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domingo, 15 de agosto de 2021

Conheça Ana Júlia, a estudante de 16 anos da EAJ que vai para Harvard nos EUA

  Foto: Cedida/Acervo Pessoal

Conheça Ana Júlia, a estudante de 16 anos da EAJ que vai para Harvard, EUA.

A natalense Ana Júlia Santos Lopes, de 16 anos, foi classificada para participar da Harvard Model United Nations. A conquista veio ao ganhar o bronze no 1º Torneio Brasileiro de Debates do Ensino Médio, na competição participaram 158 estudantes de 25 estados do Brasil.

A estudante da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), Ana Júlia é a única potiguar que compõe o Clube de Relações Internacionais Sérgio Vieira de Mello (CRISVM), grupo de relações internacionais construído e gerenciado por estudantes do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE): Sâmia Freitas, Ryan Paiva, Júlia Moura, Welton Felix e Suzana Brito. “Vou estar lá em Boston, com a bandeira do estado do Rio Grande do Norte e representando todo mundo”, afirmou Júlia.

A vaga para simular em uma das mais prestigiadas universidades do mundo veio após sete meses de preparação. Agora, a estudante da região metropolitana vê sua vida mudar por conta das simulações. “Eu realmente sinto que esse é o meu lugar no mundo, é aqui que eu deveria estar e é aqui que devo estar”, declarou Ana Júlia e acrescentou “simular, é, a princípio, enxergar em você, a mudança que você quer ver no mundo”.

Além disso, Júlia carrega outros méritos das sete simulações em que participou: foi escolhida como melhor delegada, recebeu três menções honrosas e uma menção oral. “Quando ganhei minha primeira premiação, que foi uma menção honrosa, na terceira simulação, fiquei muito feliz pois era na maior simulação da América Latina”, afirmou a estudante.

A Harvard Model United Nations (HMUN) é uma simulação de relações internacionais que será realizada em Boston, nos EUA, e acontece anualmente para alunos do ensino médio do mundo todo. Sendo uma instituição acadêmica tradicional, a simulação segue o modelo da Organização das Nações Unidas (ONU) promovendo a experiência mais próxima da realidade no âmbito das relações internacionais. Nesse critério, os alunos assumem os papéis de líderes mundiais e tomam decisões no cenário mundial.

Os participantes também encontram na HMUN uma oportunidade para praticar as habilidades em oratória, liderança, elaboração de soluções inovadoras e criativas. “Quero passar essa sensação de desenvolvimento, de estar evoluindo, conhecendo mais sobre o mundo e melhorando outros pontos como liderança, planejamento e oratória”, declarou Júlia.

É importante ressaltar que a avaliação que os estudantes enfrentaram para a aprovação, foi a elaboração de quatro redações em inglês, enviadas diretamente para responsáveis em Harvard.

As simulações costumam acontecer da seguinte forma: os participantes representam um país, chamado de delegação, em uma reunião de um dos comitês da ONU (por exemplo, representante do Brasil no comitê da Unesco). Os temas abordados nesses modelos são os mesmos dos fóruns internacionais reais: conflitos armados, direitos humanos, política internacional, aquecimento global, etc.

Os delegados, representantes de suas respectivas delegações, são responsáveis por simbolizar a política interna e externa do país, sua economia, relações com outros países, suas populações e todos os pormenores acerca dele. “Já representei o Brasil em uma Organização Mundial da Saúde que o tema da problemática era: a distribuição da vacina para países em desenvolvimento”, declarou Ana Júlia.

É uma oportunidade para esse estudante descobrir como os conteúdos de história e geografia, por exemplo, têm conexão estreita com os acontecimentos atuais e com seu próprio cotidiano. Além disso, é uma ótima chance de ensinar relações internacionais e conceitos como política e civismo, fundamentais para pessoas de qualquer idade. “Você pode falar sobre política, sobre economia, ter esse protagonismo e você pode ser sim um jovem líder e chegar em Harvard tendo esse potencial de liderança”, afirmou a estudante.

