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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

“A Operação Lava-Jato é a máscara nova de uma farsa que tem 100 anos"

Foto: ADURN
Jessé Souza é um dos principais pensadores contemporâneos do país. Natural do Rio Grande do Norte, é formado em Direito pela Universidade de Brasília e tem mestrado e doutorado em Ciências Sociais. Em 2015, assumiu o cargo de presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Pediu demissão assim que o golpe foi consumado e Michel Temer assumiu a presidência da República.
Autor de 23 livros, Jessé Souza esteve em Natal durante o ciclo de debates Diálogo promovido pela Adurn Sindicato, ocasião em que também lançou “A elite do atraso: da escravidão à lava-jato”. No seu mais novo livro, o pesquisador reinterpreta a história do Brasil a partir de 1532 até os dias de hoje.
Antes da palestra na UFRN, Jessé Souza conversou com a agência Saiba Mais sobre o livro e o Brasil de ontem e de hoje. Para ele, a operação Lava-jato está fadada a virar a página mais vergonhosa da história brasileira. Confira:
Agência Saiba Mais: Em todas as entrevistas, você relaciona o golpe de 2016 com a escravidão. Onde esses dois elementos se encontram ?
Jessé Souza: É o que conto no livro, a partir do começo. Existe uma interpretação sobre o Brasil. Uma só, que é totalizante. Normalmente as pessoas não percebem isso. As pessoas pensam que cada um tem uma interpretação, o que não é verdade. As interpretações são quanto mais convincentes quando elas explicam o começo de onde a gente vem, quem a gente é… era isso que as religiões explicavam. E toda explicação cientifica que queira ser convincente, se tornar hegemônica, tem que explicar esses espaços, como as religiões faziam no passado. Só existe uma teoria que explica isso no Brasil, que é essa de que o Brasil vem de Portugal. Não vem da escravidão, portanto, porque não havia escravidão em Portugal, a não ser de uma forma bem marginal, não era fundante, jamais foi. Quando você diz que o Brasil vem de Portugal você está dizendo, na verdade, que a escravidão é um fato secundário porque o mais importante é a herança portuguesa, percebe ? A explicação falsa põe alguma coisa secundária no lugar da principal porque ela quer que essa principal nunca seja percebida como tal. E é exatamente como o Brasil é compreendido.
Então é uma explicação inteira totalizante, que vem de Gilberto Freyre, mas não é a versão de Freyre a (explicação) hegemônica. A versão de Freyre via aspectos positivos nessa coisa, assim como o Darcy Ribeiro, outro filho de Freyre. Mas a versão mais importante, entre os filhos de Freyre, foi a de Sérgio Buarque de Holanda, que vê essa coisa vinda de Portugal, que é uma balela, mas vê só negatividade no povo brasileiro, uma negatividade que tem a ver com a corrupção. Porque no fundo, para eles, a herança de Portugal está ligada à herança da corrupção patrimonialista só no Estado, o que é outra bobagem.
Porque a corrupção real não está no Estado. Nem é feita por pessoas individuais. Isso é corrupção de tolos, a corrupção dos imbecis porque compramos, em parte, essa história. Isso tudo para evitar que as pessoas possam ver que é o mercado que compra o Estado. Então na explicação sobre o Brasil o mercado fica invisível. É só o Estado. Então eles dizem que a elite poderosa está no Estado para que você não veja a elite real, que está no mercado e, obviamente, compra o Estado. O político é o aviãozinho do tráfico que fica com 2 ou 3%.
Em suas teses você trabalha o conceito de várias elites. Mas todas a serviço da elite do dinheiro…
Exatamente. Uma coisa é sempre bom perceber: o mundo social é confuso por si mesmo. Aí você diz: “ah, a elite…” mas tem uma que manda nas outras. Tem sempre um aspecto que é mais importante que os outros. E esse aspecto central é que vai explicar todos os outros. No fundo, quando você diz que a elite é política, que está o Estado, é do politico, que é isso que esse pessoal diz e no fundo está vampirizando a sociedade, você está tornando exatamente essa elite do dinheiro invisível.
