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sábado, 4 de maio de 2019

Exposição fala de fatos e pessoas, sobretudo dos artistas que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade

O Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, gerida pela Associação Museu Afro Brasil – organização social de cultura, abre no dia 7 de maio, terça-feira, às 19h, a exposição “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”, com curadoria de Emanoel Araújo. 

“Essa exposição fala de alguns fatos e pessoas, sobretudo dos artistas, dos homens e das mulheres. Mulheres que fizeram da Bahia essa mágica, inusitada e preciosa cidade, de todos os santos, de muita sensualidade e de pouco pudor, que se esvai pelas ladeiras e ruas sinuosas”, declara Emanoel Araújo. 

O núcleo central da mostra que homenageia a cidade da Bahia, suas personagens e imaginário, é composto pelo modernismo baiano, aqui representado por uma robusta seleção de telas de Carlos Bastos (1925 – 2004), tapeçarias de Genaro Antônio Dantas de Carvalho (Salvador, Bahia, 1926 - 1971), esculturas em ferro ou “ferramentas de santo”, ligadas à religiosidade afro-brasileira, de José Adário dos Santos (1947), esculturas e gravuras de Rubem Valentim (1922 – 1991), além de jóias de Waldeloir Rego (1930 – 2001). 

A representação da baiana está presente na escultura de Noêmia Mourão, nos vestidos de renda Richelieu, além de dezenas de bonecas de cerâmica, madeira e louça. Carmen Miranda, a “pequena notável” que celebrizou a figura da baiana mundo afora, é também homenageada com a exibição de fotografias de revistas, iconografia em porcelana esmaltada, além de um vestido original. A seção inclui ainda fotografias de outras baianas ilustres como Marta Rocha (1936), Mis Brasil em 1964, e Helena Ignez, musa do Cinema Novo. 

Fotografias e pinturas de personalidades baianas do século XX como o escritor Jorge Amado (1912 – 2001), o compositor Dorival Caymmi, aqui homenageado em painel da artista Regina Silveira, Mãe Menininha do Gantois (1894 – 1986), entre outros, se somam aos bustos em gesso patinado dos alfaiates João de Deus do Nascimento e Luiz Gonzaga das Virgens, e dos soldados Lucas Dantas Amorim Torres e Manoel Faustino dos Santos Lira, realizadas em 2004 pelo artista Herbert Magalhães. Estes são heróis da Revolta dos Alfaiates, também conhecida como Conjuração Baiana ou, ainda, Inconfidência Baiana, revolta social de caráter popular ocorrida em 1798, inspirada pelo ideário da Revolução Francesa.

A expressão baiana da arte barroca, que no Brasil diferenciou-se da matriz europeia, não poderia ficar de fora da curadoria. Emanoel Araújo reúne nessa seção fotografias de Silvio Robatto, Davi Glatt, óleos sobre tela de pintores baianos do século XVIII como Joaquim da Rocha (1737 – 1807), Teófilo de Jesus (1758 – 1847) e Veríssimo de Freitas (1758 – 1806), azulejaria, livros e revistas, além de um extenso panorama da cidade de Salvador feito por Floro Freire. A exposição conta ainda com um conjunto de fotografias de Mário Cravo Neto e aquarelas do século XIX da artista inglesa Maria Graham (1785 – 1842), retratando o cotidiano das baianas de Salvador.

“A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também” reserva ao público a projeção de filmes ligados ao imaginário baiano como: “Barravento” (1962, 80 min., p&b), dirigido por Glauber Rocha; “Bahia de Todos os Santos” (1960, 101 min.), com direção de Trigueirinho Neto, além da série de documentários do projeto “Centenário de Alexandre Robatto Filho – Pioneiro do Cinema na Bahia”, que conta com os filmes “Entre o Mar e o Tendal” (1952-1953), “Xaréu” (1954), “Vadiação” (1954), Igreja” (1960), “Desfile dos 4 séculos” (1949), “O Regresso de Marta Rocha” (1955), “Um Milhão de KVA” (1949), “A Marcha das Boiadas” (1949), “Ginkana em Salvador” (1952), e “Os Filmes que Eu Não Fiz” (2013).

