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segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Ambientação dos novos servidores visa ao fortalecimento da Funai

Resultado de imagem para IMAGEM Ambientacao dos novos servidores da Funai Mário Vilela » FUNAI 26
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A recepção de novos servidores é um processo tão importante quanto a própria seleção, pois trata-se de força de trabalho que chega motivada à instituição, carregada de ideias e projetos para o aprimoramento da política indigenista. Pensando nisso, a Funai organizou a a Oficina de Ambientação dos novos servidores, que teve início nessa segunda-feira (10), na Sede da Fundação, em Brasília.

Compondo a mesa estavam Rodrigo Faleiro, Diretor de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável; Adriano Ferreira, Diretor de Administração e Gestão; Ênio Dias, Coordenador-Geral de Gestão de Pessoas; Cleilson Gadelha, Assessor de Estudos e Pesquisas; Renata Camargo, Assessora Técnica da Agência Alemã de Cooperação para o Desenvolvimento – GIZ; e Michael Eddy, Diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.

Ênio Dias deus as boas-vindas e agradeceu a todos os envolvidos no processo da capacitação, destacando o apoio oferecido pela Usaid e a Giz. "Capacitar é investir no próprio órgão". Eddy completou que "o trabalho da Funai é reconhecido pela gente, pois vocês têm um papel decisivo na conservação da biodiversidade da Amazônia".

O contexto organizacional no qual a força de trabalho dos novos servidores foi inserida já se encontra previamente estabelecido em torno de valores, crenças, normas e práticas da Fundação. A Ambientação , então, favorece a apreensão da cultura da organização e a adaptação dos novos servidores às normas e regras que regem o convívio profissional.

Adriano Guedes destacou que o curso não se destina apenas aos servidores admitidos pelo concurso de 2016 mas aos servidores requisitados e designados, por exemplo. "Eu resumo essa ambientação em três palavras: integração, motivação e multiplicação. A Funai enxerga esse curso como um fortalecimento institucional. Nesse momento em que estamos vivendo, precisamos de uma Funai mais forte", afirmou.


Para Rodrigo Faleiro, a trajetória da Funai, nos últimos 50 anos, tem sido circular no sentido de intermediar as ações dos índios com o Estado, de fortalecer a potencialidade deles a partir de seus territórios e alcançar o bem-estar por meio de uma rede específica de saúde, educação e cidadania. Para Faleiro, "essa trajetória é um motivo de orgulho para o servidor. O nosso papel à frente da Instituição tem sido pautado no compromisso de fortalecer a Funai. Temos clareza de que isso não morrerá aqui, pois as sementes são plantadas para germinarem. Nenhuma Instituição existe sem um corpo de funcionários que dê o sangue a ela. Isso não será transmitido apenas nesses cinco dias mas ao longo de toda vida, de forma sistemática".

A ambientação ocorrerá até sexta-feira (14) e será fundamental para que os novos servidores compreendam como se dá a interação entre as diretorias, coordenações-gerais, unidades descentralizadas, dentre outras, para que os fluxos de trabalho gerem os produtos a que se propõem, e como isso se reflete no alcance das metas e objetivos organizacionais, de forma a promover e proteger os direitos dos povos indígenas.

Ana Carolina Vilela - Ascom/Funai

Hoje, 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Graças à Declaração Universal dos Direitos Humanos e aos compromissos dos Estados quanto a seus princípios, a dignidade de milhões de pessoas foi elevada, um sofrimento humano incalculável foi impedido e os fundamentos de um mundo mais justo foram construídos.
Embora sua promessa ainda esteja por se cumprir, o próprio fato de a Declaração ter resistido ao teste do tempo é um testemunho da universalidade duradoura de seus valores perenes de igualdade, justiça e dignidade humana.
Para destacar o que a Declaração significa para as pessoas em sua vida diária, as Nações Unidas (UN Human Rights) lançaram, em 10 de dezembro de 2017, Dia dos Direitos Humanos, uma campanha que irá durar um ano e culminará na ocasião da celebração do aniversário de 70 anos da Declaração, que que ocorre hoje dia 10 de dezembro de 2018.
A campanha teve três objetivos centrais: promover, envolver e refletir. Nosso propósito é envolver uma ampla base de públicos de todo o mundo para ajudar a promover a compreensão sobre como a Declaração Universal empodera todos nós, e para motivar mais reflexão sobre as formas como cada um de nós pode defender os direitos, todos os dias.
Este aniversário é uma oportunidade para o mundo celebrar a dádiva que é a Declaração Universal e para ajudar a reafirmar os princípios e os padrões duradouros dos direitos humanos que ela ajudou a estabelecer.
Campanha “Stand Up 4 Human Rights” (Defenda os Direitos Humanos) – site oficial (em inglês)

