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terça-feira, 7 de maio de 2019

Reação secundarista contra corte de Bolsonaro chega às cinco regiões

Mais de 100 institutos e colégios federais vestiram preto nesta segunda (6/05) e se mobilizam para a greve da educação.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) participava de cerimônia do Colégio Militar no Rio de Janeiro, nesta segunda (6/05), ficou impossível não ouvir o grito de estudantes e pais do lado de fora. Eles se manifestavam contra o corte de mais de 30% para instituições federais de ensino, como Colégio Pedro II, o Cefet e os Institutos Federais (IFs).
Protesto no Rio de Janeiro (Foto: Francisco Proner).

O mesmo grito aconteceu no Brasil todo, com a campanha #TiraAMãoDoMeuIF: em ao menos 21 dos 26 estados há registros de estudantes mobilizados nos seus IFs, locais de excelência educacional e alvo da tesoura injustificada do Ministério da Educação.

Chama atenção a agilidade e abrangência da resposta secundarista, após o anúncio repentino dos cortes. Mais de 100 Institutos Federais estavam organizados nesta segunda-feira para barrar a medida, em torno da tag #TiraAMãoDoMeuIF, com roupas pretas, cartazes e palavras de ordem.
IFBA – campus Jequié
Estudantes abraçam o campus Paranavaí do IFPR
IFPI – campus Paulistana
IFPA – campus Jacobina

Paralisação Nacional da Educação
A defesa estudantil pela rede federal de ensino promete se estender em assembleias ao longo da semana. A ideia é unificar todo o Brasil em uma Paralisação Nacional da Educação, em 15 de maio.
Acompanhe o movimento pelos perfis da UBES no Instagram e no Facebook.
Defesa dos Institutos Federais

Os cortes de R$ 740 milhões anunciados pelo governo Bolsonaro na rede federal de ensino médio e técnico impediria muitas destas instituições de terminar o ano letivo. 

Com 642 unidades, os Institutos Federais oferecem ensino médio integrado ao técnico em capitais e no interior. Além de capacitação e formação cidadã, representam o desenvolvimento da ciência e pesquisa no Brasil. 

A UBES emitiu nota oficial em defesa da rede federal neste sábado, 4/05: “A economia de um país tem em sua base o conhecimento científico crítico e social, por isso, nos Institutos Federais não aceitaremos retrocessos”.

Fonte: UBES

NOTA DA UBES CONTRA OS CORTES NA REDE FEDERAL

O presidente da república, Jair Bolsonaro, nada comprometido com a educação brasileira mas sim com os desmontes para no fim defender a privatização, ataca mais uma vez as instituições de ensino da rede federal.
Sendo grande defensor da reforma trabalhista – que acabou com a CLT e os direitos conquistados -, da EC 95 – que congelou por 20 anos os investimentos para educação, saúde e segurança pública – e da reforma da previdência, extremamente prejudicial ao povo brasileiro, a qual se esforça para aprovar, Bolsonaro continua a sua perseguição aos professores e estudantes por meio da defesa do Escola sem Partido, dos ataques aos cursos das áreas de humanas e anuncia recentemente o corte de 30% dos investimentos nas Universidades e Institutos Federais.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, economista e executivo do mercado financeiro, chama de balbúrdia a liberdade de expressão das universidades UFF, UNB e UFBA, conhecidas pelo bom desempenho em pesquisa, e logo abrange a medida para as demais UFs e IFs. Os Institutos Federais, grandes responsáveis por descobertas na área científica, chegaram a cidades que antes nem sonhavam com acesso a tecnologia; pesquisas fomentadas nos laboratórios das instituições se estenderam para as comunidades locais por meio de projetos de extensão, e pela luta do movimento estudantil pela democratização do acesso aos IFs, a juventude periférica ocupa os espaços e vivencia a ciência. A juventude que antes deixava as escolas, sem perspectiva de futuro, passou a estudar e conhecer a tecnologia, tendo oportunidades de formação e de se tornar contribuinte para o desenvolvimento do Brasil.
Com o corte proposto o governo escolhe retroceder, colocando a maioria dos Institutos Federais em situação dificultosa para o funcionamento – como o IFF que terá menos 18 milhões, o IFPR menos 20,8 milhões e o IFRN menos 27 milhões de investimento -, mostrando mais uma vez o seu projeto de desmonte educacional em nosso país.
Somos estudantes de áreas biológicas, exatas e humanas. Fazemos parte dos Institutos Federais e o defenderemos para o bem do Brasil. Acreditamos que não há desenvolvimento sem a valorização da pesquisa, da ciência e da tecnologia. Por isso, convocamos os Institutos Federais para que se mobilizem, realizando assembleias estudantis junto de seus grêmios, conselhos de representantes de turma e coletivos, para nos prepararmos e construirmos, no dia 15 de maio, a paralisação nacional em defesa da educação, essa que nos é garantida por direito na Constituição de 1988.
Não nos calaremos diante à tentativa de nos amordaçar pela perseguição, justificada em argumentos ideológicos de quem não aceita ser contrariado. A democratização do ensino conquistada por nós com árduas lutas, bem como o desenvolvimento de projetos científicos contribuintes para toda a comunidade não podem ser prejudicados. A economia de um país tem em sua base o conhecimento científico crítico e social, por isso, nos Institutos Federais não aceitaremos retrocessos. No dia 15 de maio, estejamos juntos na linha de frente pela defesa e respeito com o que conquistamos e temos por direito, a educação pública e de qualidade!

