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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Medidas de Temer em 2017 atingiram principalmente os mais pobres

Reprodução do portal CNM
 
 


As reformas propostas pelo governo golpista de Michel Temer (PMDB) foram lembradas com preocupação. Uma delas é a trabalhista, que entrou em vigor no mês de novembro e retirou uma série de direitos consagrados pela CLT. Outra ação do governo golpista foi a aprovação da PEC do Teto dos Gastos, que congela os investimentos em áreas como saúde e educação pelos próximos 20 anos. 

Para o taxista Djalma Alves Freire, de 69 anos, as políticas de Temer prejudicaram principalmente os mais pobres.

"Porque tudo que o governo atual está propondo é para prejudicar o coitado, os mais pequenos. A gente vê muita gente na rua. O trabalho informal está crescendo cada vez mais, o ambulante vendendo suas coisinhas, porque não tem outra opção.Ou faz isso, ou morre de fome", opina.

O mesmo sentimento de indignação é compartilhado por Antonio Tadashi, 55 anos. Ele é economista e acredita que as decisões de Temer foram feitas apenas para agradar a classe política qual ele faz parte. 

"O cara tentou vender várias reformas e, basicamente, as reformas que ele tentou fazer é para penalizar a classe trabalhadora brasileira. O governo do Temer está a serviço de um grupo de pessoas. E esse projeto deles é justamente para reformular a sociedade brasileira, a economia e manter os mesmo políticos que vem governando desde a época da ditadura", diz.

Toda essa crise, segundo João Pedro Stedile, coordenador nacional Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) teve início com o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

"O Brasil vive uma grave crise econômica, que se transformou em uma crise social e em uma crise política, em função do golpe que a burguesia deu no Executivo e derrubou a presidenta Dilma, eleita democraticamente. O golpe foi precisamente isso, para eles poderem aplicar uma política econômica que joga todo o peso da crise sobre a classe trabalhadora. E é por isso que, já em 2017, começaram a aparecer os efeitos, no aumento do desemprego, na inflação, no aumento da desigualdade social", comenta Stedile. 

A quantidade de pessoas sem ocupação é justamente a preocupação da jovem recém-formada, Gabriela Martins, de 22 anos. A taxa de desemprego atinge hoje mais de 12 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento aponta que o índice é um dos maiores da história, apesar de quedas neste fim de ano. 

"Para mim, enquanto recém formada, é mais no sentido de apreensão mesmo, de como vai ser meu futuro no mercado de trabalho. Eu não votei nesse governo, não era um governo que gostaria que estivesse hoje em dia em vigor", reclama. 

Com o controle do governo golpista sobre os parlamentares do Congresso, Stedile acredita que o próximo ano ainda será de dificuldades para a classe trabalhadora:

"O ano de 2018 será ainda mais perverso para as condições de vida do povo brasileiro e para a concentração da riqueza e da renda. Infelizmente o governo golpista tem o controle absoluto do Congresso Nacional e, por essa razão, ao longo do ano eles conseguiram aprovar diversas mudanças na lei brasileira, que buscavam apenas jogar o peso da crise sobre a classe trabalhadora."

Diante da conjuntura, Stedile enfatiza a importância das mobilizações das massas nas ruas para impedir mais retrocessos na política e o agravamento da crise que se instalou no país.

"Companheiros e companheiras, nós teremos um 2018 cheio de mobilizações, de muita disputa política em que a própria campanha eleitoral se transformará em uma verdadeira luta de classes e é por isso que nós, dos movimentos populares, estamos convocando cada militante, cada companheiro e cada companheira e todos os movimentos para nos engajarmos nesse processo e transformarmos 2018 na derrota desses golpistas e na retomada do desenvolvimento do Brasil", defende.

As centrais sindicais e os movimentos populares já agendaram uma série de atos contra a reforma da Previdência, que poderá ser colocada em pauta em fevereiro, no retorno do recesso parlamentar. 



