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FIQUEM LIGADOS! TODOS OS SÁBADOS NA RÁDIO AGRESTE FM - NOVA CRUZ-RN - 107.5 - DAS 19 HORAS ÁS 19 E 30: PROGRAMA 30 MINUTOS COM CULTURA" - PROMOÇÃO CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC-RN

Fiquem ligados nas ondas da Rádio Agreste FM - 107.5 - NOVA CRUZ, RIO GRANDE DO NORTE, todos os sábados: Programa "30 MINUTOS COM CULTU...

sábado, 6 de abril de 2019

EDUARDO VASCONCELOS-CPC/RN PARTICIPOU HOJE (6) DE 2 PROGRAMAS DE RÁDIO!

 Eduardo Vasconcelos - nos estúdios da Agreste FM - 107.5 
Eduardo Vasconcelos por telefone participou do Programa "A Voz do Trabalhador" na Rádio Curimataú - 103.5, ambas em NOVA CRUZ!

Hoje (6), o presidente do Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, participou dos Programas A VOZ DO TRABALHADOR E NOVA CRUZ EM AÇÃO nas emissoras Curimataú e Agreste FM, ambas de Nova Cruz/RN, cujo objetivo foi para falar dos eventos acontecidos recentemente e da conjuntura política atual, entre outros.

Ás 11:30 o mesmo por telefone participou do Programa A VOZ DO TRABALHADOR na Curimataú e as 13 horas pessoalmente foi ao Programa NAÇÃO NOVA CRUZ na Rádio Agreste FM.

Em ambas, EDUARDO VASCONCELOS falou da realização do último evento promovido que foi o Seminário "COMO FICA A CULTURA BRASILEIRA SEM O MINC? (Ministério da Cultura), ocorrido dia 29 de março no IFRN de Santa Cruz, regional do Trairi, promovido pelo Centro Potiguar de Cultura, falou também sobre a DESPREVIDÊNCIA do Governo Federal, da Cavalgada do dia 1º DE MAIO, que será promovida pelo STRAF de Nova Cruz, o qual presta serviço de assessoria de comunicação, entre outros.

Eduardo Vasconcelos resumiu tudo em uma frase: " É preciso nos unirmos para nos fortalecermos e barrarmos o avanço das perdas de direitos em seu contexto geral. Concluiu, Eduardo Vasconcelos.

Alcântara é o pedaço do Brasil em que Trump manda

Racismo: Campanha da Prefeitura de Rondonópolis caracteriza negro como sujo e branco como limpo

Dois personagens de uma campanha publicitária da Prefeitura de Rondonóipolis – que se intiula como educativa – está causando polêmica no município. É que o setor público está sendo acusado de racismo institucional, pois no material impresso e eletrônico, aparecem os personagens “Limpinho” (caracterizado por um cidadão branco) e “Sujismundo” (caracterizado por um cidadão negro). Denominada de Cidade Limpa, a campanha quer ensinar boas práticas de higiene para a população local, mas é infeliz ao associar as pessoas negras com a sujeira por meio do personagem Sujismundo. Até uma pequena cartilha está sendo entregue nos bairros e nas escolas. “Imagina as crianças negras, o que devem estar vivenciando de bullyng e racismo nas escolas por conta desta campanha? Não se pode criar uma campanha desse porte desqualificando uma etnia pela cor da pele”, afirma uma nota de repúdio da Unegro Pantanal Rodonópolis, que é um instituto de negros e negras pela igualdade.
Conforme a nota, a imagem altamente racista humilha e desqualifica a população negra do município, que tem importantes contribuições na construção da cidade. “Enfatizamos que não toleramos mais o racismo e, de forma especial, o racismo institucional. A legislação é bem explícita nesse sentido: racismo é crime”, diz outro trecho. “Associar a imagem do negro como sujo, descuidado e sem higiene é sim uma atitude racista e não pode ser naturalizada a ponto de uma instituição publica como uma prefeitura fazer uma campanha em nível municipal sem pensar nas conseqüências de tal atitude para a população negra”, afirma a nota.
Luzia Nascimento, presidente da Unegro: Repúdio contra racismo institucional, que também está no site oficial da Prefeitura
Uma das partes do naterial que causa mais revolta entre as lideranças que lutam pela igualdade racial é a que aponta na parte superior do impresso um jovem branco com as seguintes frases no balão: “Oi! Eu sou Limpinho. Estamos limpando e gramando as áreas públicas”. Na parte inferior, do mesmo panfleto, um jovem negro com os seguintes dizeres: “Eu sou o Sujismundo. Eu jogo lixo em todas as partes. Eu não cuido da minha casa e nem da minha cidade”.

