em desvantagem em relação a outros grupos.

Carla Lima é a primeira da família a concluir o ensino superior. Ela, assim como muitas mulheres negras, considera que ainda tem que trabalhar a mais para provar a competência e se manter na profissão que escolheu."Esse acúmulo de trabalho, essa [necessidade] de mostrar eficiência, e dizer: 'eu cheguei lá por mérito', isso é muito dolorido", afirma a advogada. "Tem o quanto abandonamos de nossa vida pessoal, social e afetiva", destacou, sugerindo que nem todas as pessoas tem oportunidades iguais.


O relatório elaborado pelo Grupo de Estudos Disciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA), do IESP, mostra que, apesar do desenvolvimento econômico dos últimos anos, as desigualdades não diminuíram e dificultam a vida dos brasileiros. O documento analisou os números de 2011 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo a pesquisa, pessoas pretas e pardas (chamadas negras pelo próprio IBGE), quando somadas, são maioria entre os brasileiros, 55% da população. No entanto, em relação aos rendimentos desse grupo, à escolaridade e às classes sociais, estão em desvantagem quando comparadas às pessoas brancas, no topo dos indicadores.

As mulheres negras, em geral, estão sempre nos mais baixos patamares. O rendimento delas era o menor da pesquisa, R$ 800, enquanto as mulheres brancas obtinham, por mês, R$ 1.496. Já homens brancos alcançaram quase o dobro do rendimento médio das pretas e pardas, R$ 1.559.

No quesito educação, as desigualdades permanecem, mostrando que o caso da advogada Carla Lima é exceção. O estudo do GEMAA afirma que entre as raças, não há mobilidade social. Ou seja, é muito difícil para uma pessoa negra ascender socialmente e melhorar de vida ou se manter lá.

"Pretos e pardos que nascem, ou melhor, que estão no alto, que têm os melhores empregos, têm mais dificuldade de manter esse status social, tendem a cair mais do que os brancos que nascem nessa condição", explicou o cientista político João Feres Júnior, que é coordenador do GEMAA e do levantamento com base na PNAD. Ele também afirmou que os negros que nascem pobres têm mais dificuldade de subir para as ocupações mais altas ou médias do que os brancos que nascem pobres.

A pesquisa alerta que, em tempos de crise, a tendência é que as desigualdades se aprofundem, como é o caso do desemprego. A falta de trabalho já atinge de maneira mais severa a população preta, depois a parda e, por fim, a branca. "A tendência histórica em sociedades marcadas pela desigualdade, como a nossa, é de as elites perderem menos em tempos de crise e ganharem mais em tempos de bonança", conclui o documento, defendendo a manutenção de políticas públicas específicas para negros. 


Fonte: Agência Brasil 

Taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo

Apenas na última semana do mês de agosto, foram registrados pelo menos cinco casos de mulheres assassinadas por seus companheiros ou ex-companheiros na cidade de São Paulo. O dado é alarmante, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), e reflete a realidade do Brasil, país com a quinta maior taxa de feminicídio do mundo.
O número de assassinatos é de 4,8 para cada 100 mil mulheres. O Mapa da Violência de 2015 aponta que, entre 1980 e 2013, 106.093 mulheres morreram no Brasil pela condição de gênero. As mulheres negras são o grupo mais vulnerável. Entre 2003 e 2013, houve aumento de 54% no registro de mortes, passando de 1.864 para 2.875 nesse período. Muitas vezes, são os próprios familiares (50,3%) ou parceiros/ex-parceiros (33,2%) os que cometem os assassinatos.
Com a Lei 13.140, aprovada em 2015, o feminicídio passou a constar no Código Penal como circunstância qualificadora do crime de homicídio. A regra também incluiu os assassinatos motivados pela condição de gênero da vítima no rol dos crimes hediondos, o que aumenta a pena de um terço (1/3) até a metade da imputada ao autor do crime. Para definir a motivação, considera-se que o crime deve envolver violência doméstica e familiar, e menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Lei do feminicídio é uma conquista
Na avaliação da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (GEVID) do Ministério Público do Estado de São Paulo, Silvia Chakian, a lei do feminicídio foi uma conquista e é um instrumento importante para dar visibilidade ao fenômeno social que é o assassinato de mulheres por circunstâncias de gênero. Antes desse reconhecimento, não havia sequer a coleta de dados que apontassem o número de mortes nesse contexto.
Silvia Chakian afirma que a lei é um ponto de partida, mas que sozinha será capaz de acabar com crimes de feminicídio. “Como um problema bem complexo de causas sociais que estão relacionadas a aspectos da nossa sociedade – ainda tão patriarcal, machista e conservadora – não existe uma fórmula mágica, é necessário um conjunto integrado de ações”.
Políticas de combate à violência contra a mulher
A implementação integral da Lei Maria da Penha é o primeiro ponto desse conjunto de medidas que podem ser tomadas pelo Estado para resolver o questão. Reconhecida mundialmente como uma das melhores legislações neste sentido, ainda é necessário intensificar a implementação da lei, segundo a promotora. Os principais desafios são: ações de prevenção e concretização de uma rede de apoio às mulheres vítimas de violência.
“A gente não vai avançar na desconstrução de uma cultura de discriminação contra a mulher, que está arraigada na sociedade, nas instituições e em nós mesmas, sem trabalhar a dimensão da educação”, argumenta Silvia Chakian. De acordo com a promotora, a rede de atendimento, de atenção e de proteção às mulheres que vivenciam situações de violência pode ser definidora do rompimento desse ciclo, porque forneceria apoio multidisciplinar, incluindo suporte psicológico e financeiro.
“Onde não há delegacia especializada, centro de referência, casa abrigo e outras instituições de apoio, essa mulher vai sofrer calada, dentro de casa, sem conseguir buscar ajuda”, afirma. O argumento da promotora é que o assassinato é, em geral, uma continuidade de violências perpetradas antes, e que a existência de mecanismos de auxílio pode interromper o ciclo de violações, antes que a morte aconteça. “Os feminicídios são tragédias anunciadas, por isso, essas são evitáveis”, alerta Chakian.
Outras formas de combater esse problema é melhorar as condutas dos profissionais envolvidos nos processos de investigação e julgamento de crimes de feminicídio. Nesse sentido, em 2016 o governo brasileiro, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e a ONU Mulheres publicaram as Diretrizes Nacionais para Investigar, Processar e Julgar com Perspectiva de Gênero as Mortes Violentas de Mulheres – Feminicídios.
O documento detalha, por exemplo, quando e como a perspectiva de gênero deve ser aplicada na investigação, processo e julgamento de mortes violentas de mulheres, além de formas de abordagem das vítimas e informações sobre os direitos delas.
Fonte: Nocaute

