Postagem em destaque

FIQUEM LIGADOS! TODOS OS SÁBADOS NA RÁDIO AGRESTE FM - NOVA CRUZ-RN - 107.5 - DAS 19 HORAS ÁS 19 E 30: PROGRAMA 30 MINUTOS COM CULTURA" - PROMOÇÃO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC-RN

Fiquem ligados nas ondas da Rádio Agreste FM - 107.5 - NOVA CRUZ, RIO GRANDE DO NORTE, todos os sábados: Programa "30 MINUTOS COM CULTU...

terça-feira, 18 de junho de 2019

Notícias sobre as câmaras setoriais

FJA
- Até o presente momento, foram instaladas três Câmaras Setoriais, pela ordem de criação: Teatro; Audiovisual e Circo.
- A Câmara Setorial do Teatro já realizou três importantes Reuniões e agora caminha para seu Plano de Ação e a formalização através de Portaria legal.

- A Câmara Setorial do Audiovisual realizou sua primeira Reunião no dia 16 de Junho, 10h, em Caicó, região do Seridó, como parte integrante do Festival de Cinema Curta Caicó. A próxima será dia 24 de Junho, uma segunda-feira, na Fundação José Augusto.

- Os integrantes do Fórum das Artes Visuais terão uma Reunião nessa terça-feira, dia 18, 09 horas da manhã, na Sala de Projetos e Articulação Institucional para tratar da instalação da Câmara Setorial do Setor.

- Diversos integrantes do Segmento Circo, realizaram, em conjunto com a Fundação José Augusto, a Reunião de Instalação da Câmara Setorial de Circo, nessa segunda-feira, dia 17, entre 14 e 16h, no TCP/Fundação José Augusto. A próxima será no dia 17 de julho, uma quarta-feira, na Fundação José Augusto.

- Os integrantes do Setor Dança, Diana Fontes e Maurício Motta estão articulando o Setor para uma futura Reunião da Câmara Setorial.

- O compositor, músico e cantor Esso Alencar está articulando através da Rede Potiguar de Música a primeira Reunião da Câmara Setorial de Música. O Encontro será no dia 1º de Julho, uma segunda-feira, às 10h, na Fundação José Augusto.

- O Coordenador do Livro e da Leitura, Aílton Medeiros, está articulando a Formação do Setorial do Livro, Leitura e Biblioteca.

- Na página da Fundação José Augusto e nas Redes setoriais dos segmentos informaremos o caminhar das Câmaras Setoriais.

- O articulador da Câmara Setorial, Aluízio Matias dos Santos, é também Coordenador de Projetos e Articulação Institucional da FJA.

Fonte: Fundação José Augusto - FJA

Seminário feminista debate a resistência à onda neoliberal conservadora

“Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns” é o tema do seminário internacional organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

“Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns” é o tema do seminário internacional organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), que acontece entre os dias 17 e 19 de junho. Em São Paulo, o encontro reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio.

Nesta segunda-feira (17), a primeira discussão do encontro, intitulada “Construindo uma visão comum sobre as características da ordem mundial”, foi impulsionada por Yildiz Temürtürkan, da Turquia, Jean Enriquez, das Filipinas, Priya Johnson, dos Estados Unidos, e Bernadete Monteiro, do Brasil, compondo a mesa que gerou uma série de reflexões coletivas sobre o tema.

Neste momento, a reflexão proposta foi sobre como se constroem e se manifestam os mecanismos de controle e como se expressa o antifeminismo na conjuntura internacional. Temürtürkan mencionou que, há uma década, feministas de todo o mundo estavam reunidas no Brasil para o Fórum Social Mundial e, desde lá, falavam de um avanço da pobreza, combinado com a criminalização e violência. Para ela, o que está sendo chamado de “populismo de direita” pelo mundo é, na verdade, o fascismo que se reorganiza no contexto internacional junto a uma privatização do Estado pelas corporações. Ela, que é militante da Marcha Mundial das Mulheres e atua em Ankara, em defesa dos direitos humanos, contra a tortura e assassinato de lideranças sociais, incluindo membros de sua organização, afirma que o antifeminismo é elemento central das construções dos novos regimes da nova ordem neoliberal.