Assinada pela presidente Luzia Aparecida do Nascimento e demais membros da diretoria, a nota de repúdio da Unegro exige uma retratação pública do município quanto ao material que caracteriza o racismo institucional. “Os negros e negras deste município exigem respeito e e uma reparação por parte da Prefeitura de Rondonópolis. Queremos acreditar que o pefeito José Carlos Junqueira não compactua com tal ofensa à população negra porque, se assim for, teremos que recorrer ao Ministério Público e demais organismos para que faça valer a lei”, encerra a nota, citando ainda a Constituição Federal, que estabelece o princípio da igualdade nas relaçôes humans no Brasil.

OUTRO LADO

A reportagem entrou em contato com João Copetti, secretário municipal de Meio Ambiente de Rondonópolis – órgão oficial a quem cabe o trabalho de educação ambiental – e ele informou que o material foi produzido pela Secretaria de Governo(ligada diretamente ao gabinete do prefeito José Carlos Junqueira), por meio da gerência de Comunicação da Prefeitura. Entramos em contato por duas vezes com a secretária de governo Mara Gleibe Ribeiro Clara da Fonseca, no seu telefone institucional. Na primeira (11h12min) ela disse que não poderia atender, via mensagem de texto. Na segunda, meia hora depois, ela se negou a atender a chamada feita em seu telefone.

Abaixo, a íntegra da nota de repúdio da Unegro:
NOTA DE REPÚDIO
A UNEGRO PANTANAL RONDONÓPOLIS vem a público repudiar veementemente a forma racista imputada aos negros e negras na produção de material impresso da Prefeitura de Rondonópolis em campanha publicitária com cunho educativo.
É que a primeira etapa da campanha denominada Cidade Limpa realizada pela Prefeitura estampa em um panfleto dois personagens, onde o negro é caracterizado como sujo e o outro, branco, onde afirma que é o limpo.
Na parte superior do impresso um jovem branco tem as seguintes frases no balão: “Oi! Eu sou Limpinho. Estamos limpando e gramando as áreas públicas”. Na parte inferior, do mesmo panfleto, um jovem negro (em imagem retirada na internet, do doloroso e excludente período da ditadura militar) com os seguintes dizeres: “Eu sou o Sujismundo”, “Eu jogo lixo em todas as partes. Eu não cuido da minha casa e nem da minha cidade”.
A imagem altamente racista humilha e desqualifica a população negra deste município, que tem importantes contribuições na construção desta cidade. Causa espanto e revolta porque esta mesma população negra  tem respeito pela gestão atual,
que já se mostrou sensível a luta contra a exclusão e ao abandono relegado aos negros e negras por tantos anos.
Enfatizamos que não toleramos mais o racismo e, de forma especial, o racismo institucional. A legislação é bem explícita nesse sentido: racismo é crime.
Associar a imagem do negro como sujo, descuidado e sem higiene é sim uma atitude racista tão naturalizada a ponto de uma instituição publica como uma prefeitura fazer uma campanha em nível municipal sem pensar nas conseqüências de tal atitude para população negra.
 Imagina as crianças negras, o que devem estar vivenciando de bullyng e racismo nas escolas por conta desta campanha? Não se pode criar uma campanha desse porte desqualificando uma etnia pela cor da pele.
Os negros e negras deste município exigem respeito e e uma reparação por parte da Prefeitura de Rondonópolis. Queremos acreditar que o pefeito José Carlos Junqueira não compactua com tal ofensa à população negra porque, se assim for, teremos que recorrer ao Ministério Público para que faça valer a lei.
A Constituição Brasileira traz em seu artigo primeiro o compromisso com o princípio da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Ao cometer tal discriminação, o município fere a dignidade dos negros e negras deste Município. É, no mínimo, revoltante.
A UNEGRO não pode e não vai compactuar com essa forma de campanha no Município de Rondonópolis.
.                              Rondonópolis-MT, 02 de abril de 2019
Assinam:
Luzia Aparecida do Nascimento
Presidente da Unegro e
Conselheira Estadual da Igualdade Racial
Rosana Pereira de Brito
Coordenadora de Religião de Matriz Africana da Unegro
Conselheira Municipal do Conselho da Igualdade Racial
Tiago Campos
Secretário da UNEGRO
Crys Porto
Coordenadora do Conselho Fiscal da UNEGRO

4 thoughts on “Racismo: Campanha da Prefeitura de Rondonópolis caracteriza negro como sujo e branco como limpo

  1. Estamos há anos lutando contra esse tipo de preconceito e vem uma campanha dessa reforçando o racismo. É necessário ter respeito pelas pessoas.
  2. Registro meu repudio ao fato. E nao acredito que o Prefeito tenha filtrado uma aberação desta. Seria injusto imputar este desgaste ao prefeito uma vez que as pessoas a qual foram discriminadas são, na sua maioria, a base eleitotral do prefeito, como é de conhecimento de todos.
    Mas os movimentos negro de nossa cidade mostraram atuantes e que estão ligados. Parabéns
    1. Fonte: https://lupanews.com.br

PM empurra aluna com arma durante protesto em escola de Guarulhos



Um policial militar usou o cano de sua arma por pelo menos duas vezes para empurrar uma estudante do ensino médio que participava de uma manifestação em sua escola.
O caso aconteceu nessa quinta-feira (4), em uma escola de Guarulhos, na Grande São Paulo, quando os estudantes exigiam a saída do diretor da escola, que desde o início do ano impede os alunos entrarem na segunda aula.
Ontem, quando tentavam negociar com a direção da escola, os alunos foram surpreendidos com essa ação covarde da polícia, que poderia ter acabado em tragédia.
A manifestação foi realizada por alunos do turno noturno, a maioria além de estudar, trabalha, por isso tem dificuldades de chegar no horário.