Qual é a história do Brasil que você conta no livro “A elite do atraso: da escravidão à lava-jato”?
O que eu fiz nesse livro: eu retroagi às minhas teses, às críticas e análises de classe do Brasil contemporâneo que foi o que fiz antes, para fazer uma espécie de histórico desde o ano zero. A ambição desse livro é explicar o Brasil de um modo novo, do ano zero até agora. E escolhi o tema da escravidão, aliás é um negócio incrível que ninguém tenha escolhido esse tema ainda porque é obvio que a escravidão continua. É que as pessoas estavam envoltas nesses pressupostos e soa ridículo se você começa a criticá-los.
Por que ?
Pensa bem: Raimundo Faoro diz que a corrupção começa no século 14. Isso é uma loucura. Não existia corrupção no século 14. É óbvio. A terra era do Rei. E o Rei não ia roubar o que era dele. Isso acontecia em todos os lugares. Isso acontecia na França, na Inglaterra… você só vai ter corrupção no sentido moderno do termo a partir do século 18, quando surge a noção de soberania popular e a noção de bem público, que nasce com a soberania popular. Claro ! Porque se a parte de todo poder é percebida como sendo do povo é que você vai poder desenvolver a noção de bem público no sentido moderno. Antes não existia bem público. O bem era do Rei mesmo. Ele ia roubar o quê se o negócio era dele ? Não só o Rei, mas ninguém achava que aquelas terras não fossem do Rei. Então é um absurdo, uma história de carochinha, idiota, imbecil. É como você botar fórmulas de aproximação entre homens e mulheres exibindo um filme sobre a Roma antiga. Você põe uma aproximação de homens e mulheres que foram desenvolvidos no século 18, ou seja, é ahistórico.
Mas a gente acreditou nessa bobagem. E se você pensa bem, o ano zero aqui é a escravidão. Não tem nada a ver com Portugal. Eram portugueses, o pessoal falava português, mas e daí ? São as instituições que nos moldam. A família… e é tanto que o fato da gente nunca ter criticado a herança escravocrata faz com que as famílias dos ex-escravos se mantenham iguais 500 anos depois. É a não-família, a família mono parental, a família desprezada e odiada do escravo para que ele não tenha autoconfiança, exatamente o que a gente tem agora.
A repercussão junto à classe média da regulamentação do trabalho da empregada doméstica é um exemplo ?  
Exatamente. É um trabalho. E só quem não faz mais a sinapse do cérebro para ver que isso é uma continuação direta do escravo doméstico. O cara não recebe os estímulos em casa para ir bem na escola, e se não vai bem na escola não entra no mercado de trabalho competitivo. Então ele sai e é isso que eu chamo de ralé. E se ele não pode vender a força de trabalho dele com conhecimento, que é a noção da venda de trabalho do capitalismo, ou seja, você tem que ter incorporado o conhecimento, senão você não tem nada o que vender, a não ser sua energia motriz solar, que é o que o escravo vendia. As continuidades são insofismáveis e a gente está com essa bobagem.
Se você não sabe quem você é, como você vai se comportar ? A gente não é abelha, formiga, não recebe o DNA. A gente vai agir em todos os níveis, politicamente, economicamente a partir de ideias, quer a gente tenha consciência disso ou não. Essas ideias geralmente estão naturalizadas, a gente não reflete mais sobre elas, não as articula. Mas nosso comportamento é determinado por ideias e aí se a gente tem falsas ideias conduzindo nosso comportamento, o nosso comportamento vai ser errático.
Onde começa a história do Brasil para você, já que o início não tem relação com a chegada dos portugueses ?
