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sexta-feira, 17 de julho de 2020

SORORIDADE EM PAUTA - O racismo brasileiro na obra de Lélia Gonzalez

O racismo brasileiro na obra de Lélia Gonzalez

Ao teorizar sobre a identidade amefricana, teórica feminista negra mostrou-se precursora e revolucionária.

Lélia Gonzalez, filósofa, antropóloga, professora universitária e ativista dos movimentos negros e feminista, teve papel importante na academia brasileira e talvez tenha sido a militante negra que mais participou de seminários e congressos fora do Brasil até a metade dos anos 1980, o que lhe permitiu conhecer a diáspora africana na perspectiva de vários países, resultando na enunciação da categoria político-cultural da amefricanidade.
Lélia percebeu não só as experiências comuns dos negros nas Américas – uma história de sofrimento, humilhação, exploração, etnocídio –, mas também que os povos diaspóricos formavam identidades culturais e étnicas com raízes africanas, porém, historicamente transformadas com a própria diáspora africana e a colonização, revelando “a heroica resistência e a criatividade na luta contra a escravização, o extermínio, a exploração, a opressão e a humilhação” (A categoria político-cultural de amefricanidade (1988). In: GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa… Diáspora Africana: Ed. Filhos da África, 2018. p. 331).
O elemento latino estaria contido, sobretudo, na longa e violenta dominação dos colonizadores, que ainda tenta encobrir a influência dos elementos ameríndios e amefricanos, embora a amefricanidade esteja presente na cultura brasileira expressada cotidianamente nas falas, nos gestos, nas maneiras de ser, na culinária, na música, na tecnologia, manifestações estas que podem se dar sem a consciência das pessoas.
Além disso, com a amefricanidade, Lélia se contrapunha também ao imperialismo estadunidense que se apropria da América como significante e em menor grau ao termo afro-american que dá a impressão de que a questão da população negra diz respeito apenas aos estadunidenses e não a todos americanos.
Para Lélia, o racismo como tática de exploração/opressão assume duas faces nas Américas. O racismo por segregação é o praticado em sociedades de colonização anglo-saxônica, germânica ou holandesa e estabelece que negra é a pessoa que tenha tido antepassados negros, ou seja, que tenha sangue negro nas veias. Nesta articulação ideológica, a miscigenação é impensável, pois a superioridade branca é assegurada com a pureza do sangue, donde a solução é a segregação dos grupos não-brancos, como o sistema do apartheid (“iguais, mas separados”), que, ainda que legalmente superado, teve o efeito de reforçar a identidade racial dos discriminados.
Na Améfrica Ladina[1], com a maior parte da população ameríndia e amefricana, desenvolveu-se o racismo por denegação, em que prevalecem as “teorias” da miscigenação, da assimilação e da democracia racial. A formação histórica da Espanha e de Portugal, que se deu com a Reconquista da Península Ibérica contra os invasores mouros (predominantemente negros) e árabes, proporcionou aos colonizadores uma “sólida experiência quanto aos processos mais eficazes de articulação das relações raciais” (Op. cit. 1988, p. 325)
A sociedade ibérica era rigidamente hierarquizada com violento controle social e político dos grupos étnicos diferentes e dominados. Esta ideologia de classificação social (com critérios racial e sexual) dispensava formas abertas de segregação, pois a hierarquia já garantia a dominação pelos brancos, de forma que “no Brasil não existe racismo porque o negro conhece o seu lugar”, como expressava o humorista Millôr Fernandes, citado por Lélia Gonzalez (Ibidem. p. 326).
O racismo por denegação é sofisticado, alicerçado na ideologia do branqueamento: o mito da superioridade branca impõe o desejo de embranquecer, “limpar o sangue”, negando a raça e a cultura.
