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quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

O Caso da queima dos arquivos logo a após a proclamação da República e, também, da abolição da escravização

Esse assunto, a queima dos arquivos, foi esgotado em estudo de Américo Jacobina Lacombe, que argumentou em favor da memória do advogado, jornalista e político baiano. Gilberto Freyre, ao que consta, também teria imputado a Rui a responsabilidade pela queima desses documentos, cuja destruição teria desprezado a memória nacional. Porém, há algo mais em jogo nesse enigma de nossa historiografia. A queima dos arquivos da escravidão, trata-se, na sempre feliz expressão de Lacombe, de uma pedra de escândalo em nossa história cultural.

Rui Barbosa: Orador, jurista, jornalista, abolicionista e homem público brasileiro nascido em Salvador, Bahia, fundador da Academia Brasileira de Letras, escolhendo Evaristo da Veiga como patrono da Cadeira n. 10 da ABL, ficou famoso ao traduzir a obra O papa e o concílio (1877), de

Doelinger, contra o dogma da infalibilidade do papa. Filho do médico, político e educador João José Barbosa de Oliveira, homem voltado para os problemas da educação e da cultura e que por vários anos dirigiu a Instrução Pública de sua província, e de dona Maria Adélia, que lhe deram ainda uma irmã mais nova, Brites Barbosa. Iniciou (1865) o curso jurídico em Recife e, conforme tradição da época, transferiu-se (1868), para a Faculdade de Direito de São Paulo.

Lá foi proposto sócio, juntamente com Castro Alves, do Ateneu Paulistano, então sob a presidência de Joaquim Nabuco. Formado em direito (1870) fez da introdução do livro um libelo contra a chamada questão religiosa. Em seguida mudou-se para o Rio de Janeiro, onde iniciou a carreira na tribuna e na imprensa, abraçando como causa inicial a abolição da escravatura. Casou-se (1876) com Maria Augusta Viana Bandeira, que lhe acompanharia a partir de então por todos os momentos da vida. Eleito deputado provincial pela Bahia (1878) e reeleito deputado geral nas duas eleições seguintes, participou da reforma eleitoral (1881) e da reforma do ensino (1882-1883).

A quais documentos se refere? Eram livros de matrícula, de controle aduaneiro e de recolhimento de tributos, que se encontravam nas repartições do ministério da Fazenda. Qual a importância desses documentos? Eram “comprovantes de natureza fiscal que pudessem ser utilizados pelos ex-senhores de escravos para pleitear a indenização junto ao governo da República”[3]. Havia um grupo de escravocratas, que se auto-identificava como o grupo dos indenezistas, e que pretendia receber do governo republicano uma indenização pela perda dos escravos, e das respectivas rendas, hipotecas e garantias, cuja causa fora a abolição dessa instituição hedionda e execrável.

Não se pode acusar Rui de alguma conivência com esse grupo. Quando ministro da fazenda Rui negou pedido de indenização, em passagem memorável de sua biografia. Conta-se que um grupo de escravocratas indenezistas teria requerido subvenção do governo para um banco encarregado de indenizar ex-proprietários de escravos e seus herdeiros “dos prejuízos causados pela lei de 13 de maio de 1888”[4]. A resposta de Rui fora seca, direta e feliz: “mais justo seria e melhor se consultaria o sentimento nacional se se pudesse descobrir meio de indenizar os ex-escravos não onerando o tesouro”; a resposta é de 11 de novembro de 1890, e valeu a Rui um diploma emblemático oferecido pela Confederação Abolicionista, que ainda funcionava.

Fato: O Estado de 19 de dezembro de 1890 publicou trechos da ordem, que pedia que os registros sobre servidão fossem enviados para a capital, onde se procederia a "queima e destruição imediata deles". No documento, o político chamava a escravidão de "instituição funestíssima que por tantos anos paralisou o desenvolvimento da sociedade e infeccionou-lhe a atmosfera moral ". E, dizia que a república era "obrigada a destruir esses vestígios por honra da pátria e em homenagem aos deveres de fraternidade e solidariedade para com a grande massa de cidadãos que a abolição do elemento servil entraram na comunhão brasileira."

Ele fez isso porque, quando os escravos foram libertados no Brasil, em 13 de maio de 1888, a lei estabeleceu que os antigos senhores não seriam indenizados, ou seja, não receberiam nenhuma recompensa pelo fato de estarem sendo obrigados a libertar seus escravos. Afinal, em pleno fim do século 19, era um absurdo achar que uma pessoa pudesse ser dona de outra pessoa!

