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quarta-feira, 18 de julho de 2018

Por que é importante falarmos em feminismos (no plural)?

Apesar de existirem múltiplas perspectivas feministas, observamos muito frequentemente críticas a “o feminismo” (no singular), dirigidas, de fato, a uma caricatura das adversárias. As objeções recentes de Mario Vargas Llosa são um exemplo desse tipo de desatenção.
Por Mariana Pimentel Fischer*
Herdeiras de lutas históricas, diversas vertentes do feminismo travam, hoje, intensos debates. A primeira onda, que surgiu no início do século passado, reivindicava direito ao voto; a segunda onda, em meados do mesmo século, demandava igualdade jurídica, econômica e social; em 1980, a terceira onda, passou a fornecer especial atenção às diferenças. Principalmente a partir da década de 1960, as múltiplas perspectivas vão ganhando contornos mais bem definidos: feministas radicais, negras, socialistas, pós-estruturalistas, liberais e tantas outras criaram coletivos, movimentos sociais, ONGs, assim como importantes centros de pesquisa nas principais universidades do mundo.
Os debates entre os diversos pontos de vista, algumas vezes, revelam que, apesar do dissenso, é possível trabalhar em conjunto e até mesmo tirar proveito das divergências. Se as feministas negras continuam a mostrar que ainda é preciso dar muitos passos em direção à igualdade racial, suas críticas foram fundamentais para o amadurecimento da luta. Por conta delas, a grande maioria das militantes e acadêmicas, atualmente, estão convencidas de que questões de gênero e raça são indissociáveis.
Em outros casos, todavia, as diferenças se mostram profundas demais, geram rupturas. Por exemplo, Angela Davis e Nancy Fraser, durante as manifestações de 08 de março de 2017 contra o Governo Trump, insistiram na importância de compor um feminismo para os 99% que deve se contrapor ao feminismo liberal, alicerçado na noção de empreendedorismo.
Ora, se há tantas e tão diferentes vertentes do feminismo, por que, então, observamos com demasiada frequência críticas a “o feminismo” (no singular)? Quem são as destinatárias de tais objeções? Seriam as diversas feministas ou somente uma caricatura delas construída por seus críticos?
Em discussões superficiais em redes sociais são recorrentes afirmações como “o feminismo é o machismo com o sinal invertido” ou “o feminismo é também opressor”. Uma investigadora atenta à história das lutas e do pensamento feminista perceberá que, de fato, em alguns momentos tanto militantes como acadêmicas reproduziram opressão que identificavam no patriarcado. Chegaram, por exemplo, a excluir lésbicas e mulheres trans.
Mas equívocos como esses produziram também autocrítica; nesse último caso, um impulso para a formação de alianças com perspectivas queer e para um questionamento mais profundo acerca de temas como desejo, homossexualidade, identidade de gênero e práticas sexuais radicais.
Não apenas provocadores de polêmicas em redes sociais, críticos mais sofisticados também se mostram, por vezes, desatentos. Recentemente, Mario Vargas Llosa, sem dúvida um dos mais originais escritores de nossa época, publicou no El Pais, um texto intitulado “Novas Inquisições” .
Logo no início, Vargas Llosa afirma sem hesitar: “o feminismo é hoje o mais firme inimigo da literatura, pretende descontaminá-la do machismo, preconceitos múltiplos e imoralidades”. Em seguida, denuncia inquisidoras que, tal como religiosos e líderes totalitários (fascistas ou comunistas), cerceariam a liberdade de escritores como o próprio Vargas Llosa. Contra “o feminismo”, lembra que Georges Bataille, influenciado por Freud, insistiu que a literatura não deve ser avaliada em termos de moralidade ou imoralidade, mas com base em sua capacidade de ser genuína e subversiva.