PROPINA PF aponta corrupção na delegacia que investiga caso Marielle

Marielle Franco
Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados no dia 14 de março de 2018. Dois suspeitos já foram presos
Responsável pelos disparos que mataram a vereadora disse que recebeu a informação de que estava sendo investigado e se preparava para fugir.
São Paulo – A Polícia Federal encontrou evidências de atos de corrupção praticados por membros da Delegacia de Homicídios (DH), responsável pela investigação do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes. De acordo com o órgão, a delegacia impediu o esclarecimento da autoria de assassinatos que envolvem milicianos do "Escritório do Crime" e integrantes da máfia do jogo do bicho, no Rio de Janeiro.
Roni Lessa, apontado como responsável pelos disparos que mataram Marielle e Anderson, disse, após ser preso, que recebeu informação de que estava sendo investigado e se preparava para fugir.
Segundo o portal UOLao menos dois delegados estariam na folha de pagamento do "Escritório do Crime". A propina era paga na própria sede da delegacia, localizada na Barra da Tijuca, zona oeste da capital fluminense. Por determinação da Procuradoria-Geral da República (PGR), ao menos oito inquéritos da própria DH estão sob investigação.
A análise da PF sobre a presença do grupo criminoso dentro da delegacia, surgiu após depoimentos de dois delatores ouvidos por procuradores da República. Um deles, o ex-PM Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, afirmou que integrantes do "Escritório" pagavam uma mesada a alguns policiais para que as execuções praticadas pelo grupo paramilitar não fossem alvo de uma investigação que chegasse aos responsáveis pelos crimes.
A deputada federal Talíria Petrone (Psol-RJ) demonstrou sua indignação nas redes sociais.  "A quem interessa que o assassinato de Marielle e Anderson não seja resolvido? Exigimos saber quem mandou matar", publicou, nas redes sociais. 
Fonte: REDE BRASIL ATUAL - RBA
Assista a reportagem da TVT: NA MATÉRIA ABAIXO!

PF encontra provas de corrupção em delegacia que cuida de caso Marielle

GESTÃO TUCANA Corte de Doria no orçamento da Cultura pode fechar Museu Afro Brasil



museu afro
Museu Afro Brasil é conquista do povo brasileiro e da população negra do país. Sua existência e a da cultura no estado de São Paulo estão ameaçadas
por Gabriel Valery, da RBA
São Paulo – O Museu Afro Brasil, que fica no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, corre o risco de fechar as portas. O cenário é reflexo da política do governador João Doria (PSDB), que anunciou um corte de até 23% no orçamento da secretaria de Cultura do estado. Agora, os trabalhadores do museu estão mobilizados para tentar reverter tal decisão, além de estarem contando cada real na ponta do lápis para manter o mínimo do funcionamento.
O problema é que a instituição já funciona no limite desde 2015. A coordenadora do núcleo de Educação do museu, Neide Almeida, conversou com a RBA sobre o cenário de terra devastada que o corte deve deixar na cultura do estado mais rico do país. "Quando vemos uma postura como esta de um governo, vejo como um sinal de que não querem que a gente reflita, não querem questionamentos, não querem que a sociedade se posicione politicamente", disse.
O museu recebe, anualmente, 180 mil visitantes, um total de quase 2 milhões de visitantes desde 2009. Além de dezenas de exposições por ano, a entidade conta com um acervo de mais de 7 mil obras, uma biblioteca com 12 mil títulos, além de um teatro (Ruth Souza). Do total anual de visitantes, por volta de 40 mil são estudantes, o que é relevante pela relação entre cultura e educação. 
"Sabemos que, quando a cultura é atingida, como agora, a educação também é", afirma Neide. "A grande parte dos estudantes que recebemos são de escolas públicas. Quando vemos um equipamento cultural fechar, isso reflete negativamente nos processos educativos. O papel da cultura é fundamental, tanto do ponto de vista do que podemos produzir, como o que refletimos a partir da produção", completa.
Além do Museu Afro Brasil, que desempenha papel essencial na preservação e divulgação da história negra no Brasil, estão sob risco outros tantos aparelhos culturais, tais como outros museus, bibliotecas, orquestras e corais, centros culturais, companhias de dança, escolas de música, conservatórios, fábricas e casas de cultura.
O número de pessoas afetadas com o corte será um preço alto a pagar pela sociedade, ainda mais colocando na balança quanto o estado gasta com o setor. A cultura é a área com menor fatia do orçamento paulista, representando apenas 0,35%.
Em 2015, após um corte de 12%, o Museu Afro Brasil já demitiu 25 pessoas, além de ter terceirizado parte dos serviços. "Não temos margem para nada, esse novo corte vai impossibilitar nosso trabalho. Estamos estudando como poderemos lidar, mas existe sim o risco de não ser possível manter o museu aberto. É impossível bancar nossas atividades com esse impacto de quase um quarto nas verbas", disse Neide.
Para evitar o pior, os trabalhadores estão mobilizados e em busca de apoio na sociedade civil. "Nos organizamos para participar de uma audiência pública que acontece hoje (ontem, dia 4) na Assembleia Legislativa, para pensar formas de mobilização e reivindicar a revisão dessa decisão. Estamos atuando tanto por meio das redes sociais, como em contato com outros equipamentos e parceiros comprometidos para ampliar a resistência e reverter este quadro", completou.
Em nota, o museu afirma que cultura e memória são direitos dos cidadãos. "O Museu Afro Brasil, assim como todos os equipamentos estaduais de cultura – é um patrimônio de toda a sociedade. Por meio de nosso compromisso e dedicação temos assegurado à população paulista e brasileira um direito inalienável. Este museu é conquista do povo brasileiro e da população negra deste país. Sua existência, a existência da cultura no estado de São Paulo, está ameaçada. Somos contra o contingenciamento e nos levantamos para revoga-lo."
Assista reportagem do Seu Jornal, da TVT, sobre consequências dos cortes do orçamento da Cultura pela gestão João Doria, na matéria abaixo!
Fonte: REDE BRASIL ATUAL

