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domingo, 12 de novembro de 2017

A mulher que agrediu Judith Butler é o que restou dos paneleiros, zumbis tristes do impeachment. Por Kiko Nogueira

Celene Carvalho em 2014, quando encontrou uma razão de vida
Por
 Kiko Nogueira

Um dos grandes mistérios da humanidade, ao lado do Triângulo das Bahamas e das duas naturezas de Cristo, é: o que aconteceu com os paneleiros?
Muita gente boa na esquerda cobra deles a indignação com a canalhocracia que acabaram instalando no poder. Por que não vão mais à janela?
É uma indagação besta e sem sentido. Nunca foi sobre corrupção. A imensa maioria dos coxas, eventualmente envergonhados, agora finge que a roubalheira desastrosa não é com eles e toca a vida.
O MBL, o maior dos movimentos anti impeachment, transportou sua picaretagem para o establishment político. Os kataguiris continuam se prostituindo, mas agora na situação.
Mas uns poucos tiveram que dar serventia a seu fervor jesuítico contra a esquerda e com o fato de ter perdido relevância e não aparecer mais na TV.
Órfãos, abandonados em seu ódio e sua amargura, os paneleiros mais roots ficaram na mão. Sem saída, migraram do combate à corrupção para pautas comportamentais identificadas com a esquerda.
Se não têm mais o bando, passam a agir sozinhos, em dois ou três. São pequenas células terroristas, como os perpetradores dos ataques recentes na Europa e nos EUA. Lobos solitários.
Isso explica Celene Carvalho. Um zumbi do impeachment.
Celene é a mineira de 52 anos que tacou fogo numa boneca de Judith Butler num protesto em frente ao Sesc Pompéia. Também foi ela que perseguiu a filósofa americana no Aeroporto de Congonhas, mandando-a embora num inglês escorreito, batendo na inimiga com um cartaz grotesco, passando vergonha.
Ela ficou famosa quando xingou de todos os nomes Eduardo Suplicy na Livraria Cultura, em São Paulo. Depois se consagrou como uma das criadoras do pixuleco do Lula. Tudo em 2015.
A revista Piauí deu um perfil alentado de Celene quando o inflável era um sucesso. Reproduzo, ao final deste artigo, alguns trechos. Numa passagem, o repórter conta que Celene conversa com o pixuleco em seu carro.
Com quem mais ela falaria? Sozinha, sem marido, sem filhos, sem nada — com quem? A imbecilidade coletiva do golpe lhe rendeu uma razão de viver, mais do que uma causa política.
Não tem mais ninguém na Paulista? Não faz mal. Ela vai sozinha com sua indigência, sua incultura e a falta de modéstia dos cretinos atacar “esquerdopatas” em aeroportos ou exposições.
Ali dá duas ou três entrevistas e fica contente.
Celene é uma morta viva. Uma morta viva perigosa e violenta, porém. O que ela não calcula, em sua miséria, é que um dia alguém vai revidar suas agressões e o resultado não será bonito.
É inevitável.
Até lá, ela arrastará sua carcaça verde e amarela por aí, caçando adversários imaginários, vomitando rancor — um triste e patético suvenir de uma fraude nacional, usada e jogada fora.
Em frente ao Sesc, antes de queimar a bruxa
Da Piauí:
Celene Salomão Carvalho é filha de Célio com Marlene. Nasceu há 50 anos em São Lourenço, Minas Gerais, mas passou a infância e a adolescência no Rio de Janeiro – primeiro no Méier, depois em Ipanema e por fim na Barra da Tijuca. Hoje mora em São Paulo, onde aluga um flat pequeno, de quarto e sala, no bairro da Liberdade. Na sala, tem uma foto do papa Francisco e um livro do padre Juarez de Castro, responsável pela paróquia que ela frequenta. Vai à igreja todo domingo, “a não ser quando tem manifestação”.
Econômica, pede desconto em restaurante, hotel e posto de gasolina. Prefere abastecer o carro nos postos da bandeira Shell – quando é Shell, com o litro a 3,09 reais, se vê impelida a parar. Dirige bem, entende de carro. “Esse Nissan novo eu não tinha visto ainda, o Murano”, comentou certo dia. Abraça, decora nomes, tem um jeitão simpático de tia do interior. Abusa dos diminutivos: “turminha”, “quilometrinhos”, “joinha”. Também adora o termo “nesse ínterim”. É solteira, não tem filhos. A mãe, os dois irmãos e a irmã moram no Espírito Santo. O pai, de quem era próxima, faleceu há vinte anos.
