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terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Textos sobre Hélio Xavier de Vasconcelos

Hélio Xavier de Vasconcelos

Textos sobre Hélio Xavier de Vasconcelos

Carta Aberta a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção RN
Roberto Monte e Aldemir Lemos

Depoimentos de Clara e León Góes
Hélio Xavier de Vasconcelos
Prefácio de Moacyr de Góes

Que bom falar de quem é bom
Carlos Jansen Vasconcelos

Homem plural
Geniberto P. Campos

Ícone da política estudantil
Clementino Câmara Neto

Sempre um caso a contar
Omar Fernandes Pimenta

Geração que sonhou grande
Mailde Pinto

Amigo doce e de firmeza ideológica
Maria Conceição Pinto de Góes

Hélio Vasconcelos, um homem natalense
Ivis Bezerra

Mais um poeta na praça
Danilo Bessa

Dignidade e firmeza de caráter
Paulo Frassinetti de Oliveira

Tenacidade inacreditável, nunca abandonando o campo de luta
Caio Graco Pereira de Paula

Luta em favor da educação
Virgílio Fernandes de Macedo Júnior

Lições de vida
Jarbas Antônio da Silva Bezerra

Postura ética incorruptível
Joê

Um depoimento para Hélio, meu cunhado, meu companheiro e irmão
Luiz Martins da Silva Sobrinho

Reserva moral
Manoel

Pela rua da amargura
Berilo Wanderley


Acervos raros de HÉLIO XAVIER DE VASCONCELOS: http://www.dhnet.org.br/helio/documentos.htm

"LEMBRANÇA PARA NÃO ESQUECERMOS!" - Missa de 7º Dia de Hélio Vasconcelos é realizada na OAB/RN - "Saudades!" - Eduardo Vasconcelos

No final da tarde desta terça(22), foi realizada na sede da OAB/RN a missa de 7º dia de falecimento de seu ex-presidente Hélio Xavier de Vasconcelos. A celebração foi feita pelo padre Gentil e contou com a participação de familiares e amigos.

“Hélio Vasconcelos foi uma pessoa excelente, humano de primeira grandeza, solidário, amigo dos amigos”, disse o Membro Honorário Vitalício do Conselho da OAB/RN Caio Graco.
“Hélio foi uma pessoa autêntica, verdadeira, de sentimentos e palavras coerentes em todos os seus gestos”, destacou o Membro Honorário Vitalício do Conselho da OAB/RN Joanilson de Paula Rêgo.

“Hélio foi um advogado singular. O sofrimento não alterou sua firmeza no futuro, jamais reclamou do que passou. Sempre tinha em mãos a bandeira da paz”, relembrou o Membro Honorário Vitalício do Conselho da OAB/RN Carlos Gomes.

“Estou tomado pela emoção neste momento. Hélio foi uma figura que marcou o Rio Grande do Norte pelos gestos e atitudes. Foi um grande amigo”, ressaltou o Desembargador do Trabalho José Rocha.

Tomado pela emoção, o ex-presidente da OAB/RN Odúlio Botelho falou em nome da Ordem, destacando Hélioexerceu a Advocacia com brilho e dignidade. Na ocasião, a família externou que o momento agora é de saudade e não de tristeza.

HÉLIO XAVIER DE VASCONCELOS, natural de Macaíba, o filho de Salomão Lima de Vasconcelos e Maria de Vasconcelos, nasceu no dia 26 de novembro de 1932. Cursou Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Norte na turma de 1961. Foi presidente da OAB/RN no período 1993/1995. Teve uma trajetória brilhante na Instituição, com registro de vários importantes feitos.

Publicado em 23 de outubro de 2013. pela https://www.oabrn.org.br

Hélio Xavier de Vasconcelos - Resistência e Direitos Humanos no RN - "Um defensor dos DIREITOS HUMANOS!" - Eduardo Vasconcelos


Hélio Xavier de Vasconcelos fala na OAB-RN, no Comitê em Defesa da Vida, ato promovido pelo Centro de Direitos Humanos e Memória Popular CDHMP, OAB-RN e pela Comissão Pontifícia Justiça e Paz da Arquidiocese de Natal RN, no dia 29.08.1989

DIREITOS HUMANOS: 40 ANOS DE ANISTIA As memórias da Ditadura no RN esquecidas com o tempo

Movimentos foram às ruas pedindo Anistia ampla - Créditos: Arquivo Diap

Movimentos foram às ruas pedindo Anistia ampla / Arquivo Diap

 Perseguições políticas e torturas por agentes do Estado em 64 só sobrevivem na mente de quem sofreu ou cometeu os crimes