João Doria corta 23% da verba da cultura de São Paulo

Jeosafá Gonçalves: A força simbólica das palavras

A linguagem, ou a língua, aqui tomadas como sinônimos, pode assumir, a grosso modo, duas dimensões: a pragmática (prática) e a simbólica, sendo que nem a primeira nem a segunda são puras: tanto a dimensão predominantemente pragmática está mesclada com expressões de natureza simbólica, quanto a dimensão simbólica está contaminada pela dimensão pragmática da linguagem.
Por Jeosafá Gonçalves*
A dimensão pragmática da linguagem diz respeito ao uso cotidiano e prático da língua. Nela, os sentidos das palavras estão próximos e relacionados diretamente com os significados delas no dicionário linguístico: a palavra “caneta” representa um objeto empregado na escrita que se diferencia do lápis, feito com grafite, pelo emprego de tinta. Podemos, ao ouvir ou escrever “caneta”, imaginar uma infinidade de formas, tamanhos e cores de caneta, porém a palavra está associada diretamente aos objetos possíveis de comporem um conjunto formado pelos diversos modelos de caneta. Ao chegarmos ao balcão de uma papelaria e pedirmos uma caneta esferográfica azul, o funcionário rapidamente exporá a nossa frente as que tiver para vender: escrita fina, escrita grossa, com cilindro colorido ou transparente etc. Todas, canetas.
Do mesmo modo, no uso didático, as palavras assumem por função esclarecer ideias, tirar dúvidas, exemplificar, refletir sobre aspectos da aprendizagem entre outros significados. As palavras aqui tendem a evitar duplos sentidos, buscam expressar ideias, conceitos, fórmulas, pensamentos com a maior exatidão possível, eliminando tanto quanto possível ambiguidades que induzam ao erro.
O mesmo se dá nas linguagens científica (sejam elas no campo das ciências exatas, no das humanas ou ainda no das linguagens) e informativa (ou jornalística), que também tendem à exatidão para comunicar conceitos, modelos científicos, fórmulas, fatos, sistematizar experiências ou experimentos etc.
Na dimensão pragmática o peso interpretativo é mínimo e o descritivo, máximo. Tanto que para os cientistas a partir do século XIX a ciência é antes de tudo uma descrição da realidade.
Em muitos sentidos, a dimensão simbólica é oposta à pragmática. Nela, ao contrário do que se disse até aqui, a linguagem se distancia da exatidão, as palavras se afastam de seus significados no dicionário linguístico e assumem francamente caráter ambíguo (de múltiplos sentidos).
Num romance, conto ou poema em que uma personagem está o tempo todo com uma caneta na mão a rabiscar, rascunhar, escrever, a palavra “caneta” é mais que um objeto destinado à escrita: ela simboliza todas tensões vividas pela personagem, seus sonhos, ansiedades, fantasmas, expectativas, traumas, desejos etc. etc. etc. Quando em posse dessa caneta em movimento, a personagem pode estar se sentido realizada ou torturada, em êxtase ou em sofrimento profundo, próxima do gozo ou à beira do suicídio.
Aqui o uso pragmático da linguagem cedeu espaço ao uso simbólico, que carece não apenas do dicionário linguístico, se bem que também aqui ele tenha lugar, mas de dois outros tipos de “dicionários” desordenados que estão depositados na mente e no coração do leitor: seu repertório de imagens (visuais, auditivas, olfativas, palatais e táteis) e seu repertório próprio linguístico.
Para se penetrar na dimensão simbólica da linguagem, ambos esses repertórios precisam ser ativados – e não basta isso: enquanto essa ativação não for automática e rápida, os sentidos relacionados às palavras não se constituirão no espirito do leitor (é como um computador que entrou em looping, que gira, gira, gira, mas não abre a página desejada e acaba por travar).
Embora os significados das palavras no dicionário sejam a base do sentido simbólico (afinal a palavra “caneta” significa caneta mesmo, e remete à imagem da caneta), para alcançar os infinitos sentidos simbólicos de uma palavra ou expressão (conjunto organizado delas), é preciso interpretar a palavra enquanto representação de símbolos e imagens, que remetem a sensações, sentimentos, pensamentos, ideias, conceitos, lembranças, experiências alegres ou dolorosas de vida repousadas em nosso inconsciente.
