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domingo, 3 de março de 2019

Adoniran Barbosa e o não-lugar de fala

Adoniran evoca a troca de papéis. O signo do deslocamento está em tudo, em sua vida, na falsificação da certidão de nascimento para trabalhar mais cedo; na diversidade de ocupações que exerceu: serralheiro, garçom, pintor, ator, vendedor na 25 de março… Atravessa o samba, ajudando a explicar os erros propositais de português.
Por João Paulo Rodrigues, no Outras Palavras
“Vamos armoçar
Sentados na calçada
Conversar sobre isso e aquilo
Coisas que nois não entende nada”
[Adoniran – Torresmo à milanesa]
Ano passado assisti o documentário Adoniran – Meu nome é João Rubinato e muita coisa ficou na memória. Adoniran passou sérias privações ao longo da vida e chegou ao fim com uma ponta de mágoa em relação ao mundo, que não lhe deu o mínimo, apesar das obras-primas que deixou. Desavisados ficam surpresos com a pontinha de mágoa num sujeito que, afinal, virou a imagem da irreverência. Mas um outro aspecto da personalidade do sambista, diretamente relacionado ao anterior, salta ao primeiro plano: João Rubinato era um criador de personagens, no sentido total da coisa. A procissão de figuras populares que circulam nos sambas é apenas o coroamento de uma vida integralmente dedicada ao trabalho da imaginação. O poder da imaginação era tamanho que parece ter inventado uma personalidade para uso próprio, forjada sob medida para lidar com as porradas da vida, e este é o ponto que gostaria de abordar, porque não se trata de “imaginação” em qualquer sentido genérico, mas algo imposto pela necessidade de sobrevivência, revertida em vantagem para a criação.
Foi este raciocínio que me ocorreu, assistindo o documentário sobre a vida de João Rubinato. Então sem querer, tropecei numa pergunta estranha: “qual seria o lugar de fala de João Rubinato?”. Percebi que, num tempo onde a procura por identidades fixas se antecipa ao exercício da crítica, a força de uma figura como Adoniran reside justamente numa espécie de não-lugar que ocupa. Vou tentar esclarecer: ainda que a trajetória de vida ajude a compreender a obra musical, fica muito longe de encerrar a discussão, justamente porque João Rubinato excedeu a si próprio, por assim dizer, resultando inútil a simples repetição monótona de sua origem pobre, a versão melodramática que repisa os sofrimentos que passou. É para os sambas que devemos olhar. A voz que se comunica com nós através do samba não coincide exatamente com o indivíduo Adoniran, menos ainda com João Rubinato, daí porque quando olhamos sua vida a capacidade de invenção salta ao primeiro plano, como eu disse, e a dureza da vida cede passagem sem ressentimento. Pensei comigo que a força da arte mora aqui: sem negar a emergência da vida, pode abordá-la por vários lados diferentes, multiplicando pontos de vista sobre a realidade, fazendo pensar com uma margem de manobra que não se tem na vida real, e que só a experimentação estética pode proporcionar. Adoniran era partidário da liberdade total em arte, coisa que nunca precisou falar, porque é a marca dos sambas que fez. Então desdobrei a pergunta e aqui estamos: se aquele “eu” que fala nas músicas não corresponde à pessoa de Adoniran, de quem se trata? Quem sabe alguma dose de incerteza sobre a identidade da voz que fala através do samba possa ajudar a compreender a força atual que irradia da figura de Adoniran, num tempo como o nosso, obcecado pela fixação de identidades.

Num relógio é quatro e vinte, no outro é quatro e meia

Estamos habituados à imagem de Adoniran como o cronista da modernização de São Paulo. Tem muita verdade aí, mas também o risco de reduzir o samba à mera função de registro. Um convívio rápido com Adoniran mostra que a cidade não é só o assunto constante das composições, mas sobretudo algo experimentado por uma diversidade de personagens, não raro dentro de um mesmo samba. Venha ver / Venha ver Eugênia / Como ficou bonito / O viaduto Santa Ifigênia, estes versos exaltam a reforma do viaduto, mas são cantados em tom melancólico, como se o conteúdo traísse o sentimento. O personagem quer acreditar, mas sabe, no fundo, que a força que reforma é a mesma que demole. Exemplos do tipo pipocam em Adoniran por todos os lados, mas o objetivo aqui é destacar rapidamente a mobilidade de pontos de vista, que vai dos detalhes e chega nos extremos, como em Mulher, patrão e cachaça, onde de instrumentos musicais travam difícil triângulo amoroso:
Num barracão da favela do Vergueiro,
Onde se guarda instrumento,
Ali, nois morava em três.
Eu, Violão da Silveira, seu criado,
Ela, Cuíca de Souza,
E o Cavaquinho de Oliveira Penteado.

