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segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Contos africanos:O Violiono do Macaco



A fome e a necessidade de satisfazê-la forçou o macaco a abandonar a sua terra e procurar outro lugar entre estranhos para o tão necessário trabalho. Bulbos, feijões da terra, escorpiões, insetos, e estavam completamente extintas em sua própria terra. Mas, felizmente, ele recebeu, por enquanto, abrigo com um tio-avô dele, Orangotango, que morava em outra parte do país.

Quando ele tinha trabalhado durante certo tempo ele quis voltar para casa e, como recompensa seu tio deu-lhe um violino e um arco e flecha e lhe disse que com o arco e flecha, ele poderia acertar e matar qualquer coisa que ele desejasse, e com o violino ele poderia obrigar qualquer coisa a dançar.

O primeiro que ele encontrou em seu retorno para a sua terra foi o irmão lobo. Este velho companheiro disse-lhe todas as novidades e também que ele estava desde cedo tentado perseguir um cervo, mas tudo em vão.

Então macaco disse para ele todas as maravilhas do arco e flecha que ele carregava nas costas e lhe garantiu que se avistasse o cervo, ele iria acertá-lo para ele. Quando o lobo mostrou-lhe o veado, macaco estava pronto e derrubou o cervo.

Eles fizeram uma boa refeição juntos, mas em vez do lobo ser grato, o ciúme se apoderou dele e ele pediu para o arco e flecha. Quando o macaco recusou-se a lhe dar, ele usou sua força para ameaçá-lo, e assim, quando passaram pelo jacal o lobo disse que macaco tinha roubado o seu arco e flecha. O chacal tendo ouvido falar do arco e flecha, declarou-se incompetente para resolver o caso sozinho, e ele propôs que eles levassem a questão para o Tribunal do Leão, Tigre, e os outros animais. Nesse meio tempo, ele declarou que iria ficar tomando conta do que tinha sido a causa de sua discussão, de modo que seria mais seguro, como ele disse. Mas o chacal imediatamente tirou da tudo o que era comestível, e isso gerou um longo período de matança, antes que o macaco e o lobo concordassem em levar o caso para o tribunal.

As evidências do macaco era frágeis, e para piorar, o testemunho de chacal foi contra ele.

Ele pensou que desta forma seria mais fácil obter o arco e flecha para si mesmo.
E assim a sentença foi contra macaco. O roubo foi encarado como um grande crime: ele


seria enforcado.

O violino ainda estava ao seu lado, e ele recebeu como um último desejo do tribunal o direito de tocar uma música nele.

Ele era um mestre dos truques de sua época, e além disso, tinha o maravilhoso poder de sua rabeca encantada. Assim, quando ele emitiu a primeira nota do “Canto do Galo” no violino, o tribunal começou logo a mostrar uma vivacidade incomum e espontânea, e antes de terminar a primeira estrofe da valsa da velha canção toda a corte estava dançando como um redemoinho.

Mais e mais, mais rápido e mais rápido, tocou a melodia do “Canto do Galo” no violino encantado, até que alguns dos bailarinos, exaustos, caíram, embora ainda mantendo seus pés em movimento. Mas o macaco, músico como ele era, ouvi e não vui nada do que tinha acontecido à sua volta. Com a cabeça colocada carinhosamente contra o instrumento, e seus olhos meio fechados, ele tocou, mantendo a cadência com o seu pé.
O lobo foi o primeiro a gritar em tom suplicante, sem fôlego, “Por favor, pare, primo macaco! Pelo amor de Deus, por favor, pare!”
Mas o macaco nem conseguiu sequer ouvi-lo. Mais e mais a valsa “Canto do Galo” parecia irresistível.
Depois de um tempo o leão mostrou sinais de fadiga e, quando ele rodava mais uma vez com a leoa, ele rosnou quando passou do macaco, “Todo o meu reino é vosso, macaco, se você parar com essa música!”
“Eu não quero isso”, respondeu macaco “, mas retire a sentença e devolva o arco e flecha, e você, lobo, reconheça que você o roubou de mim!”

