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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

‘Luzia morreu’, diz presidente do Iphan sobre crânio humano mais antigo do Museu Nacional

Reportagem de Amanda Pupo no Estado de S.Paulo informa que a presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, resumiu em uma frase o incêndio que consumiu o Museu Nacional: “Uma morte anunciada”. E sem conseguir esconder a tristeza, sentenciou: “Patrimônio não tem como reconstruir. Acabou, acabou”. Chefe do instituto responsável pela fiscalização e proteção dos bens culturais do País, ela afirmou ao Estado que providências anteriores à tragédia estavam sendo tomadas, como o projeto financiado pelo BNDES, no valor de R$21,7 milhões, contrato assinado em junho deste ano, para restauração e requalificação do Museu.
“Não tem investimento nessa áreas”, disse, referindo-se à preservação de acervos e da própria infraestrutura dos museus. “É o acervo de memória do País inteiro, mas não tem recursos. Os candidatos a presidente da República, nos programas, quase nunca falam de patrimônio e cultura. É preciso acontecer uma tragédia dessas para o Brasil ficar exposto a toda a comunidade internacional”, disse, revoltada, Kátia Bogéa, de acordo com a publicação.
“A gente perdeu nossa memória, nossa história”, continuou a presidente. “A gente não vai ter mais Luzia. Luzia morreu no incêndio”, afirmou, assustada, referindo-se ao esqueleto mais antigo já encontrado nas Américas, com cerca de 12 mil anos de idade. “Vai ver como está a situação dos nossos museus, de acervos, qual é a importância que o Brasil está dando para isso. É uma questão que terá de entrar num debate sério”, refletiu, completa o Estadão.

Incêndio destrói o acervo do Museu Nacional
Foto odia.ig.com.br 


“Desobediência” e outros lançamentos de filmes necessários

Um filme lançado recentemente que aborda o romance entre duas mulheres dentro de uma comunidade judaíca ortodoxa; mais um para uma lista de filmes
Por Alessandra Monterastelli*
A fotógrafa Ronit (Rachel Weisz) retorna para a cidade natal pela primeira vez em muitos anos em virtude da morte do pai, um respeitado rabino. Isso porque ela nasceu e viveu sua juventude em uma comunidade judia ortodoxa na Inglaterra. Seu afastamento foi abrupto (mais tarde descobrimos que foi por ela se negar a seguir o que era planejado) e seu reaparecimento (para o funeral do pai) é visto com desconfiança na comunidade. Ronit acaba acolhida por um amigo de infância (Alessandro Nivola), casado, para a sua surpresa, com sua paixão de juventude, Esti (Rachel McAdams).

 Esti e Ronit viveram um romance quando jovens, que foi descoberto pelo pai de Ronit. Agora, quando ela retorna à cidade, precisa lidar novamente com o modo de vida imposto pela sua comunidade, com o confronto entre suas vontades e suas raízes e, especialmente, com sua paixão por Esti, que logo é correspondida.
Apesar do tema- que por envolver religião e a não-aceitação da homossexualidade pode parecer tenso- o flme contém uma boa dosagem de humor, estabelecido especialmente em piadas ironicas feitas pela personagem principal ou por cenas constrangedoras diante do confronto de ideias com outros membros da família ortodoxa. O diretor, o chileno Sebastián Lelio, é o mesmo que dirigiu o aclamado “Uma Mulher Fantástica”, que conta a história de Marina, uma garçonete transexual.
“Desobediência” parece bem equilibrado: a paleta de cores do longa não sai muito do branco, marrom, cinza e preto, e o romance de Ronit e Esti (uma paixão subita mesmo depois de tantos anos) tem como fundo musical a deliciosa e melancólica “Love Song”, do The Cure, banda gótica dos anos oitenta. A cena de sexo é intensa, o final não é de todo triste, mas também não é feliz, e Ronit parece achar uma maneira de ficar em paz com sua origem.

O filme não teve tanto rebuliço como o famigerado “Azul é a Cor Mais Quente”, mas é bonito, realista, crítico e necessário. Assim como muitos outros longas que abordam romances entre mulheres, entre eles “Um Belo Verão”, de Catherine Corsini e “Carol”, de Todd Haynes e com a incrível Cate Blanchett. Entre este ano e o próximo, está também previsto o lançamento de “The Miseducation of Cameron Post” no Brasil, vencedor do prêmio principal do júri do Festival norte-americano de Sundance. O longa de Desiree Akhavan trata do caso real de uma garota que em 1993 foi enviada para um centro de “cura gay” após ser flagrada beijando a rainha da festa de formatura da sua escola.
 * estagiária no Portal Vermelho 
Fonte: Brasil Cultura

Sociedade História O que a Liberdade significa para a memória dos negros em São Paulo?