Inscrição de filmes candidatos ao Prêmio Goya vai até sábado (2)

chamgoya
O prazo para inscrição de filmes brasileiros para a seleção do representante nacional no Prêmio Goya foi prorrogado até o próximo sábado (2). A premiação é promovida pela Academia das Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha.
A Agência Nacional do Cinema (Ancine) vai indicar uma produção de longa-metragem para concorrer à categoria de Melhor Filme Ibero-americano na 31ª edição do evento.
Para serem considerados aptos a participar, os filmes devem ter estreado nas salas de cinema do País entre 1º de novembro de 2016 e 31 de outubro de 2017 e terem permanecido em cartaz por pelo menos sete dias consecutivos.
As fichas de inscrição e link de acesso ao filme (com senha) devem ser encaminhados por e-mail ao endereço: premio.goya@ancine.gov.br. A confirmação da candidatura também será feita por correio eletrônico.
Desde 1987, a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas da Espanha promove o Prêmio Goya, o mais importante do país, concedido aos destaques de cada ano.
Fonte: Portal Brasil, com informações da Ancine

Uma miragem real de livros no sertão da Bahia

geraldo
Por Vitor Nuzzi para Rede Brasil Atual
Assim, com os primeiros 12 mil títulos, que não cabiam em casa, começou a ser formada, 15 anos atrás, a biblioteca de Geraldo Moreira Prado, o Alagoinhas, que saiu pequeno de São José do Paiaiá e voltou para formar aquela que seria considerada a maior biblioteca em comunidade rural do mundo: hoje, são 120 mil volumes em um lugarejo de 600 pessoas.
Geraldo ia “dando aula e comprando livro”, conta. Mas a história começa lá atrás. Ele deixou o Paiaiá no início de 1960. “Eu não tinha plano, tinha vontade.” Só tinha feito o primário, em escola rural, uma caminhada diária de três quilômetros. Em São Paulo, arrumou vaga de faxineiro, na Rua Santa Ifigênia, região central, depois foi office-boy em companhia de seguros, passou a vender apólices de automóveis, chegou a uma metalúrgica em Osasco, na região metropolitana. Pensou em fazer Medicina, cursou Letras, mas não entendeu nem o chinês do curso e nem o inglês usado para dar aulas. Acertou-se, enfim, com a História.
Geraldo teve aula com gente como Sérgio Buarque de Holanda, Eduardo d´Oliveira França. Morando no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (Crusp), foi um dos inúmeros estudantes retirados de lá à força pelo Exército, dias depois do AI-5, em 1968. O apelido veio daquele tempo. “Ali na (rua) Maria Antônia tinha dois botecos, o universitário e o do Zé, que tem até hoje. Depois da aula, a gente ficava tomando cerveja”, lembra. Um jovem recém-chegado, “discípulo de Glauber Rocha”, perguntou se ele era nordestino. Depois da resposta óbvia, emendou: “Paiaiá não existe, existe Alagoinhas, que é a terra do meu pai”. E assim ficou. O “apelidador” era o futuro sociólogo Gilberto Felisberto Vasconcelos.
“Passei a vida juntando livro”, diz Geraldo, de 77 anos. Os do Crusp não sobreviveram, porque a polícia levou. “Naquela época, você sabe como era, né?”, comenta o professor, que militou no movimento estudantil e mais de uma vez foi preso. Em 1972, detido por mais de uma semana pela Operação Bandeirante (Oban), topou com Carlos Alberto Brilhante Ustra e Romeu Tuma na saída, em um domingo. “Estavam conversando no portão, o Tuma tirou uma nota que não me lembro de quanto era e me deu (para a condução). Peguei a nota, joguei no chão e disse que não pegava em dinheiro de torturador.” Resultado: mais dois dias de prisão.