É verdade que Vargas Llosa faz uma rápida ressalva e afirma que não pretende criticar todas as feministas, somente as mais radicais. Ocorre que ele não é claro ao indicar quem seriam essas e qual seria a sua relevância. A ausência de menções a quaisquer outras vertentes sugere, contudo, que considera que essas radicais formam um grupo muito importante, talvez, em sua opinião, o mais importante para pensar a questão. Aliás, a ênfase que fornece a esse grupo é tão grande que, excluindo sua breve ressalva, no resto do texto confunde a parte com o todo e utiliza a expressão “o feminismo” (no singular e sem qualquer especificação) para se referir às suas adversárias.
Decerto existem correntes do feminismo de índole moralizante. Para que a discussão se torne produtiva, é necessário, todavia, identificar, dentro de uma tradição, que linhagens são essas e apontar quais são exatamente os argumentos aos quais se pretende objetar. Um ponto de vista mais cuidadoso com a história e com o contexto lembraria que a crítica a tais pontos de vista, em especial aos limites que impõem à literatura, não é nova, vem sendo feita ao menos desde a década de 1980 pelas próprias feministas.
A desatenção de Vargas Llosa para a diversidade de feminismos o leva a definir suas adversárias simplesmente como inquisidoras de escritores. Sua argumentação acaba, assim, por obscurecer a contribuição de perspectivas feministas que, longe de qualquer projeto moralizante, buscaram ampliar as possibilidades interpretativas e subverter hegemonias na literatura.
Insisto que esse não é, de modo algum, um setor irrelevante. É surpreendente que Vargas Llosa não tenha ao menos mencionado uma tradição que teve início com Simone de Beauvoir. Ainda na década de 1950, Beauvoir desfez as fronteiras entre filosofia e literatura ao mostrar que a linguagem da filosofia tem também uma estrutura narrativa e que o trabalho filosófico é reflexo da posição de sua autora, expressa o fato de que tem um corpo e um gênero.
Herdeira dessa tradição, Judith Butler, uma das mais reconhecidas filósofas e teóricas literárias da atualidade, retoma constantemente Freud e Bataille (justamente os autores citados por Vargas Llosa) e associa investigações acerca de identidade de gênero à construção do “eu” narrador. Do mesmo modo, grupos feministas e queer da universidade de Berkeley, muitos deles próximos a Butler, discutem novas possibilidades de leitura de escritores como Shakespeare tendo em conta temas como ambiguidade do desejo, cross-dressing, violência e loucura.
Por fim, é fundamental recordar que talvez uma das mais importantes contribuições para a literatura no tempo presente advenha do empenho de feministas das mais diversas linhagens em resgatar o trabalho de escritoras que foram historicamente marginalizadas. Após esse rápido panorama, creio que a afirmação “o feminismo é hoje o mais firme inimigo da literatura” passa a causar perplexidade.
Muito embora existam diversas abordagens feministas de temas literários, Vargas Llosa escolheu falar somente sobre as feministas “mais radicais” e, durante quase todo texto, talvez por conta de um escorregão (freudiano), confundiu esse grupo específico com todo “o feminismo” (como dito, utilizou quase sempre a expressão no singular). Ele argumenta que “o feminismo” seria uma “nova inquisição”, parece-me, contudo, fundamental indagar: ao estabelecer uma definição tão contundente de suas adversárias e prolatar uma sentença tão dura, não teria o próprio Vargas Llosa se convertido em um inquisidor?
*Mariana Pimentel Fischer é pós-doutoranda no Departamento de Filosofia da USP

