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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Chacina da Candelária: o massacre de meninos de rua

Na madrugada de 23 de julho de 1993, policiais à paisana mataram oito crianças e feriram dezenas em frente à igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro
A chacina da Candelária aconteceu em 1993 no Rio de Janeiro, em frente à Igreja da Candelária, e chocou o mundo. Na madrugada do dia 23 de julho, policiais à paisana abriram fogo contra mais de 40 meninos de rua que dormiam nas escadarias da igreja, no Centro da cidade. Oito crianças morreram e dezenas ficaram feridas. Três policiais foram condenados pelo crime e dois foram absolvidos.
O relato de um sobrevivente levou à prisão de três dos policiais envolvidos no crime. Wagner dos Santos tinha 21 anos quando foi baleado quatro vezes junto a dois outros adolescentes que dormiam próximo a igreja. Os três foram abandonados perto do Museu de Arte Moderna (MAM), no Aterro. Dos três, apenas Wagner sobreviveu e conseguiu fazer o retrato falado dos criminosos.
As investigações revelaram que o massacre foi uma ação de represália dos policiais após um episódio de vandalismo por parte de alguns meninos de rua que estavam em frente à igreja na tarde anterior ao massacre. Na ocasião, meninos jogaram uma pedra em um carro da polícia, quebrando o vidro e ferindo levemente um dos policiais militares, depois que um deles foi detido.
Os três policiais condenados receberam penas que somavam mais de 200 anos de prisão, mas foram soltos antes de cumprirem 20 anos no regime fechado.
Portal BRASIL CULTURA

Tropicalismo, participação e transgressão

Entre 1965 e dezembro de 1968 desenvolveu-se uma extensa e renovadora atividade artística com dimensões culturais e políticas de raro alcance crítico no Brasil. Projetos de vanguarda, em grande parte associados a interesses político-sociais, surgiram em todas as áreas da produção artística. Definiram-se duas direções prioritárias: uma arte dita de protesto associada de modo direto ou indireto às necessidades de conscientização e de mobilização do público, diante da necessidade que se impunha de resistência aos cálculos do regime militar, e uma arte de vanguarda em que o imperativo de renovação das formas, linguagens, processos e comportamentos eram considerados prioritários, tanto para a revitalização das artes frente às novas condições provocadas pela modernização, quanto ao redimensionamento crítico do imperativo de participação cultural e política.
Entre as modalidades artísticas surgidas naquele momento, a música de protesto e denúncia, em geral traduzindo a esperança em um “dia que virá”, utopia política persistente desde, pelo menos, o início da década. A música passou a ser o canal mais adequado para a veiculação de projetos políticos, exatamente porque a canção popular sempre foi no Brasil a modalidade artística com maior penetração pública, em todas as camadas da população, mesmo antes dos decisivos desenvolvimentos da indústria cultural a partir de meados de 60, quando a era dos festivais colocou em grande evidência as duas modalidades de participação, de protesto e de inovações, não sem conflitos ou intersecções entre elas quanto ao que era entendido como legítima música brasileira ou quanto aos modos mais legitimados de expressão política.
O Tropicalismo surgiu da conjunção desses vários fatores de ordem artística, cultural e política que se manifestavam na música popular, no teatro, no cinema, nas artes plásticas e na literatura. O momento de máxima intensidade e de ruptura ocorreu em 1967 e 1968, quando se configurou uma extraordinária explosão criativa, que radicalizou em termos críticos a intensa atividade renovadora da atividade artística que se desenvolvia desde meados dos anos 1950. Nesses dois anos, as inquietações e iniciativas sociais, políticas e culturais dirigidas à realização do imperativo de modernização que, desde o movimento modernista de 1922, determinava o esforço de inovação da arte, da cultura e da reflexão no Brasil são levados a seu limite expressivo.
O ano de 1967 foi particularmente notável: confluíram ao mesmo tempo o Tropicalismo, desencadeado com as músicas Alegria, alegria, de Caetano Veloso, e Domingo no parque, de Gilberto Gil, apresentadas no III Festival de Música Popular Brasileira da TV Record; o lançamento do filme Terra em transe, de Glauber Rocha; a montagem de O rei da vela, peça de Oswald de Andrade, pelo Teatro Oficina de São Paulo; o aparecimento do projeto ambiental Tropicália, de Hélio Oiticica, na exposição Nova Objetividade Brasileira, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; e o lançamento de PanAmérica, livro de José Agrippino de Paula. Essas produções foram arroladas sob o nome genérico “tropicalismo”. Apesar de suas diferenças, havia algo em comum entre elas: arte de ruptura, de inovação das linguagens artísticas e das estratégias culturais, que propunha mudanças na significação política das ações, repropondo o sentido e as formas de participação social das atividades artístico-culturais.