MENSAGENS PRINCIPAIS

A Declaração empodera todos nós. Ela preconiza que todos os seres humanos têm o mesmo grau de dignidade e valor. Confirma que o Estado tem um dever central de promover padrões de vida que nos permitam exercer nossa dignidade e igualdade, em liberdade.
Os direitos humanos são relevantes para todos nós, todos os dias. Os direitos humanos incluem o direito de viver livre da insegurança e de não passar necessidade, o direito à liberdade de expressão, saúde e educação; e a desfrutar dos benefícios do avanço da justiça econômica e social.
Somos todos seres humanos e compartilhamos dos mesmos valores universais. Somos interligados. Estamos interconectados. Os direitos humanos que partilhamos, a solidariedade e o cumprimento da responsabilidade relativa a esses direitos são o que nos une no planeta que compartilhamos.
Com igualdade, justiça e liberdade, prevenimos a violência e mantemos a paz. Um Estado de direito imparcial e sólido, que respeita os direitos humanos e que possibilita a resolução de conflitos, é essencial para o desenvolvimento e a paz.
Todas as vezes que se abandonam valores fundamentais, a humanidade como um todo corre risco. Aqueles que disseminam o ódio e exploram os outros, em benefício próprio, destroem a liberdade e a igualdade, tanto em suas comunidades, como no mundo todo. Podemos e devemos resistir.
Precisamos defender os nossos direitos e os dos outros. Todos nós podemos apoiar os direitos humanos. Precisamos mudar a forma como agimos no cotidiano para defender os direitos que nos protegem e, assim, promover a fraternidade entre todos os seres humanos.
A hashtag do aniversário da DUDH é #ApoieOsDireitosHumanos (ou, em inglês,  #standup4humanrights) e baseia-se na Campanha de Direitos Humanos da ONU, que convoca todos nós a nos engajarmos em prol dos direitos humanos por mais liberdade, respeito e compaixão pelos direitos dos outros.
Brasil Cultura

Ouça “História Hoje” 10/12/: Há 193 anos, o Brasil entrava na Guerra da Cisplatina

No dia 10 de dezembro de 1825, o Brasil declarou guerra à Argentina no movimento conhecido como Guerra da Cisplatina.
Brasil e Argentina lutaram entre 1825 e 1828 pela posse da província da Cisplatina, atual Uruguai.
A região localizada em área estratégica sempre foi disputada por espanhóis e portugueses.
Apresentação José Carlos Andrade

Guerra da Cisplatina

Guerra da Cisplatina ocorreu de 1825 a 1828, entre Brasil e Argentina, pela posse da Província de Cisplatina, atual Uruguai. Localizada numa área estratégica, a região sempre foi disputada pela Coroa Portuguesa e Espanhola.
Portugal foi o fundador da Colônia do Sacramento (primeiro nome dado à Cisplatina), em 1680. Mas o território passou a pertencer à Espanha em 1777, sendo então colonizado nos moldes espanhóis.
Na época em que a coroa Portuguesa se transferiu para o Brasil, Dom João VI incorporou novamente a região. Em 1816, por razões políticas e econômicas, ele enviou tropas a Montevidéu, ocupando o território e nomeando-o como Província da Cisplatina.