Serviço:
Mostra: “A cidade da Bahia, das baianas e dos baianos também”
Curadoria: Emanoel Araújo
Abertura: 07 de maio, terça-feira, às 19 horas
Período expositivo: de 08 de maio a 1° de setembro de 2019

Fonte: Museu Afro Brasil

Artista mais perseguida pela ditadura era escritora lésbica e popular


Cassandra Rios (1932-2002) era um fenômeno literário. Com sua literatura prolífica e pioneira – uma obra de ficção fortemente marcada pelo conteúdo lésbico –, ela vendia milhões de livros. Porém, sob a ditadura militar (1964-1985), tornou-se a artista mais perseguida do País. Teve nada menos que 36 obras censuradas. Um único livro de sua autoria, Eudemônia, foi alvo de 16 processos judiciais. Nem sequer a classe artística – mais unida, à época, contra a barbárie – saiu em defesa da escritora.
A escritora Cassandra Rios, em dois momentos: ao comparecer para interrogatório em 1962, sob acusação de escrever livros “imorais” <i>(à esq.)</i>; e logo após ser absolvida, em 1964 <i>(à dir.)</i> A escritora Cassandra Rios, em dois momentos: ao comparecer para interrogatório em 1962, sob acusação de escrever livros “imorais” (à esq.); e logo após ser absolvida, em 1964 (à dir.)
Conhecida como “papisa da homossexualidade”, “grande pornógrafa” e “safo de Perdizes”, Cassandra foi a primeira mulher a alcançar a marca de 1 milhão de exemplares vendidos, ainda em 1970, no auge da repressão. Naquela década, passou a vender 300 mil livros por ano. Tudo isso num período em que, por conta do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), a censura à sua obra se intensificava.
Cassandra morreu com a reputação de “escritora maldita”, em 2002, num 8 de março, Dia Internacional da Mulher. “Nenhuma de suas obras está nas livrarias, mas são comuns em sebos e em saldões”, registrou o Estadão. Conforme o jornal, a artista “misturava em suas obras homossexualismo feminino, cultos umbandistas, negócios e política, combinação que não respeitava o ‘bom gosto’ que o regime militar desejava preservar”.
“Cassandra falava às claras sobre o prazer feminino. Talvez por isso tenha sido uma das personalidades mais censuradas”, escreveu o escritor Marcelo Rubens Paiva num obituário digno da escritora. “Tratava-se de uma mulher escrevendo sobre tesão de mulher, numa sociedade cuja predominância religiosa afirmava que a mulher apenas se deitava com um homem para gerar filhos de Deus.”
Rubens Paiva vai além: “Seus livros surpreendiam. Cassandra rivalizava com uma outra autora erótica e sua contemporânea, Adelaide Carraro, assim como Hemingway rivalizou com Scott Fitzgerald. Enquanto Cassandra tinha um estilo mais ousado, extrovertido, Adelaide era linear, contida. Em Cassandra, há empresários corruptos, que fazem despachos em terreiros de umbanda.
Sua trajetória foi levada ao cinema em 2013, depois de sua morte, no documentário Cassandra Rios – A Safo de Perdizes. Com a Comissão Nacional da Verdade (CNV), a história da escritora paulistana voltou ainda mais à tona. Conforme o relatório final da CNV, a produção literária da autora “nada agradou os cães de guarda da moral e dos bons costumes”.
Homofobia
A despeito do clima de “guerra fria”, a perseguição, nesse caso, pouco tinha a ver com ofensiva anticomunista do regime. Os preconceitos homofóbicos embutidos na ideologia moralista adotada pela ditadura infiltravam todos os espaços em que o estado de exceção operava. Embora já houvesse a censura da imprensa e de outros meios de comunicação e expressão antes do Golpe de 1964, a preocupação em “moralizar o país” reforçou a intervenção do Estado no controle da cultura sob diversos aspectos.
Um dos casos mais graves e dramáticos de censura durante esse período que merece registro foi justamente a campanha contra as obras de Cassandra. As acusações iam sempre no sentido de que seus textos continham conteúdo imoral e aliciavam o leitor à homossexualidade. Os danos financeiros para ela e suas editoras eram enormes – as forças da repressão e censura retiravam suas obras das livrarias e apreendiam livros nas gráficas.
Infelizmente, artistas e intelectuais que geralmente se mobilizavam contra atos arbitrários da ditadura não chegaram a se solidarizar com Cassandra Rios em sua luta interminável contra a censura, provavelmente por causa do conteúdo das suas obras. Daí a conclusão da CNV: “Pode-se afirmar que Cassandra Rios foi a artista mais censurada deste país durante a ditadura militar”.