“Eu reconheço, reconheço!” gritou o lobo, e o leão no mesmo instante, chorou anulando a punição.

O macaco ainda deixou-os girando mais uma vez ao som da valsa, e depois recolheu seu


arco e flecha, e sentou-se no alto da árvore de espinhos mais próxima.

A corte e outros animais estavam com tanto medo que ele pudesse começar de novo que apressadamente correram para outras partes do mundo.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

Fonte:http://www.sacred-texts.com/afr/saft/sft05.htm

A poesia que comove

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Alexandre Simões Pilati*
A voz da lira, a voz da lírica é algo que se concretiza, definitivamente, na leitura; é também algo além dos sons, das palavras, das imagens do poema. A voz lírica é o que encontramos de vivo e real nos textos, é o que humaniza a construção literária.
Em certas poéticas, firmadas em princípios humanistas seguros, o prazer dessa descoberta é ainda maior. Este é o caso da coletânea Pé de ferro & outros poemas (Anita Garibaldi, 2017), de Adalberto Monteiro. A voz lírica de Adalberto Monteiro comove o leitor por sua honestidade, sua singeleza exigente, a disposição comunicativa e seu compromisso com o registro poéticos dos acontecimentos os mais diversos. Nesse sentido, a voz lírica desses poemas de Pé de ferro se assemelha à de um cantador de cordel, àquela dos repentistas e dos compositores populares. Entretanto, tal voz jamais resvala para o pitoresco ou para a estilização de um tom que não é o do poeta urbano, culto, comprometido com as lutas de seu tempo e consciente de seu lugar na luta de classes. A voz lírica de Adalberto Monteiro adere à vida, à matéria simples, humilhada, radiante e complexa da existência de todo dia. E o mais importante: realiza-se como voz real do mundo, sem qualquer mistificação.
O sujeito lírico de Pé de ferro & outros poemas, esse cantador urbano, olha para as coisas do cotidiano e as desvenda com a calma tranquila que apenas se constata nos sábios. Dele emana uma sabedoria serena no trato das mais variadas matérias, seja a memória, o amor, o erotismo, os fatos políticos, a cidade São Paulo, a miséria, a esperança ou a fome. Vale ressaltar, entretanto, que a sabedoria que preenche os versos de Adalberto Monteiro não é aquela de quem, petulante, acha que sabe tudo. É aquela de quem deseja saber, que sabe interrogar e que acredita que a arte é uma das mais profundas maneiras de se interpretar as relações humanas.
Talvez seja desse desejo de entender a dinâmica da vida que nasça a tendência essencial da poética de Pé de ferro & outros poemas: o olhar estruturado em função de crônica do cotidiano, em que o modo textual da descrição atravessada pela interpretação subjetiva converte-se em dominante da estrutura. Como um fino cronista de nosso tempo, Adalberto Monteiro jamais dissociará em seus versos o sentimento íntimo do olhar social, politicamente empenhado, atento a cada acontecimento que seja capaz de traduzir dinâmicas fundamentais do presente ou da História pretérita.
Para estar à altura de tal tarefa, a linguagem precisa encantar-se no comezinho. Em Pé de ferro & outros poemas, a linguagem poética precisa encontrar-se com o trivial e, portanto, precisa ser simples sem ser banal. É uma linguagem clara, pedestre, mas jamais vulgar. Sendo cotidiana, essa linguagem nunca é ordinária, uma vez que é mimese e veículo daquela sabedoria em torno da qual a voz lírica de Adalberto Monteiro se constrói, através da beleza que tem a sinceridade de alguém que, vencendo as hesitações típicas da personalidade do tímido, do retraído ou do deslocado, é capaz de se expor, de se revelar, integramente, honestamente, sinceramente.
Uma das formas utilizadas mais eficazes para requintar a expressão poética em Pé de ferro & outros poemas encontra-se na utilização de elementos naturais para traduzir estados de alma, situações sociais, movimentos da memória e as inusitadas arquiteturas do político. A natureza é um grande manancial de sentidos, onde Adalberto Monteiro recolhe forças de significado capazes de intensificar a expressão necessária a cada tema. É através da natureza, perceberá o leitor mais atento, que se constrói a quase totalidade das metáforas, das imagens, das figuras de linguagem de Pé de ferro & outros poemas. Com essa delicada força que vem da natureza e encanta a forma poética, Adalberto Monteiro enfrenta os mais difíceis assuntos, empresta dignidade e salva do esquecimento os que sofrem, os que ficaram para trás no tempo, aqueles sobre os quais a sociedade ou a intimidade não quer deixar sempre falar, relegando-os a último plano ou recalcando-os.
Fundamentalmente a poesia de Adalberto Monteiro, através desses princípios aqui aludidos apenas em linhas gerais, constrói uma voz que deseja comunicar e por isso comove, em sentido amplo. Comove porque nos incita à ação, comove porque impressiona, comove porque provoca a dureza da nossa alma, tão desacostumada a dar a atenção devida à beleza da vida. Ao nível do canto, ao nível do chão, essa poesia tem o grande mérito de ser expressão consciente de uma concepção de poesia que está traduzida em um dos textos de Pé de ferro & outros poemas: “O que será um livro de poemas senão o estuário no qual desembocam as alegrias e desgraças do mundo?” O autor sabe, como poucos, estar à altura de seu conceito de poesia, dando voz ao que nos salva e nos humilha; exprimindo poeticamente o que nos oprime e o que nos redime.
Alexandre Simões Pilati é poeta e professor de literatura da Universidade Brasília (UNB).