Cuíca de Souza chorava em dia de batucada, “como quem tem algum dodói”, atraída por Violão da Silveira, que “caprichava o sol maior”. Então a virada:
Mas um dia, patrão, que horror!
Foi o rádio que anunciou, com o fundo musical,
Dona Cuíca de Souza
Com Cavaco de Oliveira Penteado se casou.

Dupla traição: o casamento da Cuíca e do Cavaco, que, além disso, agora tocam no rádio e não mais na roda. Mulher, patrão e cachaça é um samba que nasceu da imaginação do sambista em brasa com o diálogo dos instrumentos, o “pergunta-responde” da batucada, transposto sem mais para uma situação da vida. Parece próprio de Adoniran a disposição de recolher sugestões da vida miúda e levá-las às últimas consequências, em forma de samba, multiplicando pontos de vista, o que não parece tão comum em outros nomes consagrados – penso, por exemplo, em Cartola, Nelson Cavaquinho, Geraldo Filme, entre outros, que tem a veia lírica colada num “eu” mais estável e constante, com menor rotatividade de vozes e multiplicidade de situações. Adoniran é e não é o Violão, o Cavaco e até mesmo a Cuíca de Souza; é o sambista pobre do barracão e o que vai tocar no rádio e ganhar dinheiro. É Eugênia também. O ex-amigo Pafunça. Nicola, Iracema, Matogrosso e o Joca. Todos são Adoniran, que, por sua vez, não é ninguém, mas uma criação de João Rubinato. Boa parte do riso que Adoniran provoca vem desses deslocamentos imprevisíveis e, por vezes, quase imperceptíveis.
É farto o repertório das “mentiras” narradas por Adoniran em suas músicas. É crível que o próprio Adoniran, a certa altura, já não enxergasse a fronteira entre o vivido e o inventado. Não sabia onde ficava o Jaçanã do Trem das Onze, menos ainda a Vila Esperança, bairro da zona leste daquele “primeiro carnaval”. No entanto, qualquer um de nós, mesmo que tivéssemos vivido na pele um primeiro carnaval em Vila Esperança ou fôssemos o filho único que precisa tomar o último trem das onze, ainda assim, não teríamos transformado tudo isso em sambas tão imortais. A posse privada da experiência imediata não é atestado de garantia. Penso que seria do gosto de Adoniran explicar este enigma aparente formulando outro, também retirado do seu repertório: Num relógio é quatro e vinte / No outro é quatro e meia / É que de um relógio pra outro / As horas vareia.

A matemática da vida

Muito antes dos atuais serviços de aplicativo de entrega de comida, de bicicleta ou moto, o adolescente João Rubinato exerceu a função em Jundiaí, entregando marmita a pé. A respeito desse bico na juventude, declarou: “a matemática da vida lhe dá o que a escola deixou de ensinar: uma lógica irrefutável. Se havia fome e, na marmita oito bolinhos, dois lhe saciariam a fome e seis a dos clientes; se quatro, um a três; se dois, um a um”. Essa “lógica irrefutável” a que se refere é o improviso, que comentei no início do texto: imaginação a serviço da sobrevivência, que o futuro Adoniran Barbosa reverteria em vantagem na composição de samba. A lógica do improviso é central, está presente na maioria dos sambas, e, para não roubar muito da marmita alheia vou citar rapidamente o exemplo do belíssimo Abrigo de Vagabundos. O samba narra a trajetória do sujeito que “trabalhou o ano inteiro / numa cerâmica fabricando potes / lá no alto da Mooca”, então juntou dinheiro, comprou um “lindo lote”, para construir sua casa. Como falta a planta, improvisou: pediu um favor a João Saracura, “fiscal da Prefeitura, um grande amigo, arranjou tudo pra mim”. Os versos finais devem constar entre os mais belos da história do samba:
Minha maloca, a mais linda que eu já vi
Hoje está legalizada, ninguém pode demolir.
Minha maloca a mais linda deste mundo
Ofereço aos vagabundos
Que não têm onde dormir
Inúmeros outros trazem a marca do improviso, nos temas, nas situações narradas e como princípio básico de composição: à medida em que muda o enfoque, passando por vagabundos, maridos abandonados (Apaga o fogo, mané), cantores esquecidos (Já fui uma brasa), velho sábio (Envelhecer é uma arte), peão de obra na hora do almoço (Torresmo à milanesa) etc., faz tudo girar sob o signo do provisório. Nada é pra sempre, João. Adoniran compõe para produzir sobressalto, despertar a inteligência, o riso e a disposição crítica por meio de lances inesperado de inventividade. Para continuar no tema da marmita, em Torresmo à milanesa bate a hora do almoço e, repentinamente o sujeito começa a perguntar aos colegas o que trouxeram:
Que é que você trouxe na marmita, Dito?
Truxe ovo frito, truxe ovo frito
E você, beleza, o que é você troxe?
Arroz com feijão, e um torresmo à milanesa
Da minha Teresa!