A queima dos arquivos, nessa perspectiva, ainda que à época supostamente justificada pela necessidade de apagarmos os resquícios de nódoa terrível de nossa história, teve como causa uma justificativa instrumental: privar os escravocratas da instrução necessária de processos indenizatórios. Rui teria como objetivo preservar ao Tesouro, minar uma litigância que se avizinhava, bem como (talvez) colher elogios por atitude que à época era qualificada como liberal e humanitária. Simbolismo e gestos libertários estavam em voga, justamente por que nada fazíamos para resolver efetivamente o problema da escravidão proscrita, isto é, educando, protegendo, qualificando, albergando e libertando de fato (e não apenas de direito) o beneficiário da Lei Áurea.

Rui é criticado por ter ordenado a destruição de documentos preciosos. Nesse sentido, Rui diminuiu nossas possibilidades de contato com uma realidade histórica que nos explica. Por outro lado, sua ordem também é justificada pelo contexto no qual vivia, quando a ameaça reacionária era constante. Com o benefício do retrospecto, o culpamos por nos privar de documentação histórica irrecuperável. Porém, esse dedo em riste não leva em conta o tempo no qual Rui viveu, seus propósitos, e nem mesmo sua trajetória em favor do abolicionismo. E se o culpamos pela destruição de documentos cuja falta de preservação nos afeta, fazemos de documentos fins em si mesmos: não estaríamos pensando e escrevendo a história.

Na edição de 21 de dezembro de 1890 o Estado publicou na sua capa uma crítica à ordem de Ruy Barbosa. Ela questionava o direito de um ministro sobre o destino dos documentos que "mais do que aos arquivos das repartições, pertencem à história"

Nem tudo, porém, foi destruído. Aliás, quase nada. Há ainda milhares de documentos sobre a escravidão nos arquivos, usados pelos historiadores para escrever a história deste passado impossível de esquecer.
Rui Barbosa apoiou o "golpe republicano" que destituiu a monarquia, porem, se arrependeu anos mais tarde.

 - Sim o primeiro golpe da historia republicana se deu na sua fundação,mas ai e outra historia...

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

Fontes:Lacombe, Américo Jacobina, Silva, Eduardo e Barbosa, Francisco de Assis, Rui Barbosa e a queima dos arquivos, Rio de Janeiro: Casa de Rui Barbosa, 1988. As informações apresentadas no presente ensaio foram colhidas nessa obra, para onde se dirige o leitor interessado no assunto.

Ensaio breve sobre: Cristãos Negros

"A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras. Ela é um livro apaixonadamente humano.

Um passado destes poderia incitar à modéstia, mas os cristãos reivindicam, pelo contrário, o
monopólio da ética. Proclamam que adoram o Deus único, que deus é “amor”, e se consideram melhores que o resto da humanidade.

Sem querer agredir a fé cristã dogmática (a qual merece todo o nosso respeito), nem diminuir o valor histórico do cristianismo e da Igreja Católica, mas apenas contribuir para o diálogo inter-religioso, a fim de buscarmos o conhecimento da verdade que nos liberta (“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”), resumo nesta semana alguns dos principais dados da história negra do cristianismo dos cristãos, dados esses que comprovam minha tese de que essa modalidade de cristianismo não pode ter sido fundada pelo verdadeiro Jesus de Nazaré, o qual resumiu toda a sua doutrina religiosa na prática do amor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns pelos outros” (João 13,35). “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros” (João 13,34). “Amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu sentimento e com toda a tua força. 

Mitos dogmáticos ou dogmas mitológicos?- Já disseram que a cor negra é o sinal que o Senhor colocara em Caim por haver este matado a Abel, seu irmão (Gn 4.15). Outros, interpretando de maneira equivocada a profecia enunciada por Noé aos seus filhos, alimentam a hipótese de que o negro surgiu por causa da maldição imposta pelo patriarca sobre a irreverência de Cam (Gn 9.25).
Erudição alguma é necessária para se constatar a incongruência de tais mitos. Uma leitura atenta e descompromissada do Livro Santo há de mostrar que semelhantes teses não resistem a um exame mais atento. Teológica e historicamente, são falhas, dúbias, perniciosas.