Em 1532, quando você deixa a extração episódica do litoral de pau Brasil, essa coisa extrativista, e se investe numa sociedade agrícola regular baseada no trabalho escravo. Então é quando você vai ter o início de uma vida social e econômica do Brasil. Nessa hora ainda não tem corrupção. Mas se fala muita bobagem, como a que diz que a carta do Pero Vaz de Caminha já chega pedindo um favor. Isso é uma bobagem indescritível. Porque os caras faziam isso na França, na Inglaterra… claro ! O Rei mandava e eles tinham que puxar o saco do Rei mesmo, então que diabo é isso, falam como se fosse uma coisa singular brasileira. Isso é uma coisa imbecil. Estamos sob a égide de ideias imbecis. Não existe um mínimo de crítica e nos legaram a esse estado que estamos agora: o de um país rico, empobrecido, saqueado por ideias, claro ! A ideia é que essa história que é escrita e que é efetivamente pensada como sendo a nossa, é uma história oficial para a elite. Foi a elite paulista que montou isso. E montou sabendo o que estava fazendo.
Quando e de que forma isso ocorreu ?
Nos anos 1920 e 1930. Em 1930 a elite perde o poder para Getúlio Vargas causada pela agitação tenentista dos anos 20. E o tenentismo foi um movimento de classe média que apontava para todas as direções: esquerda, direita, centro… tinha desde Prestes à gente que fazia oposição a Getúlio pela direita. A elite do dinheiro paulista, que não é melhor ou pior que nenhuma elite do Brasil, é apenas a mais forte, montou a ideia de que: “se eu perdi o poder político para essa rebeldia heterodoxa de classe média, eu tenho que controlar a classe média. Nos escravos e na classe trabalhadora eu desço o cassete”. E na primeira greve geral, em 1917, o Governo mandou descer o sabre em famílias de trabalhadores, houve centenas de mortes. Aí depois você engana os caras e exila os líderes, exatamente como faziam com os escravos. Mas com a classe média os caras descobriram que teriam de convencê-la. Tinham que montar um poder simbólico, além das fazendas e das fábricas.
E qual era o poder simbólico ? O tema da esfera pública. Você tem que construir fábricas de opinião. Como os jornais só distribuem notícia, não criam ideias, era preciso criar ideias. E como quem constrói ideias são os intelectuais, quem tem prestígio e treinamento para isso, criaram a USP para isso. E eles mesmos diziam: “vamos construir aqui um polo ideológico para que nunca mais aconteça o que aconteceu com o Vargas e se acontecer a gente possa tomar o poder de novo porque temos a hegemonia ideológica”. Então o terreno da USP pertencia à família Mesquita, que controla o jornal O Estado de São Paulo. A elite montou e fez.
Os conceitos de patrimonialismo, essa bobagem monumental, e o conceito de populismo, essa imensa maldade que é você estigmatizar qualquer coisa que venha das classes populares como falta de instrução e criminaliza-la porque você já liga os líderes às classes populares. Então juntando o patrimonialismo ao populismo que vai ser ensinado em todas as universidades, você vai educar todas as elites de todos os lugares nessa bobagem. Tudo o que a imprensa diz quando se refere à política é uma mistura entre patrimonialismo e populismo. Isso em pílulas porque a legitimação intelectual já está dada. Essa é a dominação atual do Brasil.
Fonte: ADURN

Jessé Souza: “Lava Jato é a máscara nova de um jogo antigo”


Com a assertiva de que vivemos o momento mais sombrio da nossa história e de que Lava Jato é a máscara nova de um jogo antigo, Jessé Souza lançou nesta sexta, 13, em Natal, sua mais recente obra “A Elite do Atraso: da Escravidão à Lava Jato”. Ao lado de “A Tolice da Inteligência Brasileira”, de 2015, e de “A Ralé Brasileira”, de 2009, o livro compõem uma trilogia, num esforço de repensar a formação do país e a origem escravocrata das suas relações sociais e da corrupção.