O interesse na marmita alheia é comum no mundo do trabalho, e é inclusive motivo frequente de brincadeira mundo afora, de modo que Adoniran está glosando aqui um assunto importante na vida dos trabalhadores. Fora isso, que não é pouco, o comentário pode parecer desproposital, com o objetivo apenas de provocar o riso. Há sim muita gratuidade, que ninguém é de ferro, mas logo percebemos que o humor e o riso afrouxam a resistência de quem ouve e introduz melhor o que é central, a situação humilhante dos operários, que fala alto: É dureza, João / É dureza, João / O mestre falou que hoje não tem vale, não / Ele se esqueceu, que lá em casa não sou só eu. O senso de humor está a serviço da denúncia, na maioria dos sambas. A própria voz, rouca e grave, “anti-voz”, na definição de Antônio Candido[1], é usada pra modular o alcance do humor, ajudando a desnaturalizar a rotina. Mesmo quando o riso não é gargalhada, o que é frequente. Assim, por exemplo, Adoniran transformou numa linda valsa um dos poemas mais tristes de Vinicius de Moraes, Bom dia, tristeza, mas acrescentou alguns versos de sua própria autoria, que declamou no começo da música. Sabe-se que, anos antes, Vinicius se irritara com os erros de português em Tiro ao álvaro, de modo que os versos de Adoniran funcionam, então, como uma espécie de resposta, redizendo o poema de Vinícius com suas próprias palavras incultas: “A tristeza é um bichinho, que pra roer tá sozinho / E como rói, a bandida! / Parece rato em queijo parmesão”. Adoniran salvou o poema de Vinicius.

Vide verso meu desterro

Para finalizar, e com risco de errar, penso que tudo em Adoniran evoca a troca de papéis. O signo do deslocamento está em tudo, em sua vida, na falsificação da certidão de nascimento para trabalhar mais cedo; na diversidade de ocupações que exerceu: serralheiro, garçom, pintor, ator, vendedor na 25 de março… Atravessa o samba, ajudando a explicar os erros propositais de português, que não é apenas uso da oralidade, da linguagem coloquial, como dizem – são erros voluntários, como “caricaturas verbais” que realçam determinados sentidos e camuflam outros, um tipo de “falsificação” da língua. Está claro, os erros chamam a atenção para si, provocam desvios e produzem estranhamento. Ele disse uma vez que errava a grafia das palavras porque gostava de “samba de favela, samba de pobre”, sugerindo, num tiro certeiro de ironia fina, que, portanto, pobre não era. Nada é estático, a começar pelo próprio Adoniran, que existia até a metade, como personagens de João Rubinato.
Espero ter conseguido demonstrar que a fixação de identidades rígidas é estranha ao universo desse artista, onde trabalhador passa por vagabundo, mulher por mariposa e cuíca, favelado por gente, tristeza por rato. Longe estamos de um elogio fácil da diversidade, tão comum em nossos dias, a tal ponto que a expressão “ponto de vista” é trocada frequentemente por “lugar”. De certo modo, o abuso da palavra revela um aspecto do espírito do tempo atual, obcecado por tornar espacial e claramente delimitada a perspectiva do outro, para que dali não se mova. Ênfase alucinada nas diferenças própria de um mundo estilhaçado, que tende a liquidar qualquer perspectiva séria de emancipação universal. Justamente, se não estiver indo longe demais, é a existência de uma tal perspectiva no repertório de Adoniran o que permite a rotatividade de papéis e qualifica o humor, que assim não escorrega para a piada de mau gosto e a baixaria. O distanciamento crítico é o que faz rir, mesmo que, por vezes, o riso não seja gargalhada. Num tempo em que a solidariedade anda em baixa – entre os de baixo – Adoniran é uma força viva, a recordar que tudo muda.
Fonte: Portal BRASIL CULTURA

Saudade do Rei Bola (um pouco de história do Carnaval de Curitiba)

Esta completando 36 anos um ato do prefeito Mauricio Fruet, pai de Gustavo Fruet que também foi prefeito de Curitiba. Foi em 1983 que de forma subversiva se apontou uma política para a felicidade em especial ao do carnaval. Carnaval, termo usado como sinônimo de folia, de alegria, de dias ou momentos felizes, aliados ou não à subversão de costumes. Adoro subverter.
A história tem a possibilidade de ser escrita pelos homens e mulheres na diversidade das suas visões do mundo. Para mim, em verdade, carnaval é escola de samba. E quem vive ou viveu uma escola de samba não sofreu com a profunda busca de identidade.
Quem pertence a uma escola de samba ou agremiação carnavalesca tem endereço, raiz, deixa de ser alguém, como diria Caetano Veloso, sem lenço e sem documento.