Os livros encaixotados em Palmeira dos Índios e o legado de Graciliano

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Palmeira dos Índios virou notícia nacional, com a divulgação, pela Controladoria Geral da União (CGU), de que mais de 13 mil livros estão encaixotados há alguns anos na Secretaria Municipal de Educação e Esportes. A cidade do interior alagoano, na primeira metade do século passado, também chamou a atenção nacional: seu então prefeito, Graciliano Ramos, havia inaugurado uma nova forma de administração, favorecendo a população desassistida de alimento e ensino.
Por Carlos Pompe*

Segundo a CGU, o fato causou um prejuízo de quase R$ 1 milhão para o programa Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). São livros para alunos, para professores, para família; cartilhas sobre drogas e sobre bulyng. O material é sobra do que foi distribuído nas 24 escolas municipais. São mais de 13 mil livros – mais do que o dobro do que o necessário para o município. O prefeito Julio Cezar (PSB) entrou com ação contra o ex-gestor, James Ribeiro (PSDB), devido ao excesso do pedido de compra.
Nessa mesma cidade, em 1926, Graciliano Ramos (34 anos), autor de Vidas Secas, São Bernardo e tantos outros clássicos da literatura brasileira, foi nomeado presidente da Junta Escolar. Fazia inspeções de surpresa. Numa das visitas, flagrou uma escola sem aula e as professoras conversando na diretoria. Ao tomar conhecimento dos motivos, mandou comprar sapatos e tecidos para a confecção de uniformes para os alunos. Escreveu em relatório às autoridades estaduais: “As escolas estão pessimamente instaladas. Cada aluno leva a sua cadeira, cada professora, a sua banca”. No final do ano seguinte, foi candidato único a prefeito e eleito. A verba nos cofres municipais mal dava para cobrir a folha de pagamento dos servidores. Cobrou os impostos com rigor e cancelou as isenções fiscais.
Administrou as finanças da Prefeitura anotando pessoalmente a finalidade do gasto, a quantia paga e o nome do beneficiado. Fez aprovar, no Conselho Municipal (Câmara de Vereadores), o Código de Posturas, regulamentando direitos e deveres dos cidadãos e do poder público. “Eis alguns: animais não poderiam andar soltos nas ruas; os comerciantes eram impedidos de açambarcar mercadorias de primeira necessidade em época de carestia; os farmacêuticos, proibidos de vender determinados remédios sem receita médica; os hoteleiros, obrigados a ter em ordem o livro de hóspedes e a afixar a tabela de preços em locais visíveis; o comércio não poderia funcionar além das 21 horas nem abrir aos feriados e fins de semana; açougueiros não poderiam vender carne de rês doente e teriam de passar a recolher impostos”, relata Dênis de Moraes na biografia O velho Graça.
Nos dois relatórios de prestações de contas que enviou, em janeiro de 1929 e de 1930, ao governador de Alagoas, Álvaro Paes, relatou: “Fiz apenas isto: extingui favores largamente concedidos a pessoas que não precisavam deles e pus termo à extorsões que afligiam os matutos de pequeno valor, ordinariamente raspados, escorchados, esbrugados pelos exatores”.
Ironizou as agruras do “pobre povo sofredor” (seriam os “coxinhas” de hoje?) nestes termos: “É uma interessante classe de contribuintes, módica em número, mas bastante forte. Pertencem a ela negociantes, proprietários, industriais, agiotas que esfolam o próximo com juros de judeu. Bem comido, bem bebido, o pobre povo sofredor quer escolas, quer luz, quer estradas, quer higiene. É exigente e resmungão. Como ninguém ignora que se não obtém de graça as coisas exigidas, cada um dos membros desta respeitável classe acha que os impostos devem ser pagos pelos outros”.