Livros, jornais, peças de teatro, letras de músicas e filmes sofreram censura durante o regime autoritário. Representantes do governo exigiam a eliminação de personagens gays e lésbicas ou cenas, diálogos ou frases “imorais”. Mas a televisão talvez tenha sido o alvo prioritário dos guardiões da “moral e dos bons costumes”. A expansão dramática das redes de TV em escala nacional e seu alcance entre todas as camadas sociais criaram um meio de comunicação que dominava o consumo de cultura no país.
A ditadura instituiu o Código Brasileiro de Telecomunicações e a Lei de Imprensa, ambos de 1967, bem como a Lei de Segurança Nacional, de 1969. Tais medidas ofereceram instrumentos formais e legais para controlar o acesso à informação e as possibilidades de moldar o conteúdo de programação dentro dos estreitos parâmetros ideológicos do regime.
A música Homossexual, de Luiz Ayrão, foi censurada por uma funcionária de nome Eugênia com os seguintes dizeres: “Não aprovo, pois a propaganda do homossexualismo é proibida pela Lei Censória”. A observação contou com respaldo de dois funcionários que vistaram o despacho, proferido em 11 de abril de 1972. Os dois censores concordaram com a opinião de Eugênia, apondo um “de acôrdo (sic)”.
A visão moralista das censuras tinha apoio de parte significativa da sociedade civil – e não vinha somente das senhoras religiosas que se mobilizaram em marchas a favor do golpe em 1964. Os “defensores da civilização cristã” apelavam para a Divisão de Censura de Diversões Públicas para proibir material por eles considerado imoral, como mostra o historiador Carlos Fico em seu trabalho sobre o tema.
Houve uma dinâmica na qual o ministro da Justiça Armando Falcão exigia “ação mais enérgica” contra tudo e todos que, a seus olhos, “ameaçam destruir os valores morais da sociedade”, “contra os que desejam promover a subversão social, por meio de impactos negativos lançados na mente da juventude”. Ao mesmo tempo, funcionários da Censura de Diversões Públicas se encarregavam espontânea e diligentemente de zelar para que nada sequer parecesse desrespeitar símbolos da religião e dos valores hegemônicos.
Bornay, Denner e Clodovil
A dinâmica de controle ideológico era internalizada, consagrando a lógica repressiva em uma cultura política disseminada nesses espaços. Talvez o exemplo mais emblemático das campanhas contra a homossexualidade na TV tenham sido as medidas tomadas em 1972 para retirar várias figuras famosas e efeminadas dos programas de auditório, onde elas participavam sobretudo como membros de júris.
Os trejeitos femininos e exagerados de Clóvis Bornay, um candidato conhecido nos concursos de fantasias de Carnaval no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e de Denner Pamplona Abreu e Clodovil Hernandez, costureiros de mulheres da elite, serviam para provocar humor e gozações entre o público, sendo parte importante da popularidade desses programas. Os críticos à sua presença na televisão insistiam que “Denner é a negação da masculinidade, sem firmeza de caráter, cuja presença na televisão prejudica a formação da juventude”.
Para um jornalista da revista Veja, que escreveu sobre as expulsões dos programas de TV pela pressão da censura, “os exageros e o deslumbramento típicos da classe começaram a dar a uma parte do público a impressão de que um lépido e perigoso exército estava tomando conta da TV”. Mesmo não sendo opositores públicos do regime militar, eles eram vítimas das campanhas contra a homossexualidade e, especialmente, contra representações de comportamentos que fugiam das noções tradicionais de gênero.
A forte pressão da censura sobre os meios de comunicação foi uma constante durante o governo Médici. Mas, mesmo na distensão e na abertura dos governos de Geisel e Figueiredo, a censura seguia perseguindo pessoas que ofereciam uma visão mais tolerante da homossexualidade – ou que, ao menos, não a ligavam com opiniões depreciativas. Foi o caso de Celso Curi, jornalista do jornal Última Hora, de São Paulo, que publicou “A coluna do meio” entre fevereiro 1976 e novembro de 1977, dirigida a leitores gays.
Curi foi processado por “promover a licença de costumes e o homossexualismo especificamente”. Na denúncia que a Promotoria Pública ofereceu ao juiz de Direito da 14ª Vara Criminal da Comarca de São Paulo, o Estado alegou que “o homossexualismo é claramente exaltado, defendendo-se abertamente as uniões anormais entre seres do mesmo sexo, chegando inclusive a promovê-las através da seção Correio Elegante”, que funcionava para ajudar jovens a se conhecerem.