Eu vivi este tempo de escolas de samba. Era um tempo em que alegorias, fantasias e até boa parte dos instrumentos, como pandeiros e tamborins, eram de fabricação doméstica; e no qual o que valia era a participação comunitária. Nestas comunidades como a da Vila Capanema compareciam entre outros convidados ilustres, Mestre Maé da Cuíca, Chocolate, Glauco Souza Lobo, Homero Réboli (meu saudoso parceiro, amigo e compadre),  Laé di Cabral, Charrão, Mestre Libanio, Picolé, Ceguinho, Amauri, Fernando Lamarão, Pernambuco, Binho, Pelezinho, Mancha e Reinaldo de Carvalho, o Bola, já um grande percussionista.

O mundo do samba de Curitiba, como de resto no Brasil, se estruturava, realmente, como um universo à parte, com regras, usos, costumes e até um vocabulário peculiar. Nesse universo, as células principais eram as escolas, cada uma delas, por sua vez, surgidas em geral de núcleos familiares que as dirigiam e davam suporte.
Embaixadores da Alegria os Davilas (Delci e Edson), Dom Pedro Jubal e família, Mocidade Azul, Afunfa, Charrão e esposa Célia, Colorado, Ismael Cordeiro filhos e irmãos. Soma-se a este universo: Chocolate e Tia Hilda, Marlene e Amauri, Tia Nair Réboli, Marlene e seu Nego Dalvino, família Santos, família Brito, Julio Diabo, José Cadille e muitas outras que tomaram as escolas de samba como espaço-ação no mundo desigual e assim ali, naquele espaço existia entre nós a possibilidade concreta da felicidade.

Fiquei pensando, cá com meus botões, se os carnavais de ontem são iguais aos de hoje.
A conclusão? É claro que são. A festa nunca passa, não muda, vejam o caso de Garibaldes e Sacis no carnaval de hoje,  tem sempre o mesmo significado, mas o que realmente muda são as pessoas, a maneira de brincar o carnaval, de se esbaldar no samba, de vibrar com as cores da sua escola (saudade da Escola de Samba Colorado – Vila Tassi ou Capanema) fazendo bonito no asfalto negro, palco das historias de enredos e sambas.
Fui um solitário nestas coisas de divulgar e promover o carnaval de Curitiba e principalmente quando o assunto era escola de samba, mas vesti acho, com dignidade a fantasia que me couber pra atravessar a avenida das palavras (e composições que criei) em ritmo de telecoteco, balacobaco e ziriguidum.

A festa do carnaval continua a mesma, porém estamos vendo os valores sendo pervertidos. Já mudaram até o gordinho do Rei Momo. Pode uma coisa dessas? O Rei Momo tem de ser magrinho por causa da saúde – coisa de: politicamente correto – não que eu defenda a obesidade, mas onde está o lúdico de quem vive o carnaval?

Sempre fui um crítico das políticas culturais da administração municipal com relação às escolas de samba, o nada de sempre que se toma para levar um pouco de diversão e dignidade às escolas de samba locais que, aos trancos e barrancos, se arrumam como podem para desfilar. Despejaram o carnaval no meio do ralo interminável da indústria cultural e o transformaram apenas em mais um período do ano com algumas festividades.

Nem sempre foi assim.
Lembrei outro dia do meu velho e saudoso amigo Mauricio Fruet.

Cláudio Ribeiro, Glauco S. Lobo, ? e Mauricio Fruet
Mauricio, então prefeito de Curitiba, já vai tempo e tome tempo, atendendo a um pedido meu (era o presidente da Associação das Escolas de Samba) e de Glauco Souza Lobo (partiu recentemente), seu diretor da Fundação Cultural de Curitiba, assinou um decreto nomeando (sem concurso) Rei Momo do Carnaval de Curitiba o grande Reinaldo de Carvalho o Rei Bola.
Oficializou o gordo, simpático e comunicativo << Bola >> como o Rei Momo de Curitiba,
dispensando qualquer eleição. O mais competente Rei Momo que o carnaval curitibano já teve. Foi há 30 anos!