Movimento de independência

No Reinado de Dom Pedro I, em 1825, surgiu um movimento de libertação da província. Os habitantes da Cisplatina não aceitavam pertencer ao Brasil, pois tinham idiomas e costumes diferentes. Liderados por João Antonio Lavalleja, eles se organizaram para declarar a independência da região.
A Argentina apoiou o movimento, oferecendo força política e suprimentos (alimentos, armas, etc). Porém, na realidade, os argentinos pretendiam anexar a Cisplatina, logo que esta se libertasse do Brasil.
Reagindo à revolta, o governo brasileiro declarou guerra à Argentina e aos colonos descontentes. Ocorreram vários combates, que obrigaram Dom Pedro I a gastar muito dinheiro público.

Guerra impopular

Os brasileiros não apoiaram este conflito, pois sabiam que o governo aumentaria os impostos para financiar a guerra. Este episódio desgastou ainda mais a imagem de Dom Pedro I.
Este dinheiro gasto nos combates desequilibrou a economia brasileira, já desfalcada com o valor gasto para o reconhecimento da independência do país. Se o Brasil ainda saísse vitorioso, valeria a pena todo investimento. Mas isto não aconteceu.
A Inglaterra, que tinha interesses econômicos na região, atuou como mediadora. Em 1828, propôs um acordo entre Brasil e Argentina, o qual estabeleceu que a Província da Cisplatina não pertenceria a nem dos dois, mas seria independente. Nascia aí a República Oriental do Uruguai.
O desfecho desfavorável ao Brasil agravou a crise política no país. A perda da província foi um motivo a mais para a insatisfação dos brasileiros com o Imperador, que acabou renunciado em 1831.
História Hoje: Programete sobre fatos históricos relacionados às datas do calendário. Vai ao ar pela Rádio Brasil Cultura de segunda a sexta-feira.

A força negra da compositora paraibana Cátia de França

Aos 71 anos, Cátia de França fala sobre política, arte e negritude e avalia um pouco de sua trajetória artística. - Créditos: Nathalia Cariatti
Aos 71 anos, Cátia de França fala sobre política, arte e negritude e avalia um pouco de sua trajetória artística. / Nathalia Cariatti

Conheça a arte da filha de Adélia de França, que compõe sem impor fronteiras entre literatura e música.

