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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Ensino ameaçado Governo Bolsonaro ameaça fechar escolas do MST que atendem 200 mil alunos

Escola José Martí (PR)
 por Cláudia Motta, da RBA

Nos 35 anos de existência do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a educação é esteio da organização e qualifica para produção que se tornou uma das principais em alimentos orgânicos no mundo.

Antes um barracão, a escola estadual José Martí, reerguida em Jardim Alegre, recebe mais de 600 alunos da região.

São Paulo – Há 35 anos, em 21 de janeiro de 1984, era oficialmente fundado o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), durante seu primeiro encontro nacional. Quem não conhece de perto o trabalho do MST e se informa pela imprensa comercial ou pelas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores, pode até considerá-lo uma ameaça ao país. A realidade, no entanto, é diferente.

O MST tem hoje um foco de atuação na defesa da agroecologia, do manejo sustentável da terra e no consumo consciente como parte da segurança alimentar. Abrange a instalação de 96 agroindústrias, 1.900 associações de trabalhadores rurais e mais de 350 mil famílias assentadas, produzindo toneladas de alimentos provenientes de localidades onde antes só havia terra improdutiva.

Essa comida, quase toda, é produzida sem veneno, os agrotóxicos que representam ameaças à saúde da população e enriquecem a indústria farmacêutica e os chamados "defensivos agrícolas". Na base desse conhecimento que passa de acampamento em acampamento, de assentamento em assentamento, está a educação, pilar na organização e no fortalecimento do MST.

 “A vida no assentamento garante às famílias direitos sociais que não são garantidos a todo o povo brasileiro, como casa, escola e comida”, afirma o movimento em seu site.

A necessidade de fazer com que os filhos dos assentados e acampados pudessem ter acesso à educação de qualidade levou à criação de cerca de 1.500 escolas para jovens de 7 a 14 anos – 1.100 delas já reconhecidas pelos conselhos estaduais de educação e cultura. Elas abrigam em torno de 200 mil alunos e 4 mil professores, além dos 250 educadores que trabalham nas Cirandas Infantis – educação de crianças até seis anos ou na faixa da alfabetização. O MST mantém ainda 320 cursos divididos em 40 instituições de nível fundamental, médio, técnico, superior e educação de jovens e adultos (EJA).
“Todo o esforço do MST em levar educação de qualidade aos acampados e assentados rendeu bons frutos ao longo dos anos”, afirma a organização, em nota. “Segundo o Índice de Desenvolvimento na Educação Básica (IDEB), duas escolas do MST no Piauí obtiveram em 2018 os maiores índices na educação básica.”

Para Andressa Pellanda, coordenadora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, as escolas do MST não só são importantes porque atendem uma quantidade imensa de estudantes, como também atingem uma população de crianças, adolescentes, jovens e adultos em situação de vulnerabilidade, que muitas vezes o poder público não alcança e até criminaliza.
“Além disso, o trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas do MST é um trabalho de qualidade ímpar: há preocupação sensível com a inclusão, com as diversidades e com uma pedagogia de qualidade”, avalia.

Aluna de assentamento é ouro na Olimpíada da Língua Portuguesa
Assentamento 8 de abril
Reforma agrária em bom português. Uma história premiada
 
Prêmio recebido por estudante do Assentamento 8 de Abril, em Jardim Alegre (PR), mostra importância da formação e integração da comunidade

Governo ataca e ameaça

Apesar da qualidade reconhecida, as escolas do MST correm risco. O secretário especial de Assuntos Fundiários do governo de Jair Bolsonaro, Luiz Antônio Nabhan Garcia, afirmou que vai trabalhar para fechar as escolas chamadas por ele de “fabriquinhas de ditadores”.

Contraditoriamente à sua preocupação com posturas ditatoriais, defendeu o direito de o fazendeiro reagir a bala quando tem sua propriedade "invadida". O presidente eleito também já disse que não tem diálogo com o movimento e ameaçou colocar fim aos processos de reforma agrária – medida entre as tantas das quais teve de recuar.

“Não dá para o Brasil admitir em pleno século 21 fabriquinhas de ditadores. Não dá para admitir escolas de marxistas, de leninistas, de bolivarianos, que ensinam crianças a invadir e cometer crimes. Vamos fechar as escolas e punir os responsáveis pela doutrinação. Aliás, isso tem de ser qualificado como crime. Crime de lesa pátria”, disse Nabhan que é presidente licenciado da União Democrática Ruralista (UDR), representante dos latifundiários brasileiros. 

O movimento afirma que não "doutrina" crianças e que todas as escolas de assentamentos são públicas e cumprem as diretrizes aprovadas pelo Ministério da Educação.

“A educação do MST é um trabalho estrutural para uma transformação das zonas rurais do país em busca da justiça social e ambiental. Isso certamente é alvo dos grandes interesses ruralistas”, avalia Andressa. 

