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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

EDITAL DE CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLÉIA GERAL DO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC-RN

Imagem: Dandara, simbolo de resistência

Centro Potiguar de Cultura – CPC-RN

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

O Centro Potiguar de Cultura – CPC-RN CONVOCA todos os delegados eleitos para participarem da ASSEMBLÉIA GERAL, que realizará dia 29 de maio de 2021 na Escola Estadual ALBERTO MARANHÃO – NOVA CRUZ-RN, horário das 08h, às 11h, com as seguintes pautas: 1) Abertura – Composição da Mesa-Apresentação Cultural e Informes; 2) Prestamento de conta; 2017-2020; 3) Conjuntura Nacional e Estadual; 4) Cultura e 5) Eleição da diretoria 2021-2023Posse e encerramento.

Desde já ficam CONVOCADOS todos os delegados eleitos democraticamente para este fim.

EDUARDO HENRIQUE FÉLIX DE VASCONCELOS

Presidente do Centro Potiguar de Cultura – CPC-RN

Obs. Edital Publicado no DOE-RN, 29 de janeiro de 2021

Covid matou 900 sobreviventes do Holocausto Publicado por Diario do Centro do Mundo

Holocausto em campo de concentração no ano de 1944. Foto: Wikimedia Commons

O Projeto Lonka ganhou esse nome em homenagem à Dra. Eleonora “Lonka” Nass, nascida na Polônia em 1926 e que sobreviveu a cinco campos de concentração: Raghun, Plaszow, Auschwitz-Birkenau, Bergen-Belsen e Terezin. Ela faleceu em Israel em 2018.

Genocídio de 17 milhões de pessoas

O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto lembra o genocídio, pelo regime nazista, de 6 milhões de judeus e 11 milhões de pessoas de outros grupos, como ciganos, deficientes físicos e mentais, homossexuais e presos políticos. Ela foi criada pela ONU em 2005 e é celebrada desde 2006 no mesmo dia: 27 de janeiro, que marca a liberação do infame campo de concentração de Auschwitz (em Israel, o Dia Nacional do Holocausto é em abril).

Este ano, por causa da pandemia de coronavírus, a data será lembrada sem grandes eventos ou aglomerações. Em Israel, o Museu do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, e outras instituições adaptaram seus programas, com transmissões ao vivo de cerimônias solenes por redes sociais como YouTube e Instagram. O Yad Vashem, por exemplo, criou uma campanha on-line pela qual internautas podem ler e compartilhar em suas redes sociais histórias de vida de vítimas do Holocausto.

Pelo mundo, a abordagem é semelhante. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) promoverá, nesta quarta-feira, um ato solene que será transmitido por YouTube e Facebook a partir das 19h (horário de Brasília) com presença de sobreviventes do Holocausto, que darão depoimentos. A transmissão contará com as participações de Efraim Zuroff, do Centro Simon Wiesenthal, do ator Dan Stulbach, entre outros.

O Museu do Holocausto de Curitiba prevê a exibição on-line do documentário “Zelda”, de Michel Gawendo, no domingo (31). O filme documenta a viagem de Zelda Shaham de Israel para a Lituânia para agradecer pessoalmente à família que a abrigou, juntamente com os pais e um tio, por mais de dois anos em um esconderijo subterrâneo.

Não é novidade que a lembrança do Holocausto está presente em redes sociais e através de eventos transmitidos na internet. Mas essa transição se tornou ainda mais importante em meio à pandemia do coronavírus.

“O início desta crise global afetou nossas vidas de muitas maneiras e, de fato, a lembrança do Holocausto não é exceção”, diz o Dr. Tobias Ebbrecht-Hartmann, do departamento de Comunicação e Jornalismo da Universidade Hebraica de Jerusalém. “As severas restrições do coronavírus aceleraram esse processo de transição para mídias digitais e criaram uma cultura de aceitação muito maior para o papel dessas mídias”, avalia.

Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

“Pintamonos”: HQ com inspiração socialista e personagens históricos

 

Obra de Santullo e Sandler renova histórias do passado revolucionário do México nos anos 30 e 40. Lançamento da Editora Quadriculando em parceria com a Editora Anita Garibaldi

A Editora Quadriculando, em parceria com a Editora Anitta Garibaldi, lança o título Pintamonos, que retrata uma corrente artística dos anos 1930 e 1940 no México. Com humor, os quadrinhos contam histórias de expoentes como Frida Kahlo, Diego Rivera e David Siqueiros, ambientados no México durante os anos 30 e 40 do século 20.

Os autores, Rodolfo Santullo e Leo Sandler, exploram as discussões ideológicas ocorridas nesse cenário, que reverberava a Revolução Russa e correntes socialistas e revolucionárias ao redor do mundo. A obra publicada originalmente na Argentina parte de fatos históricos, mas adiciona elementos para trazer um olhar inédito aos movimentos conhecidos. O livro está disponível para pré-venda na plataforma Cartarse.

Pintamonos

A obra contém 80 páginas com HQ’s curtos ilustrados em preto em branco por Leo Sandler, recheados de expressões bem delineadas e ironia afiada. A primeira história é o Duelo em Ixtacalco, que nos apresenta a disputa entre os artistas Rivera e Siqueiros logo após uma tentativa de atentado por parte de Siqueiros contra Leon Trotsky. Expulso da União Soviética, Trotsky estava em uma das casas de Rivera.

Investigação em Coyoacan é a segunda história do livro. Após o assassinato de Trotsky, Frida Kahlo é alçada no centro da trama. Aqui temos uma versão livre e bem-humorada do que pode ter acontecido, partindo de um fato histórico para uma história completamente surpreendente e divertida.

Na sequência, Mural em Don Torquato coloca em dúvida as opções ideológicas de Siqueiros ao aceitar um trabalho de um expoente capitalista para pintar um grandioso mural em sua casa. O autor Rodolfo Santullo apresenta ao leitor um roteiro imprevisível que mescla o drama e o amor com um fato pouco explorado até o presente.

O livro fecha com Velório no Centro Histórico, que retrata o funeral de Frida Kahlo. Como despedida, a história funciona como um epílogo das histórias criadas e personagens retratados no livro.

Editoras e obras

Pintamonos é o primeiro lançamento de 2021 da Editora Quadriculando, que já anunciou outras obras. Entre elas: Morrer pelo Che, que reproduz a visita de Che Guevara em 1961 ao Uruguai, O Viúvo, história de um justiceiro em Santiago nos anos 50, Jantar com os Amigos, um enigma policial também com coautoria de Rodolfo Santullo, Ayar – Um império de luz e escuridão, que narra a história de um guerreiro inca e Educação para Abolição, livro teórico sobre histórias em quadrinhos editado a partir da dissertação de mestrado do professor Thiago Modenesi.

O título Pintamonos foi escolhido por ser uma expressão pejorativa utilizada no México no início do século 20, associando pintores aos desenhistas de jornais. “Moneros” é o termo com o qual caricaturistas e desenhistas daquele país se definem até hoje – por pintar “monitos” (macaquinhos) ou desenhos simples – e a expressão foi do insulto a apropriação orgulhosa do termo.

A Editora Anita Garibaldi, que possui um grande catálogo consolidado no país com temática política e social, associou-se a essa publicação para dar mais alcance e auxiliar na disponibilização da obra no Brasil.

Autores

Rodolfo Santullo é jornalista, escritor, roteirista de histórias em quadrinhos e cinema. Nascido no México, dirige o grupo editoral Belerofonte, especializado em quadrinhos, desde 2005. Durante a carreira, produziu e criou histórias em quadrinhos e novelas gráficas que acumularam prêmios no Uruguai e na Argentina.