Como no caso de Cassandra Rios, os setores mais amplos de oposição à ditadura não se mobilizaram na defesa de Curi – que só foi absolvido em março de 1979. Enquanto Curi respondia a um processo em São Paulo, inquérito criminal foi instaurado, também em São Paulo, no ano de 1978, contra os 11 jornalistas da revista IstoÉ responsáveis pela matéria “O poder homossexual”, sob a acusação de “fazer apologia malsã do homossexualismo”. No mesmo ano e na mesma cidade, outro inquérito criminal foi instaurado contra os jornalistas da revista Interview por matéria de conteúdo homossexual.
O jornal Lampião da Esquina
As ameaças recorrentes do Estado contra conteúdos jornalísticos que retratavam a homossexualidade “positivamente” ou de forma não pejorativa não tiveram o condão de impedir a fundação do jornal Lampião da Esquina. Seu número zero foi lançado em abril de 1978, precisamente com o caso de Celso Curi na capa. Em outubro, o jornal entrevistava ninguém menos que Cassandra Rios, já reconhecida como a primeira mulher a alcançar a marca de 1 milhão de exemplares vendidos.
Entre outros casos, Cassandra recordou a perseguição sofrida por conta do romance A Volúpia do Pecado – que era anterior à própria ditadura. “Me acusaram de atentado à moral e aos bons costumes. Isso em 1954. No livro, a homossexual é simplesmente aquilo que ela quer: ela enfrenta seus problemas, que todo o mundo os tem, mas no final é feliz”, declarou a escritora paulistana.
Primeiro jornal que defendia abertamente os direitos dos homossexuais, o Lampião imediatamente incentivou a formação do primeiro grupo de ativistas no país, que adotou o nome Somos: Grupo de Afirmação Homossexual. Os agentes da repressão acompanharam de perto tanto o impacto do jornal Lampião quanto o emergente movimento.
Um agente do CIE escreveu: “pode-se estimar alto interesse comunista no proselitismo em favor do tema [da homossexualidade]”. Dada a repressão contra jornalistas da grande imprensa, não houve grandes surpresas quando os editores do jornal Lampião – jornalistas, escritores, professores e artistas – começaram a sofrer pressões e assédios.
Em agosto de 1978, o jornal foi alvo de inquérito policial que durou 12 meses, com a ameaça de serem enquadrados na Lei de Imprensa, segundo a qual eles poderiam receber até um ano de prisão por atentar contra a “moral e os bons costumes”. No dia 2 de abril de 1979, cinco editores compareceram à sede da Polícia Federal do Rio de Janeiro para serem indiciados criminalmente.
Editores de São Paulo também foram indiciados criminalmente. Na mesma época, várias bancas de jornal em diferentes cidades do país foram vítimas de bombas de grupos direitistas que deixaram panfletos anônimos exigindo que os jornais alternativos ou revistas pornográficas, entre os quais o jornal Lampião, parassem de ser vendidos.
O processo foi posteriormente arquivado por sentença do juiz da Vara Federal da Seção Judiciária Federal do Rio de Janeiro. Mas a tentativa de silenciar uma voz nacional importante do incipiente movimento homossexual afetou o funcionamento do jornal – e foi um dos fatores que levaram os editores a fecharem o periódico em 1981.
Quantos jovens se mataram?
Hoje em dia, com a ausência de censura do Estado sobre a imprensa e a internet, que oferece uma variedade de fontes de informação ao público, é difícil entender o significado e os efeitos da censura nas vidas de jovens gays e lésbicas, que viviam a experiência política de uma ditadura e que, pessoalmente, estavam descobrindo sua sexualidade. No entanto, a falta de modelos positivos na mídia para contrapor os preconceitos e os estereótipos tradicionais foi um legado da ditadura para a homolesbotransfobia ainda atual em nosso país.
A perseguição ocorria justamente num momento em que, na Europa e nos Estados Unidos, novos discursos e imagens da homossexualidade circulavam – e também quando movimentos surgiram para contestar conceitos conservadores (para não dizer reacionários) sobre gênero e sexualidade. A censura bloqueava o acesso do público brasileiro a essas novas ideias.
Os precursores desse movimento, que tinham a coragem de enfrentar a ideologia homofóbica da ditadura, precisavam encarar o aparelho do Estado consolidado por meio da censura e do sistema de justiça, criminalizando desejos, perspectivas e opiniões sobre a homossexualidade. Quantos jovens se mataram por não ter entendido sua sexualidade e por não terem tido acesso a informações sobre essa questão?
É uma pergunta de difícil resposta, mas resta claro que a censura serviu como instrumento para a prática de violações de direitos humanos durante a ditadura militar.
Da Vermelho – Redação, informações de agências e da Comissão Nacional da Verdade

