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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Maria Rita Kehl: Marx, feminista?

 

Um comentário de Maria Rita Kehl a respeito do livro Sobre o Suicídio, de Karl Marx

Exato: Marx, feminista. A opressão sexual das mulheres, no grande século burguês, não poderia passar despercebida à sensibilidade libertária do inventor do socialismo científico. Nem que fosse por acaso: é o que revela este pequeno livro que contém o ensaio Sobre o Suicídio. Este, escrito em janeiro 1846, foi impresso pela Gesellschafts Spiegel, Órgão de Representação das Classes Populares Despossuídas e de Análise da Situação Social Atual. Que outra sociedade, seja capitalista social democrata, teria criado um órgão público com funções tão precisas? Nada a ver com nossas vagas (e hoje praticamente obsoletas) Secretarias de Bem-Estar Social.

No artigo, Marx retoma o relatório de um arquivista policial, Jacques Peuchet, (morto em 1830) sobre os inúmeros casos de suicídio encontrados em pesquisas estatísticas sobre a sociedade francesa, durante a Restauração. O texto é composto de comentários de Marx sobre excertos dos relatórios de Peuchet. Nenhuma escolha é neutra. Nota-se que ao escolher os trechos do relatório Marx está sendo, também ele, autoral. Ele vai além de Peuchet. Como escreve Michel Löwy no prefácio, ao debruçar-se sobre as vidas trágicas de dezenas de trabalhadores franceses o jovem Marx parece ter descoberto aquilo que, no século seguinte, viria a se tornar uma verdade consagrada: o entrelaçamento inevitável entre a política e a vida privada.

“Que tipo de sociedade é esta, em que se encontra a mais profunda solidão no seio de tantos milhões; em que se pode ser tomado por um desejo implacável de matar a si mesmo, sem que ninguém possa prevê-lo?” (p. 28).

O problema que Marx detecta, mas não sabe, em 1846, como solucionar, é que as extensões do poder político sobre a vida privada – que Michel Foucault viria a chamar, no século 20, de redes de micropoder – não se desfazem automaticamente por efeito das transformações revolucionárias. Peuchet, que atravessou a Revolução Francesa, percebe esta limitação:

“A Revolução não derrubou todas as tiranias; os males que se reprovavam nos poderes despóticos subsistem nas famílias; nelas, eles provocam crises análogas àquelas das revoluções” (p.29).

As tabelas divulgadas por Peuchet indicam a ocorrência de 2.808 suicídios em Paris, em apenas sete anos (entre 1817 e 1824). O que chamou a atenção de Marx não foram os suicídios de trabalhadores, motivados pelo desemprego, pela miséria, pelos violentos desenraizamentos de gente que migrou do campo para as cidades depois da Revolução Industrial. Dos quatro casos de suicídio narrados em estilo literário (e melodramático) por Marx/Peuchet, apenas um refere-se a um membro da guarda real “afastado, como muitos outros, sem maiores cerimônias” (p. 48) – e sem condições de sustentar a família. Os outros três são dramas protagonizados por mulheres jovens que caíram em desgraça, como se costumava dizer, em função de algum deslize em sua vida sexual.

A “salvação das mulheres”

“A classificação das diferentes causas de suicídio deveria ser a classificação dos próprios defeitos de nossa sociedade”, observou Peuchet (p. 44). Ele mesmo, ao final de seu relatório, apresenta as principais razões que levaram homens e mulheres a dar fim à própria vida: paixões, brigas, desgostos domésticos/ doenças, depressão, fraqueza de espírito/ má conduta/ miséria, etc. A maior incidência fica por conta dos suicídios causados por doenças, depressão e “fraqueza de espírito” – seja lá o que isso possa significar.

Se Marx decidiu se debruçar sobre três casos de mulheres suicidas, é porque os relatórios de Peuchet o ajudaram a compreender que a condição feminina, no século 19, transcendia os limites da luta de classes. Talvez as depressões que levavam mulheres a se matar estejam incluídas entre os casos de “fraqueza de espírito”: a condição feminina nunca foi tão frágil quanto no período em que se organizou a família nuclear burguesa, tal como a conhecemos até hoje.

A urbanização, e a divisão do trabalho, o desamparo de muitas mães das novas configurações familiares – uma vez que, nas cidades, deixaram de existir as antigas famílias extensas das culturas rurais e os lares se fecharam sobre si mesmos, na forma da moderna “família nuclear” – todos esses elementos fizeram que pesasse, sobre ombros femininos, maiores responsabilidades, maior carga de trabalho e muito, muito maior vivência da solidão.

Não é coincidência que Dostoievski tenha escrito, em Os Irmãos Karamazov, que “a histeria é a salvação das mulheres”. Que outro recurso elas teriam para expressar a insatisfação com as tremendas restrições impostas pelo papel de (futuras) mães de família e esposas dedicadas? O antigo “ataque histérico” (que hoje, reparem, não se vê mais) seria a expressão da solidão, da sobrecarga de responsabilidades e, sobretudo, da insatisfação sexual e amorosa das mães de família modernas – operárias ou não.

Também não é coincidência que Freud tenha fundado a psicanálise, ao final do mesmo século, com seus Estudos sobre a Histeria, onde estabeleceu pela primeira vez a hipótese da etiologia sexual das neuroses.