Brasil de Fato

Cotas raciais: além da pele negra, a conscientização

Cotas raciais: além da pele negra, a conscientização

Nós não podemos pensar em nos unirmos com os outros até que sejamos primeiro unidos entre nós.  
  Malcolm X 
por Ricardo Alexandre da Silva Corrêa via Guest Post para o Portal Geledés
Uma das características perversas da classe dominante brasileira é a difusão do pensamento de que os negros são os responsáveis pela situação marginal em que a maioria se encontra e, por essa razão, qualquer medida oriunda do Estado para alterar esse aspecto não tem justificativa aceitável. Discordando desse pensamento, assumo a lógica do sociólogo Pierre Bourdieu ao esclarecer que análises sociológicas precisam emergir de uma visão holística, pois nada que não seja imaginário existe sem um complexo de relações. Sendo assim, algumas perguntas são inevitáveis: o período escravista foi somente um detalhe na história do Brasil? Quiçá, uma obra do acaso sem efeitos posteriores?
Para avançarmos neste debate, pretendo provocar reflexões acerca das cotas raciais como elementos que buscam corrigir as distorções embrionárias na história dos afro-brasileiros, mas que esbarram em obstáculos que estão inseridos no próprio grupo étnico, em outros momentos, colocados pela classe dominante que objetivam conservar os próprios privilégios. 
O racismo brasileiro sempre se reinventou na tentativa de manter o monopólio sobre os corpos negros, nos quais os grilhões e os açoites não seriam mais aceitos depois da abolição da escravidão. Os contrários a essa violência acreditavam que com a libertação dos homens escravizados o racimo seria eliminado, mas não passou de uma utopia. Num dado momento, o racismo usou de argumentos científicos que propunham desde a inimputabilidade dos negros − sob o argumento de uma suposta alteração na formação do crânio − até a extinção da raça com a miscigenação racial. Atualmente, observamos o racismo estrutural  que produz a naturalização das hierarquias raciais onde o negro está alocado na inferioridade; vemos, também, o racismo institucional limitando a ascensão econômica e política dos negros. Na síntese de Stokely Carmichael e Charles Hamilton – definidores do termo racismo institucional – esse racismo ultrapassa as ações individuais e as questões ideológicas, contudo é determinante nas relações sociais. Diante disso, independente das bases teóricas distintas, nota-se que o racismo tem cumprido com “excelência” o papel de facilitador da classe dominante na exploração da população negra. 
Com o fim de combater essas diferentes formas de racismo, os movimentos negros elegeram as ações afirmativas, em especial as cotas raciais, como instrumentos necessários para fortalecerem a representatividade dos afro-brasileiros, derrubando todo modelo de marginalização e provendo a igualdade material entre brancos e negros. É notória a escassa participação dos negros nas instituições públicas como estudantes ou atuando como servidores; dificilmente alguém que desconhecesse a história do país acreditaria que mais da metade da população brasileira é formada por negros. O inexpressivo poder aquisitivo e a ausência de uma educação de qualidade que possa prepará-los para vestibulares, e concursos públicos, tornaram difícil o acesso àquelas instituições. São essas questões que evidenciam a urgência do Estado em lançar mão de instrumentos universais para alcançar a igualdade na sociedade, contrário disso, podemos considerar o preâmbulo da Constituição Federal, de 1988, uma mera alegoria. Ademais, embora os argumentos em defesa das cotas raciais sejam fundamentados, existem críticas contra a sua aplicação, como por exemplo: a subestimação da capacidade intelectual dos negros. Entretanto, observo que a apreensão intelectual que resulta em desempenho satisfatório do sujeito cognoscente, depende muito mais de estímulos externos do que do “voluntarismo” biológico.