Justiça dá 30 dias para Kleber Mendonça Filho devolver R$ 2,2 milhões aos cofres públicos

O diretor de “O Som ao Redor” e “Edifício Aquarius” disse ser alvo de perseguição política em função de suas críticas ao golpe de 2016 durante um festival de Cannes e a atual política cultural do governo Bolsonaro
O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho, autor de filmes como “O Som ao Redor” e “Aquarius”, terá um mês para devolver cerca de R$ 2,2 milhões aos cofres públicos. Sua condenação foi publicada nesta sexta (3), no Diário Oficial da União.
O processo se refere à verba recebida para a produção de “O Som ao Redor” (2012), seu primeiro longa. Na época, o filme venceu um edital de 2009 do extinto Ministério da Cultura, que determinava que só seriam aceitos “projetos com orçamento de, no máximo, R$ 1,3 milhão”. O ministério daria R$ 1 milhão e o restante da verba poderia ser captado com outras fontes, inclusive públicas.
A produção do longa enviou para a Ancine (Agência Nacional do Cinema) um orçamento no valor de R$ 1.494.991 —15% superior ao limite máximo. Isso porque, após vencer o edital, o filme redimensionou seus custos para cerca de R$ 1,9 milhão. A discrepância entre o custo total do filme e o limite permitido pelo edital foi detectada pela área técnica da Ancine e reportada ao MinC em 2010.
No total, o filme acabou captando R$ 1,7 milhão. O valor saltou para R$ 2,2 milhões após atualização de valores que soma o que foi recebido pelo cineasta em duas parcelas, em dezembro de 2009 e janeiro de 2010, com atualização monetária e juros de mora.
Em abril, quando saiu a condenação, o cineasta disse ser alvo de perseguição política em função de suas críticas ao golpe de 2016 durante um festival de Cannes (foto) e a atual política cultural do governo Bolsonaro. “Não sou o primeiro nem o último artista a ser atacado pelo grupo de pessoas que está no poder. Não é novidade”, afirmou na ocasião ao jornal O Globo.
Há exatamente um ano, o diretor escreveu uma longa carta aberta dirigida ao então ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, em que cobrava diálogo diante da notificação do órgão que determinava a devolução de R$2,2 milhões referentes a recursos captados para o longa “O Som ao Redor”.
Na carta, ele explicou que “os recursos complementares foram captados no âmbito estadual, através do Edital de Audiovisual do Funcultura de 2009 no valor de R$ 410.000,00, sendo que esse valor foi devidamente declarado e autorizado pela ANCINE, após comunicação entre as duas instituições (Ancine e Secretaria do Audiovisual)”, disse.
O diretor contextualiza ainda, na carta, o cenário hostil atual para artistas no Brasil e sustenta que “não trata-se de uma questão privada, mas de liberdade de expressão”.
Com informações da Folha

Você conhece a história do Sertanejo?