Sobre essa experiência, Júlia ressaltou sua importância: “As simulações da ONU são a minha vida, eu realmente me ressignifiquei como pessoa ao me encontrar como delegada. Simular é estar dentro de um ambiente de pluralidade de ideias e saber que, mesmo com todo o contraste de opiniões, a sua será ouvida”.

Além disso, Júlia ressalta que no início não foi fácil, precisou superar o medo, a falta de incentivo, a ansiedade e a si mesma: “Vivemos nesse mundo de competitividade, mas eu queria mesmo que as pessoas olhassem para essa oportunidade como uma forma de chegar lá, de ver que é possível e de abrir portas para outras meninas e pessoas que gostam desse mundo” e acrescentou “nas simulações eu encontrei um espaço seguro para expor minhas opiniões e poder me expressar”.

Sobre o futuro, a estudante confessou que deseja levar esse conhecimento para outras instituições no Rio Grande do Norte e transformar a vida dos outros estudantes com esse sonho que se tornou realidade. “Eu pretendo fundar um clube de relações internacionais na EAJ, justamente por ter esse amor pelas simulações e por querer que elas mudem a vida de outras pessoas do mesmo jeito que mudou a minha”, declarou a estudante.

A conquista de Júlia abre portas para jovens que sonham em exercer papéis de liderança e protagonismo na sociedade, com o intuito de mudar o mundo a partir de si mesmo. Aos 16 anos, a jovem estudante não só mudou a própria vida, como iniciou um processo de abertura de oportunidades para outros alunos.

Fonte: Potiguar Notícias

De alvo de racismo a “manual do rap brasileiro”: livro celebra “Sobrevivendo no Inferno”

 

Companhia das Letras/Divulgação

Em 1997, os Racionais MC’s estavam às portas de celebrar uma década de existência, algo raro no rap nacional. Após três anos sem lançar um disco, o grupo apresentou o LP Sobrevivendo no Inferno. Hoje, 24 anos depois, não há dúvida de que se trata de uma obra iconográfica da música brasileira.

Embora o sentimento seja amplo, a afirmação é do pesquisador Arthur Dantas Rocha, que acaba de publicar o livro Racionais MC`s: Sobrevivendo no inferno pela coleção O Livro do Disco da editora Cobogó.

“É um disco paradigmático, ele tem um peso que permanece no rap nacional. As gerações coladas a esse disco ficaram reféns desse jeito de se dizer as coisas, de uma estética, enfim, era um manual de como o rap deveria ser feito no Brasil”, afirma o escritor.

Antes do reconhecimento, porém, o grupo teve que enfrentar o preconceito na divulgação do trabalho. “Não tenho medo algum de dizer que o comportamento dos jornalistas com os Racionais e com o disco, era racista. Eles não sabiam como lidar e nem conseguiam achar um lugar para colocar essa música dentro da cultura brasileira. Os Racionais provocaram um curto-circuito na cabeça da crítica cultural daquela época”, ressalta Dantas.

Em 2007, a revista Rolling Stone elaborou uma lista com os maiores discos brasileiros de todos os tempos.  Sobrevivendo no Inferno figura na 14ª posição, ladeado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Novos Baianos, entre outros. Em 2015, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em viagem oficial ao Vaticano, presenteou o Papa Francisco com o disco.

Produzido de forma independente, pelo próprio grupo, Sobrevivendo no Inferno chegou rapidamente ao sucesso, alavancado pela MTV, que passou a divulgar o videoclipe da música Diário de um Detento, um clássico do rap nacional que figura nesse disco.

Confira a entrevista com Arthur Dantas Rocha na íntegra:

Brasil de Fato: Por que o Sobrevivendo no Inferno? Existe essa disputa, entre fãs do grupo, se o melhor disco seria Sobrevivendo no Inferno ou Nada Como um Dia Após o Outro Dia.

Arthur Dantas Rocha: Os dois coordenadores da coleção que decidiram o livro. O meu disco preferido era o Nada Como Um Dia Após o Outro Dia. Mas nós estamos falando de dois discos que são marcos na história da música brasileira, são enormes.