Caetano Veloso em apresentação do Festival de Música Brasileira, em 1967, no teatro Paramount – Foto: Domínio público/Acervo Arquivo Nacional
Aliando experimentalismo artístico e crítica cultural, articulando procedimentos de vanguarda e participação política, inovando a canção pela integração de efeitos e recursos não musicais, da música contemporânea e da pop, processos renovados de composição na letra, na melodia, nos arranjos e na vocalização e na elaboração das imagens com efeitos paródicos e alegóricos, a atividade tropicalista deslocou os modos de expressão do inconformismo estético e social patente na parte mais significativa da arte no Brasil dos anos 1960. Esse inconformismo, que vinha se estruturando desde os anos 1950, foi retraduzido pelo Tropicalismo, especialmente nos discos individuais de Caetano Veloso e Gilberto Gil e no coletivo, Tropicália, Panis et circencis, lançados em 1968.

[…] o Tropicalismo apareceu como transgressão não só pelas inovações musicais, mas também por ativar comportamentos e incorporá-los à própria estrutura da canção, compondo uma poética da espetacularidade.
O surgimento do Tropicalismo em 1967 não só provocou mudanças na situação da música popular no Brasil, colocando em discussão os limites da eficácia da canção de protesto, como marcou a absorção mais incisiva das contribuições do rock, até então experimentado de forma apenas superficial pela Jovem Guarda de Roberto Carlos e Erasmo Carlos, além de referências específicas à tradição da música popular e a outras expressões populares. A complexidade do Tropicalismo nasce de sua intervenção nos modos de se fazer canção no Brasil, destacando a virada da bossa nova e explicitando possibilidades de sua função crítica. A própria materialidade da canção é modificada com a introdução de procedimentos de vanguarda (musicais, teatrais, cinematográficos, poéticos), de harmonias e ritmos do rock, de instrumentos eletrônicos, de uma elaborada encenação etc.
Além disso, a explicitação do político na canção é diferenciada: não mais há o emprego de meios didáticos de denúncia e conscientização, mas a proposição de um conjunto sincrético de imagens disparatadas que, referindo-se à “realidade brasileira”, ao mesmo tempo a estilhaçava. Evidentemente, a recepção e aceitação dessa música como ‘música brasileira’ não foram fáceis. Ela exigia, do público e da crítica, uma mudança na audição e na maneira de conceber o que poderia ser a canção popular para além do que estava fixado pela tradição. Assim, se de um lado o Tropicalismo foi recebido com entusiasmo por indivíduos associados à busca do novo, que valorizavam a estranheza como antídoto para a repetição de clichês, por outro não foi aceito pelos que consideravam esse movimento uma desvirtuação da música brasileira autêntica.
Outro aspecto importante é que o Tropicalismo apareceu como transgressão não só pelas inovações musicais, mas também por ativar comportamentos e incorporá-los à própria estrutura da canção, compondo uma poética da espetacularidade. A maneira como os artistas se apresentavam, com roupas extravagantes, cabelos desgrenhados e gestos provocativos e mesmo obscenos, compunha uma linguagem de rebeldia, de mau gosto (para o padrão da época), de cafonice, de desafio. Na verdade, estavam assimilando o corpo na canção, não apenas na temática como era comum na tradição. Aliás, nisso, a canção tropicalista vem a par com a assunção do corpo que ocorria naquele tempo em todas as áreas artísticas. Nas músicas, os temas eram coerentes com a atmosfera gerada nos espetáculos: crítica à sociedade de consumo misturada à crítica da moral, dos costumes, dos valores pequeno-burgueses; crítica das posições políticas consagradas, de direita e de esquerda; uso de resíduos culturais populares e eruditos, formando uma mistura aparentemente caótica, mas na verdade construída segundo processos poéticos de invenção.
Fonte: Portal BRASIL CULTURA