No Brasil já teve publicado de sua autoria Far South (2015), A Lenda de Merlim: O Início (2020), Reflexo (2019), 40 Caixões (2016), Caverna do Ladrão (2018) e agora Pintamonos (2021). Ainda esse ano Jantar com Amigos ganhará também sua versão em português pela Quadriculando.

Leo Sandler, nascido em Rosário na Argentina em 1974, é quadrinista autodidata, trabalhando como desenhista e ocasionalmente como roteirista. Desde o final de 2018 dirige sua própria editora, a Karkass Ediciones. Desenhou novelas gráficas, publicou livros de quadrinhos infantis, participou de antologias, publicou em várias revistas e ilustrou livros em prosa.

Serviço
Obra: Pintamonos
Autores: Rodolfo Santullo e Leo Sandler
Preço pré-venda: R$ 30
Data: 1° de fevereiro
Link para o site: catarse.me/pintamonos

Fonte: BRASIL 247

Bolsonaro representa uma vergonha nacional e internacional para o Brasil, diz o general Santos Cruz

(Foto: Fabio Pozzebom - ABR)

Sputnik – O ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, general Carlos Alberto dos Santos Cruz, se posicionou nesta quinta-feira (28) sobre a reação irritada de Bolsonaro à divulgação de detalhes sobre os gastos do governo federal com alimentos em 2020.

Pelo Twitter, Santos Cruz, que foi demitido em junho de 2019, disse que os ataques à imprensa realizados pelo presidente em uma churrascaria em Brasília são uma "vergonha nacional e internacional" e afirmou que Bolsonaro não tem "noção institucional" do cargo que ocupa.

Nesta quarta-feira (27), Bolsonaro se irritou com a divulgação do gasto de mais de R$ 1,8 bilhão do governo em alimentos. O valor é 20% maior do que o gasto em 2019. Só em alfafa, por exemplo, foram gastos mais de um milhão de reais (R$ 1.042.974,22). Com leite condensado, mais de 15 milhões (R$ 15.641.777,49).

Em resposta, o presidente disse: "Quando eu vejo a imprensa me atacar, dizendo que comprei dois milhões e meio de latas de leite condensado, vai para a p***, imprensa de m***! É pra enfiar no r*** de vocês da imprensa essas latas de leite condensado".

O Ministério Público (MP) entrou com uma representação junto ao Tribunal de Contas da União para que sejam apuradas "supostas irregularidades" no caso da compra de alimentos pelo governo federal. Segundo o subprocurador-geral do MP, Lucas Furtado, "notam-se claros indícios de pagamentos em valores acima do mercado a configurar superfaturamento dos gastos do governo".

© REUTERS / UESLEI MARCELINO

Presidente Jair Bolsonaro conversa com jornalistas após encontro com ministro da Economia, Paulo Guedes

Santos Cruz é amigo de Bolsonaro há mais de vinte anos. Desde que foi exonerado, já fez outros ataques ao presidente, como a declaração de que o governo federal "é um show de besteiras". Em outra oportunidade, afirmou que Olavo de Carvalho, tido por Bolsonaro como um ideólogo, é um "vigarista profissional".

Fonte: BRASIL 247

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Pandemia, cultura e tecnologia na era da precarização

O cantor e compositor César Lacerda reflete sobre as relações de consumo e produção cultural em tempos isolamento social e como elas podem desenhar o futuro.

Durante os últimos dez meses, período em que estive isolado em casa por conta da pandemia do vírus SARS-CoV-2, fui convidado frequentemente por amigos e colegas, mas também através de sugestões nas redes, a assistir pela internet a palestras, entrevistas, aulas, as mais diversas e apresentações artísticas. O fato de ter havido uma migração em massa em direção ao “mundo digital”, como uma reação frente ao impacto causado pelo isolamento social, tem me levado a perguntar que tipo de influências ou consequências este novo formato pode ter sobre a realização de shows e concertos no futuro.