Representando trabalhadores rurais e as periferias urbanas, convidamos você a entender mais sobre essa cultura estigmatizada.

Ritmo surgido no sertão do sudeste brasileiro e depois espalhado por todo o Brasil, o sertanejo é atualmente o estilo musical mais popular do país. A cultura sertaneja tem indumentária, costumes e comidas típicas, mas encontra sua representação mais notória na musica. Ritmo que representa a vida do homem do campo e da periferia urbana, os hábitos representam estados como São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Mato Grosso.
Despontado nas roças do interior paulista ao cantar os causos diários dos caipiras, a primeira vez que uma música sertaneja foi grava foi em 1929, por Cornélio Pires.
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1ª era, Música Caipira: Letras evocavam o modo de vida do homem do interior (muitas vezes em oposição à vida do homem da cidade), as duplas Torres e Florêncio, Tonico e Tinoco, Vieira e Vieirinha são expoentes dessa fase.
2ª era: Teve início após a 2ª Guerra Mundial, com a incorporação de estilos como polca europeia. A temática vai tornando-se gradualmente mais amorosa, conservando ainda sim um caráter autobiográfico. Milionário e José Rico eram destaques com inclusão de violino e trompete.
3ª era, Sertanejo Romântico: Guitarra elétrica e country norte-americano chegam. Sérgio Reis, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo e Luciano, Rionegro e Solimões, Chrystian & Ralf, João Paulo & Daniel e muitos outros estouram falando de solidão e isolamento.
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4ª era, Sertanejo Universitário: Falando de um amor que vai dar certo, as canções com sintetizadores ganham espaço. São consideradas mais simples, mas arrebatam a nação. Gusttavo Lima, Jorge & Mateus, Cristiano Araújo, Luan Santana, Henrique & Juliano, são alguns nomes.
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BÔNUS – Feminejo: Ter mulheres no Sertanejo não é novidade, mas cantar os mesmos temas dos homens sim. Bebedeira e pegação estão nas vivências femininas agora é sobre isso que Marília Mendonça, Maiara e Maraísa e Simone e Simaria cantam.
Tudo isso acompanhado da Dança Sertaneja, uma variável da Dança de Salão faz da música sertaneja um ritmo complexo, em constante evolução e aberto a outros ritmos, como forró, funk, samba e vanerão.
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Assim como todos as outras expressão artísticas, o sertanejo reflete uma sociedade – com caracteristicas machistas, racistas, territoriais e precisam ser quebradas.
Agora é com você: Qual sua relação com o sertanejo?