Baixe artes, cartazes e panfleto para mobilizar seu IF

Pasta compartilhada tem artes para usar nas redes sociais e para imprimir, rumo à greve da educação em 15 de maio.

Esta pasta compartilhada pode ser de grande utilidade para quem quer barrar o corte de 30% imposto pelo governo Bolsonaro para a rede federal de ensino. São artes tanto para redes sociais quanto para imprimir, importantes para mobilizar mais gente e construir uma grande paralisação nacional da educação no dia 15 de maio.
A mobilização só cresce desde sexta-feira (3/05), dia seguinte ao anúncio do governo federal sobre os cortes. Grande parte das 642 unidades dos Institutos Federais, além de Colégio Pedro II e Cefet, no Rio de Janeiro, já estão organizados para barrar a medida e realizar atos de rua no dia 15 de maio.
Acompanhe pelos perfis da UBES no Instagram e no Facebook.

Entre na luta com seu IF

Para fazer do seu IF também uma trincheira contra os cortes, siga estes passos:
  • Converse com pais, colegas, professores, direção
  • Crie um grupo de WhatsApp do seu IF
  • Organize assembleias de preparação para a greve geral
  • Prepare cartazes para o dia 15
  • Compartilhe fotos e vídeos de tudo! Use a tag #TiraAMãoDoMeuIF e marque @ubesoficial e @circusdaubesoficial.
  • Fonte: UBES

Universidades e escolas protestam contra cortes de 30% no setor

Ato na UFBA tomou às ruas em Salvador na Bahia 
por Cristiane Tada.
Atos na Bahia e RJ são uma amostra do que virá no dia 15 de Maio, dia de mobilização nacional construído por estudantes e educadores.
Extremamente preocupadas universidades e institutos federais de todo o Brasil se pronunciaram repercutindo o anúncio do bloqueio de 30% no orçamento das instituições de ensino pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub. Um dia depois do ministro ameaçar o corte como retaliação apenas às instituições de ensino UnB, UFBA, e UFF que teriam promovido “balbúrdia”, o MEC anunciou ainda na semana passada que na verdade o contingenciamento será a todas universidades e institutos federais.
Nesta segunda-feira (06/5) a comunidade acadêmica da UFBA realizou um protesto contra os cortes que saiu da Faculdade de Educação e tomou a Avenida Reitor Miguel Calmon, uma das principais vias da capital baiana. O reitor da UFBA, João Carlos Salles, afirmou que cerca de 40 mil alunos são afetados pelo corte do orçamento, que já entrou em vigor na última semana.
Alunos, pais e professores também protestaram contra os cortes nos institutos federais em frente a um colégio militar na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro. Lá o presidente Jair Bolsonaro participava de uma solenidade. Os atos são preparatórios para o dia 15 de Maio, data em que uma grande paralisação da Educação está marcada.
Protesto no RJ
“Não podemos admitir esse corte porque isso significa que o Brasil vai parar de produzir ciência, que a universidade vai perder qualidade e que esses projetos como Escola Sem Partido e essas tentativas de cercear a nossa liberdade transforme o ambiente universitário em autoritário e um lugar onde a gente não possa protestar. E para que a gente consiga proteger a universidade pública nós precisamos nos organizar e por isso estamos convocando a comunidade acadêmica a debater o assunto para que possamos motivar a luta em defesa da universidade pública em assembleias e atos no dia 15 de Maio, uma preparação para a greve geral que acontecerá em Junho”, afirmou a presidenta da UNE, Marianna Dias.