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Mudança do nome da estação de metrô para 'Japão-Liberdade' e situação da Capela dos Aflitos renovam a luta contra o apagamento da história do bairro.
Liberdade, no centro de São Paulo, tem o status de maior reduto nipônico fora do Japão, o que recheia o imaginário em torno do bairro. Mas por trás da fama, está a sua origem negra. Suas ruas, onde hoje o turismo e o comércio crescem ano após ano, foram cenários da escravidão e de tortura de negros durante o período.
No dia 24 de julho, a Praça da Liberdade e a estação Liberdade do metrô receberam em seus nomes o acréscimo “Japão”, segundo decisão publicada no Diário Oficial de São Paulo após um decreto do governador Márcio França (PSB). No ano passado, um projeto de lei dos vereadores Ota (PSB) e Milton Leite (DEM) defendeu a alteração do nome. No dia 25, a estação amanheceu rebatizada de “Japão-Liberdade”. 
“Quando a gente recebeu a notícia, foi um baque gigantesco”, conta Tiago Braziel, membro da ONG Educafro, localizada a poucos quilômetros do bairro. “Me entristece muito que a administração pública ainda reproduza os mesmos hábitos de cem anos atrás. Ao trocar o nome, se faz duas coisas: primeiro, mata-se uma parte da história, depois gera-se um conflito e um desconforto desnecessário entre dois povos que ajudaram tanto para o crescimento do Brasil”, desabafa.
A situação relatada só chegou ao conhecimento de um grande número de pessoas por conta de uma publicação no Facebook, de autoria do advogado Renato Igarashi, um dia depois da mudança: “(...) Lá não vivem apenas nipo-brasileiros, havendo também um sem-número de chineses e coreanos, e seus descendentes. Mas o negócio vai mais além.”
“A memória do povo negro da Liberdade foi apagada. Praticamente hoje não há referências ao período de horrores. (...) É bem lamentável usar uma (desnecessária) homenagem a nikkeis para reforçar uma política histórica de anti negritude”, relata Igarashi.
A Praça da Liberdade mudou de nome para Praça da Liberdade-Japão. O Metrô resolveu acompanhar e a Estação Liberdade passou a se chamar Estação Liberdade-Japão. A classe política quis homenagear a comunidade japonesa, como se na cabeça das pessoas o bairro da Liberdade não remetesse automaticamente ao Japão e à cultura japonesa. É um completo absurdo. Além de ser uma perda de tempo aprovar projetos de lei como esses, alterar denominação de um lugar implica despesas com alteraç...
"A história negra se faz presente em toda a cidade de São Paulo, mas é invisibilizada. Na Liberdade não é diferente", afirma o historiador Abílio Ferreira. Para ele, o apagamento da memória negra vem de uma tentativa ainda mais antiga, de apagar a herança da escravidão. O processo foi sendo reproduzido de maneiras diferentes nos séculos seguintes e desemboca na mudança do nome. 
“Essa formação da cidade tem a ver com o conflito entre quem tinha mais poder político e econômico e quem não tinha nada, os destituídos. Ainda hoje, é isso que a Liberdade representa”, afirma. “A memória é um espaço de disputa: a memória daqueles povos que têm mais influência política e econômica é sempre mais valorizada”.
Confira a reportagem em vídeo:
A Liberdade negra
Os imigrantes japoneses só chegaram ao bairro a partir de 1908, 20 anos depois do fim da escravidão dos negros no Brasil, que durou três séculos. A região tinha terras e aluguéis muito baratos e já era local de moradia de portugueses e italianos.
Assim como acontece na Liberdade, pouco se sabe que bairros paulistanos foram erguidos com a luta, o sangue e o suor do povo negro. Tiago cita como exemplos o Bixiga, onde essa memória ainda é relativamente conservada e divulgada, e até mesmo o nobre Higienópolis.
“Entendo a importância de cada povo que passou por esse País e vive nele. Mas, infelizmente, o povo negro foi excluído como parte de uma política de estado. Demos nossa vida para que fossem construídas riquezas das quais nós não tínhamos nenhum tipo de participação”, afirma o estudante.
Até a origem do nome do bairro remete ao povo negro. “Liberdade" surge por conta do enforcamento de Chaguinhas, ou Francisco José das Chagas, um militar negro que liderou uma revolta em Santos e foi punido com a pena de morte, em 20 de setembro de 1821, quase um século antes da chegada dos japoneses