Para Jean Henriquez, que é militante da MMM das Filipinas e advogada pelos direitos das mulheres, trabalhando contra a prostituição e o tráfico de mulheres, os representantes do sistema capitalista querem impor governos que se baseiem na opressão das pessoas pobres e veem as lutas feministas contra a violência e a exploração como ameaças. Uma das ferramentas utilizadas pelo sistema é a guerra às drogas, que mata pessoas pobres nas Filipinas e em outros lugares do mundo. “O neoliberalismo é um projeto autoritário para os mais pobres”, afirma. Ela diz que não se pode perder de vista as perspectivas radicais do feminismo e que a defesa da democracia não pode se dissociar da luta por uma transformação do modelo econômico e social baseado na ganância que, internacionalmente, precariza a vida das mulheres.

Priya Johnson, ao refletir sobre a conjuntura estadunidense, lembra que a agenda hoje representada pelo Donald Trump tem raízes antigas e profundas na história dos Estados Unidos e remonta o genocídio dos povos indígenas. Priya também critica a militarização da vida, os mecanismos de controle, o encarceramento da população negra, a crminalização dos movimentos, a xenofobia e a monopolização dos meios de comunicação, elementos que alimentam a ideologia patriarcal e neoliberal e legitimam, diariamente, o terrorismo deste sistema. Como uma das saídas, Priya convoca a construção de solidariedade entre as fronteiras.

Bernadete Monteiro, que é militante da MMM em Belo Horizonte (MG), pontuou similitudes e especificidades do contexto brasileiro. Ela relembra que a ascensão da direita nacional se articula mais fortemente a partir de 2010 e tem a ver com uma crise prolongada, desde 2008, com uma reafirmação de uma hegemonia estadunidense, e com novas características do neoliberalismo, que em outros momentos se apoiou na defesa da democracia e que hoje prescinde dela. Bernadete também lembrou do lugar da América Latina nesta configuração internacional, que está sob ataque e é estratégica para a nova ordem de acumulação do capital.

Nesta tarde, as discussões continuaram. “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo”, foi o tema do debate.

Jornalistas Livres

Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal

Resultado de imagem para IMAGENS DO Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal
Resultado de imagem para IMAGENS DO Seminário feminista discute enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal
“Resistência e construção de movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns” é o tema do seminário internacional organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM).

A segunda discussão do primeiro dia do Seminário Internacional “Resistência e construção de Movimento: confrontando o neoliberalismo desde a economia feminista e os comuns”, organizado pela Marcha Mundial das Mulheres (MMM), teve o “Enfrentamentos ao capitalismo racista e patriarcal: visões e estratégias de disputa para mudar o modelo de reprodução e consumo” como tema central, na tarde desta segunda-feira (17).

A mesa de debate teve mediação de Tica Moreno, que é da coordenação executiva da MMM no Brasil, e participação de Graça Samo, que é coordenadora do Secretariado Internacional da MMM, sediado em Moçambique, Karin Nansen, que é fundadora e presidente da rede Amigos da Terra – Internacional, que atua com foco em justiça ambiental, social e de gênero, e Wendy Cruz, que é integrante da Via Campesina, articulação que reúne organizações e movimentos camponeses de todo o mundo.

Wendy afirmou que estamos vivendo um desaparecimento do estado como garantidor de direitos e que, em contrapartida, há um falso discurso sobre representatividade que faz algumas mulheres se sentirem parte deste sistema que produz ganância e desesperança. Ela alertou que o capitalismo tem maneiras diversas de se recompor e que nós, que lutamos contra este sistema, temos que forjar novas estratégias para enfrentá-lo.