O símbolo “caneta” precisa suscitar em nossa lembrança o prazer de se ter usado pela primeira vez esse objeto. Quando nossa professora falou “Agora vocês podem usar a caneta”, foi como se tivéssemos “ficado maiores”, mais responsáveis, como se tivéssemos “crescido”. Mas também o símbolo “caneta” remete seguramente a experiências que nos fizeram sofrer, por exemplo, aquela prova em que confundimos as alternativas na hora de fazer o X e marcamos por engano as erradas, embora soubéssemos as corretas.
Quanto mais imagens lembrarmos, quanto mais mobilizarmos nosso repertório de imagens, sensações, impressões visuais, auditivas, olfativas, palatais, táteis, conceituais (ideias e pensamento), maiores nossas chances de compreendermos as palavras-símbolo, que são o alfabeto da literatura.
Se a personagem inventada logo acima, presente em um texto de ficção, o tempo todo a rabiscar, escrever, anotar, num dado momento atira a caneta contra a parede e, não contente, a destrói com pisões, não é apenas uma caneta que está sendo destruída, mas talvez um sonho de escritor, poeta e de toda uma vida. Na caneta-símbolo destruída está selado o próprio destino de quem nela depositou tanta esperança subitamente frustrada.
Se essa personagem, arrependida, recolheu a caneta, guardou-a com carinho e a substituiu por outra para ressuscitar seu sonho no papel em branco, impulsos de vida triunfaram sobre os impulsos de morte. Porém se a personagem com a destruição da caneta pôs fim a seu sonho, enterrando-o definitivamente, podemos supor e mesmo deduzir, e mesmo apostar que o caminho de sua autodestruição se abriu como a boca de um dragão infernal. Daí para frente assistiremos à degradação de alguém que tinha tudo para dar certo, mas que perdeu-se definitivamente ao perder seu sonho.
A literatura depende dessa habilidade imaginativa do leitor, que pode e deve ser desenvolvida por meio de jogos simbólicos e práticas criativas de conversão da palavra-símbolo em imagens e da associação delas com situações, sensações, sentimentos, ideias, pensamentos já vividos por nós realmente (na forma de lembranças de experiências boas ou ruins) ou simbolicamente (filmes, músicas, peças de teatro a que assistimos, ou ainda jogos, brincadeiras, diversões prazerosas em que nos envolvemos durante a vida).
Quem não consegue imaginar, não acha graça em uma personagem ou situação hilária, porque simplesmente não a viu em sua mente, por conseguinte não a sentiu em seu espírito. Como rir do que, por não conseguirmos associar a nada, sequer visualizamos ou sentimos?
A cena da personagem pisoteando a caneta pode assumir um caráter trágico. Para captar essa tragédia, precisamos visualizá-la em detalhes. Porém, o autor pode introduzir um elemento de humor para “avisar o leitor” de que, afinal, o drama da personagem não é assim tão grave, e que seus exageros um tanto ridículos representam o ridículo a que todos nós estamos sujeitos quando perdemos o controle sobre nossas emoções.
No cinema, Chaplin foi campeão em extrair o riso dessas situações constrangedoras em que nos envolvemos sem querer, que parecem o fim do mundo, quando na verdade são apenas raiva momentânea e humanamente aceitável, digna de tudo, não de lágrimas.
A interpretação envolve assim a mobilização de dois repertórios interiores, o imagético e o linguístico, numa conversão (quanto mais automática possível, melhor) de palavras em imagens e símbolos, e destes novamente em palavras, que trazem para a consciência os segredos e mistérios embutidos nas imagens e nos símbolos.
Se não captamos a piada implícita, perdemos a oportunidade de rir e de extrair do riso a possibilidade de superação da dor que mora atrás ou no fundo de cada piada. Porém para captar a ironia do riso, é preciso imaginar a cena toda e deduzir dela o ridículo, o engraçado, o vexame, o humor.
Assim, quem “não gosta” de literatura tem antes de tudo uma questão a resolver com sua própria imaginação. Sem imaginar, não dá para sentir, gozar, ter prazer – aliás, nem com literatura, nem com coisa nenhuma.
* Jeosafá Fernandez Gonçalves é doutor em Letras pela USP

