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segunda-feira, 29 de abril de 2019

CULTURA - “Roma” desperta orgulho e racismo nos mexicanos

O filme e o sucesso da atriz principal, Yalitza Aparicio, reacendem debate sobre classismo, diversidade e intolerância no país

Classismo e racismo são os principais temas abordados em Roma, filme do diretor mexicano Alfonso Cuarón. O sucesso da obra deu a volta ao mundo e bateu recordes em premiações internacionais. Concorre em dez categorias no Oscar deste ano, incluindo a de melhor filme, nomeação raramente concedida a produções estrangeiras. Sua protagonista, Yalitza Aparicio, também tem sido ovacionada pelo público, ao mesmo tempo em que recebe fortes críticas por sua ascendência indígena.
A atriz de 25 anos tem mãe da etnia triqui e pai mixteca, ambos originários de povos indígenas do estado de Oaxaca, no México. Em Roma, ela interpreta Cleo, empregada doméstica de uma família de classe média na Cidade do México. A personagem é inspirada em Liboria Rodríguez, babá de Cuarón durante a infância.
Cleo expõe as desigualdades raciais e sociais dos povos indígenas no México. Tanto a personagem quanto a própria atriz têm sido tema de controvérsias. Por um lado, a sociedade se orgulha de mostrar o verdadeiro México; enquanto, para outros, Aparicio e Cleo têm histórias de vida que não merecem ser contadas.
“Índia maldita” foram as palavras usadas por um ator mexicano para se referir a Aparicio e à sua indicação ao Oscar de melhor atriz. Essa é apenas uma das tantas ofensas que tem recebido. “Ela não sabe atuar, não deveria ter sido indicada” e “ela não atuou, ela é assim” estão entre outros comentários comuns nas redes sociais.
Contudo, Aparicio conveceu a crítica internacional e foi reconhecida mundo afora por sua atuação. Além de uma série de indicações em premiações de cinema, ela levou o prêmio de atriz revelação no Hollywood Film Awards em 2018.
O DIRETOR CUARÓN E A ATRIZ PRINCIPAL, YALITZA APARICIO (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Segundo algumas atrizes mexicanas, lhes chama a atenção que alguém cuja aparência não atende aos padrões de beleza socialmente estabelecidos possa ter sucesso nos Estados Unidos e ser capa de revistas de moda. Comentaristas de veículos de comunicação têm inclusive pedido publicamente que a atriz se vista como indígena nas cerimônias de premiação.
“Isso é um reflexo das posições de privilégio e do racismo tradicionais no México. As reações mais depreciativas vêm de pessoas que não têm a menor chance de ganhar um prêmio na vida. São manifestações de inveja do talento e do sucesso dos outros”, comentou, em entrevista à DW, Federico Navarrete, pesquisador da Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
“A elite mexicana acredita que os espaços de poder pertencem a ela. As pessoas brancas, com seu privilégio racial, ocupam lugares de destaque na sociedade e agora se sentem ameaçados e com coragem”, acrescentou Navarrete, autor do livro México racista: uma denúncia.

Aparicio, o verdadeiro rosto do México

Preto, moreno ou negro são adjetivos pejorativos na sociedade mexicana – o que é surpreendente, já que mais de 80% da população tem a pele escura, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística e Geografia (Inegi). Os números permitem concluir que a imagem de Aparicio é o verdadeiro rosto do México, apesar das críticas que recebe.
O fato de uma mulher indígena alcançar o sucesso significa muito para a sociedade mexicana, já que esse grupo social é o mais marginalizado em termos econômicos, quanto ao acesso à educação, à saúde e aos direitos reprodutivos.
Apenas ter a pele escura já é motivo de discriminação no México. De acordo com estudos do Inegi, a cor da pele exerce influência no nível de educação e nas oportunidades de emprego que chegam às pessoas. Nesses levantamentos, 72,2% dos entrevistados disseram considerar que existe racismo no país, e 47% acreditam que os indígenas não têm as mesmas oportunidades de emprego, muito menos em cargos de chefia.
APARICIO, DE ORIGEM INDÍGENA, SOFRE ATAQUES RACISTAS (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Roma, uma mensagem poderosa