Pergunta semelhante se poderia fazer a respeito de espetáculos teatrais, de dança, exposições e performances em geral. Mas também, sobre a formação em escolas e universidades, e ainda sobre o trabalho nas mais diversas áreas. Apesar de a tecnologia que permite realizar transmissões ao vivo estar disponível anteriormente, a pandemia parecer ter acelerado diversos processos dentro da sociedade brasileira, que, por sua vez, tem sido levada a naturalizar rapidamente noções como as de teletrabalho ou as de apresentações artísticas transmitidas pela internet. É sobre estes fatos que tenho tentado refletir: velocidade e naturalização.

Partindo do pressuposto que as lives, da forma como se desenvolveram nos últimos meses, “vieram para ficar”, como se faz saber a partir da opinião manifestada publicamente por diferentes artistas, produtores, agentes culturais, curadores e empresários, considero importante analisar e problematizar essa guinada em direção ao “digital” atentando-se às transformações e também a possíveis desequilíbrios que venham a se manifestar. Em um contexto de pandemia, e da consequente retração das atividades do campo da cultura, a adaptação veloz a essas ferramentas rivaliza com a necessidade de tentar compreender, ponderar, apresentar diagnósticos e alternativas frente a este cenário inédito. Ao investigar o porquê de tal aceleração, observo, antes de mais nada, a necessidade se de reatualizar o debate sobre o papel do Estado, e consequentemente, das políticas públicas destinadas ao setor da cultura num momento como este. Ademais, é preciso indagar sobre a interferência das gigantes tecnológicas em diversos processos culturais através das plataformas que elas disponibilizam, avaliando aspectos de precarização, acirramento e competição que elas produzem, e as múltiplas consequências desse processo nos ambientes de criação artística.

Imagem: Débora Gonzalez/Folhapress

Nos últimos anos, assistimos a um desmonte de estruturas e de ferramentas que fortaleciam e protegiam os cenários culturais no país: uma série de políticas públicas e editais que fomentavam a criação, formação, transmissão, circulação e distribuição, deixaram de existir. Em decorrência disso, casas de espetáculo distribuídas pelo país fecharam; mostras e festivais, por falta de verba, não conseguiram realizar a edição seguinte; artistas pausaram ou até abandonaram as suas carreiras; veículos de crítica, pensamento e discussão não conseguiram mais produzir seus conteúdos, e assim por diante. Essas políticas tentavam atuar contra uma lógica global do mercado, reconhecendo que se havia promovido ao longo do tempo assimetrias que afunilavam condições de produção, realização e acessibilidade, mas também uma percepção de diversidade própria das culturas do Brasil. Desde a saída de Juca Ferreira do Ministério da Cultura, em 2010, nota-se que há uma subversão dessas práticas políticas, o que nos conduz, dez anos depois, ao atual cenário: a pasta ministerial tornou-se na gestão do presidente Jair Bolsonaro uma Secretaria alocada como órgão dentro do Ministério do Turismo. Com o intuito de arrefecer, ou até mesmo, eliminar políticas culturais conquistadas, uma articulação é turbinada pelo governo e grupos associados: a depreciação de uma parcela da classe artística e de políticas culturais como a “Lei Rouanet”; fato que encontra abrigo na opinião popular, que vem sendo conduzida a fazer uma associação entre a corrupção novelizada diariamente em rede nacional e supostos privilégios que esta classe teria por associar-se ideologicamente com políticos da esquerda. O ano de 2020 começa assim, com a combinação de cortes em fomentos, discurso de ódio e censura. Estas estratégias de guerra híbrida somadas ao agravamento de sucessivas crises econômicas que levam ao desemprego e empobrecimento, produzem aridez, incerteza e temeridade nos cenários cultural e artístico, incutindo sobre todo o campo desesperança e medo pelas impossibilidades que se somam.