Da História sagrada, infere-se ter sido toda a descendência de Caim destruída pelo Dilúvio. Além disso, a marca que pôs o Senhor no homicida não foi a cor, e, sim, um ideograma, denunciando-lhe o crime. Quanto ao caçula de Noé, o texto do Gênesis não comporta dúvidas: apenas um ramo dos camitas foi amaldiçoado: os cananeus. E a maldição cumpriu-se quando os hebreus tomaram-lhes as terras no século 15 aC. Os outros filhos de Cam são mencionados na Bíblia como nações fortes, poderosas e aguerridas. Haja vista o Egito, a Etiópia, a Líbia e as cidades de Tiro e Sidom.
De acordo com a concepção hebraico-cristã, não há nenhuma maldição em ser negro nem bênção alguma em ser branco. A bem-aventurança reside em se guardar os mandamentos de Deus, praticar a justiça e observar a beneficência:


"... Deus não faz acepção de pessoas; Mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e obra o que é justo.", At 10.34-35.

A África no índice Bíblico das Nações - Conhecido como o índice das Nações, o capítulo 10 do primeiro livro da Bíblia faz referências a pelo menos três grandes nações africanas: Cuxe, Mizraim e Pute (Gn 10.6). Ou seja: Etiópia, Egito e Líbia. Apesar das muitas tribulações de sua história, estes povos vingaram: no passado, império; no presente, o vivo testemunho do vigor das civilizações negras. Durante toda a História Sagrada, o Egito sempre foi temido como potência mundial. À Etiópia era uma nação tão aguerrida e expansionista que, no tempo dos reis de Judá, invadiu aTerra Santacom um exército de um milhão de homens (2Cr 14.9). Quanto à Líbia, era vista pela Assíria como um contrapeso às ambições babilônicas (Na 3.9). Se coletivamente os africanos foram marcantes, individualmente destacam-se no texto bíblico.

A mulher negra de Moisés -No capítulo 12 de Números, lemos: "E falaram Miriã e Aarão contra Moisés, por causa da mulher cuxita, que tomara: porquanto tinha tomado a mulher cusita", Nm 12.1. Não fora o contexto deste triste e lamentável episódio, seríamos levados a pensar que a profetisa e o sumo sacerdote hebreus eram tão racistas quanto os criadores do apartheid. Todavia, mostra-nos o desenrolar da história que a má vontade de ambos não tinha como motivação o fato de Moisés haver tomado uma negra por mulher. O que eles não toleravam eram os privilégios que o grande líder desfrutava junto a Deus. Como não achassem nenhuma falha no legislador, houveram por bem censurar-lhe a união inter-racial que, diga-se de passagem, não era algo incomum entre os israelitas. Afinal, não se unira Abraão com uma egípcia e com uma egípcia não se casara José?

Eu sou negra e aprazíve -Como você imagina a Sulamita dos Cantares? Uma nórdica encontradição nas pinturas sacras da Renascença italiana? E se você descobrisse que o maior poema de amor deEu sou morena, mas agradável, ó filhas de Jerusalém, como as tendas de Quedar, como as cortinas de Salomão." (Ct 1.5) Se o texto em português deixa alguma dúvida quanto à cor da formosíssima jovem, o texto inglês, apesar da infelicidade da partícula adversativa, é concludente: I am black but comely. Esta tradução parece estar mais de acordo com o original hebraico.
todos os tempos foi dedicado a uma negra? Ficaria escandalizado? As filhas de Jerusalém indignaram-se quando Salomão elegeu a formosa pastora de Quedar como a predileta de seu coração. Diante de tão descabida acepção, Sulamita protesta: "

O negro que ajudou a Jeremias -Jeremias profetizou no momento mais crucial e ingente do Israel do Antigo Testamento. Em breve, seriam os judeus entregues aos babilônios; perderiam em breve a soberania e em breve ficariam sem os mais caros símbolos nacionais e religiosos. É neste momento que aparece o profeta com uma mensagem impopular e nada patriótica: apregoa a submissão ao opressor e condena qualquer esboço de resistência. Por causa de sua atitude, foi Jeremias lançado no calabouço de Malaquias (Jr 38.6). E só não morreu porque um etíope chamado Ebede-Meleque intercedeu por ele junto ao rei Zedequias. Por sua corajosa postura, o negro Ebede é honrado até hoje.

Os negros no Novo Testamento- Muitos africanos ainda vêem a Igreja como típica empresa européia. Ainda se assustam com os pioneiros brancos e barbudos que, desde David Livingstone, cortam a negritude daquelas terras levando a mensagem do Cristo. Em sua origem, porém, a Igreja era tão multirracial quanto hoje. No Dia de Pentecostes encontravam-se em Jerusalém, além dos gregos, romanos e asiáticos, várias nações negras: Egito, Líbia e Cirene. E, nestes países, o Evangelho floresceu de maneira surpreendente. Haja vista a Igreja de Alexandria. Dela sairiam os teólogos Orígenes, Clemente e Atanásio.