Novo Espaço Renato Russo reacende cena cultural e influencia a nova geração

Reinauguração do espaço da 508 Sul traz esperança à classe artística da capital federal

Reaberto recentemente, após cinco anos fechado e outros tantos abandonados, o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, inaugurado em 1974 na capital federal, teve seu auge nos anos 1980, quando ainda era chamado Centro de Criatividade. Lá, artes cênicas, cinema, literatura, música e artes plásticas uniam forças e tinham espaço para espetáculos, apresentações, shows e atividades formativas. “O espaço era um coração pulsante cultural e artístico de Brasília, com muitas oficinas e tinha essa cara multidisciplinar de formação e fomento das artes”, lembra a atriz, coreógrafa e ilustradora Eliana Carneiro, da cia Os Buriti.
Eliana é uma das artistas locais que teve a formação diretamente ligada ao espaço cultural, tendo dois momentos no centro, uma ainda na adolescência e outro quando começou a trajetória de forma solo. “Tenho uma superligação, participei de muita coisa lá. Primeiro fiz parte de um grupo de dança de Regina Miranda (coreógrafa e diretora teatral). Eu era adolescente e tinha muita coisa acontecendo lá nos teatros Galpão e Galpãozinho”, afirma. Depois, na gestão de Alex Chacon, a artista passou a coordenar a parte de dança do espaço e viu a força das oficinas, que viraram uma característica do centro cultural. “Ele foi essa pessoa que colocou esse rumo dos processos criativos das oficinas, principalmente, as renovadoras”, completa.
Esse, inclusive, é um dos motivos que Eliana Carneiro comemora a reabertura do espaço cultural. “Acho que é muito importante para Brasília. A minha expectativa é de que seja um espaço de processos criativos, de trocas, de muitas formações, ou seja, novamente um coração pulsante cultural com muitos espetáculos, exposições e formações”, conta. Para ela, a presença do centro precisa ter uma ligação direta com as novas gerações. “É preciso pegar essa juventude, focar nela e despertá-la (para a cultura). Estamos sem espaço em Brasília para a música, a dança, o teatro… Espero que essa gestão esteja voltada para a formação com uma visão abrangente da arte, mais integradora e com linguagens de renovação”
Quem também tem uma visão positiva em torno da volta do Espaço Renato Russo é o ator e diretor James Fensterseifer. Conhecido na cidade no cenário teatral, ele lembra que foi no teatro Galpão que iniciou o projeto mais conhecido dele na capital, o Jogo de cena, e também onde expôs a primeira mostra fotográfica da carreira. “Começamos o Jogo de cena lá em agosto de 1985 e ficamos por três anos. Foi muito importante para mim e para Brasília. Era um espaço de efervescente criação cultural”, classifica.
Na opinião de James, a reabertura significa um local na cidade para criação de teatro, de artes plásticas, da dança, do cinema e das demais artes. “Estando aberto, ele supre uma necessidade básica de espaço para a cultura, já que os espaços maiores, como o Teatro Nacional, estão fechados”, analisa. O ator acredita que o centro cultural é um espaço mais acessível à classe artística e ao público. “Com certeza será muito bom esse retorno e, como o espaço foi reformado, agora terá ainda uma maior qualidade para ser utilizado”, completa.
“Esse é um dos espaços mais importantes para a cultura e para a comunidade do DF. É um espaço que carrega a memória da uma geração de artistas e pessoas que passaram ali como público e que fazia uma falta grande, em especial para a juventudade”, opina Guilherme Reis, secretário de Cultura do DF. De acordo com ele, essa é a volta da vida cultural da cidade com o Teatro Galpão “muito bem equipado, com o que há de melhor de quipamento de sonorização. “É um espaço que permite uma variedade muito grande de formatos”, completa.
Reis afirmou que a secretaria finaliza uma licitação para a aquisição de uma estrutura que vai permitir o uso variado de formatos cênicos, além da publicação amanhã do resultado de um chamamento público de seleção de uma entidade que será parceira do GDF na gestão e na programação do espaço. “Teremos mais uns 30 dias pela frente de discussão com quem for selecionado para fechar um plano de trabalho bacana, ao mesmo tempo que alguns equipamentos estão sendo adquiridos para a área de oficinas e o segundo andar da 508 Sul está recebendo piso e instalações de dados, porque ali terá uma série de atividades de formação, que já começou a partir da exibição do Último Cine Drive-In, no Cine Clube”, revela.
Efervescência de gerações
O quadrinista e ilustrador Gabriel Goés é um dos jovens que atribui a formação artística e profissional ao Espaço Cultural Renato Russo. No final dos anos 1990, ele participou de atividades de formação quando tinha 8 anos e se lembra de muito momentos na gibiteca dos espaço. “Aprendi muita coisa. Não só a desenhar, mas a raciocinar, ter um ponto de vista. Muito da minha formação veio dali. Muitas pessoas que conheci ali são pessoas que produzem até hoje, tenho amizades desde essa época”, conta citando nomes como dos também ilustradores Santiago Mourão e Mateus Gandara.
Para Goés, a reabertura do centro cultural é uma grande alegria e pode ter uma influência na formação de novos artistas. “Espero que mais gente descubra o espaço. Era muito triste ver como estava abandonado”, recorda.
O abandono foi a principal recordação da grafiteira e artista plástica Camilla Siren do espaço na Asa Sul durante muito tempo. Ela sempre admirou a arquitetura do local e também os grafites que ilustraram as paredes ao longo dos anos, mas nunca tinha tido a oportunidade de ter uma relação até agora. Ela foi selecionada para grafitar as paredes da entrada, que fica virada para a W2. “É um sentimento muito bom. Fico feliz de usufruir do local dessa maneira, de ocupar ao lado de várias meninas. É algo que me alegra”, define.
Ao lado de Fabricia Brixx, Fernanda Fê8, Didi Colado, Juliana Borgê, Michelle Cunha e Carli Ayô, Siren foi selecionada em um chamamento público para ilustrar as paredes do Espaço Cultural Renato Russo. “A gente quis fechar um grupo de mulheres para ter essa ideia de ocupação do espaço cultural, um local que sempre ouvi as histórias da gibiteca, das oficinas. Eu sentia que estava fazendo falta e, até então, minha relação era com os ensaios fotográficos na época em que estava abandonado. Então é algo que me alegra, deixar um pedacinho meu lá”, completa a artista.
A espera
Desde janeiro de 2014, o Teatro Nacional Claudio Santoro está fechado para reforma e não pode receber espetáculos. No ano passado, o foyer da Sala Villa-Lobos foi reinaugurado. No entanto, as demais salas do espaço continuam fechadas após uma determinação do Corpo de Bombeiros devido as péssimas condições das instalações.
Fonte; BRASIL CULTURA