Essa transformação foi vivida pela jovem Débora Makoski Francelino, que dá aulas numa das escolas do MST, no assentamento Dom Tomás Balduíno, na região de Quedas do Iguaçu, no Rio Grande do Sul. Durante a passagem da Caravana Lula pelo Brasil relatou à reportagem da RBA seu orgulho por fazer parte do movimento. “É algo que a gente está conquistando para nós, para o Brasil, para estar melhorando tanto na alimentação, quanto na educação”, disse a professora, defensora da agroecologia e do manejo sustentável da terra.
“A educação tem impacto positivo imenso na vida daquelas crianças, que valorizam a terra, a sustentabilidade e a residência no campo, diminuindo inclusive os êxodos rurais.” (Andressa Pellanda, da da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Débora lembra do tempo em que também tinha preconceito em relação ao MST, até seu pai decidir abandonar a vida de “viver para trabalhar e não trabalhar para viver, sem tempo nem para a família” e decidir seguir ao lado do movimento. “Eu tinha 16 anos e não queria vir. Todo mundo falava mal dos sem-terra e eu não sabia o que era. Tinha esse preconceito que têm os que não têm tempo ou dedicação para pesquisar o que é de fato.”

Quando chegou, viu uma realidade toda diferente. “Aqui não existe uma pessoa só para comandar o movimento, todos nós comandamos.”

Educação que semeia futuro

Para Andressa Pellanda, o trabalho de educação no campo, nas escolas do MST, é realizado por educadores que compreendem profundamente as realidades locais e têm senso de transformação social.
“Isso gera um impacto positivo imenso na educação daquelas crianças, que valorizam a terra, a sustentabilidade e a residência no campo, diminuindo inclusive os êxodos rurais.”

Pós-graduada em Ciência Política e mestranda em Relações Internacionais, Andressa considera que essas são perspectivas absolutamente alinhadas com o que tem de mais avançado nos debates globais para o desenvolvimento sustentável. “Os estudantes das escolas do MST aprendem não só os conteúdos curriculares, como também senso de comunidade, do trabalho com a terra, dos direitos humanos.”

O Viveiro de Mudas Silvino Gouveia é uma mostra disso. Localizado no assentamento Liberdade, em Periquito, Vale do Rio Doce (MG) proporciona aos agricultores um aprendizado por meio do qual o MST pretende reflorestar assentamentos da reforma agrária: o projeto Semeando Agroflorestas.

A proposta, como explicou o jovem assentado Davy Pereira Paixão, é fazer um trabalho de recuperação das áreas que estão muito degradadas. “Seja em função da atividade anterior, do fazendeiro que explorou muito, seja pelo pastoreio e pelo mau uso da terra.” A técnica alia o plantio de árvores à produção de alimentos. “Pelas histórias contadas pelos mais velhos, a gente se sente muito triste. Estão acabando com tudo e a monocultura aumentando”, lamenta.

André Pereira da Paixão trabalha como coletor de sementes no viveiro de mudas Silvino Gouveia. Depois leva mudas para outros assentamentos. Técnico em administração de cooperativas, estudou na escola do MST. “Desde sempre gostei de estudar a questão da agroecologia. Pra gente que conhece outras regiões, é triste voltar aqui e ver esses morros todos pelados, essa degradação. O trabalho do viveiro rejuvenesce a gente. Quando chegamos nos assentamentos somos recebidos com muito carinho e as pessoas entendem a importância que tem isso.”

São quatro viveiros no estado e mais de 600 famílias assentadas e mais de 300 acampadas. “Cada assentamento tem um núcleo que contribui com o trabalho no viveiro, a tarefa de coleta de sementes, e estuda essa questão do SAF, como fazer para recuperar as áreas, as nascentes. Tem muita gente envolvida.”

Rede Brasil Atual

Lobato cai em domínio público e ganha releitura politicamente correta


 
Desde o dia 1.º de janeiro, a obra de Monteiro Lobato, um dos maiores escritores do país, está em domínio público, ou seja, os direitos autorais não mais pertencem exclusivamente aos descendentes. Para divulgar Lobato, preservando o melhor de sua obra, o escritor Pedro Bandeira atualiza a produção do escritor nascido em Taubaté e elimina algumas expressões que foram consideradas racistas
 
José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, então Província de São Paulo, em 18 de abril de 1882 e faleceu na cidade de São Paulo em 4 de julho de 1948
Desde o dia 1.º de janeiro, a obra de Monteiro Lobato está em domínio público, ou seja, os direitos autorais não mais pertencem exclusivamente aos descendentes. Isso acontece porque a proteção aos direitos é válida por 70 anos e termina a partir do primeiro dia do ano seguinte – como Lobato morreu em 1948, aos 66 anos, os direitos terminaram agora. Assim, é permitida a publicação da obra por qualquer editora, o que já resultou em um plano diversificado de edições (veja no quadro). Dentre todos os projetos, o mais ambicioso foi assumido pelo também escritor Pedro Bandeira, exímio conhecedor da obra lobatiana e que está ambientando para o século 21 as brincadeiras e ensinamentos da turma do Sítio do Picapau Amarelo.
 