No artigo “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, Lélia Gonzalez se valeu de noções da psicanálise como ferramentas para compreender o racismo à brasileira. Assim, nos seus termos, o racismo seria uma construção ideológica com benefícios sociais e econômicos para brancos de todas as classes sociais (privilégio racial), ao mesmo tempo em que é um “sintoma da neurose da cultura brasileira”, que se pensa uma sociedade branca, mas cuja cultura revela a herança afro, que é constantemente escondida. 
Com estes elementos, Lélia refutou o mito da democracia racial no Brasil, um mito de dominação que impede a consciência objetiva do racismo e o conhecimento direto de suas práticas concretas. O mito da democracia racial se baseia na crença historicamente construída sobre a miscigenação, mas Lelia advertia que
“Na verdade, o grande contingente de brasileiros mestiços resultou de estupro, de violentação, de manipulação sexual da escrava. Por isso existem os preconceitos e os mitos relativos à mulher negra: de que ela é “mulher fácil”, de que é “boa de cama” etc.” (Democracia racial? Nada disso! (1981). In: GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa… Diáspora Africana: Filhos da África, 2018, p. 110).
 Além disso, o mito da democracia racial exerce uma violência simbólica específica sobre a mulher negra – que não sofre apenas opressão do racismo, mas também do sexismo –, pois objetifica-a nos estereótipos de mulata, mãe preta e empregada doméstica, derivados da figura da mucama. A palavra mucama tem origem na língua quimbunda e originariamente significa ‘amásia escrava’ (GONZALEZ, Lélia. Op. cit. (1980), p. 197).
Adotada no idioma português, tem seu significado neutralizado como ‘escrava negra moça e de estimação’, ocultando a originária exploração sexual das mulheres negras. Na definição atualizada, a mucama é aquela destinada a trabalhar no ambiente doméstico, cuidando da casa (a empregada doméstica) ou dedicando-se por amor – e não por exploração –, aos cuidados da família branca (a mãe preta), delimitando e naturalizando espaços a serem ocupados por mulheres negras.
Estes lugares subalternizados são substituídos no carnaval, momento de exaltação do mito da democracia racial, pela “mulata do tipo exportação”, que ganha destaque com a projeção de seu corpo na mídia, permanecendo, portanto, objetificada.
No texto “Por um feminismo afrolatinoamericano”, Lélia Gonzalez reconheceu a importância do feminismo como teoria e prática, sobretudo por expor as bases materiais e simbólicas da dominação das mulheres dentro do capitalismo patriarcal, e por trazer para o debate público temas até então considerados exclusivos da esfera privada, como a sexualidade, a violência, os direitos reprodutivos, dentre outros, os quais possibilitaram o encaminhamento das lutas como movimento, demonstrando a natureza pública do mundo privado.
Ressaltou ainda que ao propor a discussão sobre a sexualidade, o feminismo estimulou a conquista de espaço por aqueles que eram discriminados por sua orientação sexual. No entanto, Lélia observa que a questão racial foi esquecida por esse modelo de feminismo, fato que ela atribui ao racismo por omissão:
Exatamente porque tanto o sexismo quanto o racismo são baseados em diferenças biológicas para se estabelecerem como ideologias de dominação. Há, então, a questão: como esse esquecimento do feminismo pode ser explicado? A resposta, em nossa opinião, está no que alguns cientistas sociais caracterizam como racismo por omissão e cujas raízes, dizemos, são encontradas numa cosmovisão eurocêntrica e neocolonialista da realidade (Por um feminismo afrolatinoamericano (1988). In: GONZALEZ, Lélia. Primavera para as rosas negras: Lélia Gonzalez em primeira pessoa… Diáspora Africana: Filhos da África, 2018, p. 309).
A obra de Lélia Gonzalez antecedeu – e convergiu com – as teorias da decolonialidade e da interseccionalidade e, mais do que isso, reinterpretou o Brasil. Há muito mais contribuições de Lélia, Beatriz Nascimento, Sueli Carneiro, Djamila Ribeiro e muitas outras e, por isso, deixo o convite: leiamos as autoras negras brasileiras!