"No dia do seu enforcamento a corda arrebentou três vezes e isso gerou no imaginário popular toda uma simbologia de que a dificuldade de enforcar o Chaguinhas tinha a ver com algum poder sobrenatural que ele porventura tivesse. Como o povo gritou e clamou por Liberdade, um clamor que não foi atendido pelo Estado, o bairro ganhou esse nome.”
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O enforcamento de Chaguinhas aconteceu onde hoje é a Praça da Liberdade, outrora chamada Praça da Forca. Esse era o destino final de um roteiro trágico: o cortejo começava na região onde hoje é o Parque Dom Pedro e abrigava, no século XVIII, uma prisão de escravos condenados à forca.
“O cortejo de policiais trazendo os negros seguia a ladeira, em direção à Liberdade. Os negros condenados eram levados para a forca. Antes disso, havia um momento de súplica intensa para que ele fosse perdoado. Para contemplar essa dor, chamada aflição, criaram a Capela dos Aflitos”, conta o Frei David, da ONG Educafro. Ali, na mesma época, também surgiu o primeiro cemitério público da cidade, o Cemitério dos Enforcados, que funcionou até 1858.
O Frei também conta que outras Igrejas, que hoje são parte da rota turística do Centro, também foram construídas na mesma época, pelos negros em condição de escravos. “Eles cercavam o cortejo e conseguiam convencer os soldados para que fizessem uma oração para que o condenado tivesse uma boa morte. Esse ritual foi tão forte que os negros livres construíram na Rua Tabatinguera a Igreja da Boa Morte”, conta.
“Já na praça, onde eram enforcados os negros, só restava ao povo participar com muita energia, cantando a seus orixás, para que o espírito subisse à eternidade. Ali construíram a Capela das Almas”, acrescenta Abílio.
Segundo Tiago, na Liberdade morreram mais de cinco mil negros. "Para cada dez anos de Brasil, sete foram sob escravidão. Foram 370 anos. E quando houve abolição, foi uma abolição mal resolvida”, comenta Thiago.
O comércio chega ao Beco dos Aflitos
Não só a mudança nos nomes do metrô e da praça incomodam a comunidade negra da Liberdade. Com o passar dos anos, o comércio e o turismo em constante expansão também têm feito seu trabalho na dispersão da história negra do local. 
Parte importantíssima dessa história, a Capela dos Aflitos, é exemplo disso. Escondida em um beco, na travessa com a turística Rua dos Estudantes, encontra-se uma igrejinha que, à princípio, mal parece um patrimônio tombado pelo município. “Ela representa um contraponto nesse processo da mudança do nome porque é nela onde havia o cemitério dos escravos e dos pobres que eram enforcados, os criminosos que eram considerados fora da lei naquele momento”, explica Abílio. 
O turista aficionado pela cultura japonesa mal percebe esse pedaço de história que remonta à escravidão e aquele que procura pela Capela tem dificuldades de encontrá-la. O Beco dos Aflitos hoje foi tomado pelos estacionamentos e galpões de lojas. Na rua, os postes cheios de fios dividem espaço com a decoração típica japonesa. 
“Mesmo para a gente poder falar desse assunto aqui nós temos a interferência do tráfego de caminhões, que simboliza o mercado em funcionamento, a economia em funcionamento atropelando toda essa coisa do patrimônio material e imaterial ligado a essa questão”, afirma Abílio.
Entre um cântico cristão e outro, escuta-se também os barulhos das rés dos caminhões trazendo estoques e mais estoques de mercadorias a serem vendidas. O barulho dos motores abafam a reza do terço e uma obra aos fundos prejudica - já há alguns anos - a estrutura humilde da Capela.
“Ela é um patrimônio histórico que mesmo nos tempos atuais não recebeu a devida atenção. É tombada pelo Condephaat desde 1976. Hoje,há um orçamento para fazer o restauro dela, mas isso acabou não acontecendo. O que para nós representa a falta de ação e inércia do Estado”, explica Abílio.
Uma demolição irregular em uma construção vizinha fez crescer novas rachaduras nas paredes da igreja. Frente a isso, os fiéis fundaram a Unamca, uma associação que pretende pressionar a prefeitura e os departamentos de patrimônio histórico da cidade a restaurar a construção. Um projeto foi aprovado em 2011, mas desde então os fiéis não viram nada ser feito.