Lembremo-nos também do ministro da Fazenda da Etiópia que se converteu quando retornava ao seu país (At 8.26-38). Acredita-se ter sido com este eunuco que teve início a Igreja Copta.


 Uma visão universal e transcultural da Bíblia -Durante vários séculos, a Bíblia foi vista como um livro exclusivamente branco e interpretado colonialisticamente pelas nações europeias. Deste triste contexto, excetuamos os missionários que sempre tiveram uma visão universal e trans-cultural das
Sagradas Escrituras. Jamais nos esqueçamos de que a Bíblia começou a ser escrita na África. Não é um livro branco, como pensamos; ou exclusivamente negro. A Bíblia tem a cor de todas as culturas; é contemporânea de todas as eras. Ela é um livro apaixonadamente humano e comprovadamente divino.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.


Fonte: publicado no Jornal Mensageiro da Paz de Dez/98 por Claudionor Corrêa de Andrade é pastor e chefe do Setor Hispânico da CPAD.

UNEGRO-RJ

O Negro André o abolicionista

André Rebouças (1838-1898) foi um engenheiro, professor, abolicionista e monarquista brasileiro. O primeiro engenheiro negro a se formar pela Escola Militar

André Pinto Rebouças nasceu em plena Sabinada, a insurreição baiana contra o governo regencial. Seu pai era Antônio Pereira Rebouças, um mulato autodidata que obteve o direito de advogar, representou a Bahia na Câmara dos Deputados em diversas legislaturas e foi conselheiro do Império. Sua mãe, Carolina Pinto Rebouças, era filha do comerciante André Pinto da Silveira.

André tinha sete irmãos, sendo mais ligado a Antônio, que se tornou seu grande companheiro na maioria dos seus projetos profissionais. Em fevereiro de 1846, a família mudou-se para o Rio de Janeiro. André e Antônio foram alfabetizados por seu pai e frequentaram alguns colégios até ingressarem na Escola Militar.

Em 1857 foram promovidos ao cargo de segundo tenente do Corpo de Engenheiros e complementaram seus estudos na Escola de Aplicação da Praia Vermelha. André bacharelou-se em Ciências Físicas e Matemáticas em 1859 e obteve o grau de engenheiro militar no ano seguinte.
Os dois irmãos foram pela primeira vez à Europa, em viagem de estudos, entre fevereiro de 1861 e novembro de 1862. Na volta, partiram como comissionados do Estado brasileiro para trabalhar na vistoria e no aperfeiçoamento de portos e fortificações litorâneas.

Na guerra do Paraguai, André serviu como engenheiro militar, nela permanecendo entre maio de 1865 e julho de 1886, quando retornou ao Rio de Janeiro, por motivos de saúde. Passou então a desenvolver projetos com seu irmão Antônio, na tentativa de estruturação de companhias privadas com a captação de recursos junto a particulares e a bancos, visando a modernização do país.
As obras que André realizou como engenheiro estavam ligadas ao abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro, às docas dom Pedro 2o e à construção das docas da Alfândega (onde permaneceu de 1866 até a sua demissão, em 1871).

Paralelamente, André dava aulas, procurava apoio financeiro para Carlos Gomes retornar à Itália, debatia com ministros e políticos por diversas leis. Foi secretário do Instituto Politécnico e redator geral de sua revista. Atuou como membro do Clube de Engenharia e muitas vezes foi designado para receber estrangeiros, por falar inglês e francês.

Participou da Associação Brasileira de Aclimação e defendeu a adaptação de produtos agrícolas não produzidos no Brasil, e o melhor preparo e acondicionamento dos produzidos aqui, para concorrerem no mercado internacional. Foi responsável ainda pela seção de Máquinas e Aparelhos na Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional.

Na década de 1880, André Rebouças se engajou na campanha abolicionista e ajudou a criar a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, ao lado de Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e outros. Participou também da Confederação Abolicionista e redigiu os estatutos da Associação Central Emancipadora. Participou da Sociedade Central de Imigração, juntamente com o Visconde de Taunay.

