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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Ministério Público pede multa de R$ 300 mil a Bolsonaro por racismo

Bolsonaro racista multa MPF
Bolsonaro e o filho, Eduardo (reprodução)

Ministério Público Federal pede ao TRF2 que aumente o valor da multa ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL/RJ) por racismo. O MPF destacou ainda que Bolsonaro não demonstrou arrependimento pelas graves declarações.

Jair Bolsonaro (PSL/RJ) terá que pagar uma multa de R$ 300 mil por conta de recentes declarações racistas. O pedido foi oficializado pelo Ministério Público Federal (MPF) nesta quarta-feira (23).
Inicialmente, a 26ª Vara Federal havia condenado o deputado a pagar R$ 50 mil, mas o MPF entendeu que o valor da multa estabelecido pela Justiça deve refletir a gravidade do fato e a capacidade econômica do réu, e por isso aumentou o valor em seis vezes.
A Procuradoria da República afirma, na ação, que Bolsonaro fez declarações contundentes contra quilombolas durante uma palestra no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro, em abril do ano passado.
O deputado disse que o “afrodescendente mais leve” de uma comunidade quilombola paulista “pesava sete arrobas” e completou dizendo que os quilombolas não faziam nada e nem para “procriar servem mais” (relembre aqui).
Na denúncia, o MPF lembra ainda que Bolsonaro afirmou: “Alguém já viu um japonês pedindo esmola por aí? Não, porque é uma raça que tem vergonha na cara. Não é igual a essa raça que tá aí embaixo, ou como uma minoria que tá ruminando aqui do lado.”
O MPF também destacou que Bolsonaro não demonstrou arrependimento pelas declarações, apesar de sua grande repercussão. A multa, conforme estabelecido pela Justiça, deve ser paga ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, que é gerido por um conselho federal para reparar danos coletivos em áreas como meio ambiente e patrimônio histórico.

Ação penal no STF

Além do processo civil, as declarações de Bolsonaro no Clube Hebraica deram origem a uma ação penal proposta em abril passado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal, em razão da prerrogativa de foro.
O deputado foi denunciado por racismo e discriminação contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros.
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Maio de 1968 e a geração que permanece fiel aos seus ideais

Maio de 1968 geração fiel aos seus ideais

A geração que protagonizou o movimento de Maio de 1968 se mantém fiel a seus ideais de justiça e de liberdade, afirmam especialistas no momento em que a França se prepara para celebrar o 50º aniversário de um dos meses mais intensos de sua história