Em alguns momentos você fala sobre a tese de que este seria o disco evangélico dos Racionais. Me pareceu que te incomoda essa possibilidade. Estou errado? Ao fim e ao cabo, você defende ou ataca essa ideia?

Eu já tive discussões longas sobre se seria esse um disco evangélico, tenho amigos que são evangélicos que batem muito nessa tecla. Tem um cara, o MC Empada, que pegou o disco inteiro e comparou com passagens da Bíblia. Obviamente, o disco tem elementos evangélicos, mas tem elementos católicos e do candomblé.

Em Jorge da Capadócia, do Jorge Ben, eles fazem uma interferência, com uma saudação que remete ao candomblé, “Ogunhê”. Então, esse disco tem uma religiosidade mais complexa do que apenas evangélica. É uma religiosidade que tenta dar conta das contradições e dos dilemas de uma pessoa que vive na periferia.

Racionais MCs, grupo formado por Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue na Basílica de Nossa Senhora do Carmo, 1997, São Paulo ( Foto Klaus Mitteldorf/Divulgação)
Esse é o disco que faz o rap ser levado a sério? Você fala desse olhar de exotificação que a imprensa, principalmente a crítica cultural, tinha sobre a periferia. Essa perspectiva, que separa a arte por sua posição no mapa da cidade, é rompida com o disco?

A relação que eles tiveram com a imprensa foi bem racista. Eu não tenho medo algum de dizer que o comportamento dos jornalistas com os Racionais e com o disco, era racista. Eles não sabiam como lidar e nem conseguiam achar um lugar para colocar essa música dentro da cultura brasileira.

Os Racionais provocaram um curto-circuito na cabeça da crítica cultural daquela época. Talvez tenha tocado rap brasileiro na MTV, antes de Sobrevivendo no Inferno, mas a grande febre foi provocada pelos Racionais, foi muito impactante o lançamento do clipe de Diário de um Detento. Foi avassalador. Mas exceção a Caros Amigos e Notícias Populares, os outros meios de comunicação eram racistas, quando tratavam do rap.

Você fala sobre a falta de cordialidade, um mito brasileiro, no disco dos Racionais. Achei interessante você trazer essa perspectiva. Mas ela serve para o rap nacional, não?

É um disco paradigmático, ele tem um peso que permanece no rap nacional. As gerações coladas a esse disco, ficaram reféns desse jeito de se dizer as coisas, de uma estética, enfim, era um manual de como o rap deveria ser feito no Brasil. Isso acontece até hoje.

Agora, eu particularmente, acho que o rap tem que ser o que ele quiser ser, sem fórmulas, um gênero que deve dizer que o quiser. Há um olhar enviesado, principalmente quando pensamos de enfrentamento ao racismo, que é muito influenciado por esse disco. Havia outros grupos que nessa época já falavam de racismo em suas letras, mas Racionais tinham um peso maior com o povo brasileiro. Quando vamos qualificar essa questão sobre o combate ao racismo no rap nacional, o Sobrevivendo no Inferno é fundamental.

Diário de Um Detento é uma música especial. Se hoje, ainda, é difícil colocar em perspectiva que a tragédia do Massacre do Carandiru foi um brutal ataque aos direitos humanos, independente de quem são as vítimas para você ou para mim, 111 pessoas morreram, imagina cinco após o episódio, em 1997. É a música mais relevante daquele disco?

Esse disco é revolucionário, não? Eu confesso que minha predileção naquele disco alterna, mas Diário de um Detento é, de fato, uma música fantástica. Em qualquer relação das 20 maiores músicas da história do rap nacional, Diário de um Detento entra.

Por mais que nossas predileções escapem para uma música ou outra, dependendo da fase que estamos vivendo, essa música é o marco do disco e eles [Racionais] também pensavam assim, tanto que escolheram ela para que fosse o primeiro clipe das canções do disco. Eles tinham a dimensão que essa música era incontornável, é a música mais poderosa daquele disco.