[1] A expressão Améfrica Ladina contesta a ideia de que a América Latina tenha uma formação histórico-cultural exclusivamente branca e europeia, mas também (ou até preponderantemente) com a participação africana. O primeiro registro do uso desta expressão foi na obra de MD Magno.
Fonte: CartaCapital

Tudo é um choque, desmascara a nação mulheres de militares maquiam, dão roupas e causam aglomeração de Yanomamis

imagem de Joédson Alves©
por  - Jornalistas Livres
Liberdade de imprensa é o adubo de boa horta, bons frutos, boa gente. Nesse mundo amplo de isolamentos e afins, vou me nutrindo de imagens e seus milhões de palavras, por mais que do verbo careça nossa gente.
De carestia em carestia me escandalizo. É real o fato que de longe nos rompem, nos cunham, escandalizam?
UMA “AÇÃO SOCIAL” FEITA POR MULHERES DE MILITARES NA TERRA INDÍGENA YANOMAMI NO FINAL DE JUNHO INCLUIU MAQUIAGEM NO ROSTO DE MULHERES INDÍGENAS, PINTURA DE UNHAS, DISTRIBUIÇÃO DE ROUPAS PARA FAMÍLIAS QUE VIVEM SEMINUAS POR COSTUME E TRADIÇÃO, E ESTÍMULO À AGLOMERAÇÃO DE CRIANÇAS, SEM MÁSCARAS. ELAS FICARAM PRÓXIMAS NUM PULA-PULA, EM FILA PARA DISTRIBUIÇÃO DE DOCES E NUMA RECREAÇÃO. “ISSO QUE FIZERAM FOI UM DESRESPEITO TOTAL. ESSA DOAÇÃO DE ROUPAS… O POVO YANOMAMI NÃO É MENDIGO. PULA-PULA? NÃO PRECISAMOS DE PULA-PULA. PROVOCARAM AGLOMERAÇÃO! A AÇÃO DO GOVERNO FOI MUITO ERRADA”, DISSE À COLUNA JUNIOR HEKURARI YANOMÂMI, PRESIDENTE DO CONDISI-Y (CONSELHO DISTRITAL DE SAÚDE YANOMAMI E YEKUANA). “PRECISAMOS DE APOIO DO GOVERNO É PARA CONTER A COVID-19, QUE ESTÁ ENTRANDO, ESPALHANDO NAS ALDEIAS.”
Localizadas e encaminhadas pela coluna, fotografias dessas atividades deixaram perplexos três dos principais antropólogos que atuaram ou atuam na região. Um disse ter ficado “muito chocado”, outra viu “múltiplos desrespeitos” aos indígenas e a terceira comentou que as imagens revelam “a arrogância da colonização”. Até a noite desta quinta-feira (16) haviam sido registrados 280 casos de covid-19 entre os Yanomamis, dos quais 136 dentro do território (ou 49% do total), segundo o conselho. Quatro mortes foram confirmadas e mais três estão sob suspeita.
A chamada “ação social” ocorreu nos pelotões de Surucucu e Auaris nos dias próximos da viagem que o Ministério da Defesa organizou de Brasília para a terra indígena Yanomami com servidores do Ministério da Saúde e cerca de 20 jornalistas. O voo gerou muita polêmica porque, além de o governo não ter considerado o momento crítico da pandemia, os militares levaram 66 mil comprimidos de cloroquina despachados pela Saúde — afirmam que é para combate à malária e que todos os viajantes foram submetidos a exames prévios. A coluna procurou o Ministério da Defesa, por e-mail e por telefone, para uma manifestação desde a tarde de terça-feira (14),  mas não houve resposta até o fechamento deste texto. A coluna indagou, entre outros pontos, se as atividades exibidas nas redes sociais das mulheres dos militares tinham sido previamente informadas ou se tinham recebido o aval dos militares. Sobre a viagem do final de junho ao território indígena, a Defesa divulgou um texto, no dia 2 de julho, sobre a entrevista coletiva concedida no pelotão de Surucucu pelo ministro Fernando Azevedo. “Trouxemos cerca de quatro toneladas de materiais de saúde para atender a comunidade local. O governo está preocupado com a saúde do brasileiro”, disse o ministro, segundo o ministério. O órgão informou que era uma atuação integrada entre Forças Armadas, Secretaria Especial de Saúde Indígena, Funai e outros órgãos governamentais.
Maquiagem e “campanha do agasalho”
Mulheres de militares postaram fotografias e comentários nas redes sociais sobre a “ação social”. Uma das fotos, no Instagram, mostra uma mulher não indígena, que diz morar no pelotão desde abril e casada com um militar, fazendo maquiagem no rosto de uma indígena no PEF (Pelotão Especial de Fronteira) Auaris. Outras indígenas parecem aguardar sua vez de atendimento. A mulher escreveu: “Hoje foi o nosso Aciso [Ação Cívico-Social] com os indígenas aqui no PEF e produzimos as mulheres e elas ficaram como elas falam na língua delas ‘wekoonekatojo’ ou ‘taitha’ (toíta), que quer dizer bonita”. A postagem foi curtida por 116 pessoas.
Foi montada uma bancada para distribuição de roupas. As imagens mostram mulheres indígenas seminuas escolhendo a doação. Em diversos pontos do território Yanomâmi, os indígenas vivem nus ou seminus, com adereços pelo corpo. Outra mulher de um militar escreveu “o que aconteceu aqui no pelotão Sucururu” no dia 25 de junho. “Tudo começou com um comentário do sargento daqui do PEF sobre arrecadar agasalhos para nossos indígenas e isso me despertou a vontade de ir além e pedir não só agasalhos, mas sim roupas e cobertas também.
