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quarta-feira, 19 de julho de 2017

Os árabes descobrem a América



Achavam, muitas vezes, que estavam indo para os EUA, mas acabavam no Brasil ou na Argentina (Foto: Reprodução)

Os portos de Trípoli, no Líbano, de Gênova, na Itália, e Rio de Janeiro e Santos, no Brasil, fazem parte desta história

Os cristãos sempre foram a grande maioria de imigrantes árabes. Porém, alguns islamitas podem ter até chegado antes deles ao Brasil. Os primeiros vieram no período colonial. Uma boa leva era formada de escravos convertidos ao Islã. Eram chamados de malês. Concentrados na região de Salvador (BA), a participação dos malês nas reformas contra a escravidão está documentada.

Existe material sobre o tema no Arquivo Público da Bahia. Mas a atual presença muçulmana no Brasil remonta à segunda metade do século 19, com a imigração de sírios e libaneses portadores de documentos emitidos pela administração do Império Otomano, o que explica a denominação “turco” para todos os imigrantes árabes.

A maioria dos que vinham tanto do Líbano, quanto da Síria e de outros países árabes, porém, era de cristãos maronitas e também de católicos ortodoxos. Poucos islamitas.

Visita de Pedro II

A emigração de sírios e libaneses cresceu depois de 1860. Este processo se acentuou depois que, em 1877, D. Pedro II visitou a Síria, o Líbano e a Palestina, explica Denise Crispim, gerente de pesquisa do Centro de Estudo Family, de São Paulo.

“Os motivos principais foram as duas guerras mundiais, as crises econômicas do período, a falta de trabalho. Eles eram chamados de turcos, mas tiveram suas nacionalidades resgatadas”.

As estatísticas mostram que o fluxo de imigrantes não cessa de crescer até à véspera da Primeira Guerra Mundial: mais de onze mil pessoas foram registradas em 1913. Nos anos 1920 e até a Grande Depressão, em 1929, contava-se em torno de cinco mil entradas por ano.

No recenseamento de 1920, o Estado de São Paulo apresentava cerca de vinte mil sírios e libaneses, aproximadamente 40% do total nacional (os demais estavam instalados nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais). Numerosos grupos se estabeleceram no interior de São Paulo e no litoral paulista.

Esses imigrantes iniciaram sua vida como mascates nas pequenas cidades e nas fazendas. Depois, se estabeleceram com pequenas “vendas” que evoluíram para grandes lojas e até pequenas indústrias.
O imigrante se estabelece, cria família, se mescla com a população local e passa a viver o cotidiano dos brasileiros tomando-lhes os hábitos, mas também, conservando suas tradições.

São várias as causas que levaram os árabes cristãos a emigrar em massa. Entre elas, destaca-se a intolerância política dos otomanos, a pobreza do país gerada pela economia insustentável, a incapacidade de alcançar um alto nível educacional e a falta de oportunidade de trabalho em seu país de origem, além da perseguição religiosa.

Foi troca de ‘riquezas’

“Se por um lado a emigração foi um mal necessário para a população e para o país que perdeu força de trabalho, por outro este êxodo representou um alento para os que lá ficaram. Os imigrantes transferiram, para o seu país de origem, grandes somas em dinheiro, um apoio econômico de grande valia para o país”, anota Denise Crispim. A gerente do Family acrescenta que a presença árabe na América Latina representa uma força para os interesses e relações comerciais e políticas com os países deste continente, em especial para o Brasil. O imigrante árabe representou um importante papel na distribuição da produção industrial e sua comercialização pelo interior do país, com a venda, de casa em casa”.

Foi o imigrante árabe que trouxe para o Brasil novas técnicas da industrialização da lã, seda e algodão. Depois da 2ª Guerra, os fios sintéticos foram introduzidos pelos alemães e japoneses.

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A Cultura e a Dança Popular do Brasil

Foto: Ebah.com.br

Cultura Popular define todas as manifestações culturais de um determinado país, estado ou cidade, e se referem a danças, literatura, folclore, arte, festas, gastronomia e músicas. Os principais exemplos de manifestações da cultura popular brasileira são: festas folclóricas, literatura de cordel, sambas, carnaval, capoeira, artesanato, contos, fábulas, superstições, lendas urbanas, provérbios, festa junina, frevo, artesanato, lendas urbanas, MPB (Música Popular Brasileira) e cantigas de roda. Como estamos na semana do Dia Mundial da Dança, vou abordar os tipos de danças da cultura brasileira.