Muita gente divide o rap nacional em antes e depois de Sobrevivendo no Inferno. A influência do disco é mais na estética proposta, no discurso ou há elementos técnicos que o tornam uma referência histórica?

Eu concordo que é um marco e vou além, determina um antes e um depois para os Racionais também. Se você pegar o Raio-X do Brasil, que é um disco incrível, e pegar o Sobrevivendo no Inferno, parecem dois grupos diferentes. A persona do Brown, na abertura da música Capítulo 4, Versículo 3, que ele já vem estourando. O mesmo Brown no disco anterior não atuava dessa forma.

Eu entendo quando as pessoas falam que esse disco determina um antes e um depois no rap nacional, porque ele coloca a exigência para a produção desse estilo em um nível muito alto. Para fazer rap, depois do Sobrevivendo no Inferno, determinava um saber técnico que talvez estivesse aquém, até então, no cenário nacional.

Os samples são trabalhados de forma toda especial, puta maestria, que também era pouco comum no rap brasileiro. Esse é, também, o primeiro disco dos Racionais na gravadora própria deles, sem ter que responder para ninguém. Além disso, e não pouca coisa, eles tinham o melhor e o segundo melhor MC do país, Mano Brown e Edi Rock, e o Ice Blue, que é um intérprete violento. Por fim, um DJ que está entre os maiores do mundo. Essa seleção vivendo no mesmo tempo é uma dádiva, no mesmo grupo ainda, é um acaso maravilhoso.

Onde você vê, disco ou artista, maior influência desse discurso imposto pelos Racionais em Sobrevivendo no Inferno?

O Dexter é o maior herdeiro do Sobrevivendo no Inferno, foi quem bebeu melhor nessa fonte, e foi além. Com certeza o Dexter, que é um artista que não fica apenas nisso, é um cara superimportante para o rap, foi além dessa referência. O Crônica Mendes também, ele tem uma lírica que é bem influenciada pelo disco. Mas ele também não fica apenas nisso. Mas são nomes que eu lembro agora, de rappers que souberam trabalhar esse legado.

Fonte: https://www.geledes.org.br

Liv Sovik: "a MPB é racista porque a sociedade é racista"

247 - Abordar questões de raça e classe, tendo como base de estudos a produção artística e musical brasileira, faz do trabalho desenvolvido por Liv Rebecca Sovik um importante capítulo do engajamento antirracista no Brasil. A estadunidense radicada no Brasil é escritora e professora titular da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A autora dos livros “Aqui ninguém é branco” e “Tropicália Rex”, a autora avalia que “a MPB é racista porque a sociedade brasileira é racista”. 

“Então, a música sofre uma consequência direta do racismo da sociedade. Eu estudo a música porque nela eu encontro a complexidade da produção dos sentidos e do social. Até porque, na música, sempre algo te escapa, porque não é redutível a palavras. Isso para mim foi um grande estímulo, quando estava tentando entender o lugar do branco numa sociedade que nega a télos. Quer dizer, negava. Hoje já admite. A MPB é racista, mas também é antirracista, porque, ao mesmo tempo, tem fortes elementos afrobrasileiros”, resume.

Liv destaca que só a MPB possibilita a discussão, sem moralismos, da “convivência entre a afirmação e a negação, todo o entremeado da fusão e da separação, do diálogo e do argumento, tudo num campo só”. Para ela, “um dos problemas, principalmente, no tempo em que era possível reprimir esse debate, os brancos viravam as costas para as denúncias de racismo e não davam nenhuma resposta. Hoje isso não é mais possível.” A escritora define o racismo na MPB como uma “expressão da sociedade” e relembra letras e performances artísticas do passado como exemplo dessa manifestação. “Tem a música ‘O seu cabelo não nega’, tem Ângela Maria nos anos 1950 se vestindo de baiana, mas de uma forma tão estilizada que parecia que ela estava fantasiada de baiana. ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, também tem versos racistas. Ou seja, músicas consagradas e não apenas as que estão à margem. Ao mesmo tempo tem o rap, o samba e várias expressões artísticas de uma cultura negra extremamente afirmada e afirmativa”.