No ano de 1968, a França viveu uma grande onda de protestos de caráter revolucionário. Um movimento ocorrido durante o mês de maio daquele ano provocou uma grande greve geral de trabalhadores e estudantes franceses e chegou a reverberar em outros países. Os protestos de Maio de 68 tiveram no movimento estudantil. Em 2 de maio de 1968, um movimento foi iniciado por estudantes das universidades de Paris e Sorbonne que pediam reformas no setor educacional francês. Os protestos se estenderam por vários dias e foram reprimidos com violência policialEstudantes e trabalhadores levantaram barricadas e enfrentaram a repressão e, nesse período, Paris vivia um cenário de batalha campal.
A resposta violenta do então presidente Charles De Gaulle aos estudantes franceses fez com que o movimento estudantil ganhasse força, sendo apoiado pelo Partido Comunista Francês (PCF) e pelos trabalhadores franceses.
Com ajuda de sindicatos, o movimento convocou em 13 de maio uma greve geral no país. Com cerca de dois terços dos trabalhadores em greve, o presidente De Gaulle se sentiu pressionado e no dia 30 de maio decidiu convocar novas eleições para junho. No entanto, De Gaulle e seus aliados venceram as eleições graças à manobras políticas e promessas de aumentos salariais, o que enfraqueceu o movimento estudantil e terminou com a greve geral. Apesar da vitória, De Gaulle renunciou no ano seguinte.
As frases rebeldes de Maio de 68 na França, como o clássico “É proibido proibir”, além de “A imaginação no poder” e “O poder está nas ruas, não nas urnas”, são algumas que entraram para a história da luta política internacional. Embora apagadas dos muros, as frases sobreviveram e resistiram à passagem do tempo e permaneceram gravadas na memória de uma geração. Pintados nas paredes, principalmente do famoso Quartier Latin de Paris, sede da Universidade Sorbonne e epicentro da revolta estudantil, os grafites eram sinônimo de liberdade, diz o jornalista Julien Besançon em um livro que compilou centenas de inscrições em Paris e na cidade próxima, Nanterre, sede de outra universidade mobilizada durante as revoltas de maio.
Muitos dos grafites se transformaram em palavras de ordem e foram imortalizados na época por uma militante de belas artes de Paris, que imprimiu 600 mil cartazes, colados na capital e arredores. A maioria de seus autores conservaram o anonimato. Mas alguns evocam sua fase criativa, como Bernard Cousin, estudante que se transformou em médico e que reivindica a compaternidade de “Sob os paralelepípedos, a praia”. A frase foi fruto de uma reflexão dele e de um jovem publicitário, Bernard Fritsch, e o ponto de partida foi a frase “Há grama debaixo dos paralelepípedos”.
O famoso “É proibido proibir” foi criado por um humorista e causou furor na época. A revolta e a recusa à autoridade foram expressas no cartaz “Jovem, aqui está sua cédula para votar”, que mostrava um paralelepípedo, símbolo da luta e revolta contra os agentes da repressão policial e de barricadas.
Enquanto algumas propagandas falavam de uma sociedade voltada ao trabalho, como “Metrô, trabalho, dormir”, outros celebravam a utopia: “Sejam realistas, exijam o impossível”. Cartazes em Paris mostravam uma jovem lançando um paralelepípedo enquanto dizia: “A beleza está na rua”.

Mesmo 50 anos depois a geração de maio de 68 permanecem fiéis ao seus ideais

A geração que protagonizou o movimento de Maio de 1968 se mantém fiel a seus ideais de justiça e de liberdade, afirmam especialistas no momento em que a França se prepara para celebrar o 50º aniversário de um dos meses mais intensos de sua história. As conclusões são ainda mais surpreendentes dado o mito que cerca os jovens que protagonizaram a maior greve geral da história francesa.
Quando investigamos as pessoas anônimas que participaram do movimento, nos damos conta de que a ideia de que a geração de Maio de 1968 deu as costas para a causa é completamente falsa”, explica a pesquisadora Julie Pagis, do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.
Entre os membros de 170 famílias analisadas por Pagis para um livro sobre o tema, “apenas uma pessoa” deu uma guinada para a direita. “Há uma grande fidelidade à esquerda, ou à extrema-esquerda”, diz a pesquisadora.
Mais da metade ainda tem atividades militantes” e “muitos continuam participando regularmente de manifestações públicas”, completa. “Ainda querem, por diferentes meios, mudar o mundo”, diz Julie Pagis, acrescentando que, hoje, muitos se manifestam contra as reformas de Macron.
Já o historiador Pascal Ory afirma que o espírito de Maio de 1968 não apenas influenciou comunistas e anarquistas da época, mas a esquerda como um todo e se prolongou por meio de novos combates “influenciados por perspectivas libertárias”, como o feminismo, a ecologia e a luta contra o racismo.