Brasil de Fato 
No dia 28 de agosto de 2019 se comemorou o aniversário de 40 anos da Lei de Anistia, promulgada em plena ditadura militar após muita mobilização social. Mas pouca gente sabe do que essa lei trata e como ela afetou o Rio Grande do Norte.
Desde o primeiro dia do golpe militar brasileiro, em 1 de abril de 1964, o estado do RN passou por importantes mudanças. O governo estadual de Aluísio Alves, no primeiro momento, foi aliado do regime militar, fazendo uma política de repressão alinhada com os ditames federais.
Segundo Juan de Assis Almeida, advogado e membro da Comissão da Verdade da UFRN, “ocorreram diversas intervenções em sindicatos, diretórios estudantis e repartições públicas. Muito porque o RN era bem engajado com educação popular e educação com direitos humanos, com as experiências de Paulo Freire, em Angicos (1961); e com o ‘De Pé no Chão Também se Aprende a Ler’, idealizado pelo prefeito de Natal na época, Djalma Maranhão, e pelo secretário de educação, Moacir Gomes”.
Ele afirma que logo no início do golpe houve uma ação muito intensa de perseguição política contra diversos setores do estado, principalmente os progressistas e da Igreja Católica. Isso porque as atividades desenvolvidas por esses setores tinha “um viés político de emancipação e educação que despertava a consciência de classes, também mobilizavam muita classe estudantil local da época, como secundaristas e universitários”.
Em 1964, as perseguições no RN se concentravam mais na capital. O 16° Batalhão de Infantaria (16 RI) era o principal local de prisões políticas, apesar de que outros estabelecimentos também serviram, como o quartel geral da Polícia Militar, Base Naval de Natal e a Base Aérea de Parnamirim, onde se registram as principais violações de direitos humanos. Já no final da década de 60 para início de 70 prisões foram registradas no interior, como o caso do estudante de engenharia Queginaldo, que participava do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e era militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), preso em Alexandria (Oeste Potiguar).
Juan explica que na Comissão da Verdade da UFRN “a gente cataloga, em 64, diversas violações, como tortura, privação de sono, prisões extrajudiciais”. Com essas atitudes violentas e o grande número de prisões o governo conseguiu desmantelar as organizações sociais e estudantis do estado. Até que entre 1967 e 68 começou um engajamento bem intenso de pessoas em ações de resistência ao regime.
Segundo o advogado,“O PCB local, como em todo Brasil, se desintegra em outros partidos, como o Partido Comunista Revolucionário (PCR) e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). E lideranças estudantis, principalmente dos cursos de humanas (Direito, Sociologia e Serviço Social), tiveram uma participação mais intensa, como Emanuel Bezerra dos Santos (oficialmente assassinado pelo Regime)”. Esse maior engajamento leva esses militantes a partir para a luta armada.
Anistia
A partir da segunda metade da década de 70, nacionalmente se iniciou um processo de luta pela Anistia. Após o Movimento Feminino pela Anistia e o Comitê Brasileiro da Anistia, foram criados os comitês regionais e locais.
“O Comitê estadual foi criado em abril de 1979, quando já existia 15 anos de ditadura, de ausência de estado de direito”, explica a socióloga Maria Rizolete Fernades, que era secretária do órgão. Ela coordenava o Comitê junto ao deputado estadual Roberto Furtado e Sérgio Dieb, que se tornou vereador depois da abertura política.
O modo de operação desse Comitê era a realização de atos, audiências que mobilizassem a opinião pública e, também, visitas aos presos políticos nos locais de detenção. Segundo Juan, “o Comitê realizava, recorrentemente, audiências públicas, onde se debatiam a luta por uma Lei da Anistia em que mobilizasse a soltura de presos políticos, a reintegração de servidores públicos demitidos por circunstâncias políticas e ideológicas e a responsabilização de agentes públicos”.