É preciso, segundo ela, apontar a concretude deste sistema de morte. Os megaprojetos, o agronegócio e a militarização dos corpos e territórios, que são expressões desta organização patriarcal e neoliberal, são atentados contra a vida. Não se pode permitir que estas violências se normalizem. Para ela, as respostas coletivas a esta realidade também têm que ser concretas. Para a Via Campesina, a soberania alimentar e dos povos é esta proposta de resistência. Neste sentido, a economia feminista também é uma aposta de longa data.

Para Karin Nansen, é sob as bases da economia feminista que se deve construir a crítica à crise econômica, cuja causa é o modo de funcionamento do sistema capitalista, onde os bens comuns e o trabalho das mulheres são compreendidos como fontes inesgotáveis de exploração. Romper com este sistema, portanto, é romper com a divisão sexual do trabalho. Se hoje as mulheres são linha de frente nas lutas socioeconômicas, é porque há um compromisso profundo com a transformação do mundo e da vida das mulheres e não por uma conexão natural.

Karin lembra que as mulheres também são protagonistas da luta contra a militarização. Em diversos territórios, a militarização tem estreita conexão com as empresas transnacionais, que utilizam o aparelho repressivo do estado para defender seus interesses corporativos. Para ela, a resistência para tantas violências está na construção do poder popular.

Graça Samo acredita no mesmo. Para ela, é preciso que as mulheres estejam juntas para enfrentar os “gigantes” deste sistema que mata, todos os dias. É a partir das experiências das mulheres que se torna possível pensar em soluções para a espoliação. Graça também defende que o movimento feminista antissistêmico precisa ter agenda própria e valorizar os próprios processos organizativos. De acordo com ela, a cooptação e o ataque às lutas feministas sempre existiram, mas a organização coletiva é capaz de resistir a estes processos.

Para Tica Moreno, do Brasil, a diversidade de experiências e de mulheres que compõe as organizações feministas antissistêmicas deve ser uma fortaleza, ao invés de fonte de fragmentação. São estas organizações que têm a capacidade de fazer uma crítica integral ao sistema capitalista e colocar a defesa da vida como interesse central.

Com estas reflexões, encerrou-se o primeiro dia de Seminário Internacional. A atividade reúne militantes feministas de países das Américas, Europa, África, Ásia e Oriente Médio e é um espaço de formulação de reflexões estratégicas.