As danças constituem um importante componente cultural da humanidade. E no caso do Brasil, que possui uma cultura tão rica e diversificada, a gama de modalidades são enormes, e muito importantes para a cultura brasileira. O folclore brasileiro é rico em danças que representam as tradições e a cultura de uma determinada região. 

Estão ligadas aos aspectos religiosos, festas, lendas, fatos históricos, acontecimentos do cotidiano e brincadeiras. As danças folclóricas brasileiras caracterizam-se pelas músicas animadas (com letras simples e populares) e figurinos e cenários representativos. Estas danças são realizadas, geralmente, em espaços públicos: praças, ruas e largos.

As danças folclóricas são uma forma de desenvolver essa expressão artística com base em tradições e costumes de um povo. Elas podem ser executadas de várias formas com pares ou em grupos e a forma original de dançar e cantar permanece praticamente a mesma. Em diversos países, a dança folclórica é a expressão daquele povo.

No Brasil, as danças folclóricas sofreram influências das tradições dos estados, dos povos africanos e europeus. Dessa forma, dependendo do estado, as danças podem ser mais influenciadas pelos africanos, indígenas ou europeus. 

Além disso, a Igreja Católica também ajudou no surgimento de personagens e contos da história brasileira. Uma das principais características das danças folclóricas do país são as músicas simples e os personagens chamativos.


Algumas das principais danças folclóricas do Brasil

O Samba
O samba chegou junto com os negros ao Brasil e primeiramente era dançado apenas nas senzalas pelos escravos. Os primeiros estados brasileiros a difundirem esse ritmo foram o Rio de Janeiro, a Bahia e o Maranhão. A dança tinha sons de percussão e batidas com os pés. Já o samba de roda surgiu na África e também veio para o Brasil através dos escravos. O samba de roda é praticado em círculos e as pessoas têm a liberdade nos movimentos. Pode ser visto principalmente em estados como Rio de Janeiro e Bahia. Conheça mais sobre o samba, visitando o site Samba Enredo.

O Samba de Roda
Trata-se de um estilo musical caracterizado por elementos da cultura afro-brasileira. Surgida no estado da Bahia, no século XIX, é a variante mais tradicional do samba. Os dançarinos dançam numa roda ao som de músicas, acompanhadas por palmas e cantos. Chocalho, pandeiro, viola, atabaque e berimbau são os instrumentos musicais mais utilizados.

Maracatu
Trata-se de um ritmo musical com dança, típico da região pernambucana, que reúne a mistura de elementos culturais afro-brasileiros, indígenas, e europeus, e com forte característica religiosa. Os dançarinos representam personagens históricos, como duques, duquesas, embaixadores, o rei e a rainha, e o cortejo é acompanhado por uma banda que vai tocando instrumentos de percussão, como tambores, caixas, taróis, e ganzás.

Frevo
Este é o estilo pernambucano de carnaval, surgida por volta de 1910, é uma espécie de marchinha muito acelerada, que, ao contrário de outras músicas de carnaval, não possui letra, sendo simplesmente tocada por uma banda que segue os blocos carnavalescos, enquanto os dançarinos se divertem dançando. Os dançarinos de frevo usam, geralmente, um pequeno guarda-chuva colorido como elemento coreográfico, e usam diversos passos de danças com malabarismos, passos elaborados, rodopios e saltos.

Baião
O baião é um ritmo musical, com dança típica da região nordeste do Brasil, onde os músicos tocam instrumentos como o triângulo, a viola, o acordeom e a flauta doce. A dança é realizada em pares, entre homem e mulher, com movimentos parecidos com o do forró, que é uma dança onde o casal, dança com os corpos colados. O maior representante do baião no Brasil foi Luiz Gonzaga.

Catira
A catira, é também conhecida como cateretê, é uma dança caracterizada pelos passos, batidas de pés, e palmas dos dançarinos, e está ligada à cultura caipira, ela é comum no interior dos estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais , Goiás e Mato Grosso. O instrumento usado é a viola, geralmente tocada por um par de músicos.