Paçoca de Carne de Sol

paçoca de carne de sol é um delicioso acompanhamento que é servido em quase todos os pratos do Nordeste.
Ingredientes:
4 colheres (sopa) de manteiga de garrafa
2 cebola picadas
2 dentes de alho
2 xícaras (chá) de carne-seca dessalgada, cozida e desfiada
1 xícara (chá) de cheiro-verde
4 xícaras (chá) de farinha de mandioca
3 colheres (chá) de sal
1 colher (chá) de pimenta-do-reino
Coentro a gosto
Modo de preparo:
Em uma panela, derreta a manteiga de garrafa em fogo médio, coloque a cebola e cozinhe até dourar. Adicione o alho, a carne-seca, o cheiro-verde e refogue por 5 minutos. Espalhe a farinha, o sal, a pimenta-do-reino, misture por 3 minutos e sirva em seguida com arroz branco, feijão preto e ovos fritos. Não esqueça do aipim (mandioca) cosido e com manteiga de garrafa.

Livro resgata a história de Tebas, o escravo negro que virou arquiteto

Não há momento mais oportuno para o lançamento de Tebas – Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata(2019). Apesar dos Bolsonaros e dos Holidays da vida, é tempo pródigo à valorização da história e da cultura afro-brasileiras. O pensamento reacionário e racista tem cada vez mais visibilidade, sim. Em contrapartida, sobram exemplos de reparações a personalidades negras – e o ótimo livro sobre Tebas, organizado pelo jornalista Abilio Ferreira, vai nessa direção.
Por André Cintra
Antes de falar do ressurgimento de Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811), o “mestre pedreiro” Tebas, voltemos a um e outro episódio destes anos recentes. A lembrança mais significativa é a do escravo liberto e líder abolicionista Luiz Gama (1830-1882), que, embora nascido na Bahia, viveu e lutou em São Paulo na maior parte da vida. Sua história andava apagada, esquecida – até ser, aos poucos, recuperada.
Na década de 1850, por ser negro, Gama foi proibido de se matricular na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Conseguiu, porém, frequentar as aulas como ouvinte. Mesmo sem o registro de advogado, empenhou-se mais pela causa abolicionista nos tribunais do que qualquer profissional da Justiça de São Paulo, tendo ajudado a libertar ao menos 500 escravos pelas vias legais.
A despeito dessas proezas, foi apenas em 2015 – ou seja, 133 anos após a morte do “apóstolo negro da Abolição” – que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) lhe concedeu o título de “advogado”. Dois anos depois, a Faculdade do Largo São Francisco batizou uma de suas salas com o nome de Luiz Gama – uma deferência que, até então, a instituição prestava exclusivamente a ex-professores. Já em 2018, por lei, Luiz Gama foi declarado “patrono da abolição da escravatura no Brasil”, além de ter seu nome inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
As mulheres negras tampouco ficaram para trás. Na semana passada, o Senado aprovou a inclusão dos nomes de Dandara dos Palmares e Luísa Mahin no livro Heróis e Heroínas da Pátria. Companheira de Zumbi, Dandara foi uma das grandes líderes quilombolas do século 17. Já a escrava alforriada Luísa Mahin, mãe de Luiz Gama, participou da principal rebelião antiescravista na Bahia, a Revolta do Malês (1835). Ainda em março, a Mangueira venceu o Carnaval 2019 no Rio de Janeiro com o enredo História pra Ninar Gente Grande – que homenageia, entre outros ícones esquecidos, “Marias, Mahins, Marielles, Malês”.
Não são eventos fortuitos. Universidades tradicionais passaram a adotar obras de autoras negras como livros obrigatórias no vestibular. Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada (1960), da catadora de lixo Carolina Maria de Jesus (1914-1977), está na lista da Unicamp desde 2018. Na UFRGS, além do livro de Carolina, é cobrada a leitura de Úrsula (1859), da professora negra Maria Firmina dos Reis (1822-1917). Trata-se do primeiro romance a ser escrito por uma mulher no Brasil – e, de quebra, o primeiro a defender abertamente o abolicionismo.
Legado africano
É nesse contexto fecundo que Tebas volta a ganhar proeminência – e que seus projetos passam a ser observados com mais curiosidade e reverência. Quais projetos? Só na cidade de São Paulo, a torre da primeira Catedral da Sé, o Chafariz da Misericórdia, o frontispício da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, a pedra de fundação do Mosteiro São Bento – tudo isso passou pelas mãos e pela engenhosidade de Tebas. Em Itu, no interior paulista, esse ilustre “oficial de cantaria de pedra” ergueu o monumento Cruzeiro Franciscano, de nove metros de altura.