Sua vida, pela quantidade de reviravoltas, tem um quê de Forrest Gump. Aos 15 anos ela viajou com o pai pelos países comunistas da Europa. “Foi meu presente de aniversário”, contou. “Meu pai tinha nascido pobre, trabalhado muito, comprado um hotel. Quis me mostrar que o comunismo não funcionava.” Visitaram Rússia, Bulgária, Alemanha Oriental, Romênia e Iugoslávia. “Fomos até numa reunião dos camaradas. Ele fingia ser comunista para participar”, disse. “Nos serviram bofe, que é pior que carne de terceira. Era carne que dávamos para cachorro. Aquela ideologia nunca me agradou.”
Finda a escola, resolveu estudar hotelaria. Estagiava no hotel Sheraton, no Rio, quando uma prima, recém-diagnosticada com câncer, pediu-lhe que a acompanhasse durante o tratamento nos Estados Unidos. “De todos na família, eu era quem melhor falava inglês”, explicou. “E nem todo mundo se dava com ela.” Aceitou viajar, sob a condição de ganhar, na volta, um bilhete de avião para a Noruega. “Eu tinha uma amiga norueguesa. Sempre quis morar lá.”
Em 1991 partiu, com a prima, para um período de três meses em Pittsburgh. Servia de tradutora, amiga, guia turística. No hospital, conquistou a simpatia dos médicos, que passaram a lhe pedir ajuda para lidar com outros pacientes brasileiros. Houve ciúmes, a promessa da passagem foi rompida. A prima voltou, a acompanhante ficou.
Ilegal, passou a trabalhar numa pizzaria. Lavava prato, preparava sanduíche e, vez por outra, entregava pizza em algum set de filmagem. “Pittsburgh é importante no cinema”, disse. “Vi a Jodie Foster fazendo O Silêncio dos Inocentes. Também entreguei num set que tinha o Bruce Willis.”
Os três meses viraram dez anos. Ganhou dinheiro, comprou casa. No apuro de conseguir um visto permanente, pagou 5 mil dólares para casar com um americano que não conhecia. Arrependeu-se, divorciou-se, continuou na ilegalidade. Em 2000, foi denunciada à imigração. “Tive medo de ser deportada. Fiz o que não devia ter feito”, contou. “Vendi tudo e voltei ao Brasil.” Seu coração continuou nos Estados Unidos: “No 11 de Setembro fiquei tão triste que fui comer no McDonald’s. Foi minha forma de prestar solidariedade.”
De volta, escolheu São Paulo. Gerenciou um restaurante nos Jardins, um flat na Bela Vista e um estacionamento em Pinheiros. “O que aparece eu faço”, explicou. “Adoro pegar troço caído e levantar.” Foi o caso do estacionamento, até então deficitário. Pintou golfinhos na parede e um polvo na guarita. Pediu a um amigo, mergulhador, que trouxesse conchas para presentear as crianças. O local foi rebatizado de Aquarium Park. “Ficou um show de estacionamento”, lembrou, orgulhosa. “O pessoal fazia fila para parar.”
Em 2005, após fundar uma associação de moradores, expulsar invasores de um prédio vizinho e ter a casa invadida, decidiu mudar de vida. Abriu uma loja de bijuteria em São Lourenço, onde nasceu. Talvez pelo interesse político – ou talvez por servir um café de cortesia –, acabou virando a ouvidora informal dos 50 mil moradores da cidade. “Eu era um para-raios de reclamações”, contou. “De noite, o pessoal deixava documento de denúncia por baixo da porta.” Criou um movimento, denunciou o prefeito. Seis anos depois, por insistência dos amigos, decidiu ela mesma se candidatar.
“O problema é que só tinha um partido disponível na cidade”, contou. O partido era o PSOL. “Fui a São Paulo conversar com o Plínio de Arruda Sampaio. Disse: ‘Plínio, eu não concordo em nada com o seu partido.’” Acabou convencida. “Fingi que era um partido novinho meu. Na minha ilusão, achava que poderia salvar a cidade.” Ficou em último lugar, com 370 votos. Depois, mais uma vez, voltou a São Paulo.
Com o ex-ídolo Reinaldo Azevedo
Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

Elisa Lucinda: Coisa de branco, até quando?

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Por Elisa Lucinda
O diabólico plano que começou com tráfico, tortura e assassinato do povo negro e que durou quatrocentos anos, é mais nefasto e homicida do que os cinco ou seis anos do holocausto judeu e essa dor a humanidade respeita mais. Não estou dizendo que uma dor é menor do que a outra. Mas afirmo que o holocausto da escravidão negra continua até hoje e não comove nossa sociedade. Não importa, em geral, a quantidade de negros sem nome, sem sobrenome nobre que é assassinada diuturnamente nas favelas e periferias deste país. Ainda rola no imaginário brasileiro a ideia obsoleta de que “preto bom é o de alma branca”, é o sem voz, e há neste imaginário uma desvalorização da etnia negra como se houvesse para isso alguma defesa científica que apontasse no DNA de uma raça sua propensão à sub-humanidade.