A história do Rei Momo é mais uma contribuição da mitologia grega. Segundo a lenda, Momo era o deus da galhofa, dos delírios, adorava uma festa, mas fazia tanta bagunça que acabou expulso do Monte Olimpo. E veio parar justamente no Brasil, mais precisamente em Curitiba, cidade tida como a capital que não tem carnaval!

O Rei Bola era simpático, agitado, bonita voz, conhecendo todo o repertório de marchinhas e sambas carnavalescos, foi responsável por grande parte da alegria no carnaval de Rua de Curitiba na década de 80. Foi, ao lado de Homero Réboli, Nelson Santos e Carlos Mattar, meu parceiro em inúmeros sambas. Durante muito tempo, pertencer ao seleto grupo de compositores de uma escola de samba era um privilégio e uma honra. Assim, fui da Ala de Compositores da Mangueira do Rio de Janeiro, como a de inúmeras outras aqui de Curitiba.
Vencedor como interprete por duas vezes do Festival Abre Alas, um concurso de músicas de carnaval que criei, coordenei e apresentei pela Secretaria de Estado da Cultura. Bola adorava cantar.
Bola vai ao Rio de Janeiro, depois de ser por anos nosso Rei Momo e lá obtém grande prestigio sendo coroado nos seguintes anos: 1987, 1988, 1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994,1995. Nenhum foi rei como Reinaldo de Carvalho, o Bola – o mais famoso dos momos que já desfilaram na cidade do Rio de Janeiro.

Bola morreu em 1995 e até hoje é lembrado com carinho.
Existe em Curitiba uma rua que leva seu nome: Rua Reinaldo de Carvalho (Bola) localizada no bairro de Ganchinho.
Bola sabia que para a felicidade, como para tudo na vida, é preciso se libertar, se plenificar para o prazer. E como tinha prazer estar ligado ao samba e ao carnaval. Sambava lindo que só vendo mesmo com seus 265 quilos!
Só pode experimentar a felicidade aquele ou aquela que se liberta da submissão.
Se nos é possivel o acesso ao mundo da felicidade, se esta é uma opção que esta à nossa frente, o minimo que podemos fazer é buscá-la como fez com sua alegria o Rei Bola: de forma subversiva sem submissão no carnaval!
Cláudio Ribeiro
Jornalista-Compositor
Ouça aqui a primeira gravação do Carnaval Curitibano – Atenção: para ouvir pare o som da web radio Brasil Cultura.

Quilombhoje: espírito de quilombo nos dias de hoje. Desde 1980 colocando mais africanidade na literatura brasileira