A pandemia chega no Brasil nesse contexto, agravando ainda mais a situação. E com todos os impedimentos trazidos por ela, a internet apresenta-se como uma ferramenta imediatamente acessível e um espaço seguro em termos sanitários para uma reacomodação de atividades culturais. No caso da música, as lives rapidamente se convertem numa plataforma de apresentação de espetáculos, e os mais diversos artistas passam a realizar transmissões através do Instagram, Facebook, YouTube, Zoom ou Twitch.

De um lado, um grupo volumoso e diverso de artistas independentes, atuando fora da grande mídia ou do mercado convencional, tem produzido as suas lives em busca de realizar uma via de interlocução com o seu público. Lidando com toda sorte de obstáculos, realizam transmissões através dos seus próprios telefones celulares e de forma gratuita. Alguns, buscando formas de monetizar suas apresentações, apostam em ações que variam desde a venda de produtos, como camisetas, até a sugestão ao público para realização de contribuições colaborativas. Em suma, a difusão e naturalização dessas “noções de empreendedorismo” na rede reflete é que o país sob o governo de Bolsonaro empurrou quase metade da sua população ocupada para a informalidade, e os músicos não estão alheios a essa situação bárbara de precarização do trabalho. Pesquisa realizada pela União Brasileira dos Compositores em parceria com a cRio revela que 56% dos músicos não receberam por suas lives durante este período.

Ilustração: Éder

Na outra ponta deste cenário há as/ os artistas do mainstream, que têm produzido espetáculos grandiosos, financiados por grandes marcas de fast fashion, bebida alcoólica, cartão de crédito ou automóveis. São, em muitos casos, concertos apoteóticos que divergem emocionalmente, mas também economicamente, com a carga um tanto sufocante dos dias. Estima-se que o cantor sertanejo Gusttavo Lima pode ter recebido até R$ 3 milhões por apresentação transmitida pelo canal Band TV, segundo matéria da Rolling Stone Country. No ranking mundial divulgado pelo YouTube listando as lives de maior audiência, os artistas brasileiros figuram em peso. Representantes da música sertaneja, como Marília Mendonça e Jorge & Mateus, lideram a disputa com números expressivos. Coincidência ou não, a música comercialmente mais popular do Brasil é também aquela que está associada ao setor da economia com um dos índices mais relevantes de crescimento na pandemia, que é o agronegócio.

Além de audiência, as lives cativaram a adesão de empresários e produtores executivos de várias áreas que avaliam positivamente o modelo e enxergam a possibilidade de, no futuro, levar espetáculos neste formato para todo o país. Seria uma forma de lidar com os inúmeros obstáculos que se impõem na hora de rodar o Brasil com apresentações artísticas. Não obstante, há ainda uma discussão fundamental a respeito da redução de impactos e a crise climática — um tema que ocupará com centralidade as nossas vidas daqui para frente.

No entanto, nesse trânsito rumo ao “digital”, ainda outras questões se apresentam. Uma primeira pergunta que faço a respeito deste novo modelo é se ele atenderia, mais uma vez, somente a um grupo mais seleto de artistas que responde às demandas de patrocinadores, visto que um projeto com essa estatura e alcance precisaria de um aporte financeiro significativo responsável pela sua execução. Por outro lado, se a opção for por vender ingressos para que as pessoas assistam a estes espetáculos em suas casas, imaginemos o tipo de impacto que isso teria sobre toda a cadeia de produção artística, desde teatros e casas de espetáculos distribuídos pelo país se tornando espaços empurrados para uma obsolescência, bem como setores associados; o pipoqueiro, a gráfica, diversos segmentos do turismo nas cidades, enfim, a cultura gera empregos de formas muito amplas e diversas. Por fim, imaginemos que tipo de impacto esse isolamento experienciado pela área cultural teria sobre as sociedades, cada vez mais, segmentadas, repartidas, polarizadas.