Quanto à instrução, registrou: “Instituíram-se escolas em três aldeias. Serra da Mandioca, Anum e Canafístula. O Conselho mandou subvencionar uma sociedade aqui fundada por operários, sociedade que se dedica à educação de adultos. Presumo que esses estabelecimentos são de eficiência contestável. As aspirantes a professoras revelaram, com admirável unanimidade, uma lastimosa ignorância. Escolhidas algumas delas, as escolas entraram a funcionar regularmente, como as outras. Não creio que os alunos aprendam ali grande coisa. Obterão, contudo, a habilidade precisa para ler jornais e almanaques, discutir política e decorar sonetos, passatempos acessíveis a quase todos os roceiros”.
Em março de 1930, o governador convidou-o a assumir a direção da Imprensa Oficial do Estado, em Maceió. Para atender ao pedido, renunciou em 10 de abril. Escreveu à esposa, Heloísa de Medeiros Ramos: “Para os cargos de administração municipal escolhem de preferência os imbecis e os gatunos. Eu, que não sou gatuno, que tenho na cabeça uns parafusos de menos, mas não sou imbecil, não dou para o ofício e qualquer dia renuncio”.
Na nova função, reestruturou a Imprensa Oficial e foi nomeado, em seguida, para a direção da Instrução Pública (atual Secretaria de Estado da Educação de Alagoas). Tempos bicudos. De uma população em idade escolar de 124.890 indivíduos no Estado, apenas 1.356 alunos concluíram o curso primário, naquele em 1931, e 36, o secundário. Faltavam merenda, uniforme e instalações físicas adequadas nas 47 escolas municipais e nas 327 estaduais.
Em três anos de trabalho, Graciliano reformou parte dessas escolas e iniciou a construção de novas sedes em Maceió e no interior. Chegou a triplicar o material escolar, ampliar o acesso à merenda e garantir a entrega de uniformes para as crianças. Aumentou as vagas instituindo regime de turnos e diminuiu evasão dos alunos. Até uma biblioteca foi inaugurada no grupo Diégues Júnior.
Equiparou o salário das professoras da zona rural com o da capital, instituiu concurso público obrigatório para as educadoras do ensino primário possibilitou a algumas crianças negras o ingresso na escola. “Cometi um erro”, comentou a respeito, “encontrei 20 mil crianças nas escolas e em três anos coloquei nelas 50 mil, o que produziu celeuma. E o pior é que se matricularam nos grupos da capital muitos negrinhos. Não sei bem se pratiquei outras iniquidades. É possível.”
Foi arrancado da Instrução Pública para ir para o cárcere: foi preso em sua casa e levado, de navio, para o Rio de Janeiro imputado de ser comunista pela ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas (acusação falsa – só se filiou ao Partido Comunista em 18 de agosto de 1945). Nunca foi processado e nem condenado. Dessa experiência resultou a obra prima Memórias do Cárcere. Não voltou a morar em Alagoas.
Depois de liberto, trabalhou como inspetor federal de ensino. Fiscalizou colégios em subúrbios do Rio de Janeiro. Respondeu, quando perguntado como se sentia como funcionário público: “Não escolhi ser. Mas fiz o que achei que me cabia”.
Como diz uma canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, ” o que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir”.
 *Carlos Pompe é jornalista