Dos cinco artigos que compõem Tebas – Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata, convém tratarmos inicialmente do excepcional texto de Ramatis Jacino, doutor em História Econômica pela USP. É ele quem assinala o elo entre África e Brasil presente nas construções de Tebas – mas não só. Segundo Ramatis, “já não é possível ignorar totalmente a contribuição civilizatória do continente africano”, em especial “os avanços tecnológicos e científicos desenvolvidos por nações africanas antes da chegada dos europeus”. Tebas seria, portanto, uma evidência – e não um desvio – dessa cultura singular:
Assim, a quantidade de mão de obra especializada introduzida no Brasil através da escravidão teria sido imensa e fundamental para os diversos momentos da economia brasileira considerando que aqui chegaram escravizados especialistas em plantação, colheita e beneficiamento da cana de açúcar e do café, construtores de barcos e técnicos em navegação, mineradores, vaqueiros e profissionais no abate de animais e na utilização de seu couro e carne; artesãos têxteis e químicos com conhecimento de tintas, ourives, fabricantes de sabão e marceneiros, entre outros. Estes profissionais eram classificados de “artífices mulatos” e sua presença foi grande em Minas, Rio, Bahia e Pernambuco, deixando vestígios muito evidentes de seu trabalho na música, na escultura e na pintura. Até mesmo na produção cultural erudita, como na música clássica, no teatro e nas artes plásticas os africanos e seus descendentes estiveram presentes, como ilustram expoentes que representavam a regra e não a exceção, como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, os “mestres mulatos” de Minas Gerais, o Frei Jesuíno de Monte Carmelo, de São Paulo e incontáveis anônimos, como os descritos em documentos recentemente descobertos.
Natural de Santos (SP), onde nasceu em 1721, Tebas tem uma biografia repleta de lacunas e imprecisões, a ponto de ter virado tema de um samba de Geraldo Filme (1928-1995). Fatos e mitos se alternam na letra da música – o próprio compositor paulista admitiu que não conhecia tudo que já tinha sido publicado a respeito de seu homenageado.
Em textos de sua época, Tebas é descrito como “mulato”, ainda que, por mais de um século, não pudemos cravar, com segurança, que ele passou pelo cativeiro. O fato de ter sobrenome – coisa incomum entre os negros no período colonial – seria um indício forte de que Tebas nasceu livre. Hoje, de qualquer maneira, é quase certo que Tebas foi escravizado em Santos e em São Paulo por nada menos que 57 anos – ele morreu aos 90.
Carlos Gutierrez Cerqueira, pesquisador do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), detona a dúvida. Em seu artigo para o livro, com base em fontes originais, Cerqueira demonstra que Tebas pertencia ao mestre pedreiro português Bento de Oliveira Lima, que morava em Santos. Ao se mudarem para São Paulo, senhor e cativo tinham um trunfo: sabiam usar a pedra como material de construção. Até aquele momento, “o sistema construtivo típico de serra acima era o da taipa de pilão”.
Os documentos comprobatórios da participação de Tebas em obras como a da Igreja da Ordem Terceira do Carmo indicam também o destino de nosso personagem. Com a morte de Bento, Tebas fica sob as ordens da viúva, D. Antonia Maria Pinto. Mas, “embora ainda cativo”, desfrutou “de uma situação algo diferente, favorável sobretudo ao exercício de sua profissão. Assim, o vemos contratando obras, dando garantias e, mais ainda, ele próprio recebendo os pagamentos combinados”.
Àquela altura, Tebas já era um escravo com mais autonomia. Curiosamente, sabia ler e escrever, enquanto a patroa enviuvada era analfabeta. Depois, já alforriado, ele “terá também escravos: João e Joaquim, ambos negros. Tebas, de cativo, tornara-se senhor. A sociedade escravocrata tinha lá a sua lógica e as relações escravistas se reproduziam até por suas próprias e antigas vítimas”. Cerqueira questiona: “Teria Tebas outra alternativa?”.
O profissional
A preocupação de Tebas – Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata não é, exatamente, a de reconstituir uma vida. Fruto de uma parceria entre a Idea (Instituto para o Desenho Avançado) e o CAU-SP (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado de São Paulo), o livro prioriza a faceta profissional desse “especialista na arte e na técnica de talhar e aparelhar pedras”. Razoavelmente afamado em vida, Tebas acabou por ficar “esquecido na metrópole de concreto”, conforme as palavras do arquiteto Carlos Lemos, destacadas no livro.