Entre setembro de 1882 e fevereiro de 1883, Rebouças permaneceu na Europa, retornando ao Brasil para dar continuidade à campanha. Mas o movimento militar de 15 de novembro de 1889 levou André Rebouças a embarcar, juntamente com a família imperial, com destino à Europa.
Por dois anos, ele permaneceu exilado em Lisboa, como correspondente do “The Times” de Londres. Transferiu-se, então, para Cannes, na França, até a morte de D. Pedro 2o.

Em 1892, com problemas financeiros, aceitou um emprego em Luanda, Angola, onde permaneceu por 15 meses. Fixando-se em Funchal, na Ilha da Madeira, a partir de meados de 1893, seu abatimento intensificou-se. Suicidou-se no dia 9 de maio de 1898, e seu corpo foi resgatado na base de um penhasco, próximo ao hotel em que vivia.


O QUE POUCA GENTE SABE É :Projetado e construído no século XIX pelo engenheiro negro André Rebouças, sem a utilização de mão de obra escrava, o edifício Galpão Docas Pedro II, localizado na Avenida Barão de Tefé, região central do Rio, virou alvo de uma disputa judicial. É que no imóvel deveriam ser instalados um centro de acolhimento turístico e um memorial de celebração à herança africana, espaços integrados ao Cais do Valongo. O memorial e o centro turístico fazem parte da exigência imposta pela Unesco na ocasião em que foi concedido ao sítio arqueológico o título de patrimônio cultural mundial. Apesar da exigência, o prédio, que fica bem em frente ao ao Valongo, tem sido utilizado para outros fins.

O edifício Galpão Docas Pedro II é um imóvel que pertence à União. Mas, segundo o Ministério
Público Federal (MPF), desde de o ano 2000, o imóvel é ocupado pela ONG Ação da Cidadania. Ainda de acordo com o MPF, a ONG, que é uma entidade privada, utiliza o imóvel para, sem nenhum custo, exercer atividades remuneradas. Por conta disso e para que as exigências da Unesco em relação ao Cais do Valongo sejam atendidas, o MPF entrou com uma ação judicial exigindo a reintegração de posse do imóvel. "Vê-se clara distorção: aquilo que deveria, quando muito, ser um convênio temporário para o desenvolvimento de um projeto social, eterniza-se como principal fonte de receita de uma entidade privada, literalmente servindo para remunerar todos os seus diretores e empregados", afirmam os procuradores do MPF, para justificar a ação judicial.

Se liga:somente em 2016, a ONG Ação Cidadania teve uma receita de R$ 1, 4 milhão e que pagou aos seus diretores, a título de pró-labores, R$ 119 mil. Os números sugerem que a organização não governamental está utilizando um imóvel público para desenvolver atividades com fins lucrativos. 

Apenas no final de  2019 as partes entraram em um acordo e a ong se comprometeu a deixar o prédio..."Queremos um centro de referência da memória do Valongo, com a proposta de se trabalhar os achados arqueológicos feitos neste local, para estarem em exposição. Precisamos de um museu no prédio das Docas Pedro II, tombado pelo Iphan no ano passado, um espaço construído pelo engenheiro negro André Rebouças. É um museu que terá a participação da comunidade negra.”

Fonte: UNEGRO/RJ

Única secretária de Igualdade Racial do país, Fabya Reis tentará ser a primeira prefeita negra de Salvador