28 de fevereiro de 2019, marcou os 39 anos de criação do Grupo Quilombhoje Literatura que, em 1980, abriu espaço para que escritores negros pudessem fazer e discutir literatura. Mas, qual a importância de um coletivo que reúne escritores negros? Entenda a importância social e política do Quilombhoje e de outros grupos e editoras com temática racial.
A ideia de brasilidade foi construída no século XIX e a literatura teve papel importante nesta construção. Como expressa a professora Drª. Florentina Souza, intelectuais do século XIX fizeram da literatura veículo de construção e transmissão de ideias e valores que compuseram os discursos oficiais sobre o Brasil, os quais José de Alencar, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, entre outros. Neste sentido, políticos e intelectuais elegeram quais símbolos ou grupos enaltecer ou esquecer nesse processo de construção identitária e, o elemento negro, ora era invisibilizado, ora, retratado a partir de estereótipos racistas. Algumas obras alçadas à condição de clássicos literários corroboram com esta perspectiva. A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães, apresenta a heroína escravizada com características brancas a fim de ressaltar a humanidade desta. No romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, nos deparamos com a bestialização com a qual foi retratada a ‘‘escrava Bertoleza’’ e a erotização da ‘‘mulata Rita Baiana’’.
Entre os séculos XIX e século XX, alguns autores proeminentes negros buscaram trazer à tona as condições impostas aos escravizados e seus descendentes, entretanto, muitos destes autores ficaram à margem do cânone literário brasileiro, tendo sido resgatados na contemporaneidade. Entre estes autores, destacamos Luís Gama, filho de uma africana escravizada e um português; Lima Barreto, neto de escravizados; Solano Trindade; Maria Firmina dos Reis que, em 1859 publicou Úrsula, o primeiro romance de temática abolicionista no Brasil; José do Patrocínio; André Rebouças e Cruz e Souza, escritores negros que retrataram o negro enquanto sujeitos de suas próprias histórias.
Inseridos em um contexto de exclusão social e racial e de séculos de silenciamento, as vozes literárias negras ganharam força a partir grupos, jornais e associações no início do século XX. A partir destes encontros, como lembra Florentina Souza, promoviam confraternizações, cursos e festas na tentativa de romper as barreiras da política cultural da época; O Clarim da Alvorada, o Jornal Quilombo, dirigido por Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, Jornal do Movimento Negro Unificado, os Cadernos Negros, entre outros grupos da imprensa, arte, política, literatura foram exemplos de grupos que reuniam artistas e intelectuais negros.
Na luta contra a exclusão e o silenciamento, a população negra, especificamente no campo da literatura, tem feito uso de coletivos como forma de fortalecimento, resgate da história e da cultura afro-brasileira, de inclusão político-social, mas também como forma de superar as dificuldades mercadológicas. O grupo Quilombhoje, que nesta data comemora 39 anos de criação, é uma das vozes dessas expressões.
O Quilombhoje foi fundado em 1980 por Cuti, Oswaldo de Camargo, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues e outros escritores com o objetivo de discutir e aprofundar a experiência afro-brasileira na literatura, incentivar o hábito da leitura e promover a difusão de conhecimentos e informações sobre literatura e cultura negra. Em 1982, com a entrada de Esmeralda Ribeiro, Márcio Barbosa (atuais coordenadores), Miriam Alves e Oubi Inaê Kibuko, o grupo assumiu a organização dos Cadernos Negros (coletânea publicada anualmente desde 1978), que tornou o grupo conhecido nacionalmente.
O Grupo publica autores negros e incentiva outros a seguirem o exemplo, fomentando a produção literária negra, historicamente excluída das grandes editoras. É importante ressaltar que a escritora Conceição Evaristo foi revelada na década de 1990, nos Cadernos Negros. Conceição Evaristo, em 2018, foi candidata a ocupar a cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, lugar, até então, nunca ocupado por uma escritora negra.
Pesquisa realizada pela professora Drª Regina Dalcastagnè, em 2005 e que resultou no livro “Literatura Contemporânea – Um Território Contestado” (2012), revelou o cenário literário e editorial brasileiro. 93,9% dos autores e 92% dos personagens, numa sociedade onde 54% da população é negra, são brancos. 7,9% dos personagens são negros e só 5,8% destes sãos protagonistas, dos quais, ainda, 20,4% eram bandidos ou contraventores, 12% empregados domésticos e 9,2% escravizados.
Para minimizar e combater os efeitos desta modalidade de racismo institucional, editoras com recorte racial têm se tornado uma importante ferramenta de inclusão. As editoras Malê, Ogums, Nandyala, bem como o grupo Quilombhoje têm constituído caminhos para a publicação de autores negros, na contramão do cenário editorial brasileiro, seguindo e atualizando a herança de Luís Gama, Cruz e Souza, Lima Barreto, Solano Trindade e Carolina de Jesus. Esta, ainda tímida mudança no cenário, tem feito com que eventos, feiras e bienais literárias foquem em temas como diversidade e convide autores de diversos segmentos sociais e étnico-raciais, especificamente negros e indígenas. Esta mudança, no entanto, ainda não é observada nas livrarias Brasil a fora, onde a presença de autores negros é mínima.
E você, quantos autores e autoras negras já leu?
Para saber mais:
Site Quilomhoje: https://bit.ly/2EEUPkQ
Adaptado Pelo Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, 04/03/2019.

Miguel Proença toma posse como presidente da Funarte

Ministro da Cidadania Osmar Terra e Presidente da Funarte Miguel Proenca_Posse_26.02.2019

O ministro da Cidadania, Osmar Terra (esq.), e o presidente da Funarte, Miguel Proença - 26/02/19 - Foto Funarte

Pianista renomado, que foi diretor de instituições artísticas e secretário de Cultura do Rio de Janeiro, foi empossado pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, no dia 26 de fevereiro.