Cátia de França tem 71 anos e saiu da Paraíba em busca de mostrar sua arte pelo Brasil afora quando tinha apenas 19 anos. Tem em sua bagagem um encontro de letras, sons e sonhos. Suas canções já foram gravadas por grandes nomes da MPB, como Elba Ramalho, Amelinha e Xangai. Tem 6 discos gravados: 20 Palavras ao Redor do Sol (1979), Estilhaços (1980), Feliz  Demais (1985), Avatar (1996), No Bagaço da Cana: Um Brasil Adormecido (2012) e Hóspede da Natureza (2016). Essa mulher forte representa bem o momento político que estamos vivendo, na necessidade de resistir a preconceitos e ao ódio, “mas com o poder do humor” e da arte.
Confira a seguir a conversa entre o BdF e a lenda viva da música brasileira.
BdF: Fala um pouco da sua origem e da influência da sua mãe, a primeira professora negra da Paraíba, Adélia de França, na constituição do que é Cátia de França hoje?
Cátia de França: Você focar Cátia de França, você tem que saber as origens, o tronco, as raízes, quem foi essa pessoa que me gerou, então tem a presença dela. Minha mãe era uma figura irrequieta para a época, as pessoas que me dizem, andava bem vestida, morava na Rua da República, depois Rua da Pedra, ensinou em Itabaiana, Rio do Peixe, Pedras de Fogo, Guarabira. No entanto, as pessoas acessavam a internet e não tinha nada sobre minha mãe, aí uma universitária daqui de João Pessoa, Simone Cavalcanti, pesquisou sobre ela e passaram a saber quem era ela. Eu estou trabalhando para que essa dissertação seja publicada com a história dela! Tem uma escola aqui em João Pessoa, em Valentina, com o nome dela, mas não tem a foto dela. Era para ter um pôster dela para as crianças saberem quem era ela. Porque meu trabalho é todo em cima de livros? Porque mamãe me deu livros, eu me lembro faltava manteiga, mas não faltava livros, então essa era a figura revolucionária. Na certidão de nascimento dela não dizia que ela era negra, dizia que ela era parda, ela ficava o cão porque botaram parda, ela dizia isso não é coisa nenhuma, eu sou negra, porque não colocaram no meu registro? E o grande senão dela era o não reconhecimento do meu avô, que era um comerciante altamente conhecido no interior, e não assumiu ela, então na certidão dela ficou só o nome da minha avó, que era lavadeira, Severina de França. Mas ela tirou isso de letra, começou a ensinar, era requisitada. A escola dela era na Almeida Barreto, rua do mercado central, de um lado era a casa de hospedagem para rapazes, filhos de fazendeiros do interior da Paraíba, e do outro, eram de moças, e eu convivia com aquele povo todo, entendeu? E ela logo de pequena, ela me deu um piano, com 4 anos de idade, me deu um pianinho de brinquedo, mas saía o som né? Para eu amar aquela coisa, para não ser você tem que ser isso. Com 12 anos, eu recebi um piano caríssimo para a época, imagine com o salário de professora primária, ela me deu um piano alemão, imagino o quanto ela não penou para pagar aquilo! E eu tenho ele até hoje. Eu quero ver se eu faço aqui uma fundação para eu colocar tudo meu, meus papéis, retratos, discos, telas, tudo isso eu quero ver se fica tudo em um canto só, com toda a segurança possível. Tem muito material meu na estação ciência, que eu tenho que retirar de lá e colocar em um canto que ninguém mexa mais. Eu tenho que conseguir isso junto de algum órgão para me dar essa salvaguarda.
Sobre a política cultural, como você acha que os governos se comportam frente à arte e à música?
Parece que cultura é uma coisa descartável, mas cultura é a digital de um povo. Você sente como é que se trata as artes populares através disso, e agora está todo mundo meio de cabelo em pé, como é que vai ser depois de janeiro de 2019, como é que vai ser encarado isso? Porque já estavam tentando quebrar o Ministério do Trabalho, você já sente como é que vai ser e o que é que vai vir aí pra a gente, então está todo mundo colocando as fichas todas em 2018, entendeu? Nesse tempo assim a gente vê quem é quem, a gente anda nas ruas e a gente já vê a digital do que vai vim. Onde eu moro, em São Pedro da Serra (RJ) você já vê a ódio. É uma violência contida, uma coisa contra o negro, contra o índio, contra a população LGBT, as máscaras estão caindo, estou chocada!