JORNALISTAS LIVRES

Brasil esconde o papel das operárias na história das lutas feministas

A historiadora e pesquisadora Glaucia Fraccaro, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conseguiu uma proeza rara no meio acadêmico: estudar a fundo – e com competência – a relação entre o movimento operário e as lutas das mulheres no Brasil. Como a história do feminismo à brasileira sofre do que certas autoras chamam de “uma perversa operação de classe”, Glaucia inovou ao contar essa história “a partir de uma visão ‘das de baixo’.
Por André Cintra e Carolina Maria Ruy
O sindicalismo já era o foco de trabalho da pesquisadora no mestrado. Uma vez no doutorado, seu ponto de partida foi a Greve de 1917, considerada a primeira greve geral do País e um marco na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores. Daí surgiu a tese “Os Direitos das Mulheres – Organização Social e Legislação Trabalhista no Entreguerras Brasileiro (1917-1937)”, defendida por Glaucia em 2016.
Nesta entrevista, a pesquisadora – e agora doutora em História Social do Trabalho –, reforça o protagonismo das operárias nas primeiras leis nacionais essencialmente feministas. Segundo ela, o legado político – “até agora pouco discutido” – do movimento de trabalhadoras ao feminismo “foi o debate da regulação e dos direitos do trabalho”.
Quais eram as condições de trabalho das operárias no início do século 20?
O Brasil, ainda nos anos 1920, era mais rural que urbano. Nas fábricas dos grandes centros, as mulheres compunham 34% da força de trabalho e, em São Paulo, no setor têxtil, o número de trabalhadoras superava o de homens. As condições de trabalho eram péssimas, com largas jornadas, alto custo dos alimentos e nenhuma garantia de direitos ou benefícios. Além disso, os relatos de abuso por parte de feitores e gerentes de oficinas eram recorrentes.
Como as trabalhadoras se organizavam? Quais pautas elas reivindicavam?
A concentração de homens nos cargos de direção sindical nos leva a pensar a organização das mulheres a partir de outras formas. Laços de parentesco e de vizinhança se somavam aos laços de solidariedade dentro das fábricas, de modo que encontramos pequenas greves e paralisações em várias fábricas têxteis da capital.
Nesses piquetes, elas reivindicavam melhores salários e o “fim dos abusos” por parte dos feitores de fábrica. No entanto, a forte presença delas nesse ramo também impulsionou políticas de benefício que envolviam diretamente a maternidade. Logo depois das greves de 1917, o Parlamento brasileiro passou a debater a licença-maternidade e a instituição de creches como política pública.
Qual era a reação dos empresários?
Até mesmo o empresariado, menos afeito a participação do Estado nas tomadas de decisão sobre relações de trabalho, implementava, por sua própria iniciativa, uma política de benefícios que mantivesse as mulheres nas fábricas por mais tempo e mais liberada dos cuidados das crianças. Essas medidas foram interpretadas como ações paternalistas de autoridade. Mas é certo que parte dos seus esforços consistia em propagandear que não havia necessidade de intervenção pública no mundo das industriais.
Por quais singularidades os acontecimentos de 1917 foram além e se converteram na primeira greve geral de nossa história?
A mobilização política de trabalhadores e as greves ganham, em 1917, uma proporção nacional. O professor Cláudio Batalha atesta que o impacto das ações foi grande, entre outros motivos, porque as empresas não guardavam estoques. Assim, as paralisações afetavam diretamente os negócios.
O próprio acúmulo do movimento também alertou o Parlamento sobre a necessidade do Estado se atentar para a “questão social”, que era um termo da época. Desse modo, a pauta do movimento de trabalhadores entrou para a discussão na Comissão de Legislação Social poucos anos depois.
Por que a atuação das operárias ficou por tanto tempo em segundo plano, à beira do esquecimento?
Há algumas autoras que chamam esse acontecimento de “uma perversa operação de classe”. O feminismo é um campo político e, portanto, está submetido a disputas de mesmo teor. Tais disputas em torno dele refletem em sua narrativa histórica. Quem conta a história do feminismo, quem escreve tais narrativas, percebe os grupos hegemônicos e conta sua história a partir da experiência de quem “venceu”.
No entanto, é preciso contar esses enredos também a partir de suas discordâncias, de seus pontos de embate. Assim, poderemos envolver a experiência daquelas que não tinham acesso à imprensa ou aos parlamentares e políticos importantes. É dessa forma também que podemos perceber uma circulação de ideias, que não respeitava as fronteiras do Estado nação, e que pressionava as diferentes organizações de mulheres que se posicionavam no campo do feminismo. A história do feminismo brasileiro não tinha sido contada a partir de uma visão “das de baixo”.
Você usa a lei que garantia a licença-maternidade para exemplificar como algumas das ideias do período surgiram. Como os grupos se dividiam?