Raul Seixas faria oposição a Bolsonaro

Se estivesse vivo em 2019, Raul Seixas completaria 74 anos, se posicionaria contra o governo Bolsonaro, continuaria fazendo muitas loucuras e daria a cara à tapa contra a censura cultural. É o que afirmam os jornalistas Carlos Minuano e Jotabê Medeiros, autores de duas novas biografias sobre o Maluco Beleza: Raul Seixas – Por Trás das Canções (Editora Record), de Minuano; e Raul Seixas – Não Diga que a Canção Está Perdida (Editora Todavia), de Medeiros.
No livro de Minuano, mais voltado às histórias que explicam as canções de Raul, é possível descobrir causos inéditos e bizarros do compositor baiano. Medeiros, que há dois anos lançou uma biografia sobre Belchior, promete um caráter mais ensaístico para estudar o legado de Raul.
Mas ambos os livros apostam em mostrar o lado humano de Raul Seixas, para além da imagem tresloucada, explorando sua faceta de produtor da gravadora CBS – fase em que foi responsável por lançar cantores bregas de sucesso, como Odair José e Diana. Além disso, o músico é retratado como o pensador político e contracultural que foi: mesmo com 11 canções censuradas, Raul nunca desistiu de pôr mensagens políticas em suas letras.
Raul Seixas é autor de grande sucesso no Brasil. Seu disco mais popular, Gita, chegou a vender 600 mil cópias e o bordão “Toca Raul!” continua vivo em diversos bares em que um hippie lembra do roqueiro que misturou Elvis com Luiz Gonzaga e foi de ícone da contracultura a hitmaker de programas infantis.
Ouro de tolo
Um dos relatos inéditos que o livro de Minuano traz é sobre uma turnê que Raul fez nos garimpos Marupá e de Itaituba, no Pará, em 1985. Em quatro dias de show, ele chegou a sair escoltado pelo Exército e quase levou tiro de garimpeiro. Uma pequena parte dessas aventuras foi narrada na canção Banquete de Lixo, do disco Panela do Diabo, feito em parceria com Marcelo Nova, líder do Camisa de Vênus.
Raul canta: “E lá em Serra Pelada, ouro no meio do nada / Dor de barriga desgraçada resolveu me atacar / O show estava começando e eu no escuro me apertando / E autografando sem parar”. O show ao qual se refere e o de Marupá, em um prostíbulo chamado Califórnia.
Embriagado, Raul mal conseguia cantar. A coisa piorou quando um homem o viu tomando insulina e espalhou a notícia de que Raul estava se drogando. Após terror, pânico, tiros e a chegada da polícia, a banda tentou tocar. Mas o Maluco Beleza terminou a noite no banheiro, onde se escorava na parede com uma das mãos e distribuía autógrafos para a fila de fãs com a outra.
Na mesma ocasião, depois de voar com um piloto conhecido como João Maconha, Raul e companheiros foram recebidos por garimpeiros armados com pistolas, metralhadoras e fuzis, que dispararam para o alto assim que a banda pousou. “Essa história nos garimpos me encantou pela quantidade de detalhes que nunca haviam sido relatados”, comenta Minuano. “E ainda estão aparecendo novas histórias sobre essa turnê. Tem muito material. Acredito que vou fazer um documentário sobre esses episódios ainda.”
As viagens pelo garimpo aconteceram a bordo de aviões teco-teco — todos conduzidos por pilotos embriagados. Um deles deixou Raul e seus companheiros (todos bêbados) brincarem de piloto, até o avião começar a perder altitude. “Parece que naquela época era normal os pilotos viajarem desse jeito na região amazônica. E, de fato, vi diversas reportagens falando sobre acidentes aéreos na região”, conta Minuano.
Em Itaituba, Raul fez dois shows. Na primeira noite, tocou três músicas e caiu bêbado no palco. A decepção do público, narra Minuano, levou a mais um tiroteio – e o baiano teve de sair escoltado pelo Exército. No show seguinte, com a presença dos militares, o roqueiro cantou Mamãe Eu Não Queria, com versos como “Não quero bater continência / Nem pra sargento, cabo ou capitão / Nem quero ser sentinela, mamãe / Que nem cachorro vigiando o portão”.