Em 2017, durante entrevista à Revista Trip, você se definiu como uma mulher que tem sangue nas ventas, negra, índia, cigana, bruxa, candomblecista, aquariana, como você enfrenta os preconceitos? Na música também tem preconceito?
Eu ainda me defino assim e ainda mais, sou de esquerda. Na música também tem preconceito, daqui da Paraíba eu fui a primeira mulher a toca guitarra, eu já comecei daí, é uma coisa surda. Os garçons, as atores e atrizes das novelas que são babás, empregadas domésticas, motoristas são, eram sempre de negros, não havia um advogado negro, e no cinema, o racismo é muito mais visível, porque tem grandes roteiristas negras e não são chamadas, diretoras negras e não são chamadas, então é um movimento de amordaçar esse povo. Mas quando isso vem à tona e é publicado, não tem como esconder mais, não tem como segurar esse grito, uma coisa do povo negro com a ajuda dos orixás e dessa gana de sobreviver isso vem à tona. Então está latente!
Como você define sua arte, você é escritora, multi-instrumentista, compositora?
Eu escrevi um cordel sobre Zumbi em 5 volumes, mas não sigo a métrica do cordel, o meu jeito de escrever cordel eu classifico como “catarinesca”, que é do meu nome Catarina, entendeu? Eu inventei uma modalidade! Está em vias de sair, acho que em 2019 sai, o infantil, o Natureza Naturalmente, e o Zumbi e tem o manual da sobrevivência, que é sobre as pessoas que se separam, como sobreviver a um descasamento?
Com 71 anos, como você avalia a sua trajetória?
Foi preciso muita coragem e minha mãe já preparou para isso porque eu me lembro que com 15 anos ela me mandou para um colégio interno em Pernambuco, aí a família toda ficou em polvorosa, mamãe dizia: eu preparei ela para a vida, ela vai e não vai acontecer nada, eu não posso ir e não tenho tempo porque tudo depende de mim e do meu trabalho, da sobrevivência da gente e meu marido é um homem doente, não vai levar ela. Então eu fui e já comecei com 15 anos pegando 2 ônibus e indo estudar em Pernambuco, saí com 19 anos, formada professora e daí ela começou a dizer que eu saí para ser uma coisa e voltou outra, porque eu me converti a religião evangélica e mamãe não era de religião nenhuma. Mamãe dizia: isso vai criar um obstáculo para o tipo de arte que a minha filha vai exercer, porque tudo não é de Deus, é do demônio e eu não quero isso. Aí mamãe me colocou para andar com o jornalista Diógenes Brayner sair comigo e começar a compor, daí eu comecei, tirei carteira de músico por imposição dela, para eu ficar profissional, e daí eu não parei mais. Quando fui para o Rio, aí já tinham pessoas me esperando que arrumaram emprego para mim, mas não na área de música. Aí Elba chega, precisa de músicos aí chama eu, Pedro Osmar, Damilton Viana, Vital Farias, e a gente foi requisitado para fazer teatro, a parte de música junto para ir para São Paulo e daí não parei mais. Então eu peguei os anos de chumbo de São Paulo, em 1975.
Sobre esses tempos que não podiam falar de política, do que você se lembra?
Eu me lembro que a música chegava a partir de corais, os estudantes liam partituras nas escolas e isso na época foi tudo retirado durante a ditadura. E a tendência é isso mesmo eles não querem que as pessoas se expressem, uma certa liberdade que pode dar vazão aquele grito que precisa sair, isso é retirado. Então na época em 1975, onde tinha nordestino, a polícia caía logo em cima. Ficam por ali os olheiros, quando sabia, a gente ficava num canto que tinha papéis dizendo que a gente estava trabalhando no teatro em frente, mas mesmo assim fomos colocados em um camburão, juntou bastante gente e para não observarem isso, fomos soltos na rua de trás. Foi um negócio muito estranho.