Em palestra concorrida, o sociólogo falou para uma plateia de mais de duas centenas de professores universitários, estudantes, políticos, petroleiros, juristas, profissionais da mídia e de diversas outras categorias, lideranças dos movimentos sociais e sindicais e a sociedade civil, que lotaram o auditório do Centro de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Ao abrir a segunda edição do Projeto Diálogos, uma realização do ADURN-Sindicato e da Cooperativa Cultural da UFRN, Jessé falou do instante de dificílima percepção para as pessoas de que o país sempre foi apresentado de um modo falso, desde a sua origem, quando aprendemos na escola a história de que viemos de Portugal e que é de lá que herdamos a corrupção presente apenas na política.
Para ele, é preciso “mostrar que o real problema nosso é a desigualdade, a exclusão, seja pela continuidade da escravidão de parcelas consideráveis da população, que têm condições muito semelhantes à de ex-escravos, seja por uma elite que continua explorando, saqueando e rapinando nossa riqueza”.
Jessé avalia que a Lava Jato é mais um desdobramento recorrente dessa percepção da história do Brasil destinada a enganar o público. “A Lava Jato é a máscara nova de um jogo antigo”, afirma.
Ao explicar como se dá esse processo de sistemática desvirtuação da realidade, o sociólogo diz sermos filho de um regime de escravidão, que não existia em Portugal, e que instituiu no país uma família, uma política e uma justiça muito distintas. Para ele, temos uma formação muito singular e uma elite igualmente singular, que repete há 500 anos o saque e a venda.
Nesse repetir desde sempre a mesma prática, Souza diz que “a elite comprou uma intelectualidade e uma imprensa, que não funciona como tal, já que não é plural, não põe duas opiniões nunca e é típica de um país ditatorial”.
“O que a Lava Jato fez, juntamente com a mídia, e especialmente com a rede globo, foi distorcer a realidade e fazer de conta que a corrupção está num lugar, e não está, porque a política é comprada pelo mercado e os juros que pagamos, o orçamento pago, vai todo para os rentistas”, esclarece Jessé ao apontar a dívida pública como a real corrupção no país.
Com a assertiva de que é necessário oferecer um sentido correto à corrupção que está na semântica popular, Souza afere que a maneira como foi forjada a compreensão do Brasil cria uma distorção da realidade em nome de questões falsas como a que o mal é da corrupção na política apenas.
“Está havendo uma regressão civilizacional do nosso país em nome do saque e da rapina de uma meia dúzia, legitimada por uma mídia que não merece esse nome”, enfatiza Jessé ao tratar do processo de privatizações em curso. “Estão vendendo nosso país, nossas riquezas, como petróleo e água, a partir da mentira de que a questão está na corrupção só dos políticos”, acrescenta.
Na avaliação do sociólogo, a sociedade está exposta à farsa e à fralde em grandes proporções a partir de mentiras produzidas midiaticamente com o objetivo de perseguir políticos e partidos e criminalizar a demanda por igualdade social.
“Se o povo não consegue mais expressar seus ressentimentos e justas raivas contra a sua exclusão de forma política e racional, como vai explicitar? Sobram as formas de violência e ódio diretos que hoje convivemos em nosso país e é personificada na figura do Jair Bolsonaro”, aponta Jessé Souza.
Ao final da exposição, o sociólogo Jessé Souza respondeu às perguntas encaminhadas à mesa e fez uma sessão de autógrafos. Os livros comercializados no local tiveram as vendas esgotadas.
Fonte: ADURN

Cinemateca apresenta retrospectiva do diretor italiano Dario Argento

O gato de nove caudas
Fonte: BRASIL CULTURA
Cinemateca de Curitiba apresenta de 17 a 21 de outubro uma seleção de dez filmes do diretor italiano Dario Argento, considerado um dos mestres do cinema de terror e principal representante do gênero conhecido como “giallo”, baseado em histórias de assassinatos em série. A mostra “L’Oro di Argento” é realizada pelo Consulado Geral da Itália, com curadoria de Antonio Cava.