É interessante observar se há propriamente uma demanda por ações de transferência como esta, ou seja, se há a inclinação de uma parcela suficientemente importante da sociedade a favor de trocar a possibilidade de ir presencialmente a um show pela de assistir a espetáculos em formatos digitais. O que há, objetivamente, é o desejo de expansão do negócio de artistas de notória expressão comercial que veem nesse modelo formas de nacionalizar o seu produto, derrubando assim, barreiras territoriais e culturais.

Para explicar melhor o que busco refletir, aqui valeria tomar de empréstimo a análise de um tema vizinho: a economia do compartilhamento. Segundo Bianca Tavolari em artigo para Quatro cinco um: “Grandes plataformas da economia do compartilhamento não desestabilizam apenas potenciais concorrentes diretos. No caso do Uber, pesquisadores e pesquisadoras já começam a medir os efeitos que o aplicativo tem no transporte público. Sistemas de metrô em grandes cidades já começam a ter dificuldade de manter os subsídios de tarifa dados os baixos preços de Uber e similares”. O mercado que se deseja construir a partir das lives parece se estruturar em consonância com perspectivas desta economia. E o resultado disso, via de regra, é que as populações mais desassistidas vão sendo cada vez mais afetadas, seja na sua mobilidade ou moradia, seja na possibilidade de produção e fruição à cultura. O ciberespaço gerenciado por essas gigantes tecnológicas, vai se tornando, e com estímulo estatal, um espaço de reprodução da lógica da precarização no campo cultural.

Nas últimas décadas, com o estabelecimento da internet e os avanços na tecnologia, e com o fato destas transformações estarem conjugadas à um maior acesso a equipamentos e softwares, a indústria da música se viu confrontada por um novo e insurgente cenário onde músicos os mais diversos puderam gravar e compartilhar as suas criações de forma mais direta, barata e imediata. E ainda, sem se orientar pelo crivo de diretores executivos, artísticos ou de marketing de grandes gravadoras. A internet se tornava, então, um importante fator disseminador e nela se assistiu ao fortalecimento de elos de diálogo — não nos faltariam bons exemplos de artistas na música popular, por exemplo, que surgiram e ganharam muita expressão pública neste período tendo sua representatividade conseguida através das redes sociais. Esses processos de descentralização foram muito importantes para estabelecer novas ideias de capilaridade e diversidade dentro do mercado da música.

Foto: Reprodução Facebook/ @Pawel Kuczynski

Mas essa cultura emergente que se desenhava ali, tem sido conduzida para dentro do modelo gerenciado por essas grandes empresas transnacionais, que redefinem a circulação de música na internet, agora, via streaming. Tornou-se usual que um/a músico/a, independente das peculiaridades da sua produção artística e dos seus desejos enquanto criador/a, ao lançar um novo trabalho, seja orientado/a a fazê-lo dentro dessas plataformas, com o objetivo de alcançar mais visibilidade. Uma primeira questão que surge é que o modelo comercial das plataformas reforça uma lógica precarizante: essas empresas lucram exorbitantemente e pagam indevidamente. Uma outra questão, é que as ações no interior dessas plataformas estão condicionadas a formações de “bolhas”. Isso porque, a mecânica por trás de seu funcionamento responde a uma lógica responsável por atomizar um sistema de nichos: a experiência da escolha é fabricada por algoritmos que sugerem qual música o usuário deve ouvir, através de um mapeamento de perfil. Com isso, a chance de se escutar músicas diferentes, em gênero ou estilo, se restringe, afinal o dispositivo está condicionado a realizar previsões esquemáticas processadas em máquinas. Há, então, uma tendência a um achatamento na experimentação da própria diversidade de estéticas e abordagens artísticas. Além disso, em um contexto em que essas plataformas passam de distribuidoras de conteúdo a verdadeiras mediadoras culturais, aquilo que escapa de seus radares pende à condição de invisível.