E qual o papel da arte para sobrevivermos a tempos de ódio e intolerância?
Sempre, não precisa nem cantar, entendeu? Um traço que você dê num muro, o grafismo, qualquer manifestação artística você pode desmembrar e desmascarar e criar um coágulo nesse organismo que se instalou por causa de inércia da gente. Isso veio não foi de uma hora para a outra, sabe aquela coisa de ir deixando, permitindo, entendeu? A mesma coisa da igreja católica, a igreja católica se achando com aquela coisa, de repente outras religiões tomaram a frente e agora é o agronegócio e as igrejas que não sejam de matrizes católicas, tomaram o poder. No Rio de Janeiro a gente sente isso e a tendência é essa. Se você for ler a bíblia, com um olhar de abertura, em momento algum, esse ensinamento diz que é para pegar as armas. Não!  Bíblia é amor, condescendência, então quando Jesus fez o Ministério dele, ele não foi pegar cabeças coroadas na Sinagoga, ele não pegou doutores, ele pegou pescadores, lavradores, foi numa casta mais humilde que ele pousou a igreja dele, então existe toda uma mentira, o gesto de arma na mão, isso não vem da Bíblia, na Bíblia não tem isso. Se quiser ler da maneira correta, ali na bíblia não se ensina isso, então usam para querem mascara, confundir e é tudo em cima de coisas mentirosas, é o tal do fake news. Vi tios mandar fotos de fuzil para o sobrinho dizendo: olha aqui para você! Então gente tem que mais do que nunca que dar as mãos e se preparar porque temos mais 4 anos pela frente.
Muitos jovens redescobriram Cátia de França, como foi isso?
Foi a internet. A internet é uma faca de dois gumes, tanto pode usar para porcaria, como pode usar para ter acesso. No momento que acabaram as lojas, não se vendem mais discos, os meninos baixam tudo na internet. Onde eu chego predomina só jovens cantando junto, no Circo Voador, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, recentemente, foi assim. Então a internet me colocou de novo no topo, enquanto que a mídia burra quer me amordaçar porque não interessa uma meia dúzia que tem na mão o monopólio da mídia, a eles não interessa uma negra, com ideias de esquerda, lésbica e de macumba, não querem, é muita minoria em cima, então a internet que me colocou no meu devido lugar, onde merecidamente eu teria que estar.
Como Cátia de França quer ser conhecida, como você quer que as pessoas te conheçam, como você quer ser lembrada?
É o poder do humor, faz rir, mas também faz pensar. O poder da dança, meu trabalho é todo suinguado mas ali pelo meio, se você ver o texto que eu estou dizendo, daquela capoeira, “sustenta a pisada”, eu aliada à literatura cortante como de João Cabral de Melo Neto, de José Lins do Rego, que é aqui da Paraíba, Guimarães Rosa, a coisa da criança que existe dentro da gente, que é o Manoel de Barros. Você pode dizer grandes coisas, mas não pode deixar essa criança, a gente não pode deixar de rir e de dançar, porque enquanto há vida, há reação e há esperança. E não esquecer nunca que a minha mãe lá trás, Adélia de França, ela é uma pessoa do humor, uma vez ela estava dando aula e o côco caiu na cabeça dela, ela riu, e disse: - Levei agora mesmo um cascudo de Deus! Então minha mãe e minha parte negra da família tinham muito humor, minha tia Celina era muito engraçada. Então eu quero ser lembrada, a filha da Adélia, que tinha como livro de cabeceira Geografia da Fome, de Josué de Castro e tinha na parece de casa, de um lado Dom Hélder Câmara e do outro, Che Guevara, minha mãe era assim, e eu quero sempre que lembrei disso.
Edição: Cida Alves
Fonte: brasildefato.com.br