“O que estamos vendo, é um processo de desenvolvimento atropelando o patrimônio histórico. Como se autoriza, hoje, a construção de uma obra desse porte ao lado de uma igreja que sequer foi restaurada?”, afirma, com indignação.
Segundo o grupo Devotos da Capela, que luta pela preservação e restauração do prédio, a Subprefeitura Regional da Sé, responsável pelo bairro da Liberdade, paralisou a obra de um conjunto comercial que estava sendo construído atrás da Capela e que estava abalando a sua estrutura, datada de 1775. “Existe um diálogo com a empresa que está construindo esse prédio para estudar a continuidade da obra desde que se restaure a Capela dos Aflitos. Mas a negociação ainda está em andamento”, afirma o historiador.
A construção a qual Abílio se refere está registrada em um documento do Condephaat, emitido pelo governo do Estado em que um terceiro solicita a aprovação do imóvel na Avenida Liberdade, 332 a 368. Segundo o pedido, “os imóveis estão situados na envoltória de 300 metros da Capela”. O destino da construção é comercial, “hotel, centro de convenções e lojas”, afirma, “em cinco lotes adjacentes que totalizam 2.707,19m²”.lib3.jpg
Capela dos Aflitos está escondida em um beco, espremida entre os prédios comerciais
“A nova edificação terá área construída total de 40.514,20m² e terá 36 pavimentos acima do nível da Avenida Liberdade, além de 6 pavimentos enterrados para estacionamento”, continua o documento. “Os lotes estão inseridos no perímetro da Operação Urbana Centro, a qual permite, em sua área de abrangência, a utilização de potenciais construtivos muito superiores àqueles estabelecidos para o restante da cidade”.
O documento permite a construção, afirmando que “embora a edificação proposta apresente um gabarito elevado, acreditamos que sua construção não implicará em prejuízos às visuais da Capela dos Aflitos”.
“Essas são igrejas que seguraram a história do negro e não deixam que a prefeitura apague de vez a história do povo negro. Nós queremos exigir que haja a revisão dessa atitude injusta de alguns que querem usar comercialmente a região para os seus interesses particulares e capitalistas, passando por cima do povo negro”, afirma o Frei David, reforçando que a atitude é só de uma pequena parcela dos imigrantes e que a maioria está apenas tentando construir uma vida no bairro, multifacetado como tantos outros na capital.
Outro lado
Em nota divulgada pela prefeitura de São Paulo, a  Prefeitura Regional Sé e a Associação Cultural Assistencial da Liberdade (ACAL) firmaram um termo de cooperação para conservação, manutenção dos canteiros e novo paisagismo da Praça Liberdade.
“Os cooperantes se comprometeram a atuar no local por três anos e já realizaram o jateamento do piso e a recomposição dos pisos quebrados. Como se trata de área envoltória de bem tombado, a intervenção na praça foi analisada pelo DPH. Além disso, o Largo da Pólvora também possui um termo de cooperação, firmado entre a Regional Sé, Fecap, JCI e Greenline”.
Sobre a Capela dos Aflitos, a secretaria de comunicação da cidade afirmou que “o Departamento do Patrimônio Histórico esclarece que as avarias na Capela dos Aflitos ocorreram por causa de um acidente em uma obra irregular em terreno vizinho. A obra já foi embargada pela Prefeitura Regional Sé. Os responsáveis pelo serviço também receberam uma multa no valor de 1,461 mil reais após demolição sem alvará emitido pela Prefeitura de São Paulo, conforme determina o Código de Obras do Município (Lei nº 16.642/17). A manutenção do imóvel, que é particular, é de responsabilidade do proprietário, porém por se tratar de um patrimônio tombado, a Secretaria Municipal de Cultura supervisionará o reparo”.
De acordo com o Frei David, preocupa que, nas intervenções feitas na Praça, a população negra organizada no Centro não tenha sido consultada. “É possível recuperar a história do povo negro, deixá-la registrada, e ao mesmo tempo fazer um ligação harmoniosa com a história dos japoneses. Assim como os japoneses investiram para poder colocar ali o nome Japão, queremos que façam investimento para recuperar ali a história do povo negro”, afirma. “Queremos que a prefeitura volte atrás e busque uma alternativa reconciliadora”.
Fonte: Carta Capital