Os casos examinados por Marx são tão singelos que, nos dias de hoje, não serviriam nem como argumentos de telenovela: a moça que passou a noite com o noivo, às vésperas do casamento, e por isso foi condenada pela própria família; a esposa que se tornou, literalmente, prisioneira do marido doente e ciumento; a jovem de família rica engravidada pelo tio, que não encontrou nenhum médico que se dispusesse a ajudá-la a abortar. Diante desses casos, Marx percebe que a pirâmide do poder é sustentada, em última análise, à custa de seus elos mais fracos – os trabalhadores braçais, sem outro bem a não ser sua força de trabalho a serviço da reprodução do capital. E as mulheres, sem outro recurso a não ser sua capacidade reprodutiva a serviço da transmissão dos patrimônios familiares.

São aqueles que, mesmo após a Revolução Francesa, mal se constituíram, na prática, como sujeitos de direito. Diante deles, e de seu desamparo institucional, “as pessoas mais covardes, as mais incapazes de se contrapor, tornam-se intolerantes assim que podem lançar mão de sua autoridade absoluta (…). O mau uso dessa autoridade é igualmente uma compensação grosseira para o servilismo e a subordinação aos quais essas pessoas estão submetidas (…) na sociedade burguesa” (p.32).

Assim se reproduz a lógica discriminatória do poder, segundo a qual as pequenas autoridades familiares, os pequenos funcionários públicos, compensam a mesquinhez de sua condição: submetendo aos “rigores da lei” os indivíduos em posição ainda mais frágil do que a deles.

Publicado originalmente no site A Terra É Redonda

Fonte: Portal BRASIL CULTURA

FOLHA DE S. PAULO ACUSA BOLSONARO DE "DETURPAR DE MODO DELIBERADO O ENFRENTAMENTO DA PANDEMIA"

 

PRIORIDADE PERVERSA

Avolumam-se as evidências de que o governo Jair Bolsonaro deturpou de modo deliberado o enfrentamento da pandemia. Não bastassem seguidas as manifestações minimizando riscos da infecção e a sabotagem da vacinação, o presidente deixou várias digitais na promoção de uma terapia inexistente contra o ataque viral.

Bolsonaro seguiu perversamente Donald Trump ao adotar como prioridade a cloroquina do famigerado tratamento precoce

O republicano abandonou a panaceia antes de seu fiasco eleitoral, mas o imitador sul-americano a manteve, impávido, mesmo com estudo após estudo a negar-lhe eficácia.

Acossados por investigações e questionamentos da Procuradoria-Geral da República e do Tribunal de Contas da União, o presidente e um tragicômico ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, agora se apressam a recontar a história: o governo só teria respeitado a autonomia de médicos.

Não há carência de imagens do mandatário e do general posando com caixinhas do remédio, porém. Tampouco faltam registros oficiais da mobilização de ministérios, Forças Armadas e outros órgãos da máquina federal na prática de charlatanismo, como mostrou reportagem publicada pela Folha.

Cinco pastas se viram convocadas para a operação diversionista: Saúde, Defesa, Economia, Relações Exteriores e Ciência e Tecnologia.

Os jornalões são unânimes no repúdio ao genocídio

Quase 6 milhões de com

primidos da droga inócua foram enviados ao Nordeste e ao Norte, seguidos de admoestações a autoridades amazonenses por não os usarem no trágico surto em Manaus, onde o que faltava era oxigênio.

O Exército se pôs a fabricar 3,2 milhões de drágeas, e a Aeronáutica, a transportá-las, a pedido da Defesa; isenções de impostos foram baixadas pela Economia; a Saúde lançou guias e aplicativos prescrevendo a cloroquina; o Itamaraty obteve 2 milhões de doses dos EUA; o Ministério da Ciência e Tecnologia patrocinou estudos.

Todo esse empenho governamental para viabilizar a ficção ignorante de Bolsonaro contrasta com o desvio da obrigação de financiar, propagar e coordenar prioridades efetivas como distanciamento social, testagem em massa, rastreamento de contaminados, aquisição de vacinas e vigilância genômica (com sequenciamento dos vírus em circulação).

Em vez disso temos vacinação atrasada, aglomerações em alta, milhões de testes a perder a validade, rastreamento pífio e falta de insumos para geneticistas monitorarem as variedades do vírus.

É desastre que não se explica somente por incompetência, mesmo uma de dimensões incomuns.(editorial desta 3ª feira, 9, da Folha de S. Paulo),

TOQUE DO EDITOR – Os crimes de responsabilidade brotam como cogumelos, mas nossas medíocres e pusilânimes autoridades continuam se omitindo do dever de impicharem, afastarem e prenderem o genocida.  

Trata-se de um serial killer que rivaliza com Adolf Hitler, Josef Stalin, Átila, Gengis Khan e outros que tais.

Em termos brasileiros, o palhaço assassino é o melhor argumento possível e imaginável para os que defendem a introdução da pena de morte (a qual, claro, só se aplicaria aos Bolsonaros futuros, pois não se pode implantá-la com efeito retroativo).

Fonte: https://naufrago-da-utopia.blogspot.com