Especialista vê “arrogância burguesa”
Professora emérita da UnB (Universidade de Brasília) e pesquisadora sênior do CNPq, a antropóloga Alcida Rita Ramos fez trabalhos de campos com os Yanomamis de 1968 a 2005 e é considerada uma das principais estudiosas sobre o povo. A pedido da coluna, ela olhou as várias fotografias divulgadas pelas mulheres dos militares em redes sociais. “O que vejo nessas fotos é um múltiplo desrespeito aos Yanomami e uma arrogância burguesa de dar arrepios”, disse a professora. Ela separou os problemas em quatro blocos. “Primeiro, mais grave, manusear objetos, os cabelos, as unhas das indígenas, usando instrumentos cortantes, sem qualquer preocupação com contágio, incorrendo em séria infração, se não mesmo crime.” Em segundo lugar, “achar que as indígenas ‘merecem’ se apresentar com a estética das ‘brancas’, como se elas mesmas não tivessem a sua própria e muito celebrada estética”. Um terceiro ponto levantado pela pesquisadora é “disfarçar proselitismo religioso com desenhos infantis, expondo as crianças indígenas aos efeitos ilegais do missionismo”. Por fim, “impingir brinquedos a crianças, sem terem o mínimo conhecimento do que é ser criança indígena e quais são os padrões locais de jogos infantis”.
Aglomeração de crianças e interações sem máscara
Imagens mostram crianças aglomeradas, sem máscara, conversando com adultos também sem máscaras durante o que seria uma recreação com papel e lápis colorido. É possível ver, nas folhas, o desenho de um homem barbudo, pairando entre nuvens, como se fosse Deus ou Jesus Cristo, para ser colorido. Na hora de receber doces, as crianças fizeram uma fila sem máscara e sem distanciamento. Depois posaram para fotos também sem máscaras e reunidos na frente do pelotão. Mesma aglomeração ocorreu na hora da brincadeira em um pula-pula. Júnior Hekurari Yanomâmi, do conselho de saúde indígena, disse que nenhuma dessas atividades era uma necessidade para os Yanomamis. “Não houve um diálogo. Simplesmente pararam lá no aeroporto de Boa Vista e vieram para as aldeias. Isso durante a pandemia. Depois de uns nove dias que eles saíram, passou para 48 casos de covid em Waikás. Tinha três casos antes. Em Auaris, já temos um caso. Estamos muito preocupados.”
Racismo crasso
O antropólogo francês Bruce Albert trabalha desde os anos 1970 com os yanomâmis, tendo participado da coalizão CCPY (Comissão Pró-Yanomami), que resultou na homologação da demarcação da terra indígena durante o governo Fernando Collor (1990-1992). Ele é coautor, com o líder Yanomami Davi Kopenawa, do livro “A Queda do Céu” (Companhia das Letras, 2015). Ele também olhou as postagens das mulheres dos militares a pedido da coluna. “Fiquei muito chocado com as fotos. Além de uma irresponsável falta de observância da regras de distanciamento físico no trato com uma população indígena particularmente vulnerável na pandemia, vejo também nas fotos um tremendo desrespeito à cultura e à dignidade das mulheres Yanomami.” “Esposas de militares num posto isolado brincam de ‘ação social’ com mulheres Yanomami colocadas em posição subalterna de objetos da sua ‘generosidade’ estética condescendente de mulheres brancas donas dos cânones de beleza dominantes (‘civilizada’). Assim, atrás dessa pseudo ‘ação social’ esconde-se um racismo crasso cujas raízes históricas remetem ao Brasil colonial. Destas cenas ressurge, de fato, as imagens das ‘escravas de estimação’ do tempo da colônia”, disse o antropólogo.
Indígenas costumam fazer trocas com militares, diz antropóloga
Sílvia Maria Ferreira Guimarães, mestre e doutora em antropologia pela UnB (Universidade de Brasília), professora do programa de pós-graduação em ciências e tecnologias em saúde, disse que é possível ver “a arrogância dessa colonização, achando que ela é tudo que todos desejam. O problema se acirra quando recai mais intensamente sobre as crianças”. Deixando de lado o episódio da “ação social”, há nuances na relação dos indígenas com o pelotão militar. Os militares do pelotão, conta a antropóloga, “ficam naquela área deles, eles fazem trocas com os Sanöma [subgrupo Yanomami], os Sanöma gostam, às vezes apreciam as comidas dos ‘brancos’ com essas trocas (arroz, café, açúcar)”.
A antropóloga conta que um técnico em enfermagem Yanomami recentemente lhe disse que “os garimpeiros não vão até Auaris por causa do pelotão que está lá”. “O pelotão cumpre essa ação de coibir o garimpo em Auaris. Eu acho que eles [militares] e missionários estão de certa forma sob controle dos Sanöma, que manejam a presença dessas pessoas, para as trocas, que os Sanöma apreciam muito. O garimpo não, já entra na violência. O problema dos missionários é o foco nas crianças, com suas escolas e o tipo de ação cotidiana perigosa que podem fazer.”