Além disso, essas plataformas exacerbam, através de ferramentas de quantificação, o estímulo para se operar através de mecanismos que incentivam uma rivalidade: “número de seguidores”, “número de plays”, “número de visualizações”, etc., se tornam marcadores comparativos de qualificação artística. Reitera-se e intensifica-se, dessa maneira, uma “cultura da concorrência”, como se as trajetórias artísticas se validassem apenas ao responderem, de maneira quase atlética, por essa proficiência em alcançar números.

Em seu livro “Depois do Futuro”, o filósofo italiano Franco Berardi comenta: “A rede, argumenta Formenti [em “Cybersoviet — Utopie postdemocratiche e nuovi media”], foi uma formidável ocasião para a elaboração utópica, estimulando a imaginação política e social e abrindo possibilidades impensáveis de concatenação e riqueza. Mas a ideia de que na rede a democracia encontrasse finalmente seu ambiente ideal, de onde irradiar-se em direção ao mundo real, pouco a pouco confrontou-se com a realidade do mundo territorial no qual a dimensão virtual também corre o risco de ser dominada pelos interesses econômicos e militares”.

Recentemente, foram divulgados dados por Daniel Ek, presidente do Spotify, revelando que a plataforma faz upload de aproximadamente 40.000 músicas por dia, mais de 1 milhão de músicas por mês — o que nos oferece uma medida relativa sobre o volume excepcional de material musical na internet. Essa produção intensa radicaliza a exposição da criação artística à lógica do efêmero. Mas não somente. Também o público tem sido levado a responder a altíssima e incessante fabricação de conteúdo com a presença constante nas redes. O fato do usuário ser instigado a passar demasiado tempo na internet, produzindo ou consumindo conteúdos variados, já se tornou objeto de estudos que sugerem que problemas como depressão, ansiedade, distúrbio do sono e arritmia podem estar associados à quantidade de tempo que se passa conectado. No entanto, há uma circunstância intrigante sobre o impacto da superexposição à internet em nossas vidas. Trata-se da tendência de substituir atividades que se davam em ambiente relacional, e que agora vêm, pouco a pouco, sendo oferecidas ao público em configurações que privilegiam um contexto mais solitário. Mark Fisher, em seu “Realismo Capitalista”, observa: “O uso de fones de ouvido é significativo aqui — o pop é experimentado não como algo que poderia ter impactos sobre o espaço público, mas como uma fuga em direção ao privado ‘ÉdIpod’ [OedIpod] do prazer de consumo, uma parede contra o social”. Ou como conclui o sociólogo canadense Arthur Krorker, “a ciberinteratividade é o oposto da relação social”. E é aí que temos uma grave ameaça.

Em matéria na Radio France do dia 28 de setembro, lê-se que estudo realizado pela The Musicians’ Union, sindicato que representa mais de 30.000 músicos, revela que um terço destes profissionais no Reino Unido está pensando abandonar a profissão por dificuldades financeiras motivadas pela pandemia (o Reino Unido contou com ações de auxílio emergencial como o Fundo criado pela instituição Help Musicians, que disponibilizou cerca de 5 milhões de libras esterlinas para o setor, além de programas do Governo e também outros fundos). Horace Trubridge, representante-geral da União de Músicos do Reino Unido, entrevistado pela NME, disse que este número de músicos que abandonará o seu ofício pode ser ainda maior, e culpa a natureza do modelo de negócios das plataformas de streaming, cuja renda gerada virtualmente, é muito baixa e impede os músicos de ficarem em casa ou de se manterem na profissão, sobretudo, se comparada esta renda virtual aos cachês que receberiam se pudessem se apresentar em festivais ou casas de espetáculo. No Brasil do governo Bolsonaro, a ausência de transparência sobre os impactos da pandemia também se manifesta no setor cultural, e é possível especular que nossa situação talvez seja ainda mais catastrófica.