Quadrilha
Esta é uma dança típica da época de festa junina, onde um animador vai anunciando frases, e marcando os momentos da dança, e os casais de dançarinos, vestem roupas típicas da cultura caipira, como camisas e vestido xadrez, e chapéu de palha. Os dançarinos realizam uma coreografia especial, e muito animada, com muitos movimentos coreografados, e as músicas de festa junina são parecidas com marchinhas, mas nada semelhante com as marchinhas de carnaval. As mais conhecidas são: Capelinha de Melão, Pula Fogueira e Cai,Cai balão.

Reisado
Uma dança popular realizada entre a véspera de natal e o dia seis de janeiro, Dia de Reis. Também chamada de folia de Reis, essa dança envolve cantores e músicos que vão até as casas para anunciar a chegada de um Messias. As pessoas que participam possuem diversos personagens e são acompanhados por instrumentos como o violão, a sanfona, o triângulo e a zabumba. 

Caninha Verde
Dança portuguesa que foi inserida no país durante o Ciclo do Açúcar. Também foi praticada em colônias de pescadores, festa de casamento e cordões.
Pau da bandeira
Estilo de dança realizado principalmente na região nordeste que acontece principalmente durante o dia de Santo Antônio. Um tronco é escolhido e carregado pelos homens da cidade. Como manda a tradição, as mulheres que desejam casar devem tocar esse tronco.

Maneiro-Pau
Dança com maior influência no estado do Ceará, Maneiro-Pau conta com dançarinos que realizam os passos em rodas e com pedaços de pau nas mãos. Esses pedaços são batidos no chão formando o ritmo da dança. Durante toda a coreografia, alguns participantes duelam enquanto outros batem no chão.

Bumba meu Boi
Um dos símbolos folclóricos do Brasil, o Bumba meu Boi mescla dança, música e teatro. Além disso, é praticado nas mais variadas regiões do país. Os personagens cantam e dançam para contar a história de um boi que morreu e ressuscitou após ter sua língua cortada para satisfazer os desejos de uma mulher grávida.

Fandango
Essa dança chegou à região sul do Brasil por volta de 1750 e foi trazida por portugueses. Os dançarinos recebiam o nome de folgadores e folgadeiras, dançavam em festas executando diversos passos. Atualmente, permanece preservado na região com passos, música e canto. Os instrumentos mais usados são as violas, a rabeca, o acordeão e o pandeiro. Os dançarinos vestem roupas típicas da região e rodam próximo ao seu par, mas sem se tocar.  Eles se movimentam para atrair a atenção do outro e os homens sapateiam de forma contínua. A dança contém traços de valsas e bailes e forte presença de sensualidade.

Carimbó
Enquanto os homens vestem camisas e calças lisas, as mulheres utilizam blusas com ombros à mostra e saias rodadas. Os casais ficam em fileiras e o homem se aproxima de seu par batendo palmas. Segue-se passos de volteio e as mulheres também jogam um lenço no chão para que seu parceiro possa pegar como forma de respeito.

A congada
As dança dos congos foi trazida pelos escravos negros e usada pelos jesuítas para sublimar o instinto guerreiro do negro, criando uma luta irreal entre cristãos e pagãos.

Cabaçais do Cariri
O nome cabaçal é pejorativo, em virtude de a caixa, o zabumba e os pífaros – seus instrumentos básicos – fazerem um ruído semelhante a muitas cabaças secas entrechocando-se. São dança e música, de ritmo forte, tanto que os cabaçais eram também chamados de “esquenta mulher”, porque, à sua chegada ou passagem, o mulheril se afogueava...

Torém
É dança que Aracajú nos legou como uma herança dos índios tremembés, que habitavam a região. Ao sabor do mocororó (aguardente do caju), cerca de 20 caboclos (homens e mulheres) iniciam a dança ao ritmo do “aguaim”, espécie de maracá, empunhado pela figura do “chefe”.

Côco
Na praia de Majorlândia, município de Aracati, ainda se pode presenciar exibições de dança do Coco, também denominada de pagode, zambé, bambelô. É apresentado ao som de caixas, pandeiros, ganzás, íngonos, numa batida contagiante. Homens e mulheres reúnem-se em roda, com um solista no centro, fazendo passos ritmados, “puxando o côco”, e ao cumprimentar e a despedir-se dos parceiros com umbigadas, fazendo vênia ou com batida do pé.