*Relação dos Municípios com os seus respectivos representantes, que confirmaram presença na vídeo conferência da próxima terça-feira 21/07/2020 - CONFIRAM A LISTA DOS QUE CONFIRMARAM!

*Relação dos Municípios com os seus respectivos representantes, que confirmaram presença na vídeo conferência da próxima terça-feira 21/07/2020, onde tratará a aplicabilidade da Lei Emergêncial Cultural Aldir Blanc*

01- Santana do Matos
*André Lobato*
02- Assú
*Paulo Sérgio*
03- Apodí
*Emerson Medeiros*
04- Grosso
*Genildo Costa*
05- S. J. Campestre
*Jocelia Dannyele*
06- Martins
*Claudio Henrique*
07- Umarizal
*Francisco Geraldo*
08- Goianinha
*Karoline Carvalho*
09- Florânia
*Júnior Filho*
10- Macaíba
*Marcelo Augusto*
11- Caicó
*André Vicente*
12- Nova Cruz
*Ronaldo Glaydson*
13- Viçosa
*Pedro Alcântara*
14- Currais Novos
*Adriano Nunes*
15- Caraúbas
*Gilzélio Lobato*
16- João Câmara
*Eduardo Augusto*
17- Pau dos Ferros
*Arian Cristian*
18- Parelhas
*Ivaldo Soares*
19- Santa Cruz
*Lucilene Santos*
20- Jardim do Seridó
*Fagner Azevedo*
21- Lajes
*Karina Maria*
22- Janduís
*Lindemberg Bezerra*
23- Alexandria
*Lombardi Mendes*
24- Timbaúba dos  Batistas
*Samuel Jonas*
25- Serra Negra do Norte
*Patrício Ferreira*
26- Cruzeta
*Fátima Baracho*
27- Angicos
*Bruna Barreto*

Informações FJA - (Fundação José Augusto) - Messias/Jefferson - Coordenadores.

Brasil contemporâneo é destaque na mostra de cinema online no site do Itaú Cultural