Havia grupos de mulheres (algumas norte-americanas e outras europeias, mas com presença de mulheres de outros países) que se posicionavam pelo que elas mesmas chamavam de “equidade”. Elas eram contrárias a qualquer tipo de regulação para o trabalho das mulheres. Consideravam que as leis poderiam causar a exclusão das trabalhadoras do mercado de trabalho, tornando seus braços mais caros aos patrões. Por isso, elas se diziam a favor de leis e tratados para “equidade” entre mulheres e homens.
Por outro lado, havia um grupo que considerava que apenas a maternidade deveria ser regulada, nada mais. Havia também um terceiro grupo de ativistas que defendia que deveria haver regulação para todo o tipo de trabalho, de forma a preservar quem o exercia, e, principalmente, deveria haver leis para regular o trabalho das mulheres. Elas reivindicavam não apenas a licença-maternidade – mas salários que envolvessem o trabalho de cuidados, jornadas específicas e diferentes estatutos de aposentadoria.
Todo esse debate emergiu depois da barbárie da Grande Guerra e estava orientado por uma espécie de medo causado pela vitória da revolução na Rússia. Os grupos políticos em questão elegeram a Organização Internacional do Trabalho, uma agência da Liga das Nações, como o fórum principal dos embates. A OIT formulava tratados e convênios internacionais que criava padrões de legislação para o trabalho no mundo todo.
A OIT foi fundada em 1919, e o Partido Comunista do Brasil, três anos depois. Como essas iniciativas se entrelaçam e ajudam a impactar a luta das mulheres no Brasil?
Esse conjunto de questões chegou também para o Partido Comunista. Seus dirigentes perceberam o alcance da formulação de padrões para o trabalho e passaram a considerar as leis para o trabalho de mulheres na atuação direta de suas militantes. O debate se refletiu mais na atuação das comunistas do que nas resoluções do partido.
No Brasil, essas pressões em torno da regulação do trabalho das mulheres também chegaram via OIT. Além do debate posto entre os próprios grupos brasileiros, o papel da OIT desenvolvido por meio do Estado garantiu que o debate por leis e direitos entrasse no governo de Vargas em termos bem parecidos daqueles postos no movimento feminista.
Assim, como parte dos compromissos que ele estabeleceu com o povo brasileiro em 1930, Vargas aprovou um decreto que regulava o trabalho das mulheres compondo o “Código do Trabalho”. Esse decreto estabelecia “salário igual para trabalho igual”, licença-maternidade e obrigatoriedade de creches em fábricas e comércio com mais de 30 funcionárias.
Podemos falar em “primeira geração” de lutadoras e feministas?
Em estudos de história e de ciências sociais, a periodização sugerida para contar a história do feminismo demarca os diferentes momentos do feminismo por meio de “ondas”. A fundação da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (1922) corresponderia a “primeira onda”, quando a organização feminista se concentraria em conquistar o sufrágio das mulheres.
Até os dias de hoje, a história contada sobre elas procura compreender como um movimento desse caráter pretendia lutar pelos direitos das mulheres sem alterar os direitos dos homens, atuando por dentro das instituições governamentais. A explicação encontrada varia entre tratá-las como um “feminismo difuso” – ou, ainda, como um “feminismo tático”. Essas qualificações denotavam análises que esperavam – mas não encontraram – a plenitude da autonomia feminista nos seus “primórdios”.
De acordo com esse modelo, a “segunda onda” viria apenas muito tempo depois, nos anos 1960, fruto da “efervescência política do período” a problematizar os papéis públicos e privados das mulheres. Até mesmo para a “terceira onda” – um movimento a questionar as identidades diversas que compunham o feminismo –, o elemento ausente seria a luta das mulheres no mundo do trabalho.
É claro que as tensões das relações de trabalho compuseram os diversos momentos do modelo, mas a separação por “ondas” costuma eleger marcos que devem ser considerados hegemônicos a cada período. O questionamento sobre o uso da metáfora das ondas tem sido cada vez mais frequente por considerar que a periodização entrincheira a percepção de um feminismo singular, na qual gênero é a categoria predominante de análise, deixando subsumidos os conflitos de raça e de classe.
De que maneira os conflitos de classe garantiram levaram a conquistas e legados para as mulheres?
O acúmulo, até agora pouco discutido, que o movimento de trabalhadoras proporcionou ao feminismo, como campo político, foi o debate da regulação e dos direitos do trabalho. Se hoje podemos falar em economia feminista ou considerar o valor do cuidado nas relações sociais, é porque esse debate emergiu das tensões das relações de trabalho.
É preciso entender aqui “cuidado” como o trabalho gratuito desempenhado por mulheres na limpeza da casa, na criação de crianças (filhas, netos, sobrinhos) e no trato com familiares doentes. Mulheres pobres sempre estiveram na força de trabalho por não haver outra opção – e sempre acumularam os afazeres sustentando boa parte da economia nos seus braços.
Fonte: Portal BRASIL CULTURA