O que impressiona muito no vídeo do Willian é sua falta de conflito com o tema, seu conforto escancarado e muito bem acomodado dentro de sua convicção. Quando a Globo que, felizmente, com muita rapidez, prontamente se posicionou repudiando e afastando o jornalista, afirma que vai pedir esclarecimentos dos fatos dá vontade de ser uma mosquinha na cabeça deste profissional para ver qual será o melhor argumento nos bastidores dessa saída. A situação é indefensável. Não falou sem querer, não estava nervoso. Repito: trata-se de uma convicção. Absolutamente consciente e levemente temeroso de que sua fala pudesse comprometê-lo, ele, textualmente, quase evita falar abertamente: “Tá buzinando por quê? Ô seu merda do cacete! Deve ser um… Não vou nem falar quem. Eu sei quem é… Você sabe quem é né?” Mas não resistiu. Saiu. Pulou da boca: ” Você sabe o é. É preto. É coisa de preto.” Ele pensa assim. Concorda com o racismo. É porta voz dele. Estamos diante de um vazamento corajosamente divulgado pelo operador de VT Diego Rocha Pereira de 28 anos, e designer gráfico Robson Ramos 29, ambos negros e provocadores neste nosso lugar de fala. Por esta gravação podemos supor quantas dessas atitudes não chegam a público e fazem a graça de muitos bastidores. Não seria leviano de minha parte afirmar que essa não é uma atitude isolada deste jornalista. Um detector de discriminação racial afinado talvez não tivesse dificuldade em encontrar na educação, dele e de sua família, a ideologia revelada no patético vídeo gravado em frente à Casa Branca, ainda com Barack Obama dentro dela. Ele estava nos Estados Unidos, ele falava português, ele estava em seu “camarim” e não imaginou que a máscara Waack estava sendo retirada antes do público deixar o teatro. Sou atriz, vivo no teatro, e sei que se o público por algum motivo avista o truque, a ponta da carta escondida sob o manto do mágico, não há outra saída para o artista se não render-se à verdade. Já era. O público viu. Fodeu. É melhor admitir. Flagrantes são inegáveis. Qualquer tentativa de desqualificar a verdade flagrante é constrangedoramente impotente.
O que está em jogo aqui é como deter o escravagismo moderno, esse que foi trazido através da linguagem das escrotíssimas expressões que destroem a auto estima do povo negro a cada minuto, e que vão mantendo a obra da escravidão na cabeça de jovens brancos, de crianças brancas, em pleno 2017. A semente do mal é reproduzida em todos os lugares, inclusive nos jornalismos, inclusive nas ficções. Sou jornalista também de formação, e sei da responsabilidade pública que temos com a informação, sei do poder de influência da palavra jornalística na formação de opiniões. Diante disso numa democracia, ter um jornalista que apresenta um jornal importante numa emissora que alcança milhões de espectadores diariamente, defendendo posturas racistas, expondo-se inclusive judicialmente a um processo, aponta para uma demissão sumária deste profissional. Não vejo outra saída. Para mim é tão grave quanto um médico que não atende um paciente preto e pobre na emergência. Para William Waack a vida do preto, o pensamento do preto, a atitude do preto, os direitos do preto são menores e tudo nele vale menos. Está entranhado em seu DNA cultural branco e dominador tal aberração intelectual. Sua ignorância é sofisticadamente tosca, uma vez que ocupa um cargo nobre na tele informação. E essa ignorância é tão sofisticada quanto perniciosa, representa um pensamento vigente que raramente tem coragem de mostrar a cara, de sair do armário. Mas é este pensamento que gera a atitude prática de fechar portas, e de provocar em nós, em nossas organizações civis e nas leis, a feliz estratégia dos sistemas de cotas. Quando Cazuza diz que a burguesia fede é a isso que ele se refere. Há uma hipocrisia católica, disfarçada de caridosa, ornada dos aparentes bons costumes, mas que chafurda na lama tóxica de seus preconceitos e na sua luta pela preservação das senzalas, dos quartos de despejos e da persistência variada das chibatas. Presídios, quartos de empregadas, entulhos das favelas e periferias, tudo têm como modelo os porões da escravidão.