Uma artista em defesa da vida

Neste 10 de dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanoscompleta 70 anos de promulgação, pela ONU, em 1948. O mundo ainda estava abalado com os efeitos terríveis de duas grandes guerras. Muitos artistas – ao redor do mundo – expressaram em suas obras os efeitos destes abalos e como eles atingiram o mais básico direito de todos, o direito à vida.
Por Mazé Leite*
Litogravura de Käthe Kollwitz (reprodução)
Escolhi falar de uma mulher, Käthe Kollwitz, desenhista, escultora e gravadora alemã, cujo conjunto da obra é um grito em defesa do direito humano mais fundamental: a vida.
Käthe nasceu na pequena cidade de Königsberg, em 8 de julho de 1867. Antes dos 20 anos de idade, apoiada por seu pai, viajou à Berlim e Munique para estudar desenho. Tornou-se amiga dos escritores Gerhart Hauptmann e Arno Holz, com os quais ia ao museu de Munique admirar juntos as pinturas de Rubens. Logo em seguida, foi estudar em Berlim com um pintor especialista em retratos, Karl Stauffer-Bern, que lhe orientou a estudar gravura com Max Klinger.
Retornando à Köninberg, ela continua trabalhando em seu projeto iniciado em Munique, inspirado no romance “Germinal” de Émile Zola, o qual retrata a vida dos mineiros franceses. Ela vai fazer suas pesquisas de figuras humanas nos bares à beira-mar. Nesse período, aprende com o gravador Rudolf Mauer a técnica da litogravura (gravura em pedra).
Casou-se com Karl Kollwitz, que havia se formado em medicina, e foram morar em Berlim, no bairro Prenzlauer, onde ele abriu seu consultório. Estudando os escritos teóricos de seu professor de gravura Max Klinger, Käthe se convence de que era necessário recorrer ao desenho para ser capaz de fornecer uma representação gráfica dos difíceis tempos em que ela vivia.
Em 1892 nasce seu primeiro filho, Hans. No ano seguinte, após assistir a uma peça de teatro que descrevia a revolta dos tecelões da Silésia contra a fome em 1844, Käthe Kollwitz iniciou seu primeiro ciclo de gravuras “A Revolta dos Tecelões”, trabalho que ela completou em 1897.
Em 1896 nasce seu segundo filho, Peter.
Ela expõe pela primeira vez em 1898, na Grande Exposição de Arte de Berlim, onde apresenta as gravuras com o tema da revolta dos tecelões. Foi muito elogiada e reconhecida como artista. O júri dessa exposição queria lhe conferir uma medalha, mas o imperador da época, Guilherme II, se opôs à ideia, pois o tema não lhe agradava, assim como não era usual prestar homenagens a uma mulher…
Entre 1898-1903, Käthe deu aulas de desenho e litografia na Escola de Artistas de Berlim. Em 1899 participa da primeira exposição do grupo que ficou conhecido como “Secessão de Berlim”, do qual foi membro de 1901 a 1913. Na exposição sobre arte alemã na cidade de Dresden, finalmente ela pode receber uma Medalha de Ouro por seu conjunto de gravuras sobre os tecelões.
Mais uma vez se inspirando em um livro (de Wilhelm Zimmermann, “História Geral da Grande Guerra dos Camponeses”), ela começa a preparar suas gravuras com o tema “Guerra Camponesa”.
Durante uma viagem de dois meses a Paris, Käthe fez aulas na Academia Juliana para se familiarizar com os conhecimentos básicos de escultura, forma de arte pela qual seu interesse era crescente. Participou, então, de oficinas de escultura no ateliê de Auguste Rodin.
Em 1906, Käthe desenhou o cartaz para a exposição “Trabalho doméstico na Alemanha” em Berlim, e mais uma vez desagradou aos poderosos de seu país: a Imperatriz se recusou a ir visitar a exposição enquanto o cartaz de Käthe não fosse recolhido da rua.
Em 1907, participando de uma exposição dirigida por Max Klinger na Itália, ela pode conhecer Florença, onde ficou por vários meses, e Roma, onde passou três semanas.
Entre 1908 e 1910, a artista colaborou com o jornal satírico “Simplicissimus” com 14 desenhos onde ela expunha os problemas atuais do proletariado. Sua arte gradualmente passa a mostrar como ela se comprometia, social e politicamente, com os rumos de seu país.
A partir de 1909 ela passa também a se dedicar ao trabalho com escultura. Em 1912, é escolhida como a chefe do grupo de artistas “Secessão de Berlim”.
Seu cartaz, desenhado para o Sindicato das Comunas da Grande Berlim, que denunciava a grande escassez de moradias na cidade, foi censurado e proibido de ser exibido.
Em 1913, por disputas internas, a “Secessão de Berlim” se divide, e Käthe adere ao grupo “Secessão Livre”, que presidirá de 1914 a 1916. Ela será co-fundadora e primeira presidente da Associação de Arte da Mulher, até 1923.
O ano de 1914 foi terrível para ela. Seu segundo filho, Peter, que havia se voluntariado na frente de guerra na Bélgica, morre em combate. Tinha 18 anos.