Em 2012, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade do uso das cotas raciais para o ingresso nas universidades públicas, mas a sua aplicação ainda necessita de aprimoramento devida às ocorrências de fraudes: brancos estão se autodeclarando negros, desta maneira retirando as vagas de quem realmente tem direito. No entanto, destaco alguns sujeitos inseridos no processo de reivindicação de vagas que merecem uma particular atenção: o negro descompromissado com a demanda dos afro-brasileiros.
A miscigenação racial no Brasil, iniciada com o estupro sistemático das mulheres escravizadas pelos senhores de escravos, resultou em negros com fenótipos distintos dentro do próprio grupo – traços faciais, cor da pele, cabelos, entre outros −, claro que os escravos oriundos de outras regiões também contribuíram para essas diferenças. Nesse sentido, novas subjetividades passaram a ser construídas nos indivíduos, imbuídas no tratamento dispensado que levam em consideração a tonalidade de pele; quanto mais escura, maior o preconceito. Caso usemos como aporte os estudos do sociólogo Oracy Nogueira, associaremos esse tratamento ao que ele chamou de preconceito de marca, predominante no Brasil, e que se caracteriza a um tipo de preconceito que considera apenas os aspectos físicos dos indivíduos. Essas questões lembram-me da obra “Pele negra, máscaras brancas”, 1963, do psiquiatra Frantz Fanon. Nesse trabalho, Fanon menciona sobre a existência prática que coloca o negro como o elo entre o macaco e o homem. Homem branco, claro.
Esse preconceito de marca produz sentimentos nos sujeitos de não pertencimento a descendência africana, porém, fomenta a defesa dos valores da branquitude. E, quando não criticam, enxergam nas cotas raciais uma oportunidade de conquistar um espaço que os aproximem do “ser branco” e não como um reparo às injustiças que colocam os negros como suas principais vítimas. Nós, negros, precisamos de indivíduos  conscientes politicamente e sabedores de que a luta em defesa dos nossos direitos não tem caráter individual, mas coletivo. É inadmissível a assunção de uma identidade somente para conseguir o benefício das cotas raciais. A autodeclaração deve ser carregada de consciência de classe e reivindicada por negros cujos fenótipos não os excluem da sanha dos racistas. Essas características farão dos futuros advogados, engenheiros, professores universitários, médicos, promotores, juristas, entre outras funções na sociedade, afro-brasileiros defensores da ampliação daquilo que contribuiu para colocá-los num patamar superior, a despeito da vontade da classe dominante.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. O Poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: < https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/518231/CF88
_Livro_EC91_2016.pdf>. Acesso em 23/12/2017.
Carone, I. & Bento, M. A. da S. (org.) (2002). Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Vozes.
DAFLON, V. T; FERES J., J; CAMPOS, L. A. “Ações afirmativas raciais no ensino superior público brasileiro: um panorama analítico”. In Cadernos de Pesquisa (Fundação Carlos Chagas. Impresso). Rio de Janeiro, 2013.
EBC. Agência Brasil. Negros são 17% dos mais ricos e três quartos da população mais pobre. Brasília. Disponível em:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-12/ibge-negros-sao-17-dos-mais-ricos-e-tres-quartos-da-populacao-mais-pobre>. Acesso em: 15 nov. 2017
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras brancasBahia: Editora Edufba, 2008.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil: 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
Nogueira, Oracy. Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão de um quadro de referência para a interpretação do material sobre relações raciais no BrasilTempo soc., Jun 2007, vol.19, no.1, p.287-308. ISSN 0103-2070