Eu teria vergonha de ensinar racismo aos meus filhos, William não tem. Eu teria vergonha de ser racista em meu local de trabalho, William não tem. Eu teria vergonha de ser racista sendo brasileira e estando trabalhando em terras estrangeiras, William não tem. De usar a minha língua contra o povo que construiu a minha nação, William não tem. E por isso representa uma vergonha para o povo brasileiro. Sua declaração bate na cara dos negros que labutam para o sucesso da história desse país e da empresa que ele trabalha; sua declaração é um acinte, um achincalhe no talento de grandes atores negros que deram e dão sua arte à teledramaturgia brasileira contribuindo para um sucesso de público que atravessa décadas. Sua declaração atinge também em cheio a consciência de brancos a quem ele não representa, os constrange, os convoca a limpar a própria barra. Puni-lo com uma demissão me parece uma atitude equivalente ao crime. Condiz. Sua opinião provoca um grande estrago e põe o dedo numa chaga acesa. Se ele trabalha numa empresa que não apoia o racismo, o seu flagrante delito o torna naturalmente afastado da emissora. Se a Rede Globo não quer compactuar com uma atitude discriminatória não pode ter em seus quadros quem pensa diferente disso, uma vez que tal quesito está espargido em todos os conteúdos de sua programação. Neste momento, estou fazendo a campanha da ONU chamada Vidas Negras. Os números são alarmantes, perdemos grandes exércitos de meninos que saem da escola para o crime e, entre estes, milhares são assassinados sendo inocentes, só por serem negros. E só. Por valerem menos.
Mas a tragédia só se realiza, só chega a virar sangue, a virar tiro de fuzil, só chega a matar depois de se consolidar na mente de muita gente, e muita gente que manda neste país. É este jogo que nós temos que desmontar. Quando se diz “coisa de preto” como sinônimo de inferior ou ruim, no fundo estamos produzindo um conteúdo que dará autorização para matar. William Waack não é o único a pensar assim, é isso que o vídeo veio nos revelar. É coisa de branco e aos bons brancos deve envergonhar. O assunto está bombando. A questão racial no novo filme de Daniela Thomas vai ser assunto nessa sexta no Pedro Bial. Não dá mais pra segurar . O mundo pede abolicionistas modernos e quer saber de que lado você está.

Cooperativas de Cultura sob ataque, por Rudifran Pompeu

Nunca, em outras gestões de diversos partidos e coligações partidárias diversas e adversas, a cultura foi tão amplamente atacada em suas conquistas ao longo da história recente da cidade de São Paulo como agora.

Por Rudifran Pompeu*
Mais uma vez é preciso esclarecer o conceito de cooperativa, para que as forças interessadas em desmontar essa forma de organização de trabalho possam de alguma maneira ser confrontadas com a verdade e a realidade do trabalhador da cultura dessa cidade!
A questão objetiva e pontual dessa nefasta tentativa de desqualificar e muitas vezes criminalizar o formato cooperativista, é, na verdade, uma das frentes do atual executivo paulistano. O objetivo é tentar enfraquecer e consequentemente desmontar os inúmeros projetos estruturantes criados nos últimos 20 anos e, não por acaso, tais ataques vêm normalmente de setores diretamente relacionados à elite cultural da cidade. São setores que, obviamente, se ressentem quando a sociedade civil se organiza e consegue avançar de forma contrária aos seus interesses e monopólios, incluindo suas duras e inatingíveis leis de mercado.
Há alguns meses, a atual secretaria de Cultura de São Paulo publicou nas redes sociais dados de alguns grupos de dança da cidade que foram contemplados no edital de fomento à dança. A secretaria dizia explicitamente que tais coletivos teriam transformado a lei em um feudo de alguns e, dentro da estratégia de expor os coletivos, citou as Cooperativas culturais da cidade e do Estado de São Paulo. Clara tentativa de comprometer a nossa forma organizativa.
É preciso, então, vir a público explicar o que o “poder público” já deveria saber quando se propõe a governar a coisa pública.
No caso da Cooperativa Paulista de Teatro, somos uma entidade de cultura que surgiu em 1979, durante o regime militar, e que carrega um acúmulo histórico de muita resistência, dificuldades e conquistas.
Somos uma cooperativa de artes cênicas e em nosso quadro societário temos quatro mil artistas de diversas linguagens entre as quais a dança, o circo e o teatro. Com isto, representamos juridicamente um grande número de artistas e coletivos. É factível, portanto, que quando os artistas associados ao universo cooperativista concorram em editais públicos, há a possibilidade de ter uma maior proporção entre os ganhadores. Isto é perfeitamente normal e esperado, pois quanto mais projetos de cooperativados existirem, mais chance de ter cooperativados entre os contemplados. Matemática simples e sem complexidade do processo cooperativista amparado em Lei Federal de 1971 (Veja mais adiante).