Xaxado
Muito popular no Nordeste brasileiro, o xaxado era inicialmente praticado pelo grupo de Lampião, o Rei do cangaço, como uma forma de afrontar a polícia. Substituindo as parceiras, os cangaceiros dançavam com seus rifles, seguindo em fila e arrastando as alpargatas no chão. Devido aos movimentos da dança, os calçados produziam um som de “xá, xá, xá”, que deu origem ao nome do ritmo. Em meio a um bailado cheio de ritmo e vigor, a música é simples e de fácil aprendizado, sendo acompanhada da sanfona, da zabumba e do triângulo.

E ainda temos: 

Axé - Origem na capoeira - descendência Baiana.

Pagode - Origem no samba - descendência Brasileira com desenvolvimento em São Paulo.

Gafieira - Origem no samba - descendência brasileira com desenvolvimento no Rio de Janeiro.

Forró - Origem nordestina - descendência do xote e baião.

Lambada - Origem no zouk com desenvolvimento no Brasil.

Zouk - Origem francesa com desenvolvimento na Europa e no Brasil.

Xote - Origem indígena com descendência e desenvolvimento nordestino.

Vaneirão - Origem alemã com desenvolvimento no Rio Grande do Sul.

Chorinho - Origem de ritmos musicais populares no Brasil até ser desenvolvido para a dança.

Sem mencionar o Quilombo, Jongo, Tambor de Crioula, Araruna, Bugio, Danças indígenas, Funk, Lpinha, Lundu, Maculelê, Maxixe, Mazuca, Merengue, Rasqueado, Rancheira, Siriri, Tecnobrega, Ticumbi... 
E muito mais!

A lista de estilos de danças brasileiras é vasta, e suas origens também são bem diversificadas, porque o Brasil é muito rico em diversidade cultural, influenciada pelas diversas culturas presentes no país, e certamente sua cultura popular e suas danças compõem essa vasta riqueza sem fim. 

Eu poderia pesquisar por todas as modalidades existentes e ainda sim, eu acabaria deixando algum estilo de fora, porque o brasileiro está sempre criando, inventando, e restaurando estilos adormecidos e esquecidos de estilos de danças desde o inicio da colonização até os dias atuais.

Fonte: Suapesquisa.com, Zun.com.br, Tiposdedança.info, Wikipédia e outras....

Claudinha Rahme
Gazeta de Beirute


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História e cultura negras serão tema de debates em escolas públicas


Escolas públicas de todo o País vão receber debates sobre a história e a cultura negras, por meio do projeto Conhecendo nossa História: da África ao Brasil, organizado pela Fundação Cultural Palmares, em parceria com o Ministério da Educação (MEC).
A ação, cujo objetivo é levar conhecimento aos estudantes sobre a contribuição do continente africano na construção da identidade e do desenvolvimento nacional, está distribuindo 40 mil kits educativos para alunos e professores em 16 cidades do Brasil.
O material inclui o livro O que Você Sabe sobre a África?, que narra a trajetória do povo afro-brasileiro, e uma revista de palavras cruzadas Passatempo.
Servidores das secretarias de educação municipais receberam capacitação para utilizar o kit. “Desejamos que esses profissionais entendam a proposta do projeto, que vai além do kit. Queremos que eles façam uma leitura crítica desse material didático e que estimulem seus alunos a refletirem e a dialogarem sobre questões que nos atingem”, destaca o presidente da Fundação Palmares, Erivaldo Oliveira.
Para 2018, a Fundação Palmares já planeja ampliar o número de municípios atendidos. A medida está de acordo com a Lei nº 9394/96 (com a redação dada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008), que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena.
Municípios contemplados
O projeto piloto contempla estados das cinco regiões do País.
  • Nordeste: Bahia (Salvador e Santo Amaro da Purificação), Alagoas (Maceió e União dos Palmares) e Paraíba (Campina Grande e João Pessoa).
  • Norte: Amapá (Macapá).
  • Sudeste: Rio de Janeiro (São Gonçalo, a confirmar; e Paraty), Minas Gerais (Belo Horizonte e Ouro Preto) e Espírito Santo (Vila Velha e Cariacica).
  • Sul: Rio Grande do Sul (Porto Alegre e Pelotas) e Santa Catarina (Florianópolis).
  • Centro Oeste: Mato Grosso do Sul (Campo Grande).

