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sábado, 8 de setembro de 2018

“A Cultura deve ser central em projeto de desenvolvimento nacional”

O incêndio que destruiu o Museu Nacional fez intensificar o debate sobre como o Brasil cuida de seu patrimônio. Para o secretário nacional de Cultura do PCdoB, Javier Alfaya, é preciso usar o impacto que este episódio trágico causou para dar sequência a uma ação política capaz de mudar a forma como a administração pública encara a Cultura, uma vez que esta deve ser tratada de forma central para o desenvolvimento nacional.
Fachada do Museu Nacional na Quinta da Boa Vista antes do incêndio
Alfaya, que é mestre em Desenvolvimento e Cidades pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), defende que a Cultura deve ser pensada também como uma questão estratégica para o desenvolvimento nacional. Portanto, precisa receber investimentos proporcionais à importância da pasta. Para isso, o orçamento público deve ser gerido de forma a estabelecer uma distribuição equilibrada entre os ministérios. “O orçamento deve ser executado com organização e planejamento, evitando que certas pastas fiquem na condição de pedintes, como é o caso da Cultura”.
Para o especialista o país não tem condições de implementar um novo modelo de desenvolvimento se determinadas áreas não estiveram articuladas entre si, neste caso, especificamente, ele cita as pastas de Ciência e Tecnologia, Artes e Cultura, Educação e Comunicações. “Elas devem funcionar sem concorrência e sim de maneira solidária, diferente do que acontece hoje”.
Neste sentido, a prioridade da nova gestão, que vai assumir o governo em 2019, deve ser ativar a economia de forma a “preservar uma poupança nacional e assim destinar 20% do PIB em investimentos, e em segundo lugar assumir uma nova narrativa que não force mais os ministérios a agirem como concorrentes entre si numa disputa pelo orçamento”.
Biblioteca Nacional
O Museu Nacional, por exemplo, tinha sua manutenção ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro que passa, atualmente, por um processo de sucateamento sistêmico. Porém, este é um problema crônico que afeta diversos aparelhos públicos de cultura. Alfaya destaca que durante os governos progressistas houveram avanços importantes com a intenção de sanar esta deficiência, mas ainda assim não foram suficientes.
Em 2009, por exemplo, foi criado o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura. Este é o órgão responsável agora por desenvolver e aplicar a Política Nacional de Museus, cujo objetivo é preservar, melhorar os serviços e ampliar o setor.
“O pedido de socorro era antigo”

O acontecimento desastroso e as consequências desse episódio que ficará marcado na nossa memória cultural é a expressão de um processo que se arrasta a décadas, lembra Javier. O governo de Temer, o governo da destruição, de fato tem a maior responsabilidade; mas é um processo que se arrasta há décadas. “A UFRJ pediu verba para resolver a situação crítica, e foi feito um levantamento de inúmeras matérias nos últimos anos sobre a situação do Museu, sobre a luta da Universidade Federal do rio, dos pesquisadores, funcionárias e funcionários. Chegaram a fazer vaquinha digital para combater a presença dos cupins na madeira de um prédio do século 19”, cita, para ilustrar a situação degradante vivida pela instituição.

“A madeira está muito presente na estrutura desses prédios, usada junto com a argamassa; os pisos também eram de madeira”, conta Javier, arquiteto de formação. Essa estrutura somada com o material altamente inflamável, como papéis e o formol usado para a preservação de matéria orgânica exposta, causou a tragédia. Com todo o seu material irrecuperável, o Museu era uma mescla de universos.
O grito por socorro pra salvar o museu já era antigo: o desastre era previsível, e foi a prova do descaso atual. Somam-se ainda elementos históricos: “o museu não chegou nessa situação de vulnerabilidade em poucos meses nem em dois anos, foi também um acumulo de problemas de anos anteriores”.