Estudantes-trabalhadores portugueses em Maio de 68

O envolvimento português nos acontecimentos de maio de 1968 foi sobretudo protagonizado por estudantes-trabalhadores que serviram de ponte entre os sindicatos e a emigração clandestina.
O historiador da Universidade de Pau et des Pays de l’Adour, Victor Pereira, refere que existem estudos de sociologia, elaborados na França logo após o Maio de 68, que mostram que muitos portugueses, sobretudo nas fábricas, não boicotaram greves e que participaram dos acontecimentos até porque havia trabalhadores politizados e que falavam francês e que fizeram a ligação entre o movimento sindical e os emigrantes.
Não podemos ter visões monolíticas, de que todos os portugueses tiveram medo e fugiram, porque isso não é verdade. Houve uma organização importante como o Comitê de Ação da Sorbonne e um Comitê de Ação dos Trabalhadores e Estudantes Português que tinha a ideia de que a revolta não se limitava ao meio acadêmico. Os estudantes lançaram a faísca, mas os operários é que tinham de continuar a luta”, conta o historiador.
Em 1968, viviam na França cerca de 200 mil portugueses sendo que muitos tinham ido a salto (clandestinamente) a partir do final dos anos 1950, sem documentos, não dominavam totalmente a língua e viviam como operários em bairros periféricos, em casas muito degradadas ou em alojamentos para estrangeiros, sobretudo na região de Paris.
Segundo Victor Pereira, quando surgem os tumultos de 68 em Paris muitos dos portugueses não entendem o movimento porque a grande parte trabalhava na construção civil (obras públicas), um meio pouco sindicalizado e que não permite, como numa fábrica, ter uma unidade fixa e consequentemente promover a sindicalização.
Por outro lado, é preciso distinguir quem são os operários e quem são os estudantes, porque a partir de 1961, com o início da Guerra Colonial e da revolta estudantil em 1962 muitos estudantes portugueses vão para França e são obrigados a trabalhar porque cortaram com a família, têm pouco dinheiro e são obrigados a encontrarem emprego, muitos deles em fábricas”, diz o autor do livro “A Ditadura de Salazar e a Emigração”.
Muitos estudantes portugueses são rebeldes e têm uma visão diferente dos acontecimentos porque têm um “capital cultural diferente” do que a maior parte da comunidade emigrante e ao contrário dos trabalhadores sabiam que não podiam voltar – por motivos políticos – enquanto que os emigrantes pretendiam regressar quando tivessem dinheiro para visitar Portugal nas férias.
Na França, os estudantes-trabalhadores portugueses podiam fazer coisas que dificilmente poderiam fazer em Portugal: falar, contestar e explicar diretamente os acontecimentos aos trabalhadores portugueses de comunidades rurais”, explica o historiador acrescentando que, sobretudo nas fábricas, os trabalhadores-estudantes portugueses desempenham um papel muito importante na intermediação entre os sindicatos e os operários.
Na altura, frisa o historiador, os trabalhadores-estudantes faziam panfletos em português e organizavam visitas aos bairros operários como “tentativas” de ações de politização dos emigrantes clandestinos que receavam estar vigiados pela polícia política do Estado Novo para os perseguir e expulsar da França.
A maior parte desses estudantes eram maoistas, anarquistas ou sem organização, mas “estavam desvinculados” do Partido Comunista de Portugal (PCP) que era apontado como um partido ortodoxo.
Muitos militantes do PCP não participaram no Maio de 68 porque temiam ser vistos pela polícia ou pelo informador da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). É quase um paradoxo: os comunistas eram as pessoas que mais capital político tinham e quase não participaram nos acontecimentos. Quase nunca iam ao Quartier Latin, em Paris, onde os cafés eram frequentados pela extrema-esquerda, mas onde temiam ser apontados pelos ‘bufos’ e informadores da PIDE”, sublinha Victor Pereira.

1968 – O ano que marcou o mundo

Em 1968, os Estados Unidos acumularam fracassos no Vietnã, a juventude tomou as ruas de Berlim, Paris e México. Foi um ano de revoltas e esperança, que muitas vezes acabou em desilusão.
Em meados dos anos 1960, estudantes dos Estados Unidos e Europa eram os principais críticos da guerra do Vietnã. Em 1968, o movimento foi ampliado, incorporadas críticas ao capitalismo e introduzidas novas reivindicações: liberdade sexual, feminismo e ecologia. Na Alemanha, a tentativa de assassinato, em 11 de abril, do líder estudantil Rudi Dutschke, iniciou uma revolta em Berlim, que se ampliou para dezenas de cidades alemãs.
Na Cidade do México, em 2 de outubro, a 10 dias dos Jogos Olímpicos, as forças de segurança assassinaram centenas de estudantes, quando os jovens realizavam uma manifestação na Praça das Três Culturas, no bairro de Tlatelolco, pedindo a abertura democrática no país. Além disso, o líder do movimento pelos direitos civis Martin Luther King foi assassinado em 1968, ano que viu as chocantes imagens da fome causada pela guerra da Biafra, na Nigéria.
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Fonte: pragmatismopolitico.com.br