Uma metrópole que em quase nada faz lembrar a cidade provinciana e desinteressante do século 18, onde Tebas viveu, forjou-se “mestre pedreiro”, batalhou, foi reconhecido como “grande construtor” e deixou sua marca. A cidade detinha pouco peso econômico no País – e até mesmo no estado. Em 1780, sua zona urbana se limitava a 18 ruas e três pátios, a crer nos registros de Basílio Machado. Daí a sensação do historiador Afonso Antonio de Freitas (1870-1930) de que, após a construção da torre da Catedral da Sé, não havia em São Paulo nada que “deixasse de ser por Tebas executado”.
Este e outros depoimentos são citados no artigo inaugural do livro, assinado por Abilio Ferreira, com o título “Tebas e o tempo”. É um caprichado e minucioso levantamento cronológico das publicações e das referências mais relevantes sobre o negro arquiteto. Didático, Abilio mostra como, de 1899 a 2018, as informações sobre Tebas foram ditas e desditas, expostas e ocultadas, reiteradas e corrigidas.
É um capítulo fartamente documentado. Ao chegar aos anos recentes, o autor dá a entender que o reconhecimento a Tebas, ao menos em São Paulo, tem alicerces mais sólidos, como suas construções de pedra. Dois exemplos: 1) em 2015, foi aprovada a lei municipal que incluiu no Calendário Oficial da Cidade a “Festa de Tebas”, a ser celebrada anualmente, em 25 de janeiro; e 2) em 2018, o construtor negro passou a integrar, postumamente, o quadro associativo do Sindicato dos Arquitetos no Estado São Paulo (Sasp), o que ratifica sua condição de arquiteto.
Presidente do Sasp, Maurílio Chiaretti frisa, em seu artigo, “a necessária revisão da profissão de arquiteto e urbanista”. A seu ver, o caso do escravo que se tornou um expoente da arquitetura serve como paradigma: “Há milhões de Tebas na construção civil – pedreiros, serventes, encanadores, eletricistas, carpinteiros, marceneiros, vidraceiros e muitos outros – que permanecem esquecidos tanto nos patrimônios arquitetônicos tombados como no debate da produção urbana”.
Mas o negro arquiteto, posto tudo isso, não deixa de ter peculiaridades. “Tebas foi um dos poucos escravizados a se alfabetizar e a conquistar a alforria pelo reconhecimento do valor do seu trabalho. Seu preço não era mensurado pela sua força física, mas pelo domínio de uma técnica”, enaltece Chiaretti. Ao endossar a opinião do arquiteto Benedito Lima de Toledo, o sindicalista afirma que Tebas “aprimorou, nas cidades de São Paulo e de Itu, tecnologias que lhe possibilitaram captar a religiosidade da época”. Foi justamente essa “expressão da religiosidade” que “o transformou em arquiteto e suas obras, em arte”.
Como isso foi possível? O presidente do Sasp arrisca uma resposta: “A formação (…) que Joaquim Pinto de Oliveira Tebas recebeu do seu primeiro senhor, o mestre-pedreiro Bento de Oliveira Lima, além de representar uma contradição do regime escravista, pode também ser vista como a sua faculdade. Mas ele foi além: não apenas se tornou um juiz de ofício de sua especialidade, membro de uma espécie de Conselho de Arquitetura e Urbanismo da época, como também compreendeu a realidade complexa do seu tempo lutando por liberdade. Miremo-nos no exemplo”.
O “mito” e a “figura histórica”
Cabe sublinhar, por fim, que documentos do século 18 e 19 carecem, volta e meia, de fidedignidade – o que ajudou a postergar as reparações a Tebas. O capítulo sobre o Chafariz da Memória, da lavra de Emma Young, doutoranda em História do Meio Ambiente pela Universidade de Nova York, aposta nessa tese. A obra, feita de pedra e inaugurada em 1792, no Largo da Misericórdia, foi um sistema pioneiro de abastecimento público de água na cidade e, ainda, “o primeiro monumento a embelezar São Paulo”.
Segundo a autora, há vários documentos disponíveis sobre o “Chafariz do Tebas” – de ordens e correspondências do governador até estudos sobre a qualidade das águas do Rio Anhangabaú. Nessa papelada, porém, falta a contribuição do negro arquiteto. “O mito em torno da vida de Tebas revela e reforça a co-construção de processos socioculturais e ambientais que desvalorizam a vida negra há muito tempo em São Paulo”, denuncia Emma. “A desconstrução de narrativas mitificadoras e de negação histórica torna visível a violência que tornou Tebas um mito, e não uma figura histórica.”
Para nossa sorte, iniciativas como Tebas – Um Negro Arquiteto na São Paulo Escravocrata facilitam a tarefa de separar realidade e mistificação. De resto, está na hora de a CAU-SP formalizar o registro de Tebas como arquiteto, à semelhança do que a OAB fez com Luiz Gama. Como a grande mídia segue oligopolizada e conservadora, é preciso que mais e mais universidades se abram ao estudo das contribuições dessas inúmeras, valorosas e inspiradoras personalidades negras. Abertura para isso existe. E, se faltava motivação ou pretexto, o bolsonarismo está aí para provar que conhecer a História nunca é demais.
Brasil Cultura