Juan explica que “nessa segunda onda de repressão o Rio Grande do Norte não foi palco de prisões políticas. Maurício Anísio de Araújo foi um dos poucos presos políticos aqui, que ficou na penitenciária da Zona Norte. Mas a maioria dos potiguares eram presos em Pernambuco, unidade central do aparato da justiça militar”.
Rizolete nos conta que o Comitê organizava viagens à Ilha de Itamaracá (PE) para visitar os presos políticos potiguares. Ônibus eram alugados e uma comitiva viajava com comidas para partilhar com os detentos. Essa era uma forma de fiscalizar o estado da prisão e os proteger de retaliações. O dinheiro para essas viagens era recolhido de pedágios feitos no RN.
O Comitê exigia a Anistia, que, de maneira geral, pode ser compreendida como o “perdão de crimes políticos”. Ela é irrevogável, coletiva e concedida pelo Estado. O ato de anistia tem caráter radical pelo fato dela não apenas cessar a pena, mas o fato considerado criminoso. No Brasil, lutava-se para que ela fosse geral, ampla e irrestrita. Mas não foi o que aconteceu: a lei sancionada pelo Ditador João Batista Figueiredo não incluiu aqueles considerados terroristas e incluiu os militares torturadores.
De toda forma, muitas pessoas foram abarcadas pela Lei de Anistia de 79, principalmente servidores públicos que tinham saído de seus cargos por perseguição. Segundo Juan “diversos professores universitários e servidores estaduais voltaram aos seus antigos postos de trabalho, foi um movimento de readmissão e reintegração do serviço público no Rio Grande do Norte, uma volta do status quo de muito perseguidos políticos.”
Falta de memória local
O advogado Juan conta que durante a investigação da Comissão da Verdade da UFRN, “a gente enfrentou diversas dificuldades, sobretudo de pesquisa documental, pois o estado do Rio Grande do Norte não preserva bem os seus acervos de direitos humanos. A gente procurou num arquivo público do estado, em arquivos públicos em condições muito precárias da própria universidade. Constatamos sumiços de diversos acervos importantes, como no caso da Assessoria de Segurança e Informações, um órgão de repressão que funcionava dentro da universidade”.
Ele afirma que “a gente tem uma lacuna, de arquivos parcialmente destruídos e sem uma localização precisa. A memória sobre esse período ainda precisa ser muito bem elaborada, muito bem construída.” Esse processo de apagamento, segundo ele, serviu muito para as elites locais, porque a ditadura teve apoio delas.
Após todo relatório da Comissão, foi feito dez recomendações à universidade e aos poderes do estado, de medidas que visassem aprofundar ações de memória e verdade. Uma delas foi a criação de memoriais, em que a cidade pudesse ter consciência que houve ditadura e violações de direitos humanos aqui. Juan afirma que “nós temos diversas repartições militares que foram centros clandestinos de tortura, então isso passa muito despercebido aos ouvidos da população”.
Entretanto, os órgãos públicos ainda não acataram as recomendações da Comissão, o que é visto pelo advogado como “um projeto de esquecimento do que aconteceu naquele período e que ainda está muito presente.” Para ele, esse “apagamento” é ainda mais reafirmado com os posicionamentos do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a favor de ex-torturadores e da própria Ditadura.
“A pauta do direito a memória, da reparação e da verdade, é algo que se foi definido como um projeto constituinte de país. Lá em 1987-1988, os deputados constituintes entenderam que o Estado brasileiro praticou crimes contra seus cidadãos. Esse projeto que Bolsonaro está encampando é contradizer o que a própria Constituição consagrou como projeto de país: que reconhece o que aconteceu no passado, repara seus cidadãos e tenta construir um novo presente”.
Edição: Marcos Barbosa - https://www.brasildefato.com.br
Adaptado pelo Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, em 24/12/2019.