ATIVIDADES UNIVERSITÁRIAS PODEM SER INTERROMPIDAS

UFG, UFF, UFPR, UFPel, UFPE, e o Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) já foram categóricas em dizer que o corte inviabiliza as atividades das instituições até o final do ano.
“Se forem cortados 30% do orçamento, significa simplesmente que nós funcionaremos até setembro. A UFPel não tem nenhum tipo de corte para fazer, tudo que existia para cortar já foi cortado. É uma irresponsabilidade minha, como gestor, fazer cortes a mais”, disse o reitor Pedro Hallal para a Gaúcha ZH.
Em Pernambuco o pró-reitor de Planejamento e Finanças, Thiago Galvão disse à Rádio Jornal que caso o MEC não volte atrás na decisão, a UFPE também vai ter que decidir quais ações serão paralisadas. “No primeiro semestre, o impacto não será significativo, mas, no segundo semestre pode, inclusive, inviabilizar as atividades. Esses é um processo que vai ser discutido junto com o Conselho Universitário, com a administração para ver que atividades serão paradas caso esse bloqueio seja continuado”.
Já a UFPR, afirmou que as atividades podem simplesmente parar por falta de dinheiro para despesas básicas como o pagamento de luz, água, telefone, combustível, vigilância, passagens, contratos de terceirizadas responsáveis por limpeza, entre centenas de outros serviços essenciais.
“Esse corte, nesta altura, vai inviabilizar a atividade da universidade. Mesmo com uma ação radical da nossa parte, e estamos tentando, por mais que façamos uma racionalização profunda, é praticamente impossível chegarmos com o que resta de recursos até o final do ano.”, afirmou ao site Bem Paraná, o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca.

Em Minas Gerais as demissões dos terceirizados já começaram. A Unifal afirma que já havia reduzido o pessoal devido ao congelamento do teto de gastos em 2018, mas agora não existe mais o que cortar. “Demitimos uns 60 em função desse bloqueio que havia sido anunciado. Temos número reduzido de servidores concursados. Como faremos para a universidade funcionar? Com colaboradores terceirizados. Como há necessidade de redução, isso vai afetar gravemente o funcionamento da universidade e de serviços prestados à população”, afirmou o reitor Sando Amadeo Cerveira ao jornal O Tempo. Entre os serviços está o atendimento da Clínica de Especialidades Médicas.
Fonte: UNE