“Então, a música sofre uma consequência direta do racismo da sociedade. Eu estudo a música porque nela eu encontro a complexidade da produção dos sentidos e do social. Até porque, na música, sempre algo te escapa, porque não é redutível a palavras. Isso para mim foi um grande estímulo, quando estava tentando entender o lugar do branco numa sociedade que nega a télos. Quer dizer, negava. Hoje já admite. A MPB é racista, mas também é antirracista, porque, ao mesmo tempo, tem fortes elementos afrobrasileiros”, resume.

Liv destaca que só a MPB possibilita a discussão, sem moralismos, da “convivência entre a afirmação e a negação, todo o entremeado da fusão e da separação, do diálogo e do argumento, tudo num campo só”. Para ela, “um dos problemas, principalmente, no tempo em que era possível reprimir esse debate, os brancos viravam as costas para as denúncias de racismo e não davam nenhuma resposta. Hoje isso não é mais possível.” A escritora define o racismo na MPB como uma “expressão da sociedade” e relembra letras e performances artísticas do passado como exemplo dessa manifestação. “Tem a música ‘O seu cabelo não nega’, tem Ângela Maria nos anos 1950 se vestindo de baiana, mas de uma forma tão estilizada que parecia que ela estava fantasiada de baiana. ‘Aquarela do Brasil’, de Ary Barroso, também tem versos racistas. Ou seja, músicas consagradas e não apenas as que estão à margem. Ao mesmo tempo tem o rap, o samba e várias expressões artísticas de uma cultura negra extremamente afirmada e afirmativa”.

O “fenômeno” do sertanejo universitário, o aporte financeiro de agropecuaristas que patrocinam o segmento, o apoio de artistas dessa área ao governo Bolsonaro e a racialização pessoal, social e econômica que caracteriza o gênero também esteve em pauta. Mesmo nunca tendo escrito especificamente sobre a questão, Liv entende que “um gênero musical é definido pela sua história e sua trajetória histórica. E não é de agora que a música sertaneja é branca. Essa racialização deve ter se configurado desde o início. Pois, mesmo sendo uma música rural, a população rural não é necessariamente branca. Acredito que esse processo de exclusão deve ter começado nos anos 1930, quando as indústrias estavam completamente nas mãos dos brancos. Eu acho que valeria a pena pesquisar esse processo de exclusão, para saber quais artistas negros que não foram sucesso no gênero, por não terem acesso à indústria”. Sovik observa que a identificação da música sertaneja com o que ela chama de “direita violenta e racista” vem de muito tempo e lembra que a música “Jack, o matador”, sucesso da dupla Léo Canhoto e Robertinho no final dos anos 1960, apresenta a estética da violência como heroísmo. “É quase um proibidão de direita”, avalia.

A pesquisadora esteve no centro de uma polêmica em 2010, quando criticou a “representatividade negra” da cantora Daniela Mercury, que, na sua visão, funciona como porta-voz de uma cultura da qual ela pode ter elementos genéticos, mas não descende do ponto de vista de classe e de origem social. Na ocasião, a pesquisadora fez um estudo dos simbolismos sociais contidos na frase “A cor dessa cidade sou eu”, verso da música “O canto da cidade”, grande sucesso da cantora. “Essa música virou um hino da Daniela Mercury. Eu a ouvi cantando essa música em Salvador, há uns dois anos. Eu acho que muita gente não pensou sobre isso. Ela cantou essa canção junto com o Ilê Ayê, no carro de som do grupo, quando ela já era um sucesso nacional e internacional, e o grupo ainda era mais regional e não estava aceitando brancos. Eu vejo que existe uma identificação de brancos baianos com a cultura negra, que me parece absolutamente sincera. Eu, com o meu olhar de estrangeira, propus um questionamento a respeito. O escândalo que causou a minha declaração foi porque há muito tempo ela é engajada no combate à homofobia e tem uma base de fãs homossexuais que entenderam que eu estava a desrespeitando.”

Fonte: BRASIL 247