Villa Lobos: a independência musical do Brasil

Não sem razão é lhe atribuída a “descoberta musical” do povo brasileiro.
Heitor Villa-Lobos, falecido há 60 anos, jamais poderá ser esquecido. Ele foi o principal responsável pela descoberta de uma linguagem peculiarmente brasileira em música de arte, o maior expoente musical de todo tempo moderno.
Por Carlos Russo Jr.*
Carioca, nascido em 1887, filho de Raul Villa-Lobos, músico amador, foi este quem lhe deu as primeiras instruções e adaptou uma viola usada para que o pequeno Heitor iniciasse seus estudos de violoncelo. Aos 12 anos, pobre e órfão do pai, Villa passou a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes. Em 1903, terminou com bolsa de estudos os estudos básicos no Mosteiro de São Bento.
Costumava juntar-se aos grupos de choro, que foi sua primeira paixão, tocando violão em festas e em serenatas. Foi nessa época que conheceu e tocou em parceria com músicos como Catulo da Paixão Cearense, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e João Pernambuco.
Villa, entretanto, possuía uma necessidade íntima de conhecer a fundo a musicalidade e o folclore de nosso povo. Tendo como recursos unicamente sua viola e a capacidade de ensinar, realizou suas famosas viagens pelo norte e nordeste do Brasil, que duraram mais de sete anos. Os instrumentos musicais regionais, as cantigas de roda e os repentistas deixaram-no absolutamente impressionado. O jovem Villa assimilou em cada povoado, em cada cidade, nas tribos indígenas, nos sons dos animais da mata, a musicalidade de nosso povo e seus regionalismos.
Não sem razão é lhe atribuída a “descoberta musical” do povo brasileiro. E nosso folclore será a base sobre a qual ele edificará sua imensa criação artística, que por toda uma vida nem mesmo doenças chegaram a interromper. Será uma exuberante floresta tropical de obras, maravilhosa, imbricada, extasiante.
Retorna ao Rio em 1912 e já em 1913 casa-se com a reconhecida pianista Lucília Guimarães. O domínio exímio do piano, que principiara com uma tia, ele o deveu à sua primeira esposa.
Se as primeiras composições de Villa-Lobos trazem a marca dos estilos europeus da virada do século XIX para o XX, contendo influências de Wagner, Puccini, Cesar Frank e dos impressionistas, será nas “Danças Africanas” (1914) que ele iniciará seu “repúdio” aos moldes europeus e principiará o desenvolvimento de uma linguagem própria, que viria a se firmar nos revolucionários bailados “Amazonas” e “Uirapuru” (1917), elogiados por ninguém menos Debussy.
Villa chegará à década de vinte, perfeitamente senhor de seus recursos artísticos, revelados em obras que conquistaram até mesmo o Velho Mundo.
Já aquilo que podemos denominar de uma segunda fase musical, é essencialmente pianística, cheia da leveza da descoberta. Nela encontramos as “Cirandas”, a “Lenda do Caboclo”, a “Prole do Bebê”. As experiências pessoais com o folclore brasileiro resultaram em “O Guia Prático”, uma coletânea de canções destinadas à educação musical nas escolas.
Em 1922, Villa-Lobos participa da Semana da Arte Moderna. Nesse momento, ele deu forma musical a uma boa parte da poesia do modernismo brasileiro, destacando-se a adaptação do lirismo íntimo de um Manuel Bandeira, assim como às “Quatorze Serestas” de 1925. Deste período ainda teremos o “Noneto”, quase uma panorâmica folclórica do interior brasileiro, traduzida pelo gênio do compositor. Também os “Choros” e a “Alma Brasileira”, para voz e piano, aquela que inclui um dos pontos mais altos de toda a nossa musicalidade, o “Rasga Coração”.
Mário de Andrade comentou que Villa, ao universalizar o elemento básico da música, que é o canto popular, não o traiu, mas nele despertou o que há de mais humano.
Será um Villa, já formador de opinião, que viajaria a estudos para a Europa em 1924 e novamente em 1927, financiado pelo milionário carioca Carlos Guinle, retornando ao Brasil em 1930. Durante esse tempo no Velho Mundo, seu estilo eclético incorporou uma forte influência de Debussy e de Stravinsky, tendo ainda adensado um profundo estudo de Bach e de outros mestres do passado.
No retorno, Villa engaja-se na nova realidade produzida pela Revolução de 1930; realiza uma turnê por cidades, e introduz a “Cruzada do Canto Orfeônico”, levada a cabo na cidade do Rio de Janeiro. Em 1932, Vargas, de quem Villa-Lobos tornar-se-ia grande amigo, assinou um decreto que tornava obrigatório o ensino de canto orfeônico nas escolas. No mesmo ano, foi criado o Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico para Professores do Distrito Federal, projetos de Heitor Villa-Lobos.
Através de seu projeto de educação musical, Villa-Lobos procurava aproximar-se das massas populares, objetivando incutir-lhes os ideais de civismo, disciplina e ordem. De acordo com o historiador Arnaldo Contier, pela primeira vez no Brasil, um grande número de pessoas, em coro, teria entoado marchas e canções cívicas.