A curadoria da Zeta Filmes selecionou quatro longas-metragens para compor a mais nova lista cinematográfica disponível no site da instituição.
Incrementando a agenda de cinema em seu site, o Itaú Cultural disponibiliza, a partir do dia 18 de julho, a mostra online Brasil Cinema Agora! Com quatro longas-metragens premiados em festivais nacionais e internacionais, Francesca Azzi selecionou histórias que simbolizam em si a contemporaneidade brasileira, em seus aspectos socioculturais, para se compreender o país nos dias de hoje. Os filmes Árabia, Azougue Nazaré, Inferninho e Chuva é cantoria na aldeia dos mortos ficam disponíveis em streaming até 1º de agosto em www.itaucultural.org.br.
Vencedor da categoria melhor filme no 50º Festival de Brasília e exibido em grandes festivais internacionais, entre eles o holandês International Film Festival Rotterdam, o austríaco Viennale e o londrino BFI, Árabia, dos cineastas mineiros Affonso Uchôa e João Dumans, dialoga sutilmente com a precarização das relações de trabalho em uma região bastante explorada pela mineração. Na história, ao encontrar o diário de um trabalhador, em uma vila operária da cidade de Ouro Preto, o jovem André entra em contato com a comovente trajetória de vida de Cristiano, em meio às mudanças sociais e políticas do Brasil nos últimos 10 anos.
O filme Azougue Nazaré revela humor e apresenta acontecimentos fantásticos em uma pequena cidade perdida entre o Carnaval do Maracatu e a religião evangélica. Em meio aos canaviais, um grupo de pessoas vive suas vidas, suas tensões, seus desafios, seus sonhos e também rituais fantásticos à espera da chegada dos dias de festa. Enquanto isso, Catita esconde de sua esposa que participa do Maracatu, pois sua companheira é fiel da igreja do Pastor Barachinha, um antigo mestre de maracatu, convertido à religião evangélica, e que se vê na missão de evangelizar todas as pessoas da cidade. Dirigido pelo cineasta Tiago Melo, o longa-metragem pernambucano foi premiado, em 2018, no International Film Festival Rotterdam, na Holanda, e no Cinélatino – 30º Rencontres de Toulouse, na França.
Rodado no Ceará pelos diretores Guto Parente e Pedro Diógenes, Inferninho se tornou uma espécie de ícone de um cinema original, transgênero e, ao mesmo tempo, cheio de referências cinematográficas que inserem o espectador em um humor incomum e cativante. Dona do bar Inferninho, uma espécie de cabaré dos excluídos, Deusimar quer deixar tudo para trás e ir embora para um lugar distante. Por outro lado, Jarbas, o marinheiro que acaba de chegar, sonha em ancorar na cidade e fincar raízes. O amor que nasce entre os dois transforma por completo o cotidiano do bar que reúne sonhos e fantasias entre seus frequentadores. Inferninho recebeu o prêmio de melhor filme pelo Festival Internacional de Cinema Queer, em Lisboa.
Dirigido por João Salaviza e Renée Nader Messora, Chuva é cantoria na aldeia dos mortos dá voz sensível aos indígenas da aldeia Pedra Branca, Terra Indígena Krahô, no Tocantins. No conto, Ihjãc, um jovem amedrontado com os feitiços de seu pajé e triste pela morte de seu pai, se recusa a se tornar xamã e foge para a cidade grande. Longe de seu povo e da própria cultura, ele enfrenta as dificuldades de ser um indígena neste Brasil contemporâneo.
Exibido em mais de 30 festivais internacionais, entre eles o de Cannes, recebeu o prêmio de melhor obra de ficção do Festival de Cinema de Lima, no Peru, e o prêmio especial do júri da seção Un Certain Regard no Festival de Cannes. O filme ainda foi agraciado no Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata, considerado o mais importante da América do Sul, depois de, dias antes, ter sido premiado no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro.
Serviço
Mostra online – Brasil Cinema Agora!
De 18 de julho a 1 de agosto

Arábia, de Affonso Uchôa e João Dumans
Minas Gerais, 2017
Duração: 96 minutos
Classificação indicativa: 16 anos

Azougue Nazaré, de Tiago Melo
Pernambuco, 2018
Duração: 82 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

Inferninho, de Guto Parente e Pedro Diógenes
Ceará, 2018
Duração: 82 minutos
Classificação indicativa: 12 anos

Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, de João Salaviza e Renée Nader Messora
Tocantins, 2018
Duração: 114 minutos
Classificação indicativa: Livre

Fonte: Portal BRASIL CULTURA

Salve o centenário de Florestan Fernandes e Celso Furtado!