“Nós estamos falando de um edifício de 200 anos atrás. Ele precisava de cuidados muito especiais, de manutenção continua”, relembra Javier. Ele explica que o Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional e o Museu Nacional são uma tentativa da sociedade brasileira, através do Estado, de concentrar a simbologia nacional. “Essas instituições guardam a história social, política, natural e artística do país: essa coleção de referências compõem a história do Brasil, assim como mostram objetos simbólicos da de outros países”, reitera. Esses museus tentam mostrar, de maneira organizada, boa parte da história brasileira e o que constitui a identidade do país.
A Biblioteca Nacional também carece de cuidados. Nos últimos anos, a fachada do prédio foi reformada porque corria risco de cair. Do lado de dentro, funcionários relatam que o principal problema é a questão elétrica, que não pode ser expandida. Em 2015, um incêndio de grandes proporções tomou o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. O trabalho de recuperação custará ao todo 77 milhões de reais, com dinheiro público e privado, sendo que 22,1 milhões de reais já foram gastos nas primeiras e segundas fases da obra, para a restauração da fachada e do teto, segundo o G1.
Em 1978, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM) também foi atingido por um incêndio. As chamas se espalharam pelos três andares do pavilhão de exposição e queimaram quase todo o acervo do museu, incluindo obras de Picasso, Salvador Dalí, Matisse, Portinari e Di Cavalcanti, entre outras. Grande parte das obras do grande pintor uruguaio modernista Torres Garcia foram destruídas. nesta ocasião, o prédio era de concreto, o que preservou sua estrutura.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
As causas do fogo não foram esclarecidas, mas as investigações apontaram que uma faísca causada por curto-circuito em meio a instalações elétricas em mau estado foi a responsável pelo desastre. Na época, o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) se manifestou dizendo que o incêndio representava “apenas uma das manifestações concretas do processo de negação e abandono da cultura brasileira”. O Museu só reabriu em 1990. Mas, em março deste ano, anunciou a intenção de vender uma obra para a criação de um fundo patrimonial, uma maneira de ajudar a equilibras as contas.
Se não é incêndio, é chuva. Telhados que caem, água que danifica documentos ou que destrói a tela das pinturas, esculturas que oxidam devido a exposição prolongada. “É a tragédia da falta de manutenção, do trato equivocado, da falta de preparo técnico dos ambientes. Esse é um problema antigo e estratégico a ser resolvido na área da cultura. Museus e casas de cultura não são apenas depósitos de peças para serem mostradas, mas lugares de pesquisa acadêmica e cientifica, de desenvolvimento artístico e atividades pedagógicas”, argumenta Javier; são instituições vivas.
Com a quantidade de informação que chega da internet, os Museus precisam ser mais dinâmicos, segundo o arquiteto. O público não encontra nas redes a informação tão organizada quanto nos Museus. “Lá o público irá para se divertir, claro, mas irá também refletir, sentir espanto; arte e memória provocam reflexão e espanto. O espanto e a admiração também fazem parte do processo de formação”, completa.
Reconstrução do Museu Nacional e modelos de administração

Ainda não se sabe com exatidão qual foi o estrago causado pelo incêndio no Museu Nacional, há esperança de que alguns objetos – dos 20 milhões de itens que eram abrigados na mais antiga casa de pesquisa do país – tenham resistido, mesmo que parcialmente às chamas. A estrutura do prédio, porém, poderá ser recuperada e um novo acervo deverá ser constituído, ao longo do tempo. Alfaya alerta que este novo museu deve ser reconstruído com um sistema tecnológico de forma a evitar novos acidentes. “Obviamente isso não é barato, mas cercas coisas se justificam o investimento, este é o caso do Museu Nacional porque trata-se de uma instituição referência para o país e para a sociedade”.
Alfaya defende que estes aparelhos estratégicos como é o caso do Museu Nacional, ou da Biblioteca Nacional – que contém objetos fundamentais para a preservação da identidade da nação – devem ser mantidos e administrados pelo Estado. “Devido ao modelo de formatação do capitalismo neoliberal, existe uma onda internacional que prega a gestão privada como melhor solução. Isso é uma mentira. Nós precisamos melhorar a gestão pública direta sobre certos equipamentos [estratégicos]”.