Pagu, a atualidade de sua luta após 55 anos

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Por Alessandra Monterastelli *
Ela morreu em Santos, em 12 de dezembro de 1962, vencida pelo câncer. Em 1910, nascia: São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Ao longo de 52 anos de vida, Pagu deixou uma herança e tanto, não só pelos seus feitos no campo da escrita, da arte e da militância pelo Partido Comunista, mas também pela sua trajetória pessoal.
Começou a escrever com 15 anos, como colaboradora de um jornal de bairro em São Paulo. Celebrada como musa do movimento modernista, adere ao movimento antropofágico aos 19 anos. Conviveu com figuras como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade (com quem se casa e tem o seu primeiro filho) e Mario de Andrade (seu professor no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo). Como jornalista escrevia sobre tudo um pouco com facilidade, publicando seus textos em diversos jornais; opinava de maneira pontual sobre política, o proletário e a sociedade. Escreveu sobre a temática LGBT, até hoje alvo de ataques por parte de conservadores: “Há meninas que nasceram errado, mas que não querem se conformar em seguir à lei da natureza. Querem continuar meninas”.
Foi correspondente de vários jornais, viajou para os Estados Unidos, Japão e União Soviética, entre outros países da Ásia e da Europa. Na França, tem contato com o escritor André Breton e outros surrealistas; entrevistou Sigmund Freud e assistiu à coroação de Pu-Yi, o último imperador chinês, e com ele conseguiu sementes de soja, que foram enviadas ao Brasil e introduzidas na economia agrícola brasileira. Em 1930 viaja para Buenos Aires para encontrar Luís Carlos Prestes, líder comunista que vivia no exilio, e acaba conhecendo o escritor Jorge Luis Borges (encontraria Prestes apenas mais tarde, em Montevidéu, no Uruguai).
Dona de caráter irreverente, não tinha medo em ser. Feminista, se dizia uma “mulher de ferro, com zonas erógenas e aparelho digestivo, isso no Brasil de 1930; a defesa da mulher pobre e a crítica ao papel conservador feminino na sociedade permearam sua vida e todas as suas obras.
Em 1931 lançava duras críticas à burguesia paulistana na coluna “A mulher do Povo”, seção batizada como contraponto ao título do jornal criado e dirigido por ela e Oswald de Andrade, O Homem do Povo. Aliás, Pagu tornou-se nesse momento também uma grande expoente dos quadrinhos, área até hoje majoritariamente masculina. Inspirada especialmente nas obras de Tarsila do Amaral (chegou, inclusive, a ilustrar a Revista de Antropofagia), fez ilustrações e tiras para cada uma das 8 publicações do Homem do Povo; entre elas, Malakabeça, Fanika e Kabelluda contam a história de um casal rico que não teve filhos e começa a morar com a sobrinha pobre, a Kabelluda, que protagoniza cenas de subversão e contestação dos valores morais da sociedade do início do século XX – criticas, aliás, que servem facilmente à sociedade atual. Como conclui Roberta AR, zienira e escritora na cena de quadrinhos independentes, as tiras de Pagu “mostram bem a veia política da autora, que não era de meias palavras”. Por fim, seu nome batizou o primeiro selo de quadrinhos feito somente por mulheres.
Malakabeça, Fanika e Kbelluda. 
Pagu entrou para o Partido Comunista em 1931, junto de Oswald, e foi morar em uma vila operária, onde trabalhou como tecelã e metalúrgica. Participou da organização de uma greve de estivadores em Santos e, na ocasião, como conta o jornalista Fernando do Valle em seu artigo “Viva Pagu”, o estivador Herculano de Souza foi morto pela polícia durante a homenagem aos operários anarquistas Sacco e Vanzetti, injustamente acusados de homicídio nos Estados Unidos e executados na cadeira elétrica. Herculano caiu nos braços de Pagu, que pediu a todos que cantassem a Internacional. Ela foi presa pela polícia de Getúlio Vargas, tornando-se a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas. Em 1935, após participar do Levante Comunista, foi detida, torturada e condenada a dois anos de prisão. Três anos mais tarde foi novamente condenada e, ao todo, foi presa 23 vezes, chegando, inclusive, a ser presa como militante comunista estrangeira quando estava na França, militando pelo partido comunista francês. Logo após a sua filiação, foi morar em uma vila operária.