“Minha adaptação protege o talento de Lobato”, assegura. “Autores geniais como Perrault, Andersen, Dumas ou Shakespeare têm sido adaptados sem parar. No caso de Lobato, quase toda sua linguagem e humor devem ser preservados e foi o que fiz. Mas tenho de mexer um pouquinho em detalhes como os xingamentos da Emília. Na época de Lobato, isso poderia parecer engraçado; hoje, porém, é um absurdo. Sua obra não perderá a qualidade se tirarmos, aqui e ali, xingamentos acachapantes como ‘sua negra beiçuda’.”

Acusações de racismo, aliás, vêm figurando em diversas discussões sobre o texto de Lobato, especialmente o direcionado ao público infantil. Bandeira faz uma contextualização. “Em muitos de seus artigos para jornais e em suas cartas, ele demonstrou-se um ardoroso racista, um eugenista de marca maior, um cultor da superioridade dos eurodescendentes. Logo ele, que era baixinho, franzino e feio como a mãe da peste”, diverte-se Pedro Bandeira. “Na primeira metade do século 20, quem negasse diferenças entre africanos, chineses e europeus seria chamado de maluco. Todo mundo acreditava em diferenças raciais, em ‘superioridades’ e ‘inferioridades’, até a ciência. A magia de Lobato, sem seus pequenos deslizes racistas, é imensa e é isso que sonho preservar para as próximas gerações, para que se encantem como eu.”

Pedro Bandeira faz questão de citar um detalhe que passa despercebido: Narizinho tinha a pele negra. Afinal, Lobato a descrevia como “uma menina de 7 anos, com a pele da cor do jambo”. “O jambo é vermelho-escuro, mais escuro que uma ameixa”, observa ele, irritado com a imagem disseminada a partir dos desenhos de Voltolino que, na capa de A Menina do Narizinho Arrebitado, de 1920, cria uma Narizinho “como uma inglesinha gorducha e loura feito uma espiga de trigo”.

É essa personagem, aliás, que, aos 7 anos, fascina Bandeira, justamente por não ser mais uma criança tampouco uma pré-adolescente. “É uma idade de transição, em que o ser humano é solitário e se alimenta de sua prodigiosa imaginação. Nessa idade, as meninas falam com suas bonecas e elas respondem.” Por outro lado, o escritor não esconde sua antipatia por Pedrinho, o menino que vivia na cidade grande e que passava férias no sítio.

“Acho que Lobato não gostava dos meninos”, comenta Bandeira. “Pedrinho nada traz da vida urbana, nada acrescenta, não fala de tecnologias, de progressos que não existiriam no sítio. Aliás, ele se porta como se sempre tivesse vivido no campo – sabe construir arapucas para passarinhos e vive com seu bodoque a dar ‘botocadas’ a torto e a direito.” Bandeira nota que a postura do personagem é a de um “machinho agressivo”. “Ele chega no sítio e mergulha direto nos sonhos da prima. Nenhuma das aventuras proveem de sua imaginação. Em O Saci, ele é apenas um ouvinte das narrativas folclóricas do menino de uma perna só. Em Caçadas de Pedrinho, o protagonismo o tempo todo é de Emília. Aliás, esse é um livro que eu não ofereceria às crianças.”

Personalidade de múltiplas facetas, movido por sonhos e utopias, Monteiro Lobato era um homem que tomava partido sobre todos os assuntos polêmicos de sua época, defendendo suas posições em cartas e artigos que publicava na imprensa, sobretudo no Estado. Assim, Bandeira engrossa o coro dos que criticam o prazo de 70 anos para o domínio público. “A obra de Lobato estaria tendo uma sobrevida muito melhor se já se pudesse estar mexendo nela há duas ou três décadas.”

LANÇAMENTOS: 

Vários lançamentos estão previstos para este ano.

Editora Moderna. Pedro Bandeira (foto) adapta obras do Sítio para o século 21 A Globo Livros, que detinha desde 2007 os direitos exclusivos sobre a obra do criador de Pedrinho, Dona Benta e Tia Nastácia, deve colocar no mercado edições especiais de A chave do tamanho e O Picapau Amarelo.

Companhia das Letras. Em fevereiro, deve lançar nova edição de Reinações de Narizinho, além da biografia juvenil de Monteiro Lobato preparada por Marisa Lajolo e a historiadora Lilia Schwarcz

‘Urupês’. Márcia Camargos prepara uma versão para o público jovem do livro de contos
Mauricio de Sousa. Desenhista vai lançar o livro Narizinho Arrebitado com a turma da Mônica e adaptação de Regina Zilberman

Fonte: O Estado de S. Paulo