O novo presidente da Fundação Nacional de Artes – Funarte, Miguel Proença, foi empossado nesta terça-feira, 26 de fevereiro, pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, na sede do Ministério, em Brasília. A solenidade contou com a presença do secretário especial da Cultura, Henrique Medeiros Pires.
Com novas ideias para a instituição, o pianista – com 55 anos de carreira, de renome internacional e premiado pela Unesco – foi diretor artístico do Teatro do SESI – RS e secretário Municipal de Cultura do Rio de Janeiro; e dirigiu a Sala Cecília Meirelles e a Escola de Música Villa-Lobos.
Selecionar e unir pessoas para atingir todo o país
A principal estratégia de Proença é espalhar ações da Fundação por todas as regiões do País, por meio de parcerias com agentes culturais de várias áreas artísticas. “Pretendo criar uma grande corrente de participação, incluindo na equipe realizadores que produziram experiências artísticas vitoriosas em suas regiões. Eles trabalharão nas representações da Funarte ou em suas cidades de origem.
Para o gestor, esse plano tem condições de levar a Funarte a todo o Brasil – presença essa que faz parte da missão da entidade. “Nesse programa, a Fundação deve ser, antes de tudo, uma fonte geradora de novas possibilidades para essas programações de sucesso. Deve ter um papel de direção artística”. Proença cita alguns dos futuros colaboradores: “A diretora do Teatro da Paz, em Belém do Pará, Glória Caputo; Maria das Graças Neves, em Vitória (ES) – que sempre foi uma grande animadora cultural; Em São Paulo, Lilian Barreto, que foi diretora do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e da Sala Cecília Meireles e idealizadora do Concurso Internacional de Piano do Bndes, entre outros nomes”. A ideia é que haja um excelente produtor como diretor artístico da Funarte, em cada região do país, em todos os estados onde for possível. “Promoveremos uma grande união de todos esses animadores culturais e isso será muito importante”, anuncia o presidente.
“Sou um inquieto que, essencialmente, trabalha com impulso criativo”, diz o presidente. Empolgado, ele já pediu que um dos pianos da Funarte seja colocado em seu gabinete. “Quero tocar depois do trabalho e, com isso, já criar um ambiente de arte na própria sede da instituição”, comenta.
Ações mais direcionadas ao público – especialmente a jovens
Essa presença nacional da Fundação deve ter como foco essencial o público. “Ele é meu alvo e sempre foi. Isso me guia. É importante formá-lo, conquistá-lo e mantê-lo”, define. Nesse sentido, seus planos também incluem ações educativas para crianças e jovens – como concertos didáticos e visitas guiadas a mostras de artes plásticas e audiovisuais – entre outras. “Nelas, os jovens vão aprender tudo sobre o que vão ver”, destaca Proença, citando sua experiência nos concertos didáticos que instituiu na Sala Cecília Meireles (que, segundo tanto emocionaram crianças e adolescentes).
“Pretendo fazer o projeto Cine Paradiso – Guerra ao Tablet, ou algo assim, com os mais belos filmes para jovens, para aproximá-los da arte, afastando-os um pouco do excesso de uso dos celulares e outros dispositivos digitais”, acrescenta. Ele planeja, ainda, que a Funarte desenvolva propostas com grupos de arte de comunidades carentes. O objetivo é a inclusão social e a qualificação de artistas com grandes talentos. “Já fizemos isso na Sala Cecília Meireles, unindo música erudita e popular”, reforça.
Ideias para atividades musicais, cênicas e de artes visuais
“Na música, quero que o Brasil não fique mais de costas para os outros países da América Latina. Os músicos vão muito para a Europa. Onde está nossa América, que tem tantos talentos? Quero que a Funarte faça essa união, a partir da XXIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea [2019], com apresentações especiais, com obras de compositores e intérpretes de outros países” propõe o presidente.
Para o circo, ele indica o desenvolvimento de novas expressões, tais como “pole dance” – destacando talentos nacionais das artes circenses. Quer desenvolver a relação destas com linguagens derivadas da “commedia dell’arte” – que, é claro, também contempla o teatro; e interação com o balé, em espetáculos mistos. “Pretendo que a Funarte resgate a magia do circo e também ajude a renová-lo”, afirma.
No teatro, Proença deseja que o Dulcina, no Rio comece a apresentar peças clássicas e a resgatar sucessos, como Gota D’Água (numa homenagem a Bibi Ferreira). “Quero transformar esse teatro – já um símbolo da Funarte – num espaço com muitas possibilidades; deixá-lo muito popular e, ao mesmo tempo, nobre”. Quanto às outras salas da instituição, quero que haja nelas muitos e variados espetáculos”. Pretende apresentar, por exemplo, pequenas óperas, semelhantes às da Pocket Opera (EUA), com árias destacadas. “A produção de ópera é cara. Mas esse formato permite difundir essa arte para quem não a conhece, com um investimento viável”, explica o dirigente –  inspirado na recente viagem que fez à Alemanha, de onde pensa em trazer bons cantores, com a parceria de uma grande escola de ópera.