O classismo exposto no filme revela um dos traços mais vergonhosos dos mexicanos: a veneração à pele branca, apontam especialistas. Além de convidar os espectadores à nostalgia ao retratar um México nos anos 1970, Roma faz uma reflexão sobre a pouca mudança das estruturas sociais nas últimas décadas.
A realidade atual não está longe da vista no filme. Um exemplo é o tratamento que a atriz Marina de Tavira, coadjuvante no longa, tem recebido. Ao contrário do que acontece com Aparicio, Tavira não foi alvo de comentários ou ofensas racistas por seu desempenho, porque sua imagem, branca e de cabelos claros, não mexe com as estruturas.
“No México, a ascensão social implica branqueamento, de forma literal. No país existem inclusive cremes para clarear a pele. Ser branco é uma aspiração. É associado à posição econômica, a sofisticação e a ser cosmopolita”, diz Navarrete.
Agora, Aparicio se destaca num mundo destinado, em grande parte, a pessoas de traços caucasianos. Assim como Roma, ela reacendeu o debate sobre as desigualdades. Ganhando ou não a estatueta do Oscar, a atriz já é inspiração para todas as mulheres negras e indígenas, pois sua história rompe todos os paradigmas.
Fonte: CARTA CAPITAL

Diário do Bolso: censura à propaganda do Banco do Brasil e o novo comercial


Por José Roberto Torero*

E daqui pra frente vou ver todos os comerciais para não deixar passar nada gayzístico. O Brasil é terra de homem, pô!

Diário, mandei suspender um reclame do Banco do Brasil em que aparecia um traveco. Ou será que era uma machona? Sei lá, tanto faz. O negócio é que não era uma mulher de verdade. 

E daqui pra frente vou ver todos os comerciais para não deixar passar nada gayzístico. O Brasil é terra de homem, pô!

É que nem eu disse no café da manhã com os jornalistas: O país não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay. Mas quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. 
Pensando nisso, até escrevi um reclame. Ele começa assim: 

1. Selva. Exterior. Dia.

Pablo Vitar (vestido de rosa, com muitas plumas) e uma mulher pelada (bem bonitona, com uma bundona daquelas e close na chavasca) correm pela mata. Eles atravessam um riacho, pulam sobre troncos caídos, se esgueiram entre galhos. Os dois estão meio desesperados. As plumas do Pablo Vitar de vez em quando engancham nos ramos e vão deixando rastros pelo caminho. 

2. Cabana na mata. Exterior. Dia. 

Há uma fila onde estão, usando aqueles uniformes camuflados do exército, o Olavo, o Ernesto de Araújo, o 01, o 02, o 03 e a Damares. Todos seguram rifles. No fim da fila está o Trump. Ele usa bermuda azul com estrelas brancas, uma camisa florida e, em vez de rifle, segura uma daquelas redes gigantes de caçar borboleta. Eles estão em fila e eu, com roupa de general, ando em frente a eles e digo: 
– Cada um sabe o que tem que fazer. Vamos à caça! Já!
E aí eles saem correndo em direção à mata.
3. Mata. Exterior. Dia

Cenas alternadas dos caçadores e dos fugitivos correndo pela mata. O Olavo acha uma pluma do Pablo. Lambe a pluma e aponta a direção para os outros. Todos saem correndo no sentido indicado. 

4. Clareira na mata. Exterior. Dia.

A peladona e Pablo Vitar (agora já com as plumas todas rasgadas, com o bilau aparecendo, que nem no vídeo do golden shower) chegam ao meio de uma clareira. Estão bem cansados e param para respirar. Então, de todos os lados da clareira surgem os caçadores, que apontam suas armas para a dupla. Pablo e peladona percebem que foram cercados. Eles estão com muito medo. De repente, a rede de caçador cai sobre a peladona e Trump sorri. Na sequência, Damares grita “Menino usa azul!” e os caçadores disparam suas armas. Bam-bam-bam-bam!

5. Salão de caça. Interior. Dia.

Num salão de caça bem grande, daqueles com lareira, temos a cabeça de Pablo Vitar na parede. Ao lado dele há outros pervertidos famosos, tipo Roberta Close, Elton John, George Takei (pô, eu até gostava dele no Jornada das Estrelas), Ney Matogrosso, Laerte, Lea T, etc…

Abaixo das cabeças estão nossos caçadores. Todos sorrindo, com cara de dever cumprido. E à frente deles estamos eu, a peladona e o Trump, que ainda prende a mulher com a rede de caçar borboleta. Aí a câmera dá um close em mim. Eu faço um revolvinho e digo: 

– No Brasil está aberta a temporada de caça aos viados. Mas se quiser comer mulher, seja bem-vindo.
Então o Trump dá uma piscadinha e FIM.

Tá vendo, Diário? Dá para fazer reclames decentes. É só pensar um pouco.

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.