Os principais filmes do cineasta, produzidos entre 1970 e 1996, estarão em exibição e serão também tema de um debate, sábado (21), às 17h30, com o organizador Antonio Cava, o crítico de cinema Marden Machado, o diretor de cinema Paulo Biscaia Filho e o curador Fernando Brito, da série “Giallo” e “Obras primas do Terror” da DVD Versátil.
O diretor – Filho do famoso produtor italiano Salvatore Argento e da fotógrafa brasileira Elda Luxardo, Dario Argento tem entre suas maiores influências os livros de capas amarelas (Giallo), extremamente populares com histórias de assassinatos em série, mistérios, suspense e doses de terror. Centenas de filmes dos anos 70 e 80 foram baseados em contos publicados nestes livros.
Argento, que sempre teve paixão por histórias policiais e de suspense, além de profunda admiração pelo diretor americano Alfred Hitchcook, definiu o caminho que trilharia no cinema com seu primeiro filme, O pássaro das plumas de cristal (1970), imprimindo nas telas uma tensão psicológica e visceral até então desconhecida no cinema. O gato de nove caudas e Quatro moscas no veludo cinza, ambos de 1971, acabaram por confirmar sua excelência. Em 2009 lançou Giallo – Reféns do Medo numa clara homenagem ao estilo que o consagrou.
Programação:
17 de outubro (terça-feira)
15h – “O Gato de Nove Caudas” (“Il gatto a nove code”, 1971, 112 min.) Com James Franciscus, Karl Malden e Catherine Spaak.
Um repórter e um jornalista cego aposentado tentam resolver uma série de assassinatos e acabam se tornando alvos do assassino.
Faixa etária: 16 anos.
17h – “O Pássaro das Plumas de Cristal” (“L’uccellodallepiumedicristallo”, 1970, 97 min.) Com Tony Musante, Suzy Kendall e Enrico Maria Salerno.
Um escritor americano que mora em Roma assiste ao assassinato de uma mulher. Como a polícia não resolve o caso, ele decide investigar.
Faixa etária: 16 anos.
18h30 – Coquetel de abertura da mostra e da exposição “L’ Oro di Argento”.
19h30 – “Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza (“Quattro Mosche di Velluto Grigio”, 1971, 104 min.) Com Michael Brandon, Mimsy Farmer e Jean-Pierre Marielle.
Um músico é perseguido por um assassino misterioso que o chantageia pela morte acidental de uma pessoa.
Faixa etária: 16 anos.
18 de outubro (quarta-feira)
15h – “A mansão do inferno” (Inferno, 1980, 106 min.) Com Leigh McCloskey, Irene Miracle e Eleonora Giorgi.
Rose é uma jovem poetisa que mora numa estranha casa em Nova York. Um dia, ela compra um livro chamado “As Três Mães” e se convence que sua casa foi lar de uma das bruxas da obra. Segunda parte da “Trilogia das Mães”, iniciada por “Suspiria”.
Faixa etária: 18 anos.
17h – “Suspiria” (Suspiria, 1977, 99 min.) Com Jessica Harper, Stefania Casini, Flavio Bucci.
Suzy é uma jovem norte-americana que viaja para Friburgo para estudar numa conceituada academia de dança. Porém, uma série de assassinatos leva Suzy a descobrir a verdade sobre a academia.
Faixa etária: 16 anos.
19 de outubro (quinta-feira)
15h – Tenebre” (“Tenebrae”, 1982, 106 min.) Com Anthony Franciosa, Christian Borromeo, Mirella D’Angelo.
Escritor chega a Roma para promover seu livro, mas descobre que alguém está usando seus romances como inspiração para cometer assassinatos.
Faixa etária: 18 anos.
17h – “Phenomena” (Phenomena, 1985, 116min.) Com Jennifer Connelly, Donald Pleasence, Daria Nicolodi.
Uma adolescente americana vai estudar em colégio interno para garotas, na Alemanha. Enquanto ela explora sua capacidade especial de se comunicar com insetos, um assassino aterroriza o local com seus crimes brutais.