Não acabou bem. “Foi uma viagem muito rock’n’roll, num tempo em que Raul já estava desacreditado”, diz Minuano. “E o saldo dela foi um pouco de ouro, apreendido pela Polícia Federal quando eles voltaram”, conta.
A mosca na sopa
O Raul Seixas que cantava provocações para militares é o mesmo que teve 11 músicas censuradas pela ditadura e, ainda assim, conseguia pôr críticas ao governo até mesmo em canções infantis, como Carimbador Maluco. “Ele fez músicas no pior momento da ditadura militar. E, diferente do que muitos pensam, Raul era politizado demais. Não era um cara que reivindicava uma corrente política como militante, mas tinha uma consciência política muito clara”, diz Jotabê Medeiros.
“Mesmo com músicas censuradas, ele continuou lançando canções que facilmente poderiam levá-lo à prisão. E nem por isso retrocedia”, diz Medeiros. “Muita gente relaciona isso à fase dele com Paulo Coelho, mas na verdade ele já fazia isso antes da parceria, em canções como Ouro de Tolo”.
Minuano acredita que alguns fãs precisam atualizar Raul Seixas para os dias atuais. “Tem muito fã que segue uma espécie de raul-seixismo, tratando como ciência ou religião. Mas é preciso fazer algumas releituras para dar uma repaginada. Eles repetem o que Raul falava como se fosse uma Bíblia, mas ainda de forma contraditória. Seguem como religião, mas não se atentam à mensagem”, comenta.
Nessa proposta de atualizar Raul Seixas, Medeiros e Minuano concordam que ele estaria incomodado com o cenário político brasileiro. “Raul jamais admitiria uma sociedade que vê a censura como algo corriqueiro, como temos nos dias de hoje, com casos escabrosos. Estaria puto com tudo isso, não suportava cerceamento”, diz Medeiros. “Ele estaria onde sempre esteve: no front, brigando, dando a cara à tapa”, comenta Minuano.
Embora tenha audiência morna nos serviços de streaming, Raul tem potencial para ser redescoberto e idolatrado por novas gerações, assim como aconteceu com Belchior. “Existem mais de mil fã-clubes dele. Os fãs do Raul envelheceram, mas existe uma potência de renovação aí. Se alguém acender a fogueira, ele volta com força”, diz Medeiros.
A faísca para essa fogueira, talvez, seja justamente o momento político. “Músicas como Sociedade Alternativa haviam perdido o sentido para mim há dez anos. Mas, nessa época de perseguições, volta a fazer sentido. A política torna as canções de Raul mais fortes”, diz Minuano.
Não é só o caráter político que traz frescor para Raul, 30 anos após à sua morte. Antes de ser o famoso cantor, ele passou fome no Rio de Janeiro até conseguir emprego de produtor na gravadora CBS. Foi lá que misturou elementos, produziu artistas bregas de sucesso, experimentou muito. “O que faz ele chegar até aqui é a qualidade de sua obra, que sempre teve atualidade. Ele viu coisas do Brasil com análise muito profunda, com um caráter de mestiçagem muito forte, tal como fizeram Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro – seus ídolos”, diz Medeiros.
Na opinião do biógrafo, além da identidade nacional, a música de Raul traz certa universalidade: “Sua música seria moderna na Rússia, em Praga, em qualquer lugar”. Para Minuano, mais que um bom compositor, um maluco ou um aventureiro, Raul foi filósofo. “Entrevistei dezenas de pessoas e não encontrei ninguém que falasse mal dele. Apesar de ter detonado a própria saúde com drogas, foi capaz de compor músicas iluminadas, com mensagens positivas”, afirma o autor.
“Raul não é um doidão. E alguém que procurou a liberdade”, agrega. “Existe um cancioneiro muito grande de Raul Seixas a ser descoberto. A capacidade e a engenhosidade de camuflar mensagens em suas músicas simples é surpreendente. Sempre passou recados políticos, críticas sociais e filosofia profunda.”
Com informações do TAB (UOL)