Um cenário devastador pode ser
visto novamente nas Terras Indígenas Yanomami. A desnutrição, as doenças e a
vulnerabilidade comprovam que o garimpo ilegal continua a punir o povo
originário brasileiro, em 2024.
A situação de emergência de saúde pública que marcou o início do ano
passado, repete-se nos primeiros dias deste ano. Os números divulgados pelo
portal G1, nesta quarta-feira (10), dão conta de uma nova tragédia em Roraima.
Entre janeiro e novembro de 2023, foram registradas 308 mortes nos
territórios. A maioria (53%) são crianças de até quatro anos. Elas foram
vítimas de doenças respiratórias (viroses e pneumonia), parasitárias (malária),
e também ligadas à desnutrição severa.
Um levantamento aponta que, em 2023, os casos de malária registraram um
acréscimo de 61%, comparado ao ano de 2022. No total, foram mais de 25 mil infectados.
O Condisi-Y (Conselho Distrital de Saúde Yanomami), que acompanha as
ações do governo federal, diz que o atendimento médico ainda é precário e que
não há profissionais suficientes para atender os 31 mil habitantes da Terra
Indígena.
Segundo dados do Ministério da Saúde, havia sete médicos, em
dezembro de 2023, para atender toda a região. Outro problema apontado é a falta
de estrutura. Muitos médicos partem em missões sem ter locais para atender
ou dormir.
“Com a grande repercussão do caso em 2023, o governo atuou pra minimizar
a situação, mas o garimpo e as denúncias nunca pararam. Nós ainda somos
carentes de uma política pública eficaz”, afirma Raquel Tremembé, da Executiva
Nacional da CSP-Conlutas.
Garimpo
e meio ambiente
A situação dramática vivida pelos Yanomami é causada pelo garimpo ilegal
que novamente tem aumentado na região. O uso de produtos químicos tóxicos, como
o mercúrio, já contaminou 61% dos rios da região, segundo a Fundação Oswaldo
Cruz.
Seja na água, ou na cadeia alimentar (contaminando peixes), o mercúrio
envenena o corpo humano e em grandes quantidades pode causar tremores,
insônia, perda de memória, dores de cabeça, fraqueza muscular e a morte.
Também há danos causados ainda em bebês não nascidos. Se as mães tiverem
altos níveis de mercúrio no sangue, eles podem nascer com
danos cerebrais e problemas de audição e visão.
Sem opções de água potável, os indígenas bebem a água contaminada, o que
aumenta os casos de intoxicação, diarreia e parasitas. Em um ano, 63
pessoas morreram de doenças infecciosas e parasitárias. E 9,5 mil foram
diagnosticadas com casos de diarreia.
O garimpo também ajuda a propagar a malária, uma vez que os buracos das
escavações acabam se transformando em criadouros de mosquitos.
Fome
é consequência
A fome e a desnutrição são consequências imediatas. Os rios fornecem
alimentos, seja através da pesca ou da caça. Com os peixes morrendo devido à
poluição, os animais da região – que serviriam de caça – também se afastam.
Violência
A estimativa apresentada é de que ainda atuem cerca de 8 mil garimpeiros
na Terra Indígena Yanomami. A presença, além da destruição da floresta, também
faz aumentar os casos de violência contra o provo originário.
Assassinatos, agressões e ataques armados foram registrados no ano
passado. E apesar do governo Lula afirmar que combate o crime na região, a
realidade é que a área afetada pelo garimpo aumentou de 5.055 hectares em
fevereiro para 5.359 em outubro de 2023.
Sucateamento
Raquel também aponta que apesar da situação requerer mais investimentos
do Planalto, o que se vê é a continuidade de uma política de sucateamento. O
exemplo mais recente foi mostrado pelo servidores do Ibama que paralisaram as
atividades durante a semana.
A categoria luta por reestruturação e valorização da Carreira de
Especialista em Meio Ambiente, além da abertura de concurso público, pois está
operando com apenas 52% do seu efetivo.
“A situação dos servidores do Ibama afeta outros órgãos, como a Funai e
o ICMBio. É como se as operações contra o garimpo ocorressem de forma parcial.
Enquanto for assim, veremos o agravamento dos problemas”, conclui Raquel.
A CSP-Conlutas reitera a necessidade de exigir do governo Lula uma
solução para o drama vivido pelos Yanomami. É fundamental que haja
investimentos e um plano de longo prazo no combate ao garimpo ilegal e à
violência contra os povos originários.
Fonte: CONLUTAS