O maestro que venceu o racismo e hoje brilha em Viena


por admin | 22 de Maio de 2018 | Cases
Uma entrevista com Luiz de Godoy, paulistano de 29 anos que driblou inúmeras dificuldades e virou exemplo na música erudita
O paulistano Luiz de Godoy teve uma infância cercada de música. Aos cinco anos, já acompanhava os ensaios de coro infantil do irmão e, antes de ter o próprio piano, estudava no que ficava no porão de sua escola estadual. A determinação, aliada ao talento e ao fascínio pela música, levou Godoy a uma das mais importantes capitais da música erudita: Viena, na Áustria. Hoje, está à frente de um dos principais corais do mundo, os Meninos Cantores de Viena.
Em entrevista ao culturagerafuturo.com, o músico e regente de 29 anos fala sobre a sua vida em Viena e sobre conquistas profissionais. Também lamenta o racismo que sofreu na universidade e defende que a cultura gera futuro, renda e empregos.
Como foi a sua infância?
Nasci em Mogi das Cruzes, a 50 km de São Paulo. Tive uma infância cercada pela música. Acompanhava meu irmão mais velho nos ensaios do coro infantil do qual ele fazia parte e acabei ingressando no grupo já aos cinco anos. Logo quis aprender a tocar piano e tive de esperar alguns anos até poder adquirir o instrumento. Antes disso, estudava no instrumento que ficava no porão da escola estadual que eu frequentava. A música me fascinava tanto que muito cedo despertou em mim a vontade de compartilha-la, de possibilitar a mais gente ter contato com aquele mundo encantado. Como minha família é bastante grande, minha mãe e meu irmão organizaram um coral da família, que eu já regia na pré-adolescência em apresentações em igrejas, asilos e hospitais.

Além da sua família, quem mais foi fundamental no início da sua carreira?
Depois das experiências com coral e da minha formação musical básica, passei a estudar em São Paulo nas escolas públicas de música do município e do estado. Acabei ficando por dez anos na Escola Municipal de Música (EMMSP), o que mudou a minha vida definitivamente. Lá, fui aceito aos 12 anos na classe de piano do professor Renato Figueiredo, um educador musical exímio, que fez minhas perspectivas se multiplicarem de maneira indizível. Como ele sempre foi muito ativo na vida musical de São Paulo, nós o acompanhávamos e íamos aprendendo de maneira bastante direta os detalhes intrínsecos à profissão de músico. Isto foi muito importante, porque, na nossa profissão, em qualquer parte do mundo, o passo entre o amador e o profissional é muito grande e a linha que o define, tênue. Chegando na Europa anos depois, esta característica foi o que me permitiu me instalar no mercado imediatamente, sendo respeitado e requisitado como meus colegas nascidos no berço da tradição musical erudita.

Há quanto tempo está em Viena? O que mais gosta na cidade?
Vim pra Viena pela primeira vez em 2010 para dar um curso de música coral brasileira na Universidade de Viena. Voltei pra cá após terminar meu mestrado em piano e iniciei o mestrado em regência coral e orquestral em 2013. Viena tem óperas a 3 euros quase todas as noites, tem flores lindas nos canteiros e as pessoas colocam vasos do lado de fora das janelas sem medo de alguém roubar. O transporte público te leva a qualquer lugar da cidade de quase 2 milhões de habitantes em, no máximo, 45 minutos e custa 1 euro por dia. Se for estudante ou idoso, menos ainda. Os conceitos de bem-estar social e igualdade fazem parte da vida de todos e fundamentam o governo do país (apesar de uma recente ascensão de ideias contrárias) desde a monarquia. O que mais gosto daqui é a sensação de bem estar, de segurança e dos valores e prioridades (com exceções) da sociedade.