Villa-Lobos definia o canto orfeônico como um “fator poderoso no despertar dos sentimentos humanos, não apenas os de ordem estética, mas os de ordem moral, sobretudo aqueles de natureza cívica. Influi, junto aos educandos no sentido de apontar-lhes… a noção de disciplina, não mais imposta sob a rigidez de uma autoridade externa, mas aceita, entendida e desejada. Dá-lhes a compreensão da solidariedade entre os homens, da importância da cooperação, da anulação das vaidades individuais e dos propósitos exclusivistas…”
Mirelle Ferreira em sua tese sobre Villa, concluiu: “O grande interesse do maestro ao desenvolver seu projeto era ensinar música às crianças nas escolas públicas. Ainda que fosse bem remunerado pelo Estado, não podemos afirmar que o dinheiro movia seu trabalho. Embora expressasse uma postura política alinhada ao Estado Novo, a preocupação principal dela era a música, o ensino, a educação.”
No ano de 1937, o mestre desenvolverá a “Missa de São Sebastião” e a suíte “O Descobrimento do Brasil”, obra prima de uma polifonia desvairada, tropical, quase do tamanho de um “O Guarani” de Carlos Gomes do século passado.
O casamento de Villa com Lucília Guimarães termina na década de 1930, conflituoso como já o era de há muito. Lucília jamais lhe concederia o divórcio.
Em 1936, Villa conhecerá Arminda Neves d’Almeida, a Mindinha, com quem viverá até a morte, em 1959. A ex-aluna foi sua grande companheira tanto nos momentos mais difíceis, após a cirurgia de câncer a que deverá se submeter em 1948, quanto nos momentos de maior glória mundial vivida nos anos de 45. Deve-se a ela a compilação e a divulgação de parcela imensa da obra de Villa que permanecera inédita durante a vida.
Em 1942, quando o maestro Stokowski e a The American Youth Orchestra foram designados pelo presidente Roosevelt para visitar o Brasil, o maestro solicitou a Villa-Lobos que selecionasse os melhores músicos e sambistas, a fim de gravar a coleção “Brazilian Native Music”. Villa-Lobos reuniu Pixinguinha, Donga, João da Baiana, Cartola, que sob sua batuta realizaram apresentações e gravaram uma coletânea de discos, pela Columbia Records. Esta coleção, de enorme repercussão, incluiu definitivamente a música brasileira no repertório internacional de vanguarda.
Em 1944/45, Villa-Lobos viajou aos Estados Unidos para reger as orquestras sinfônicas das cidades Boston e de Nova York. Apareceu pessoalmente no filme da Disney “Alô, Amigos” (1940), ao lado do próprio Walt Disney, seu fã.
Em uma entrevista, em Nova York, Villa-Lobos foi perguntado sobre o uso de melodias indígenas em sua música. Ele respondeu que usava, sim, mas que eram melodias tão antigas que os índios atuais não as conheciam. Pergunta: “Se as melodias foram esquecidas pelos índios de hoje, como o senhor conseguiu entrar em contato com elas?”. Villa-Lobos, rápido: “Pelos papagaios. Os papagaios brasileiros ouviram essas melodias há muitos anos e não as esqueceram. Eles vivem até uma idade muito avançada. Ouvi os papagaios e anotei as melodias”.
Tirada típica do caráter e temperamento do compositor, um trocista emérito.
Em 1945, fundou a Academia Brasileira de Música.
A fase que muitos chamam de neobarroca de Villa, estendeu-se pelos quase quinze anos posteriores, cujos maiores destaques foram as “Bachianas Brasileiras” em número de nove, para diversas formações instrumentais e vozes. Um tributo a Bach, que nosso maestro considerava o maior folclorista de todos os tempos. As “Bachianas Brasileiras” são uma síntese absolutamente “sui generis” e genial, que funde sob as formas pré-clássicas elementos do folclore brasileiro, como a música caipira, com a intenção explícita de construir uma versão brasileira dos “Concertos de Brandemburgo”.
Trabalho de genialidade inigualável, alguns trechos se tornaram mais populares que outros: o quarto movimento da Bachiana n° 2, a tocata “O Trenzinho do Caipira”, a ária “Cantilena”, que abre a Bachiana de n° 5; o coral “O Canto do Sertão” e a dança “Miudinho”, ambos na Bachiana n° 4.
Appleby, um de seus biógrafos, destaca que o compositor, sempre bem humorado, também se dedicava a fantasiar os relatos sobre seu passado. “A cada pessoa ele contava uma história diferente sobre suas viagens entre 1905 e 1911, sobre o tempo em que teria morado em tribos indígenas”. Ao analisar o legado do compositor, o biógrafo diz que “Villa-Lobos criou o reconhecimento internacional da música brasileira que tornou possível o sucesso, mais tarde, da música popular brasileira”, colocando-o como o precursor de Tom Jobim, Caetano Veloso e Chico Buarque.
“Villa-Lobos não ligou para diferenças estilísticas entre música clássica e música popular”, afirma. “Tentou exprimir a alma brasileira com as ideias dele, formulando seu estilo individual.”
Não constitui exagero afirmar-se que com Heitor Villa-Lobos, a música brasileira alcançou a sua independência!
Bibliografia:
  1. Carpeaux, O.M.. Uma nova história da música. Zahar Editores.
  2. Sadie, S.. Dicionário Grove de Música: edição concisa. Zahar Editores,1994.
  3. Contier, A.. Identidade cultural e estética nacionalista na música brasileira (1922-1945).
  4. Appleby, D.. Heitor Villa-Lobos: a bio-bibliography. Greenwood Press, 1988.
*Graduado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) e pela Faculdade de Odontologia (FO), ambas da USP.