Mídia hegemônica destaca quando negro é responsabilizado pelo racismo

Fonte: /www.geledes.org.br
O antropólogo Antonio Risério e a ex-consulesa da França, Alexandra Loras, por vias distintas, responsabilizam negras e negros pelo racismo, ao associar as bandeiras e reivindicações do movimento negro a posições autoritárias que dizem combater. E, não por acaso, os dois ganham destaque na mídia hegemônica.
Por Dennis de Oliveira*, do Quilombo 
Dois fatos impactaram o movimento negro nestes dias. Um foi o artigo publicado pelo prof. Antonio Risério, no caderno Ilustríssima, da Folha de S. Paulo, em que ele faz críticas a determinado setor do movimento negro que considera a miscigenação como genocídio, estendendo esta crítica a todo o movimento. Outro foi a entrevista concedida pela ex-consulesa da França, Alexandra Loras, em que ela considera que as críticas que militantes do movimento negro fizeram a sua exposição em que pessoas famosas brancas têm seus rostos pintados de preto são oriundas de uma “síndrome de capitão do mato”.
O que une estas duas personalidades tão distintas é o fato de nenhuma delas ter proximidade com o movimento negro e o avaliam a partir de impressões pessoais, transformando incômodos particulares seus em categorias de análise. No caso do artigo de Risério, dá para ir mais além: ele foi publicado em um jornal que não costuma cobrir as ações do movimento negro, em especial a já tradicional Marcha da Consciência Negra de 20 de novembro.
Do ponto de vista jornalístico, isto tem um impacto de construção de significados muito particular: o leitor da Folha de S. Paulo, desavisado, vai entender que a Marcha da Consciência Negra é uma mobilização de negros que são contra a miscigenação e, portanto, nas palavras de Risério, reconstroem o racialismo direitista do início do século XX. Uma associação que não só causa repúdio, mas que justifica o fato do jornal Folha de S. Paulo não dar a devida importância a um movimento como este. Por isto, o artigo de Risério tem que ser lido dentro desta perspectiva – ele foi publicado não como uma forma de estimular o debate sobre este assunto (o que é relevante), mas sim de construir uma determinada imagem negativa de um movimento que seria o álibi para o seu desprezo pelos veículos midiáticos.
A descontextualização presente no artigo de Risério atinge, inclusive, um dos grandes intelectuais negros, Abdias Nascimento, cuja obra reconhecida do Teatro Experimental do Negro e as suas contribuições importantíssimas para a história da dramaturgia brasileira é simplesmente reduzida a uma “crise de identidade” do mesmo pelo fato dele também criticar a mestiçagem e ser ele um mestiço (ou chamado de “mulato” no início do artigo).
O tal suicídio do branco que Risério defende também como outro elemento da miscigenação não se observa nos dados que insistem em desmentir esta tese de uma democratização racial via a mestiçagem: homens brancos continuam no topo da pirâmide social e as mulheres negras na base. E talvez a Polícia Militar não esteja plenamente informada deste “suicídio branco” de que fala Risério, pois continua assassinando jovens negros, fato reconhecido pela Anistia Internacional (que tem brancos na sua direção). Gilberto Freyre foi mais sofisticado que Risério, pois não negava a existência das hierarquias sociais e raciais, e fundamentava esta ideia de que as relações privadas e “afetivas” (?) entre brancos e negras constituíam um espaço particular de equilíbrio de antagonismos em um país que não tinha constituído instituições de mediação política, segundo ele. Aliás, o quadro “Um jantar brasileiro“, de Debret (1827), mostra bem o que é este espaço de equilíbrio de antagonismos de Freyre que Risério, de forma extremamente simplória, tenta recuperar no seu artigo.
Loras: síndrome de capitão do mato
Mas o interessante é que, ao mesmo tempo em que a Folha de S. Paulo publicou o artigo de Risério, o blog “Mulheres Positivas”, do portal Estadão (do jornal O Estado de S. Paulo), entrevistou a ex-consulesa da França, Alexandra Loras. Na entrevista, a ex-consulesa rebateu as críticas que recebeu de militantes do movimento negro por conta da sua exposição intitulada “Porquoi pás?” em que imagens de celebridades brancas tem seus rostos pintados de preto. Os militantes do movimento negro criticaram a exposição pelo fato dela remeter à tática do blackface e também porque não atende a uma das reivindicações do movimento que é dar visibilidade a pessoas negras.
A resposta de Loras foi dura: disse que os militantes têm “síndrome de capitão do mato”, que têm “inveja” de uma mulher negra na elite e quer que todas voltem à senzala, num raciocínio simplista que limita os espaços sociais possíveis entre casa grande e senzala e ignora o quilombo como possibilidade de superação das relações de hierarquização racial. Loras ignora que para existir uma Casa Grande tem que haver uma senzala, sendo, portanto, impossível que todos os negros e todas as negras estejam na Casa Grande – haverá sempre uma senzala. O que o movimento aspira é a destruição da Casa Grande e da Senzala (e a construção do quilombo) e não habitar a Casa Grande – coisa que, aí sim, os capitães do mato podiam fazer no período da escravidão. Nesta lógica, quem está com síndrome de capitão do mato é ela, Loras, e não os militantes do movimento negro.
É sintomático que quando ela aborda o racismo na França nesta entrevista, ela sequer menciona as políticas agressivas do Estado francês nos países africanos. O ex-presidente Sarkozy, por exemplo, é apontado como um dos principais responsáveis pela atual situação da Líbia em que pessoas negras estão sendo vendidas como escravizados.
O lugar de fala de Loras não é de uma mulher negra mas sim de uma integrante do staff do Estado francês. O de Risério é de um inconformado como protagonismo de negras e negros na construção de agendas. E isto é que garante os espaços na mídia hegemônica destas duas pessoas. Com o avanço da agenda antirracista, os meios de comunicação hegemônicos buscam apropriar-se desta agenda esvaziando as perspectivas que sinalizam para uma crítica sistêmica ao racismo. Reduzido meramente a críticas comportamentais, a narrativa é direcionar às próprias vítimas do racismo, mulheres negras e homens negros. E, assim, por vias distintas, Risério e Loras chegam a ideias semelhantes: militantes negras e negros têm síndromes de capitão do mato, são invejosos, são tão direitistas como os eugenistas do início do século XX, têm crises de identidade… Em outras palavras, a culpa do racismo é nossa mesmo. Eles se apresentam como pessoas que querem ajudar. Que bondade!
*Dennis de Oliveira é professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP)
Fotos: Divulgação e YouTube