Furtado olhou o Brasil pela economia. Florestan pela educação e pelas classes
Neste mês de julho, celebramos o centenário de dois dos maiores pensadores do povo brasileiro, Florestan Fernandes (22.jul.1920) e Celso Furtado (26.jul.1920). Certamente, haverão de se repetir homenagens nas escolas, universidades e nos movimentos populares.
Ambos analisaram com profundidade a realidade brasileira, cada quem na sua área. Furtado foi nosso maior pesquisador da formação econômica do Brasil. Florestan analisou como ninguém as classes sociais, a desigualdade, as mazelas do racismo de uma sociedade com origens escravocratas.
Furtado olhou o Brasil pela economia. Florestan pela educação e pelas classes. E assim se complementam na análise e são imprescindíveis para o estudo de qualquer educador e militante do povo, para através de seus olhares e escritos compreendermos nosso país.
Pesquisadores e analistas criteriosos, foram mais que cientistas sociais – foram pessoas comprometidos com nosso povo e atuaram nas mais diferentes trincheiras da luta social para mudar a sociedade brasileira de sua estrutura injusta que se caracteriza entre as mais desiguais do planeta.
Furtado conhecia como ninguém as mazelas do Nordeste, desde sua Paraíba. Foi expedicionário da FEB e, além de atuar nas universidades, ajudou a organizar a Sudene, foi ministro do Planejamento de Jango, e posteriormente da Cultura, na redemocratização pós-ditadura militar.
Como ministro de Jango, foi o autor intelectual da principal proposta de reforma agrária que tivemos até hoje. Partindo das experiências históricas clássicas dos países que se industrializaram, propôs também a reforma agrária como instrumento de desenvolvimento da indústria nacional. Para isso, propunha que se desapropriasse todos os latifúndios acima de 500 hectares.
Porém, localizados próximo às cidades e ao longo de 10 quilômetros de cada lado das rodovias federais, ferrovias, lagos e açudes. Na sua visão, era necessário transformar o camponês num partícipe da economia de mercado para produzir alimentos para a cidade e consumir os bens produzidos pela indústria.
Para isso, precisava estar próximo às cidades, com transporte rápido e acesso à luz elétrica. Somente assim sairíamos da crise econômica da época, desenvolveríamos a indústria, com mercado interno e distribuição de renda, melhorando as condições de vida de todo o povo. O projeto foi apresentado ao Congresso em 16 de março de 1964. E a resposta da burguesia brasileira subordinada aos interesses dos Estados unidos foi um golpe empresarial-militar.
Florestan nunca esqueceu suas origens de garoto pobre, filho de empregada doméstica migrante de Portugal, que lutou toda vida para poder estudar. Ele acreditava que pela democratização da educação poderíamos redimir nosso povo, democratizar a sociedade e chegar a mudanças estruturais. Tampouco conseguiu. Passou por todos os bancos das escolas públicas até ser professor da elitizada USP, de onde foi expulso.
Ambos amargaram o exílio, mas seguiram na luta, até o final dos seus dias. Furtado, ministro da Cultura do governo Sarney, manteve a defesa da necessidade de um projeto para o Brasil, registrando suas propostas em diversos livros.
Florestan fez militância partidária na esquerda e se elegeu deputado constituinte, quando defendeu como ninguém o direito à escola pública e gratuita, em todos os níveis, para todos os brasileiros. Educação, não só como conhecimento, mas direito universal e instrumento de libertação das pessoas.
Tive o privilégio de cultivar uma amizade de discípulo com ambos, já nos seus últimos anos de vida. Apreendi muito. Procuramos compartilhar seus ensinamentos, livros, palestras e conselhos com toda a militância do movimento popular e do MST. Seremos sempre gratos.
Procuramos perenizar esse legado, homenageando-os batizando nossas escolas e nossos assentamentos com seus nomes, além de divulgar suas obras e seus exemplos de vida coerente.
Todo militante social e todo brasileiro comprometido com o país deve ter acesso à sua vida e obra. Estudá-los, apreender com eles. Certamente, se a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) adotasse nas suas disciplinas, não teríamos um governo tão despreparado e irresponsável com o nosso povo, quando já perdemos mais de 70 mil brasileiros mortos.
Salve salve Celso Furtado e Florestan Fernandes, patrimônios cívicos, culturais e intelectuais do nosso povo!
Publicado originalmente no Poder 360
Fonte: Portal BRASIL CULTURA