Faixa Etária: 16 anos
20 de outubro (sexta-feira)
15h – Síndrome mortal” (La sindromedi Stendhal, 1996, 119 min.)                                                      Com Asia Argento, Thomas Kretschmann, Marco Leonardi.
A detetive Anna Manni, encarregada de prender um serial killer, sofre de Síndrome de Stendhal, doença que faz com que a pessoa sinta vertigens ao ver imagens de grande beleza, como famosos quadros da História da Arte.
Faixa etária: 18 anos.
17h – “Terror na Ópera” (“Opera”, 1987, 107 min.) Com Cristina Marsillach, Ian Charleson e Urbano Barberini.
Uma jovem soprano é perseguida por um assassino doentio durante a montagem da ópera “Macbeth” em Milão.
Faixa etária: 16 anos.
21 de outubro (sábado)
15h30 – Prelúdio para Matar” (ProfondoRosso, 1975, 127 min./105 min.) Com David Hemmings, Daria Nicolodi, Gabriele Lavia, Clara Calamai.
O músico inglês Marcus Daly testemunha o brutal assassinato de uma famosa médium, mas não consegue identificar o criminoso. Obra máxima de Argento e o maior giallo de todos os tempos. Faixa etária: 16 anos.
Após a sessão, às 17h30, debate com o organizador Antonio Cava, o crítico de cinema Marden Machado, o diretor de cinema Paulo Biscaia Filho e o curador Fernando Brito da série “Giallo” e “Obras primas do Terror” da DVD Versátil.
Serviço:
Mostra “L’Oro di Argento”, filmes de Dario Argento
Local: Cinemateca de Curitiba – R. Carlos Cavalcanti, 1174 – São Francisco
Data: 17 a 21 de outubro de 2017
Entrada franca
Realização: Consulado Geral da Itália – Curitiba
Curadoria: Antonio Cava
Apoio: Prefeitura de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba e DVD Versátil

Gabriel e a montanha, o ouro do tempo

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Por José Geraldo Couto*
O segundo longa-metragem do diretor de Casa grande não apenas confirma seu talento como atesta um notável amadurecimento artístico e humano, no enfrentamento, desta vez, de um desafio mais complexo: reconstituir dramaticamente os últimos dias de vida de Gabriel Buchmann, jovem economista brasileiro morto ao escalar o monte Mulanje, no Malawi, no sudeste da África.
Aprendizado e aventura
O tema, à primeira vista, poderia parecer distante do cineasta, mas o fato é que Gabriel foi seu colega de colégio e universidade no Rio de Janeiro. Formados, cada um seguiu seu caminho. Gabriel, depois de entrar numa prestigiosa universidade norte-americana para cursar pós-graduação, tirou um ano sabático para conhecer in loco a realidade dos países pobres da África. Era uma viagem de descoberta, aprendizado e aventura.

É possível ver Gabriel e a montanha, portanto, quase como uma continuação de Casa grande, que era o romance de formação/iniciação de um adolescente da elite da zona sul carioca. Agora, o que vemos, de certa forma, é como se lança ao mundo um daqueles jovens habitantes das nossas casas-grandes.
Para contar essa história, Fellipe Barbosa teve acesso a toda a documentação deixada por Gabriel (diários, fotos, cartas) e optou por um engenhoso dispositivo narrativo que lhe permitiu um tanto de imersão e, ao mesmo tempo, um tanto de distanciamento. Escalou um ator (o ótimo João Pedro Zappa) para encarnar o protagonista e filmou-o nos locais onde se passaram os fatos, em interação com os próprios personagens que com ele conviveram em sua temporada africana.
Enquanto se reconstituem, isto é, se encenam, os episódios vividos por Gabriel, depoimentos em vozover desses personagens “reais” rememoram sua relação com o retratado. O efeito disso é a criação de camadas superpostas de tempos e pontos de vista que, por um lado, enriquecem a narração e, por outro, relativizam seu estatuto de “verdade”, seu efeito ilusionista. O espectador é instado a ter consciência de que aquelas pessoas estão interagindo com um ator que faz de conta que é alguém que elas conheceram de verdade no passado.