Como surgiu a oportunidade de estar à frente de um dos principais corais do mundo: os Meninos Cantores de Viena? Como se sente no posto?
Participei de um processo regular de escolha para o cargo e fui nomeado após três meses de testes, junto a outros 30 candidatos de diversas partes do mundo. Esta nomeação me honrou muito e tem me possibilitado trabalhar constantemente nas mais importantes salas de concerto do planeta. Mais do que isso, o trabalho diário com crianças extremamente talentosas e interessadas, que também vêm de diversos países, me enriquece cotidianamente. Tenho aprendido bastante e vivenciado experiências pedagógicas e artísticas excepcionais.

O que mais encanta em poder trabalhar com música?
Tenho a impressão de que eu trabalho com música por precisar estar em contato com essa arte a maior parte do tempo possível. Isso explica a jornada tripla, com os Meninos Cantores de Viena, a Wiener Konzerthaus e a Ópera Estatal de Viena. Mozart dizia querer tudo o que é “verdadeiro, belo e bom”. Música é isso. O que há de mais verdadeiro do que os nossos sentimentos? Fazer música profissionalmente é compartilhar com o outro a possibilidade de entrar em contato com esta forma de expressão humana tão íntima, tão direta, sobretudo quando se trata do canto. O que mais me encanta na música é o ser humano. É a percepção da música e como ela nos afeta, é a função da música, central nas nossas vidas.

Você acredita que a cultura pode mudar a realidade das pessoas, que ela pode ser geradora de futuro, de renda e de empregos?
Tenho certeza disso. Numa realidade menos árida, mais confortável do que a que temos no Brasil, vejo isso acontecer naturalmente. Na Áustria, 11% da população canta em coro. Apenas este exemplo já demonstra o tamanho do mercado que há para pianistas, regentes, profissionais de palco, promotores culturais etc. Como disse, trata-se de uma situação mais ideal para que a cultura tome o espaço que ela pode ter. Quando se está seguro, socialmente protegido e confortável, mais gente percebe a cultura como algo essencial. Se nossa prioridade é a subsistência, a manutenção do emprego, não se atrasar por causa do trânsito, fica mais difícil pensar em ir a um concerto no final do dia como algo natural e prioritário. Um dos coros no qual eu trabalho como regente, a Wiener Singakademie, celebra em 2018 seus 160 anos de existência e sempre foi integrado por cantores amadores, que vão ensaiar depois do trabalho. Mas eles também “se dão ao luxo” (porque isso tem de ser luxo?) de faltar ao trabalho quando têm um ensaio com a Filarmônica de Berlim, por exemplo, no meio da tarde. Um coro amador de pessoas que fazem aula de canto como hobby e cantam em nível profissional, com as melhores orquestras do mundo. Tenho certeza de que a música é uma necessidade para estas pessoas. No Brasil, urge que mais e mais gente tome contato com cultura de alto nível (o que não significa exclusivamente cultura erudita), para que, quem sabe, a cultura suba no hall de prioridades das pessoas. Talvez assim seja mais fácil de mudar, ou pelo menos amenizar, embelezar, a nossa realidade muitas vezes tão restritiva.

Que conselhos daria para os jovens brasileiros que sonham em trabalhar com música?
Estudem bastante, o mais que puderem enquanto jovens, mas sobretudo de forma consciente! Não são as horas de estudo que contam, mas a qualidade envolvida. Busquem instrução profissional qualificada, professores que revelem um universo novo a cada aula. Não se contentem com pouco. Ouçam muita música, estejam próximos de bons profissionais, observando-os, busquem oportunidades nos lugares mais inusitados. Se no Brasil não há ópera a R$ 3, encontrem um músico na porta dos fundos do teatro e peçam para entrar junto, num ensaio, por exemplo. Há muitas maneiras práticas de adquirir experiência e, apesar de possivelmente ser mais fácil quando se tem dinheiro ou influência, não é impossível para ninguém atingir, por mais tortuosos que sejam os caminhos, aquilo que se sonha.