Questionada se “faz faxina”, historiadora negra responde: “Não. Sou professora. Faço mestrado”


Em contundente relato, a historiadora Luana Tolentino, que já foi babá e empregada doméstica e que recebeu a Medalha da Inconfidência de 2016, contou essa e outras experiências que passou ao longo de sua vida por conta do racismo institucional enraizado em nosso país. “No imaginário social está arraigada a ideia de que nós negros devemos ocupar somente funções de baixa remuneração e que exigem pouca escolaridade”. Leia a íntegra e se emocione.

Hoje uma senhora me parou na rua e perguntou se eu fazia faxina.

Altiva e segura, respondi:

– Não. Faço mestrado. Sou professora.

Da boca dela não ouvi mais nenhuma palavra. Acho que a incredulidade e o constrangimento impediram que ela dissesse qualquer coisa.

Não me senti ofendida com a pergunta. Durante uma passagem da minha vida arrumei casas, lavei banheiros e limpei quintais. Foi com o dinheiro que recebia que por diversas vezes ajudei minha mãe a comprar comida e consegui pagar o primeiro período da faculdade.

O que me deixa indignada e entristecida é perceber o quanto as pessoas são entorpecidas pela ideologia racista. Sim. A senhora só perguntou se eu faço faxina porque carrego no corpo a pele escura.

No imaginário social está arraigada a ideia de que nós negros devemos ocupar somente funções de baixa remuneração e que exigem pouca escolaridade. Quando se trata das mulheres negras, espera-se que o nosso lugar seja o da empregada doméstica, da faxineira, dos serviços gerais, da babá, da catadora de papel.

É esse olhar que fez com que o porteiro perguntasse no meu primeiro dia de trabalho se eu estava procurando vaga para serviços gerais. É essa mentalidade que levou um porteiro a perguntar se eu era a faxineira de uma amiga que fui visitar. É essa construção racista que induziu uma recepcionista da cerimônia de entrega da Medalha da Inconfidência, a maior honraria concedida pelo Governo do Estado de Minas Gerais, a questionar se fui convidada por alguém, quando na verdade, eu era uma das homenageadas.

Não importa os caminhos que a vida me leve, os espaços que eu transite, os títulos que eu venha a ter, os prêmios que eu receba. Perguntas como a feita pela senhora que nem sequer sei o nome em algum momento ecoarão nos meus ouvidos. É o que nos lembra o grande Mestre Milton Santos:

“Quando se é negro, é evidente que não se pode ser outra coisa, só excepcionalmente não se será o pobre. (…) Não será humilhado, porque a questão central é a humilhação cotidiana. Ninguém escapa, não importa que fique rico.”

É o que também afirma Ângela Davis. E ela vai além. Segundo a intelectual negra norte-americana, sempre haverá alguém para nos chamar de “macaca/o”. Desde a tenra idade os brancos sabem que nenhum outro xingamento fere de maneira tão profunda a nossa alma e a nossa dignidade.

O racismo é uma chaga da humanidade. Dificilmente as manifestações racistas serão extirpadas por completo. Em função disso, Ângela Davis nos encoraja a concentrar todos os nossos esforços no combate ao racismo institucional.

É o racismo institucional que cria mecanismos para a construção de imagens que nos depreciam e inferiorizam.

É ele que empurra a população negra para a pobreza e para a miséria. No Brasil, “a pobreza tem cor. A pobreza é negra.”

É o racismo institucional que impede que os crimes de racismo sejam punidos.

É ele também que impõe à população negra os maiores índices de analfabetismo e evasão escolar.

É o racismo institucional que “autoriza” a polícia a executar jovens negros com tiros de fuzil na cabeça, na nuca e nas costas.

É o racismo institucional que faz com que as mulheres negras sejam as maiores vítimas da mortalidade materna.

É o racismo institucional que alija os negros dos espaços de poder.

O racismo institucional é o nosso maior inimigo. É contra ele que devemos lutar.

A recente aprovação da política de cotas na UNICAMP e na USP evidencia que estamos no caminho certo.

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