Desde que a pandemia chegou aqui e medidas de segurança sanitária foram impostas, assistimos a uma aceleração vertiginosa da desarticulação de estruturas de promoção cultural: o impedimento de aglomerações levou ao fechamento de teatros e casas de espetáculo, e ao cancelamento de shows, mostras e festivais. Essa realidade, porém, não deixou de suscitar debates sobre o lugar da cultura em um momento tão dramático e sobre a capacidade do setor de promover suas atividades em acordo com as exigências sanitárias impostas pela crise. Com o tempo, governos estaduais e prefeituras mudaram suas políticas a respeito do isolamento social reabrindo shoppings, bares e restaurantes, e academias de musculação. No entanto, optaram por não retornar shows e concertos — salvo pontuais eventos, como os shows no formato drive-in em grandes estádios. É importante ressaltar que iniciativas como essa partem de grupos privados, atendendo a uma demanda específica, relativa a venda de espetáculos de artistas de expressão mercadológica. O que fica expresso, portanto, é que políticas como as adotadas pelos governos Federal, Estadual e Municipal, de forma geral, cumprem uma agenda de descaso e perseguição com os setores artístico e cultural, levando a classe a uma situação degradante e consolidando uma ideologia que a despreza, marginaliza e estigmatiza.

A gravidade da situação aqui tomou feições escandalosas e afetou até mesmo artistas de renome como Nelson Sargento, Arnaldo Baptista, Angela Ro Ro, entre outros, que foram até as redes pedir ajuda financeira. Vale ainda registrar as condições trágicas como o compositor Aldir Blanc morreu vítima de complicações causadas pelo coronavírus. Autor de dezenas de canções seminais da música popular brasileira, em seus últimos dias de vida, num hospital público, sua família precisou recorrer a amigos e fãs em busca de doações que custeassem seu tratamento. Seu nome batizaria em seguida a lei que seria aprovada em julho de 2020 pelo Congresso Nacional e destinaria recursos ao setor cultural. Muitos dos mais de 5 milhões de profissionais que esperavam essa ajuda do governo, até hoje, em janeiro de 2021, encontram dificuldades de receber o auxílio.

Aldir Blanc | Ilustração: Mello Menezes

Estamos gravemente feridos: sangramos pela atuação de um Governo bárbaro e cruel que, praticando a desassistência como solução dos problemas, empurra o campo cultural à lógica de um empreendedorismo individualista e do “salve-se quem puder”. A este cenário, desprovido de políticas públicas destinadas à cultura, se somam as múltiplas interdições decorrentes da pandemia. Na impossibilidade do contato corporal, adaptamos, muitas vezes impossibilitados de resistir, nossas práticas ao mundo digital, tornando-nos cada vez mais reféns da internet, como meio de interação e de distribuição do nosso trabalho. Porém, a internet, que outrora era ferramenta de promoção e descoberta de diversidades, hoje se define como protagonista fundamental de um processo de precarização do nosso próprio ofício pela lógica ostensivamente brutal conferida pelas gigantes tecnológicas. Tem-se, com isso, um mecanismo que se retroalimenta e que busca se consolidar para além da conjuntura de crise atual. Por mais que este processo seja repleto de desvios, apropriações e ressignificações potentes, nos possibilitando vislumbrar cenários alternativos, considero importante insistir no caráter artificial e oportunista que se manifesta nessa reconfiguração das práticas culturais e na pressa de sua validação. Se crise é sinônimo de oportunidade, a crise atual tem sido o cenário perfeito para que as velhas forças do atraso, da dominação e da promoção da desigualdade, se rearticulem e projetem um futuro. Esse futuro não me interessa. O que está em jogo é a velha questão do lugar da cultura na nossa sociedade. Trata-se de um embate permanente que, mesmo diante do quadro desolador que presenciamos, não deve ser negligenciado, ou postergado. É no embate da cultura, na cultura e pela cultura que disputaremos futuros melhores.

(*) César Lacerda é cantor, músico e compositor. Lançou em 2013 o seu primeiro disco, “Porquê da Voz”

Fonte: Revista Bravo!