Muitas reportagens falam que você sofreu racismo na faculdade, na USP. É verdade? Como foi esse episódio?
Há um gosto muito amargo dentro de mim quando me perguntam sobre racismo no Brasil, porque isso sempre abre as portas para o discurso-acusação da vitimização. A alcunha daquele que se auto-vitimiza vira algo maior do que toda a existência do indivíduo, do que tudo o que ela fez na vida. No Brasil, se a gente toca no assunto, as pessoas nos vinculam a um coitado, pensam que estamos tentando tomar um atalho para algum sucesso ou nos justificando por um insucesso. O que me aconteceu na USP não é exceção, é algo que muita gente vive, considerem-se as centenas de mensagens que recebi em reação às reportagens citadas, nas quais jovens estudantes dizem se identificar com a minha história. Não se trata de uma situação específica, trata-se de um conjunto de ações, como disse, um mecanismo estrutural de nossa sociedade que funciona muitas vezes de maneira até inconsciente, imagino. Como as universidades públicas são ainda muito elitistas e a representatividade do negro no meio da música erudita é, historicamente, baixa, percebi só depois de um bom tempo que a maior parte das experiências negativas que vivi na faculdade se baseavam na imagem que tinham de mim. Uma imagem deturpada, provavelmente, pela aparência física, pelo histórico periférico, por ser diferente dos outros. O que posso fazer para ter uma imagem positiva enquanto estudante? Me dedicar, tirar boas notas, respeitar colegas e professores. Era o que eu me esforçava em fazer e, mesmo assim, com uma média ponderada de 9,3, tive de ouvir que não me esforçava o suficiente, que não tinha como me ver como um pianista. Quando de um convite externo para me apresentar, em vez de ser estimulado, ouvi que aquilo não era pra mim. Isso culminou com a recusa de um professor em me dar aulas, algo que, sem uma razão concreta e legítima, é incabível dentro de uma universidade pública. O gosto amargo a que me referi vem da dificuldade de diálogo, da insistente negação da nossa história de um país que aboliu a escravidão anteontem. Por isso acho importante, apesar do preço a se pagar, falar de racismo. Mas também quero contribuir a partir da minha própria atuação artística, de forma a ocupar espaços historicamente restritos e, assim, atuar para a expansão da representatividade do negro. Quero que crianças negras me vejam regendo e assimilem a possibilidade de também liderarem um grupo. Quero trabalhar com crianças, não só em Singapura ou na Dinamarca, mas também no Brasil. Crianças de quaisquer origens, como as que estão sob minha direção em Viena e que vêm de dezesseis nacionalidades diferentes. Há muito mais do que preto ou branco no mundo e cada indivíduo tem de ser respeitado no que sente e na sua percepção de si mesmo. O outro não tem o direito de nos dizer como temos que nos sentir, se sofremos ou não sofremos algo.

“O que mais me encanta na música é o ser humano. É a percepção da música e como ela nos afeta, é a função da música, central nas nossas vidas”, afirma Luiz de Godoy.
(Crédito da foto: Fernanda Nigro)
Fonte: http://culturagerafuturo.com