Peças de ballet e obras que revivam teatro de revista estão também entre os projetos para os teatros da Funarte. “A programação será planejada conforme cada espaço”, completa. Nos menores, o dirigente quer que haja pautas “bem didáticas”. Para os adultos, quer implantar, em parceira com o musicólogo e pesquisador Ricardo Cravo Albin o “Recordando”, projeto que resgata a memória de grandes cantores – no qual já homenageou Braguinha, entre outros nomes.
Nas artes visuais, a ideia é identificar espaços para parcerias em exposições da Funarte, com obras de qualidade. “Já estamos localizando algumas galerias. Nelas, a Fundação deve promover visitas guiadas para estudantes de todos os níveis escolares, com apoio de monitores capacitados.
O presidente pretende ainda que a Funarte estimule a população a ouvir música e dançar, em logradouros públicos de várias cidades do país, tocando gravações de obras populares ao ar livre – de ritmos típicos locais, como maracatu (PE), carimbó (PA), samba (RJ) e muitos outros – no projeto Trabalhou, dançou.
Sobre o quadro geral de contenção de despesas do País, Proença reconhece que a verba da Funarte hoje é pequena; e que, em princípio, deverá adequar seus propósitos a essa realidade; “Mas vou ver o que posso fazer quanto a isso” avalia. Diz, porém, que em 2019 a entidade vai executar o que já está programado em seu orçamento.
A carreira de Miguel Proença
Nascido em Quaraí (RS), em 1939, Miguel Angelo Oronoz Proença é doutor pela Escola Superior de Música de Hannover. Lecionou no Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e ocupou o cargo de professor convidado da Universidade de Música de Karlsruhe (Alemanha). Como pianista de concerto de repertório amplo, atuou como camerista e solista, em todo o Brasil e em vários países estrangeiros.
Nos anos 1970, coordenou a Sala Funarte. Em 1979, participou de uma caravana de música erudita e popular do Projeto Pixinguinha, da Fundação, ao lado da soprano Maria Lúcia Lucia Godoy e do sexteto Viva Voz, com repertório nacional de concerto e popular. Gravou diversos discos, incluindo a coletânea Piano Brasileiro (2005) – prêmio Patrimônio da Música Brasileira da Unesco (ONU) –, e o CD Tango, gravado com Bibi Ferreira (2006). Gravou peças Villa Lobos, de cuja obra para piano é considerado um dos maiores intérpretes, e de Alberto Nepomuceno, entre outros compositores. Organizou e foi o protagonista da série de turnês Piano Brasil, que levou música erudita a 150 municípios de todos as unidades da Federação e a países como Itália, França, Espanha e Macedônia. Em 2015, tornou-se Cidadão Honorário do Rio de Janeiro, onde mora. Integrou o júri de diversas competições internacionais em países como Japão, Portugal, França, Itália e Espanha. Integra o Hall da Fama da Steinway & Sons (Hamburgo, Alemanha), juntamente com os maiores pianistas de todos os tempos.
Sempre atuou em projetos artísticos, educacionais e de formação de público. De 1995 a 1998, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Capes (MEC), proporcionou a centenas de estudantes brasileiros bolsas de estudo, na Europa, Rússia, Japão e Brasil. Na década de 1980, foi diretor da Escola de Música Villa-Lobos, no Rio, e, entre 83 e 88, secretário de Cultura do município. Nesse ano e em 89, foi escolhido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como o melhor pianista do ano. Dirigiu a Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro, de 2017 até janeiro de 2019.
Em 1991, foi instituído comendador da Ordem do Rio Branco (Governo Federal), por suas atividades no cenário musical brasileiro. Executou a partitura de piano da trilha sonora do filme Villa-Lobos – uma vida de paixão (2000), dirigido por Zelito Viana. Em 2003, fez recitais na França, Itália, Japão, Alemanha, e Eslovênia. No ano seguinte, integrou o júri do 5th International Tchaikovsky Competition, no Japão, e do Concurso Internacional de Piano Vianna da Motta, em Portugal.
Jornais de vários países enaltecem seu trabalho musical, tais como o La Marseillaise (Marseille, França) –  “…ama seu piano e transfere esse sentimento ao seu público…um grande instrumentista” –, o Daily Telegraph (Londres, Inglaterra) – “A sonoridade de Miguel Proença tem vida…” – e o The New York Times (EUA), em texto de H. Schonberg: “Domínio técnico e belíssima sonoridade…”
Fonte: FUNARTE

Guia de segurança para LGBTs no Carnaval

Foto: Mídia NINJA
Carnaval 2019 tá aí né mores, e a gente ainda precisa falar o óbvio.
Mas não vamos deixar de dizer. Por isso, a Mídia NINJA faz esse chamado para uma campanha de conscientização para erradicar a LGBTfobia.
As pessoas LGBts são mais vulneráveis em festas de Carnaval. Exerça sua empatia, seja aliada dessas pessoas e não se esqueça: proteja os seus e suas amigues!
Então vamos todes, lésbicas, homens e mulheres trans, gays, bissexuais, não-bináries, juntes por um carnaval seguro para as gay, as bis, as trans e as sapatão. 🎉
Não esqueça de compartilhar esse guia com todes.

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Fonte: MÍDIA NINJA