Como funciona? Vamos lá. As cooperativas são entidades suprapartidárias abertas a todas as pessoas interessadas, sem discriminação social, racial, política, religiosa e orientação sexual. Não têm fins lucrativos e muitas se organizam através de uma mensalidade paga pelos seus associados, além de uma espécie de taxa de despesas operacionais de cada um dos trabalhos realizados e que servem para manter toda a estrutura das entidades.
A cooperativa de teatro possui hoje 21 funcionários em regime de CLT, que se traduzem em um departamento jurídico próprio, um departamento de prestação de contas, um departamento de controladoria contábil, um departamento financeiro, um departamento contas a pagar e a receber, um departamento de recursos humanos, um departamento de atendimento ao cooperado. Possui também um conselho fiscal e um conselho administrativo eleito pelos sócios a cada dois anos. Também possui, externamente, assessoria contábil fiscal trabalhista e societária, assessoria jurídica tributária e uma ampla logística de TI, construindo, portanto em seu entorno uma cadeia produtiva que gera trabalho e empregos, fazendo girar a economia a sua volta.
Dizemos isso para tentar, através de um debate sério e comprometido, “(re)explicar” que as cooperativas diferem-se das demais organizações justamente pelo seu caráter e a sua natureza própria, mas o que nos distingue conceitualmente das demais sociedades é que somos uma sociedade de pessoas e não uma sociedade de capital. No nosso modo de formalização a “característica da pessoa” é imprescindível para a formação e constituição jurídica da sociedade.  Na cooperativa o sócio-cooperado é ao mesmo tempo “dono da sociedade”, usuário e fornecedor.
Lei Federal Nº 5.764/71  
Art. 3º – Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro.
A tentativa da matéria da Folha de S. Paulo é a de criar um ambiente de confronto e de divisão entre os próprios artistas e a sociedade, uma vez que essa forma ácida e conflitante também alimentada pela secretaria de Cultura nas redes sociais, não faz nenhum sentido a não ser a polarização da disputa de um campo político. Nunca, em outras gestões de diversos partidos e coligações partidárias diversas e adversas, a cultura foi tão amplamente atacada em suas conquistas ao longo da história recente da cidade de São Paulo como agora.
O corpo gestor que compõe o atual executivo paulistano parece estar profundamente interessado numa intensa cruzada pessoal contra os artistas e as organizações que os representam.
As ações da atual gestão do executivo municipal e seus agregados são sistematicamente voltadas a desacreditar diante da opinião pública o que se tem de mais progressista no campo das artes da cidade. Desacreditar e atacar os artistas e fazedores de cultura que tornam esta capital um polo cultural e artístico internacional.
Os gestores do executivo que, como pedem a democracia e a República, devem ouvir e estabelecer o diálogo com os seus artistas e a sociedade. Nunca produzir e reproduzir sofismas nas redes e nos jornais encomendados.
Termino reproduzindo uma fala do atual chefe da pasta da cultura, quando se referia ao cinema e a crise na Petrobrás, em maio de 2015, para se perceber que as questões atuais referentes aos fomentos estão caminhando bruscamente para uma peleja personalista e individual entre o referido poder público e os fazedores da cultura de São Paulo.
“Não se consegue ter uma produção forte e relevante de uma hora para outra. É necessário que sejam investimentos continuados. Na hora em que existe uma supressão de recursos, corre-se o risco de ter uma regressão na atividade e depois, para recuperar e recolocar nos eixos pode levar tempo” – André Sturm
Compartilho tranquilamente desse pensamento do secretário, mas me surpreendo que ele, agora, como chefe da pasta executiva da Cultura, pensa totalmente diferente. E com ele, avançam os jornalistas de caráter duvidoso e sem nenhum preparo para escrever e proporcionar notícia e informação isenta, como é o caso de Rogério Gentile.
É triste e sofrível ver jornalistas que se profissionalizam na feitura de factoides e se prestam a publicar meias verdades, tecendo textos editados de forma abertamente tendenciosa, provocando e alimentando uma política desonesta e calcada no desmonte e no ódio.
Contudo e acima desse horizonte mentiroso, conservador e careta, estaremos sempre prontos para resistir aos ataques, pois nada mais pode ser novidade para quem está na luta desde sempre. Nós não chegamos agora!
A luta segue!
*Diretor e Dramaturgo e atual Presidente da Cooperativa Paulista de Teatro
Foto: Pixabay
Fonte: Revista Fórum