Racismo brasileiro mostra a perversidade da onda conservadora que assola o país


As ofensas racistas se acirraram nas redes e nas ruas. Em 2017, as feras se soltaram e perderam a vergonha. Muitas pessoas negras que se destacaram sofreram ataques covardes pela internet.
Mas não somente. Encorajados pelo vento norte de um conservadorismo exacerbado, médicos, advogados, estudantes, jornalistas, enfim pessoas de diferentes níveis de escolaridade, social, intelectual e econômico escancararam de diversas maneiras o racismo brasileiro que tenta disfarçar-se de “democracia racial”.
Acompanhe alguns acontecimentos veiculados pelo Portal CTB em 2017:
Portal CTB

A morte de Jesus no Sertão. Por Mauro Santayana

: Os Retirantes, de Portinari - 
Por
 Mauro Santayana
 -
Publicado no blog de Mauro Santayana
Era véspera de Natal, em ano de seca no norte de Minas e Sul da Bahia. Um grupo de sertanejos buscava o sul, e viajava a pé.
Uma das jovens estava nos últimos dias de gravidez, e com seu marido e seus pais, entrou na cidade de Montes Claros, procurando um hospital. Em andrajos, quase todos descalços, e já tarde da noite, procuravam um hospital qualquer em que a moça pudesse ter sua criança. Uma patrulha da polícia ainda tentou ajudá-los, mas, naquele tempo, com os retirantes sem documentos e sem dinheiro, os poucos hospitais negaram ajuda.
Os andarilhos foram devolvidos à estrada rumo a Belo Horizonte, situada a mais de 400 quilômetros. Tão logo a polícia os deixou, as dores do parto se abreviaram. De volta à cidade,  encontraram o parque de exposições agropecuárias com o portão encostado, e sob inesperada tempestade naquele verão inclemente, não conseguiram chegar às baias, onde, sob a guarda de vaqueiros, os animais dormiam, esperando a manhã. A manhã de Natal.
No pátio da exposição, uma árvore antiga, de copa tupida, era o único abrigo, sob a qual a moça teve seu filho. Como chovesse e ventasse forte, e a mãe estivesse desnutrida, faminta, a criança nasceu choramingando, sem forças.
Os vaqueiros perceberam o que ocorria, e, juntos, levaram a família a um hospital, comprometeram-se a custear a assistência. Já era tarde. A criança não resistira ao frio, aos seios secos, ao desprezo dos que negaram abrigo aos pais. Alimentaram a mãe com soro, e a deixaram dormir na enfermaria. O jornal da cidade soube do fato, e com sua intervenção, a moça continuou internada, até recompor-se um pouco do parto, e voltar com sua família à estrada.
A moça disse ao repórter que estava muito triste. Como estavam no Natal, ela e seu companheiro, também ainda na adolescência, queriam dar à criança, se fosse homem, o nome de Jesus. Se fosse mulher, o nome de Maria.
Os fatos ocorreram há mais de 34 anos, e deles  me lembro bem. Na época, eu dirigia a Sucursal da Folha de S.Paulo, em Belo Horizonte, e recebi a informação do “Jornal de Montes Claros”, que ainda circulava.
Redigi a matéria, como uma notícia comum, e a enviei, sem assinatura, ao meu jornal, que a publicou sem  destaque. Muito mais tarde soube que a nota, redigida às pressas, ajudara a inspirar a Campanha da Fraternidade da Igreja, com o lema de “Para onde vais”,  um ano depois.
Aquele Jesus morreu no sertão mineiro, ao nascer. Outros continuam a morrer, perdendo a trilha de seu destino, nas vésperas de todos os natais, na Palestina, na Síria, no Paquistão, nos arredores de São Paulo – e em nossos  ressequidos sertões brasileiros.
Fonte: diariodocentrodomundo.com.br