Invenção revolucionária, bicicleta empoderou mulheres e mais pobres

Em um dia de outono de 1865, dois homens chegavam a uma taverna em Connecticut, nos Estados Unidos, para acalmar os nervos com uma bebida. Eles conduziam uma carroça em uma colina próxima, quando um grito terrível os deixou arrepiados. O que parecia ser o próprio diabo – com a cabeça de um homem e o corpo de uma criatura estranha – vinha “voando” colina abaixo em direção a eles, rente ao chão, até cair em um buraco.
Por Tim Harford, na BBC*
Imagine o terror que eles sentiram quando o diabo em questão se aproximou deles para se apresentar. O homem, um francês de cabelos escuros, estava encharcado e coberto de sangue. Seu nome era Pierre Lallement. O jovem mecânico estava nos EUA havia alguns meses e havia levado consigo uma máquina inventada por ele: uma construção de duas rodas com pedais chamada “velocípede”. Mais tarde, a chamaríamos de bicicleta.
Lallement patenteou sua invenção, que ainda não tinha marchas nem a corrente das bicicletas modernas. Tampouco freios. Seu modelo complexo foi rapidamente ultrapassado por outro, o chamado Penny Farthing, que tinha uma roda gigantesca na frente e uma bem pequena atrás – um veículo que não era tranquilo de guiar, mas que era duas vezes mais rápido que o velocípede. Eles eram conduzidos quase exclusivamente por jovens destemidos em cima da roda imensa que ameaçava jogá-los para frente diante do menor obstáculo.
A versão seguinte, a “bicicleta segura”, atraiu um grupo bem maior. Ela era muito parecida com as bicicletas modernas, com correia, rodas do mesmo tamanho e um quadro em forma de diamante. A velocidade era alcançada graças não a uma roda gigantesca, mas a engrenagens.
Era possível conduzir essas bicicletas até de vestido. Não que isso preocupasse Angeline Allen, por exemplo, que causou sensação em 1983 pedalando nos arredores de Nova York. “Ela usava calças!”, dizia a manchete de uma popular revista masculina, acrescentando que ela era jovem, bonita e divorciada.
A bicicleta foi uma força libertadora para as mulheres. Elas precisavam se livrar de espartilhos e de saias armadas com aros – e usar roupas mais confortáveis para pedalar com mais facilidade. Pedalar também significava se deslocar sem acompanhantes. Os mais conservadores ficaram alarmados, temendo que o que viam como “pedaladas obscenas”, pudesse levar à masturbação e até à prostituição. Temores que logo se mostraram ridículos.
Segundo a historiadora Margaret Guroff, no caso de Angeline Allen, ninguém parecia preocupado com o fato de ela estar andando de bicicleta – apenas com as roupas que ela usava enquanto fazia isso. Uma mulher vista sozinha de bicicleta, em público, não parecia um escândalo. Três anos depois, Susan B. Anthony, ativista dos direitos das mulheres no século 19, declarou que a bicicleta havia feito “mais pela emancipação das mulheres do que qualquer outra coisa no mundo”.
Hoje, a bicicleta continua empoderando as mulheres. Em 2006, o governo do Estado de Bihar, na Índia, começou a subsidiar fortemente a compra de bicicletas para meninas adolescentes que estavam começando o ensino médio – a ideia era que elas pudessem percorrer os vários quilômetros que precisam enfrentar para assistir aula. O programa parece ter funcionado, aumentando significativamente as chances de as meninas continuarem na escola.
Nos Estados Unidos, o astro do basquete LeBron James fundou uma escola em sua cidade natal em Ohio que fornece uma bicicleta para cada estudante. James relata que ele e os amigos se sentiam “extremamente felizes” quando andavam de bicicleta – que tem sido, há muito tempo, uma tecnologia libertadora para os economicamente oprimidos. Em seus primórdios, elas eram muito mais baratas que um cavalo, ainda que oferecessem o mesmo alcance e liberdade.
Da bicicleta ao carro
A bicicleta também impulsionou uma revolução na indústria, assim como uma revolução social. Na primeira metade do século 19, peças de precisão intercambiáveis eram usadas para fabricar armas de fogo para o Exército dos Estados Unidos, a um custo considerável. O processo era considerado muito caro para ser completamente reproduzido por “fábricas civis”.
A bicicleta, entretanto, conseguiu criar uma ponte entre a fabricação de produtos militares de ponta e a difusão da produção em série de produtos complexos. Os fabricantes de bicicletas desenvolveram técnicas simples e facilmente replicáveis – como estampar chapas de metal frio para criar mais formas – para manter os custos baixos sem sacrificar a qualidade. Eles também desenvolveram pneus, engrenagens diferenciais e freios. Tanto as técnicas de fabricação quanto esses componentes inovadores foram adotados depois por fabricantes de automóveis, como Henry Ford.
A primeira bicicleta segura, aliás, foi feita em 1885 na fábrica da Rover, em Coventry, na Inglaterra. Não por acaso, a Rover se tornou posteriormente um importante player na indústria automobilística. Sua transição do ramo de bicicletas para o de carros era óbvia.
A bicicleta também foi um impulso para a modernização da indústria no Japão. O primeiro passo para isso foi a importação de bicicletas do Ocidente para a capital, Tóquio, por volta do ano 1890. Depois, foram criadas oficinas para consertar bicicletas. O passo seguinte foi o início da produção local de peças de reposição. Apenas 10 anos depois, Tóquio dispunha de todos os ingredientes para produzir suas próprias bicicletas. Quando a 2ª Guerra Mundial eclodiu, o país já fabricava mais de meio milhão de bicicletas por ano.
Ver a bicicleta como uma tecnologia do passado pode ser tentador para algumas pessoas. Mas dados recentes mostram que essa não é a realidade. Há meio século, a produção mundial de bicicletas e carros era quase a mesma – 20 milhões, cada, por ano. A produção de carros triplicou desde então, mas a produção de bicicletas aumentou duas vezes mais rápido – para cerca de 120 milhões por ano. E não é absurdo pensar que as bicicletas estão criando tendências de novo.
Em um momento em que o uso de carros autônomos – ou seja, sem motoristas – já está sendo explorado, há quem acredite que o veículo do futuro não terá donos, mas será alugado por meio de aplicativos de celular. Se assim for, o veículo do futuro está aqui: já existem diversos esquemas de compartilhamento de bicicletas em todo o mundo. É um número que segue em expansão e um tipo de sistema que possibilita até o aluguel de algumas com motores elétricos.
O Uber já anunciou que planeja focar mais em seus negócios de patinetes elétricos e bicicletas, e menos em carros. Algumas empresas tiveram problemas iniciais com esse modelo de negócio – com bicicletas roubadas, danificadas ou abandonadas – e, por esse motivo, pararam de operar em algumas cidades. No entanto, este mercado parece estar crescendo, uma vez que a bicicleta ainda é o meio de transporte mais rápido para circular em áreas com trânsito mais pesado.
É verdade que ficar mais suscetível à poluição – como fumaça dos carros – e a possibilidade de acidentes são fatores que desencorajam alguns ciclistas. Mas, se a nova geração de carros é elétrica e não poluente, e conduzida por um robô atencioso e cauteloso, a popularidade da bicicleta só tende a aumentar.
* Tim Harford escreve a coluna “Undercover economist” no jornal britânico Financial Times e apresenta a série “50 coisas que fizeram a economia moderna”, transmitida pelo Serviço Mundial da BBC.
Fonte: Brasil Cultura