Mais tarde fez suas críticas ao Partido, mas nunca deixou o idealismo de lado, sempre defendeu um socialismo pacífico e libertário e nunca deixou de lutar. O jornal que tinha com Oswald foi tomado por estudantes da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco e proibido pela polícia. Em 1933, Pagu lançou seu primeiro romance, “Parque Industrial”, focado em uma narrativa urbana sobre a vida das operárias da cidade de São Paulo, e assinou a obra sob o pseudônimo de Mara Lobo. Segundo a antropológa Mariza Corrêa, o texto tem forte estilo cinematográfico e “poderia ser lido hoje como se fosse o roteiro de um vídeo”. A narrativa denuncia a suposta “moral” que exigia castidade das mulheres ao passo em que estimulava a liberdade sexual dos homens, que muitas vezes enganam e abusam das mulheres.
Ilustração: Kiddo Art, via As Mina na História 
Em 1935, se separa de Oswald de Andrade, em uma época em que o divórcio ainda era motivo de tabu e julgamentos. Mais tarde se casa com o jornalista Geraldo Ferraz e lhe dedica diversas cartas de amor.
Nos anos 40 e 50 continua sua produção jornalística, escrevendo crônicas, artigos, poemas e críticas literárias no jornal “A Tribuna” de Santos. Divulgou autores marcados pelo inconformismo e de vanguarda como Alfred Jarry, Fernando Arrabal e Samuel Beckett. Também foi pioneira na tradução de autores como Artaud e Apollinaire.
Mas, como relembra a jornalista Camila Alam, as memórias pessoais de Pagu também ganharam muita visibilidade. Na sua autobiografia, intitulada “Paixão Pagu”, a escritora revela intimidades e confissões. Nas passagens são relatadas algumas prisões, doenças e casos amorosos. “Uma personalidade fugaz e intensa, que, ao longo de seus 52 anos, revelou-se coerente, objetiva, idealista e apaixonada” finaliza Camila Alam.
“Luminosa agente subversiva de nossa modernidade”: foi assim que o poeta concretista Augusto de Campos descreveu Pagu na abertura da nova edição de “Pagu: vida-obra”, em que ele conta da contribuição da escritora também para a poesia concreta, com a publicação de diversos poemas. Em entrevista para O Globo em 2014, quando questionado do título referido à escritora de “primeira mulher nova no Brasil”, ele explica: “Por todo o seu passado revolucionário (…)nenhuma assumiu até o fim ideias tão radicais e renovadoras, nenhuma correu os riscos e sofreu o que sofreu por elas, nenhuma defendeu com tanto ardor a arte de vanguarda, nenhuma se pode comparar, em termos de atuação ética e estética, como ela”.
Pagu marcou presença: nunca deixou o espírito revolucionário adormecer, nem na arte, nem na política. Jamais se deixaria calar ou censurar por nenhum conservador ou moralista. Diante de suas enormes contribuições, vale o questionamento: como seria sua reação diante do atual momento vivido pelo Brasil?