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quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Festival é referência na exibição de documentários brasileiros

Em tempos de fake news, a verdade anda mais em voga do que nunca. Que o diga Amir Labaki, que dirige há 23 anos o festival de documentários É Tudo Verdade, realizado com apoio da Lei Rouanet. “Há um crescimento do cinema de fato, porque há um crescimento da literatura de fato, com tantos livros de história, biografia, ensaios; temos a música de fato, que é o rap. Esse é um movimento que é, ao mesmo tempo, estético e cultural, de modo que essas produções de fato funcionam como uma janela para o mundo”, diz o crítico de cinema sobre a atual tendência de se retratar o factual nas artes.
No caso dos documentários, esse vetor tem se intensificando há, pelo menos, duas décadas, quando o mercado sofreu um boom. Na década de 90 do século passado, a produção documental já não conseguia ser absorvida pelos festivais de cinema tradicionais e, então, foram criados os grandes festivais do gênero, como o próprio É Tudo Verdade. “Naquele momento, nós vimos que havia uma oportunidade, pois, de um lado, havia um grande número de documentários sendo produzidos e, de outro, uma demanda do público que queria assistir a esse tipo de filme”.
Foi assim que, depois de ter sido diretor do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, entre 1993 e 1995, Amir organizou a primeira edição do festival, em 1996. “Fizemos pequenininho mesmo, no Rio e em São Paulo, sem mostra competitiva, mas já com uma parte dedicada à retrospectiva. Foi um grande sucesso”. Desde então, o festival passou a ter mostras competitivas, nacionais e internacionais, para curtas e longas-metragens. Durante todos esses anos, foram mais de 2 mil filmes exibidos e 75 premiados.
Reconhecimento Internacional
Além de ser o mais antigo festival latino-americano do gênero, o É Tudo Verdade é considerado o mais importante da região. Mais do que contar com o reconhecimento de diretores e produtores do setor, o festival é um dos poucos no mundo que estão habilitados a qualificar filmes para o Oscar. Desde 2016, o curta vencedor da mostra competitiva se qualifica para concorrer a uma vaga entre os indicados ao prêmio da Academia nesta categoria. Em 2018, veio a mesma qualificação, só que para o longa-metragem vencedor da mostra competitiva. “Estamos entre os 28 festivais que qualificam documentários para o Oscar. Esse é o reconhecimento da nossa importância para o mercado internacional e que também consolida o prestígio do documentário brasileiro e latino-americano”, afirma.
De acordo com o Amir, o Brasil tem uma longa tradição na produção de documentários, pois, em geral, os diretores de ficção costumam se enveredar pelas vias documentais. Essa dupla atuação garantiu que a produção nacional nunca caísse. “Até mesmo em épocas com baixa produção de filmes de ficção, como no fim do governo Collor, por exemplo, continuou-se a produzir documentários”, conta Amir.
Memória e resignificação
Para resgatar parte dessa vasta produção que não tenha chegado ao público, desde a primeira edição, o festival tem uma mostra retrospectiva, que divulga trabalhos muitas vezes esquecidos e até mesmo inéditos. Em 2002, por exemplo, o documentário Wilsinho Galiléia, dirigido em 1978 pelo aclamado diretor João Batista de Andrade, foi exibido ao público pela primeira vez. Ele integrou a mostra sobre o Globo Repórter. “Houve uma época em que a direção do programa contratava documentaristas brasileiros para produzir seus episódios, como Eduardo Coutinho, Jorge Bodanzky e Hermanno Penna. Grande parte desses filmes estavam parados no acervo da Globo e alguns encontravam-se com seus realizadores, como é o caso do filme sobre Wilsinho Galiléia”, diz Amir. “Tivemos que localizar cópias em acervos pessoais”, completa o diretor.
Outra história marcante para os organizadores do festival foi a realização de uma mostra dedicada a um dos grandes nomes do documentário no mundo, Marcel Ophüls. Realizador de inúmeras obras, entre elas O Viajante, A Memória da Justiça e A Tristeza e a Piedade, ele era conhecido no meio como sendo de personalidade difícil. Ainda assim, a direção do festival insistiu em dedicar a retrospectiva de sua segunda edição a ele. Para surpresa dos organizadores, a resposta positiva veio no dia seguinte ao envio do convite, por fax.
“O Marcel tinha estado uma única vez no Brasil, no início dos anos 80, e, naquela ocasião, teve seu relógio roubado nas areias de uma praia no Rio. Então ele tinha essa visão do País, de ser um paraíso tropical, mas também tinha a memória de um acontecimento negativo. Ele viu no Festival uma oportunidade de voltar aqui e de se reconciliar com o Brasil e, por isso, aceitou imediatamente o convite. Ele veio, chegou via Rio, fomos até a praia, caminhamos, tomamos uma caipirinha. Ele foi um gentleman, um convidado perfeito durante todo o festival”, conta Amir.
Fazendo escola
Para Roberto Berliner, diretor de filmes e documentários como Benzinho (2018), Gabriel e a Montanha (2017), Nise (2016) e Serra Pelada (2013), o festival é essencial para o mercado documental, pois permite estar em contato com o que há de melhor na produção documental nacional e internacional. “O que o festival faz é uma disseminação do saber, essencial para o nosso ofício. Ele é a nossa escola, onde se formaram vários documentaristas brasileiros. Acho que posso falar em nome de todos eles, quando expresso a minha admiração. É um verdadeiro tesouro”, completa.
De acordo com Berliner, os documentários antes ficavam relegados a segundo plano e, com o festival, ganharam relevância, mudaram de patamar. “Além das exibições, o festival ainda promove debates, rodadas em que podemos fazer contatos. Não há documentarista no Brasil que não tenha bebido dessa fonte. Na época do festival, se eu pudesse, parava tudo só para acompanhar a programação”, conclui.
Apoio
Ao longo de seus 23 anos de existência, o festival É Tudo Verdade contou com o apoio do Ministério da Cultura (MinC) em 21 edições. Para as cinco últimas edições, os organizadores conseguiram captar por meio do mecanismo de incentivo fiscal, Lei Rouanet, R$ 6,6 milhões. Cabe ressaltar que toda a programação do festival é gratuita, tanto no Rio quanto em São Paulo. Desde 2006, ano em que a organização começou a estimar seu público, mais de 300 mil pessoas já assistiram aos filmes exibidos em suas mostras.
A próxima edição do festival será de 4 a 14 de abril de 2019. A inscrição de filmes para a mostra competitiva será de 5 de setembro a 7 de dezembro deste ano.
Fonte: BRASIL CULTURA