FABYA REIS-PT-BA
Foto: Jonas Santos
A secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi), Fabya Reis (PT), única que ocupa uma pasta desta natureza no Brasil, lançou seu nome para disputar a Prefeitura de Salvador, cidade que, apesar de ter 83% da população de pretos e pardos, nunca elegeu nas urnas um prefeito ou prefeita negro(a). O único afrodescendente que comandou a cidade, o jurista Edvaldo Brito, foi indicado de forma biônica pelo governador da época, Roberto Santos.
Militante histórica e dirigente do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e filiada há 20 anos ao PT de Salvador, Fabya vai disputar a indicação da legenda com outros quatro quadros políticos da legenda que também postulam a vaga de candidato do partido: o ex-ministro da Cultura do governo Lula Juca Ferreira, o vereador de Salvador e sindicalista Moisés Rocha, o deputado estadual Robinson Almeida e a socióloga e militante do movimento negro Vilma Reis.
Além dos candidatos do PT, também existem as pré-candidaturas negras de Olívia Santana (PCdoB), Silvio Humberto (PSB), Hilton Coelho (PSOL), Magno Lavigne (Rede), Vovô do Ilê (PDT), além de outras candidaturas negras de centro direita. A candidatura principal da direita, contudo, é de um quadro branco, ligado ao poder econômico, o atual vice-prefeito de Salvador Bruno Reis.
Pós-doutora pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), onde também fez mestrado e graduou-se em Administração, a secretária estadual Fabya Reis foi inicialmente lançada pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), instituição nacional do movimento negro brasileiro, presente em 17 estados brasileiros, que possui 400 entidades filiadas em todo o Brasil e que desde o seu surgimento tem essa pauta como centralidade de luta.
“Trata-se de um nome que, com certeza, defenderá o PT, o legado e a liberdade plena de Lula sem tergiversar, sem negar o partido, com fibra e coragem, apresentando um projeto de cidade que dê conta de opor-se ao projeto segregador do prefeito ACM Neto, nosso principal adversário local, que alinha-se nacionalmente desde a primeira hora com o projeto de ampliação da miséria do povo e do lucro dos mais ricos do presidente Jair Bolsonaro”, explicitou a entidade, em manifesto divulgado no início do ano.
A oficialização da pretensão de ser candidata veio no último dia 6, segunda-feira, quando a sem-terra registrou sua pré-candidatura a prefeita de Salvador com a presença de mais de 70 militantes.
O objetivo da candidatura, afirma ela, é derrotar o paradigma que reina sobre a capital da Bahia, que nunca teve governante negro, além de derrotar as forças que representam o presidente Jair Bolsonaro na Bahia.
“Nosso projeto está colocado para contribuir com o debate interno do PT, ajudando a elaborar o programa do partido para a cidade de Salvador, e porque acreditamos que reunimos características e trajetória para enfrentar de nariz em pé, sem tergiversar, o projeto bolsonarista que é encarnado em Salvador e na Bahia pelo presidente nacional do DEM ACM Neto, além de defender o legado do PT e do presidente Lula”, afirmou.
O candidato que for escolhido enfrentará o atual vice-prefeito de Salvador, Bruno Reis (DEM), que foi lançado como pré-candidato da situação à Prefeitura de Salvador, apoiado por Neto.

TRAJETÓRIA

Fabya Reis iniciou sua vida pública aos 16 anos, militando no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). É militante petista durante toda a vida, sendo dirigente da EPS, tendência interna do PT. No MST, atuou, durante 13 anos, na organização de projetos, assessoria e mobilizações, além da articulação com universidades e outros movimentos sociais.
Filha de Maria do Carmo Batista dos Reis e José Pedro dos Santos Filho, trabalhou na construção do acampamento de mulheres no MST que resultou na definição de paridade nas instâncias de direção e, nas últimas eleições, em 2018, participou da equipe de construção do plano nacional de governo do PT.
Graduada em Administração, focando nas dinâmicas do terceiro setor e gestão pública, é mestra em Sociologia pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) desde 2008 e doutora em Ciências Sociais pela mesma instituição desde 2012. Em 2014, também na UFCG, formou-se como pós-doutora.
Na larga experiência no Executivo, atuou na Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza (SEDES), entre 2010 e 2012; foi chefe de gabinete da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) na gestão da companheira de MST Vera Lúcia Barbosa, atual vice-presidenta do PT da Bahia; e foi coordenadora executiva de Políticas para Comunidades Tradicionais (CPCT) na SEPROMI. Na mesma pasta, se tornaria secretária, cargo que ocupa até hoje, para cumprir o desafio de consolidar os direitos dos indivíduos e grupos étnicos tradicionais, além de fortalecer políticas de enfrentamento à discriminação racial e à intolerância religiosa.
Marca sua gestão por rodar toda a Bahia visitando comunidades tradicionais. Em 2017, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares da Câmara Municipal de Salvador e agora, em 2019, teve aprovada em seu favor a Comenda 2 de Julho, na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), devido à gestão de excelência na SEPROMI e à trajetória política, além do Berimbau de Ouro.
*Jornalistas Livres publicam essa reportagem, sobre Fabya Reis, que pretende se apresentar para concorrer a prefeita nas eleições de 2020. Nosso espaço está aberto, à disposição de outros candidatos que, por sua luta em defesa da Democracia, do meio ambiente, dos direitos sociais e humanos, colocam-se no mesmo campo de atuação dos Jornalistas Livres. Sabemos que, infelizmente, a grande mídia no Brasil é super-concentrada e temos consciência de que a mídia independente constitui-se muitas vezes na única ferramenta de divulgação das ideias contra-hegemônicas. Nosso espaço é de todos os que lutam por um mundo melhor.