Imediatamente sua mãe resolve entrar no movimento pacifista, contra a Guerra. Ela começa a pensar em como transformar essa dor da perda do filho em um monumento, que somente ficará pronto em 1932 e se denomina “Mãe em luto”.
Em uma carta datada de 30 de outubro de 1918, publicada em um jornal de Berlim, ela se opõe ao movimento “Apelo em favor da guerra”, que estava sendo organizado na cidade. Ela termina a carta citando uma frase do livro de Goethe “Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister”: “as sementes não podem ser moídas”. E passa a trabalhar em uma série de xilogravuras intitulada “Guerra”.
Em 1919, Käthe Kollwitz torna-se a primeira mulher a ser aceita como membro da Academia de Belas Artes da Prússia, para onde foi nomeada professora, função que não chegou a exercer porque mulheres não podiam ocupar cargos públicos…
Sua dor pessoal – a morte do filho -, refletia-se cada vez mais em seu trabalho, tornando-o ainda mais dramático, onde ela expunha suas próprias feridas e as de todos os que sofrem com a guerra.
Neste sentido, faço um destaque sobre o conjunto da obra de Käthe Kollwitz: ela dá um grande papel – tanto em suas gravuras, quanto em seus desenhos e esculturas – à imagem da mulher, especialmente a da mãe. A mãe como detentora potencial da vida, aquela que supre e nutre, a que cura e protege. Em várias de suas gravuras há uma mãe, ou grupos de mães unidas protegendo os corpos de seus filhos com seus próprios corpos. Com toda sua energia. Parece querer mostrar, através da imagem simbólica da mãe, que a sociedade deveria ser a mãe que dá a vida, e não a morte; que agrega, e não divide; que envolve, ao invés de desprezar; que protege, ao invés de abandonar.
Também como uma mulher que vive em uma época tão dura, Käthe Kollwitz fez vários autorretratos, como se tentasse acompanhar nos traços do seu rosto que ia envelhecendo, toda a sua própria experiência, seu sofrimento, seu choque diante de um mundo onde os direitos eram tão vilipendiados que deixavam marcas em sua própria face.
Em 2010, visitei o Museu Käthe Kollwitz, em Berlim, na mesma casa onde ela viveu com sua família. Sua obra já me impressionava desde meus 20 anos. Pude ver de perto como ela escancara as zonas sombrias da vida, com uma força intensa nos traços, uma força pulsante e latente de uma artista e mulher que não se rende, não se acomoda. Artista inquieta, forte, determinada, consciente de seu papel no mundo. Tudo isso representado em sua arte.
Mas um trabalho seu me impressionou ainda mais: o monumento que foi inaugurado em 1932, intitulado “Mãe em luto”, localizado num prédio quadrado, com fachada em estilo clássico, localizado na avenida principal da cidade, a Unter den Linden. Um imenso monumento fechado, como uma caixa, escuro. No centro, a escultura mostrando uma mãe com o corpo do filho morto. No alto, acima dela, a única entrada de luz é através de uma claraboia que se derrama furtivamente sobre a escultura. Em volta do imenso salão, ladeando as paredes, um balcão de concreto onde os visitantes podem se sentar e observar. Eu fiquei sozinha por um bom tempo, contemplando esse conjunto inquietante, o lugar em penumbra, a escultura solitária de uma verdadeira “mater dolorosa”, uma espécie de releitura da “Pietá” de Michelangelo. A Mãe é maior que o Filho, um homem adulto: que precisava ser maior, para poder representar a vida que ela gostaria de dar de volta a seu filho, localizado entre suas pernas abertas, como se ela o empurrasse de volta para seu ventre, para fazê-lo renascer. Mas ele está morto, e a mãe também o vela, o abraça, o aconchega. Parece cantar para ele alguma canção longínqua de ninar… Esta escultura é a dor de todas as mães do mundo, as mães que perderam seus filhos. É o retrato também da mãe negra, brasileira, carregando seu filho morto pela violência policial, cena que se repete a cada 23 minutos em nosso país!
Käthe Kollwitz produziu muito em toda sua vida, sempre com foco nos oprimidos, nos famintos, nos injustiçados. Lutou pela paz, desenhando cartazes e fazendo ilustrações. Sofreu censura do governo nazista também, como havia sofrido dos imperadores. Se impôs como artista e foi ativa na luta por mais direitos para as mulheres.
Chegada a II Guerra, Käthe se refugiou, já viúva, no povoado de Moritzburg, próximo a Dresden. Morre a mulher, no dia 22 de abril de 1945, com 77 anos de idade, mas a obra dessa artista gigante permanecerá viva por muito tempo, pois sua obra defende aquele direito fundamental do ser humano, a Vida.
*Mazé Leite é artista plástica, bacharel em Letras-USP, membro do Ateliê Contraponto de Arte Figurativa.