Indicações para a Ordem do Mérito Cultural vão até 18/6


O Ministério da Cultura (MinC) recebe, a partir desta segunda-feira (21), indicações para a edição de 2018 da Ordem do Mérito Cultural (OMC), principal condecoração pública da área da cultura. Interessados poderão enviar sugestões até 18 de junho. Qualquer pessoa pode indicar grupos artísticos, pessoas físicas, iniciativas culturais ou instituições que apresentem relevantes contribuições à cultura brasileira.
As indicações podem ser feitas on-line, por e-mail (omc2018@cultura.gov.br) ou pelos Correios, para o endereço: Ministério da Cultura, Esplanada dos Ministérios, Bloco B, Assessoria de Comunicação Social, 4º andar, CEP 70068-900 Brasília – Distrito Federal.
As sugestões serão avaliadas pelo Conselho da Ordem do Mérito Cultural, presidido pelo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão. Ainda integram o grupo os ministros da Educação, da Ciência, Tecnologia e Inovação e de Relações Exteriores, além de uma Comissão Técnica nomeada pelo ministério da Cultura. Os nomes aprovados pelo Conselho serão divulgados por meio de Decreto Presidencial.
Ordem do Mérito
Desde a criação da OMC, em 1995, mais de 500 personalidades e instituições foram agraciadas por suas contribuições ao desenvolvimento da cultura no País. São intelectuais, produtores, entidades públicas e privadas, artistas dos mais diversos segmentos e realizadores de trabalhos culturais importantes nas áreas de inclusão social, artes, audiovisual e educação.
A Ordem do Mérito Cultural é composta por três classes: Grã-Cruz, Comendador e Cavaleiro. É possível que a mesma pessoa receba a comenda mais de uma vez, porém em classes diferentes. Os órgãos e entidades públicas e privadas, nacionais e estrangeiras, são admitidos na Ordem sem grau de classes. A homenagem foi criada pela Lei nº 8.313, de 1991, e regulamentada em 1995 pelo Governo Federal (Decreto nº 1.711).
OMC 2017
Em 2017, 32 personalidades e instituições brasileiras foram agraciadas com a Ordem do Mérito Cultural (OMC). A cerimônia teve como tema “Cultura, Inovação e Empreendedorismo”.
Receberam o grau máximo de Grã-Cruz Renato Aragão (Didi), Ivo Barroso, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Augusto Marzagão (in memoriam) e Domingos Alzugaray (in memoriam).
Na classe Comendador, foram agraciados Luiz Calainho, Mãe Neide Oyá D´Oxum, Luis Severiano Ribeiro, Marcelo Bertini, Eduardo Saron, Ricardo Amaral, Roberto Minczuk, Marcelo Bratke, Fernando Alterio, Ana Maria Nóbrega Miranda e Pierre André Mantovani.
Na classe Cavaleiro, foram agraciados Marcelo Dantas, Carlos Tufvesson, Jair de Souza, Genival Lacerda, Maria Ignez Montovani, Dona Onete, Carla Camurati, Claudia Costin, Paulo Cruz, Luciane Gorgulho, Afonso Oliveira, Beto Kelner e Roberto Santucci.
Duas instituições também foram condecoradas: o bloco carnavalesco Galo da Madrugada, de Recife, e a Moeller & Botelho Produções Artísticas, do Rio de Janeiro. Saiba mais sobre a cerimônia de 2017.
Fonte: BRASIL CULTURA

CONTAGEM REGRESSIVA! FALTAM APENAS 2 DIAS PARA O ENCONTRO DE POLÍTICAS CULTURAIS DO CPC/RN!!! CONFIRAM!


Contagem REGRESSIVA! Faltam apenas 02 (dois) dias para o ENCONTRO DE POLÍTICAS PÚBLICAS CULTURAIS DO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC/RNDia 25 de maio no IFRN de Nova Cruz, Rio Grande do Norte! Debates, trocas de idéias, apresentações culturais, palestras e muito mais!

Momento também para reflexões, análises e a volta das discussões e importância dos nossos irmãos NEGROS E ÍNDIOS, juntamente com suas origens, presença marcante em nossas vidas!

Fiquem ligados!

Os ecos do Maio de 1968 nas lutas políticas do Brasil e do mundo


Período de reviravoltas, maio de 1968 é marco histórico. A agitação social, política e cultural iniciada nos arredores de Paris foi prenúncio (ainda em março daquele ano) do que ecoaria em outros países – por razões divergentes, inclusive. Cinquenta anos depois, a onda de protestos, greves e enfrentamento a autoridades ainda influencia lutas marcantes para os movimentos negro, feminista e trabalhista.