Fonte: Mídia Ninja

Antunes Filho: morre o homem, fica o método

O mais importante diretor de teatro brasileiro construiu, como se fosse uma religião, metodologia exímia para formar bons intérpretes.
Por Sérgio Maggio*
Seria natural num texto de despedida de um grande nome do teatro brasileiro que se elencasse aqui os feitos sobre as tábuas do palco. Recuperar, em palavras escritas, a genialidade do aqui e agora que se foi no exato instante que as cortinas se fecharam. Com Antunes Filho, esse procedimento seria pequeno e incapaz de reter a grandiosidade do seu legado ao teatro brasileiro.
Antunes Filho poderia ter ficado na zona de conforto que se formou em torno de si, quando foi servir cafezinho no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e aprendeu com os diretores estrangeiros a engenharia da encenação. Havia ali, sobretudo, admiração em especial por Ruggero Jacobbi, o italiano mais esquerdista de todos.
Conheceu na grandiosidade importada do TBC o que viria a se tornar a geração de ouro do teatro brasileiro. Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis, Cacilda Becker, Tônia Carrero, Sergio Britto, Leonardo Villar, Raul Cortez. Seguir o caminho ao lado deles seria encontrar o “porquinho de ouro” para a engorda, como costumava dizer quando ficava diante de um ator promissor.
Ao contrário, depois da peça-marco Macunaíma, de 1978, um dos beijos na boca mais gostosos entre o teatro e a brasilidade, virou as costas à tendência febril de montar projetos e assentou-se em sua pesquisa com não-atores ou intérpretes em formação no Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), abrigado desde então no Sesc.
“Suas primeiras e históricas explosões como encenador foram, aos poucos, retiradas de cena, e, com obstinação e criatividade únicas nasceu um Antunes celular, intrínseco e incubo”
Fernanda Montenegro, atriz
Foi esse Antunes que formou, ao menos, três gerações de atores brasileiros de forma obstinada, missionária, espiritual e rigorosa como se fosse quase uma religião a ser seguida. Era preciso entregar a alma (e a lombar) ao guru para experimentar um estado de consciência ímpar no teatro brasileiro. Disciplina era um Pai Nosso e treinamento, a Ave Maria.
O método de Antunes Filho é uma antropofagia que se tornou um caminho reto e concreto de abertura de caminhos. Entrava-se no CPT cru e, a depender dessa devoção e da fé/talento, sai-se um ser deslumbrante em cena. Antunes misturava estudos e práticas orientais com a fisiologia da respiração. Todo o ponto de concentração do ator é a região do plexo solar, o terceiro chacra, o da vitalidade, localizado na cavidade abdominal.
O eixo do ator é deslocado para trás por meio da lombar (ai daquele que não soubesse onde se localiza a lombar!). O corpo e a voz tornam-se uma dimensão única. Não se projeta esse duplo para frente. Era preciso falar e gritar pela ressonância (como se falasse para dentro) e não pela extensão da voz.
“Destrua os seus ombros. O ombro não comanda nada aqui. Não tente atuar da cintura para cima, serpenteie com as mãos e os pés, deixe que a mente comande o cérebro”
Antunes Filho
O ator dizia esses comandos em voz alta durante uma tarde em que eu entrei no CPT como um ouvinte e vi esse homem obstinado trabalhando, querendo acertar e descontinuar corpos viciados. Havia ali, sem dúvida, um vulcão, violento, por vezes (há queixas de assédio moral de alguns discípulos), mas capaz de devastar o que era infértil e torná-lo um campo cheio de possibilidades.
Fui cumprimentá-lo ao final. Antunes me disse:
“Não ande com a planta dos pés, não se projete para mim. Vejo ansiedade em sua respiração, seu trapézio (músculo próximo ao ombro) está travado”
Emendou depois uma língua inventada de sotaque russo, metodologia desenvolvida na disciplina de oratória do CPT. Era tudo verdade. Estava muito ansioso diante do mito e queria beber dele. O fiz tantas vezes vendo seus espetáculos-aulas. O que ele fez com Nelson Rodrigues foi genial. Mas nada se iguala à perseguição em esmiuçar as tragédias gregas. A sua Medeia é inesquecível. O coro, uma obra-prima. Fico arrepiado só de me lembrar.
Teve ainda a série histórica Prêt-à-porter, na qual Antunes dava consciência total ao ator que escrevia, encenava e dirigia numa espécie de falso naturalismo. Diante de nossos olhos, tudo parecia muito perto do cotidiano, mas não era. Havia sempre uma “loucurinha” ali e acolá que nos lembrava genialmente que era teatro.
Foi ali que vi alguns dos grandes intérpretes de Antunes. Juliana Galdino, a quem acompanha em suas viagens solos, impactou-me como se tivesse diante de Salmo da Bíblia de Antunes. Ali, Juliana, uma das maiores atrizes de sua geração, era um corpo-voz-poema. Era o trabalho dela e de um mestre oferecidos a plateia como uma hóstia consagrada. Ainda me deslumbrei com Lee Taylor em A Pedra do Reino, obra-prima de Antunes, protagonizado por um dos seus mais fiéis discípulos.
O CPT, como um templo, seguirá de portas abertas. Antunes Filho nunca escondeu nada. O método é maior que a brevidade da vida.
*Sérgio Maggio é diretor-dramaturgo do Criaturas Alaranjadas Núcleo de Criação Continuada, jornalista e mestre em crítica teatral