Se o método de construção do filme tem muito em comum com Serras da desordem, de Andrea Tonacci, que também reconstituía uma história nos mesmos locais em que aconteceu, e com os próprios indivíduos que a viveram, aqui há essa diferença crucial: o protagonista já não está presente, e em seu lugar há um ator – em certo sentido, um simulacro, um fantasma.
Contradições e coerência
Feita essa opção básica de construção do relato, Fellipe Barbosa corria ainda dois riscos: o de cair na hagiografia, erigindo um herói sem mácula, e o de se perder na miríade de informações de que dispunha e não conseguir dar consistência a seu personagem.

O primeiro perigo – que parece se esboçar na primeira parte do filme, no qual vemos um Gabriel permanentemente simpático, curioso e solidário com todos que o cercam – é afastado quando entra em cena a namorada do protagonista, Cristina (a sempre excelente Caroline Abras), que chega para passar algumas semanas com ele na África.
Além de suscitar uma explicitação das ideias de Gabriel sobre a distribuição da riqueza no mundo, a presença de Cristina faz virem à tona contradições e fraquezas de sua personalidade. Ele se revela uma figura humana, demasiado humana, em toda a sua grandeza e fragilidade.
O outro risco, o de acumular episódios sem conseguir conferir um sentido coerente (em termos dramáticos) à trajetória do personagem, é vencido graças à escolha de um fio unificador: a relação de Gabriel com o tempo.
A chave para essa leitura é fornecida pelo soneto “Ah! Os relógios”, de Mario Quintana, citado duas vezes e declamado uma vez na íntegra pelo protagonista. Seus versos dizem que “o tempo é uma invenção da morte” e “basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira”.
Gabriel parece estar o tempo todo em busca de tal momento de poesia. Por isso, paradoxalmente, perde a noção da hora e está sempre correndo, sempre atrasado: seu visto vai expirar, a última luz do dia vai se extinguir antes que ele consiga chegar ao topo da montanha, o horário para fazer bungee jumping vai terminar, o ônibus vai partir enquanto ele fuma um baseado com alguém que acabou de conhecer numa aldeia, e assim por diante. O epitáfio de André Breton diz: “Eu procuro o ouro do tempo”. Talvez o de Gabriel Buchmann, tal como o filme o descreve, pudesse ser o mesmo. O fato é que o tempo é um personagem, um elemento quase palpável em Gabriel e a montanha.
Tempo controlado
Ao contrário de seu personagem, que perde o controle das horas, Fellipe Barbosa mostra um domínio absoluto do ritmo e do tempo. Extrai o máximo de seus planos longos, sobretudo dos fixos, graças a uma mise-en-scène precisa e de uma eficiente direção de atores.

Um exemplo eloquente é uma cena em que vemos Cristina e Gabriel discutirem de modo crescentemente áspero, sentados lado a lado num ônibus estacionado numa aldeia. A câmera, postada do lado de fora do ônibus, mostra Cristina junto à janela, em primeiro plano, e Gabriel ao fundo. Ao longo da conversa, vendedores ambulantes, dos quais vemos apenas os braços, oferecem bugigangas a Cristina, que as recusa, primeiro com sorrisos, depois de modo cada vez mais seco. Num único plano fixo, desenha-se todo um mundo de ideias, sentimentos em conflito, relações com o entorno.
Se Casa grande era uma experiência de autoconhecimento, Gabriel e a montanha é um exercício de alteridade, de empatia com o outro – um “outro”, no caso, empenhado por sua vez em trocar conhecimento, energia e afeto com seus semelhantes, para além das diferenças de classe social, cultura ou cor da pele. Numa época de intolerância e encastelamento em guetos impermeáveis ao que lhes é diferente, é um alento muito bem-vindo.
Assista ao trailer:
 *José Gerado Couto é crítico de cinema e tradutor. Publica suas criticas no blog do IMS