Segundo o especialista, é necessário, porém, estudar e desenvolver formas de administração híbridas também. Ele cita exemplos de museus e equipamentos de cultura mundo a fora que conseguiram ativar um mercado no entorno a fim de fomentar a economia. “A França é um bom exemplo, eles perceberam o potencial de preservar e fomentar a cultura e hoje fazem disso um mercado importante”, explica, mas faz ressalvas: “apesar de ser um país imperialista”.

“Existem várias possibilidades de administração possíveis levando-se em conta o que é público e privado, isso é algo que deve ser discutido. É preciso defender mais explicitamente a cultura como elemento de centralidade do projeto de desenvolvimento, e não como enfeite ao lado de coisas sérias; tudo é sério”.

Do Portal Vermelho

Wilson Moreira deixa mais belas composições das rodas de samba


Se tem um compositor que deixou relevante repertório para as rodas de samba, este é Wilson Moreira. Suas composições são as mais belas executadas e possuem enorme capacidade de interação entre músicos e público.
Por Augusto Diniz
Mas, infelizmente, o cantor e compositor Wilson Moreira morreu aos 81 anos nesta quinta-feira (6/9) depois de apresentar problemas renais ocasionados por um câncer iniciado na próstata.
Wilson Moreira foi autor de músicas que não ficam de fora de rodas de samba pelo País afora há anos, como “Não tem veneno” (com Candeia), “Judia de mim” (com Zeca Pagodinho), “Deixa clarear”, “Morrendo de saudade”, “Senhora liberdade”, “Goiaba cascão”, “Gotas de veneno”, “Coisa da antiga” (estas no Nei Lopes), entre outras.
Seu parceiro mais constante e de várias composições que se tornaram sucesso na voz de grandes intérpretes da música brasileira foi Nei Lopes.
Eles se conheceram nos anos 1970 através de um outro grande compositor: Délcio Carvalho. Nei trabalhava em um estúdio de jingle no centro do Rio quando foi apresentado a Wilson Moreira por Délcio – Nei Lopes já tinha admiração por Wilson como compositor.
A primeira música gravada de Wilson Moreira e Nei Lopes foi “Leonel Leonor”, interpretada por Roberto Ribeiro. Ambos deixaram mais de 300 composições gravadas e fizeram dois discos antológicos: “A arte negra de Wilson Moreira e Nei Lopes” (1980) e “O partido (muito) alto de Wilson Moreira e Nei Lopes” (1985).
Wilson Moreira Serra nasceu em Realengo, na Zona Norte do Rio. Participou do grupo Partido em 5, que contava entre seus membros com o inesquecível Candeia, com quem compôs algumas músicas – como a “Me alucina” e a já citada anteriormente.
Passou pela ala dos compositores das escolas de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e Portela.
Trabalhou por mais de 30 anos na carceragem do Complexo Prisional de Bangu. Segundo Wilson, ele era muito respeitado e chegou a salvar alguns presos da morte dentro do sistema.
Gostava também de sambas de roda, de terreiro e de Jongo. Registrou como cantor importantes composições dentro dessa vertente do samba. Foi o caso de “Yaô”, de João da Baiana, e “Benguelê”, de Pixinguinha e Gastão Viana. E também produziu composições com referências africanas.
Antes de sofrer um derrame, em 1997, afetando a mobilidade de parte de seu corpo, lançou os discos solos “Peso na balança” e “Okolofé”. Em 2002 gravou mais um disco solo e outro de temas afros com um quarteto só de percussionistas (2011).
Ano passado, apresentou projeto de financiamento coletivo de um disco de composições inéditas remetendo à sua infância, mas o trabalho não chegou a ser lançado.
Wilson Moreira deixa imenso legado à música, diariamente apresentado nas rodas de samba pelo País afora.
Fonte: GGN