Carlos Drummond de Andrade: O poeta Quintana

Lago Burnett atribuiu-me a criação do neologismo “quintanares”, alusivo aos poemas de Mário Quintana.Infelizmente não fui eu, foi Cecília Meireles que cunhou a palavra. Bem que eu gostaria não só de ter batizado como de ter escrito os quintanares de Quintana.
Por Carlos Drummond de Andrade, no Correio da Manhã (31/07/1966)
* Monumento a Carlos Drummond de Andrade e a Mário Quintana, na Praça da Alfândega, em Porto Alegre (RS)
Por outro lado, sei que não me seria possível escrevê-los. Só o Quintana tem a fórmula, direi melhor, a ausência de fórmula dessas cantigas: ora soneto, ora trova, ora verso livre, ora prosa enganadora, por fora; por dentro, o imponderável de um achado poético não procurado, porque foi ele, achado, que achou o achador. Não me faço entender? Não faz mal. Remeto o leitor à Antologia Poética de Mário Quintana, que a Editora do Autor acaba de publicar, com o melhor de sua produção, tirado de cinco livros, além de 60 poemas inéditos.
Gaúcho de Alegrete, Quintana imagina-se a cavalo no campo, deixando que o poema, “esse estranho animal”, encontre o rumo. “Ele não quer saber de querências, de nada, / E só descobre estranhos descaminhos…” Acaba topando com os Três Reis Magos, que perguntam ao poeta se viu a Estrela. Também lhe acontece topar com D. Quixote, o Espantalho Desconhecido, Jack o Estripador, até Jesus Cristo com o Menino Jesus ao colo.
Há encontros menores, nem por isso menos provocadores de poemas. Basta-lhe um guarda-chuva perdido, que vai formar anel em Saturno; ou um grilo, um ovo. Mitos, pessoas, coisas, situações vêm ao encontro de Mário Quintana com a naturalidade de velhos camaradas de diferentes meios que têm um amigo em comum. O poeta acolhe-os com a mesma cortesia afetuosa. Disto se faz a lírica de MQ: é uma tradução, para o simples, de muitos mistérios.
Poderia chamá-lo intérprete. Pois aqueles dos risos, o da velhinha e o da garota, nós bem os percebemos e distinguimos, sem saber defini-los. Temos de recorrer a Quintana: o riso da vovó “é um riso de cobre – surdo, velho, azinhavrado – um riso que sai custoso, aos vinténs”, ao passo que a menina “lhe dá o troco em pratinhas novas”. Há casos em que o poeta nos explica o objeto pelo objeto, em sua essencialidade:
Um lampião de esquina
Só pode ser comparado a um lampião de esquina,
De tal maneira ele é ele mesmo
na sua ardente solidão!
Também nos dá a chave de sublimes compensações gratuitas:
Não é preciso um verso… nem
Uma oração…
Basta que digas a palavra anêmona
E tudo esquecerás, enredado na sua
Fantasmagórica palpitação.
A simplicidade de meios, a cantante sequência de versos que, mesmo se esquivando ao metro fixo, estão sempre banhados numa atmosfera de música surdinada, o poder de extrair de um incidente mínimo de vida a centelha de poesia que ilumina uma extensão ilimitada, eis alguns dos segredos de bolso de Mário Quintana. Porque o segredo grande, este não se revela.
O segredo de ser o poeta que ele é, e não outro, sem embargo das influências que agiram em sua formação e das afinidades que o ligam a uma família de espíritos; a organização especial, o jeito quintanar e único, a arte de aprofundar sua experiência convertendo sua poesia num bem geral de tantos que nunca o viram e que entretanto o amam à fé destes versos. Pois esta é uma poesia que, “na sua ardente solidão”, provoca imediata empatia, e se faz objeto de amor.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), escritor modernista, é considerado o maior poeta brasileiro do século 20. Este artigo de sua autoria foi publicado originalmente em Carlos Drummond Andrade – Autorretrato e Outras Crônicas (Editora Record)