O que começou com manifestações estudantis para pedir reformas no setor educacional culminou em greve trabalhista, chacoalhou e desestabilizou o então presidente da França, general Charles de Gaulle. Foi a maior greve geral da Europa, com adesão de mais de 9 milhões de pessoas.

No dia 3 de maio de 1968, universitários saíram em passeata sob o comando do líder estudantil Daniel Cohn-Bendit, que futuramente seria parlamentar francês. A polícia reprimiu os estudantes com violência. A reação do governo estimulou o apoio do Partido Comunista Francês.

Pressionado, De Gaulle convocou eleições para junho. Mas a manobra política desmobilizou os estudantes e promessas de aumentos salariais conseguiram fazer os operários voltarem às fábricas. As eleições foram vencidas por aliados de De Gaulle.

“Em 1965, uma mulher casada tinha que pedir permissão ao marido para abrir uma conta bancária. Hoje você tem uma aceitação da autonomia da homossexualidade, apesar da Igreja ainda ter seus problemas. Há uma aceitação da diversidade dos indivíduos. Uma ideia de direitos humanos e democracia”, declararia Cohn-Bendit à agência de notícias AFP, décadas depois.
Barricadas de estudantes na rua Paul Bert, em Bordeaux, em maio de 1968 (Foto: Wikimedia Commons)
Saiba Mais: Na época, eram instrumento de luta slogans irônicos e anti-autoritaristas como “Imaginação ao poder”, “Abaixo o realismo socialista. Viva o surrealismo”, “Ceder um pouco é capitular muito”, “Consuma mais, viva menos”.

Brasil

A socióloga e historiadora Dulce Pandolfi, em entrevista ao O POVO Online, concorda que os movimentos de maio de 68 marcaram o século XX. “Foi emblemático. Você ainda tem nesse ano manifestações nos EUA e em países da América Latina, incluindo o Brasil. Mas no contexto local, era decorrente do golpe de 1964. A ditadura era nosso plano de fundo”, explica.
Passeata dos Cem Mil, em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, contra a Ditadura Militar
No Brasil, a luta se assemelhava por envolver jovens e abranger questões contrárias ao tradicionalismo moral, além de reivindicações estudantis. A repressão militar também era acentuada, devido ao endurecimento do regime militar e à censura política instaurada.
“A grande inquietação da juventude brasileira também englobava questões estudantis, como o corte de vagas, recursos e de autonomia das universidades. De 1945 a 1964, houve crescente no ingresso ao ensino superior. O golpe corta isso tudo. Foi um massacre cultural com efeitos enormes na sociedade”, completa Dulce.
No período, a busca pelas liberdades era comum aos movimentos, mundialmente: a tentativa de rompimento com conservadoras estruturas políticas e morais. Para o feminismo, foi a época de defesa da pílula anticoncepcional, direito ao divórcio e minissaia, por exemplo.
“Tivemos avanços, a gente não retrocedeu desde então. A luta deixou sementes no mundo, como a participação popular e a cidadania”, finaliza Dulce.
Mundo
Os Estados Unidos estavam mergulhados na Guerra do Vietnã. A opinião pública passou a rejeitar a guerra após as imagens que a TV mostrava da ofensiva do Tet, momento em que os vietcongs atacaram tropas norte-americanas, a partir de janeiro. O movimento hippie fazia questionamentos similares aos dos jovens franceses. Soma-se a luta pelos direitos civis, encabeçada por nomes como Malcom X, Panteras Negras e o líder negro Martin Luther King Jr., assassinado naquele ano.
Martin Luther King Jr.
Na Tchecoslováquia, tropas soviéticas impediram a implantação do “socialismo humano” proposto por Alexandre Dubcek durante o período que ficou conhecido como Primavera de Praga.
No México, centenas de estudantes foram agredidos durante um protesto às vésperas da realização dos Jogos Olímpicos no país.

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