Em 1976, ele foi para o Rio: “Aí comecei a juntar mesmo. Dando aula e comprando livro”. A professora emérita da USP Walnice Nogueira Galvão escreveu um texto em que lembra da trajetória de Geraldo, que também frequentou aulas de Antonio Candido, que morreu em maio. Quando a biblioteca já era realidade, ela decidiu contar ao mestre sobre o ex-aluno, que se encantou: “Essa obra é o coroamento de uma vida”. Walnice e Antonio Candido estão entre os muitos doadores de livros para a Biblioteca do Paiaiá. Em 2004, Geraldo comprou uma casa por R$ 2 mil, depois comprou a vizinha, depois fez uma reforma para ampliar. E assim criou, como diz, o Paiaiá Empire State.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) doou, a Pontifícia Universidade Católica (PUC), a Fundação Oswaldo Cruz, o Ibase, ONGs diversas, muita gente doou. A biblioteca leva o nome de Maria das Neves, tia de Geraldo, “primeira alfabetizadora da região”. Ele conta que, fazendo estudos autodidatas em biblioteconomia, descobriu um autor indiano que diz que “a biblioteca é um órgão vivo”, tem de crescer. “Gostei disso, e fui alimentando.”
Foi em uma conversa com José Arivaldo, seu sobrinho, que nasceu a ideia da biblioteca. Vadinho, como é conhecido, formou-se em Letras e agora estuda Biblioteconomia na Federal de Sergipe, conta o geógrafo e jornalista Mouzar Benedito, amigo de Geraldo e admirador da empreitada do Paiaiá, que desde 2014 passou a incluir um encontro sobre livros, leitura e inclusão social. O deste ano, o terceiro, foi realizado de 3 a 5 de agosto, com ampla programação. “Realizado à revelia de um contexto nacional anticultura, anti tudo que preste, houve muitas palestras, debates, lançamentos de livros, rodas de conversa, minicursos e muitas atividades específicas para crianças”, diz Mouzar, que foi lá como representante da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci) e falou sobre personagens do imaginário brasileiro na literatura.
Estimular o interesse pelos livros

Geraldo lamenta que no Brasil não haja prática de leitura (“Eles acham que a internet resolve tudo”) e que o país conte com tão poucas bibliotecas em comparação com os vizinhos da América Latina. Por isso, anima-se com seu projeto, que ajudou a estimular o interesse por livros. “Isso, para mim, foi a coisa mais satisfatória. Contribuí para crescer um pouco mais”, diz, lembrando que só leitura não basta – por isso, o projeto inclui capacitação de professores. Segundo ele, aos poucos a comunidade começou a se aproximar da biblioteca. “Pela primeira vez, teve uma participação muita ativa, a o ponto de oferecer as casas para hospedar as pessoas (no encontro deste ano).”

Teve também muita criança, conta Mouzar. “Só num dia que tive a pachorra de calcular, com base nos ônibus vindos de Nova Soure e cidades vizinhas, chegaram mais de 400 crianças. Eu olhava nos rostos delas e achava que tinham a sensação de descobertas, seja enquanto participavam das atividades do evento ou enquanto remexiam livremente nas estantes da biblioteca. Imagino que pelo menos algumas delas estejam ‘contaminadas’ pela literatura”, narra. “Voltei de lá com uma alegria imensa, com a sensação de que a inércia que os vampiros do poder tentam nos fazer aceitar não é tão aceita assim.”
Depois que se aposentou, o paiaiaense, que mora no Rio, vai de duas a quatro vezes por ano para a sua região. Segundo o IBGE, Nova Soure contava 26 mil habitantes no ano passado. Na economia, predomina a pequena produção de animais (cavalo, gado, ovelha,) e produtos como feijão, milhão, mandioca. “É quase subsistência”, diz Geraldo.
Quem toma conta da biblioteca, entre outros, é o sobrinho Vadinho. “É tudo na base do trabalho voluntário, porque não tem recursos.” A biblioteca já atraiu muita gente de fora – argentinos, norte-americanos, até dinamarqueses – Geraldo é casado com uma. E ele continua gostando muito de ler, até onde a vista permitir.
Fonte: Rede Brasil Atual