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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Berços de movimentos culturais do samba fecham as portas no Rio

Perto de 100 estabelecimentos encerraram atividades, muitos deles locais tradicionais que faziam parte da história da cidade, como o Bar Semente e a Gafieira Estudantina
Por Maurício Thuswohl, na Revista do Brasil
Filho da dor e pai do prazer, síntese da alma carioca, até mesmo o poder transformador do samba pareceu fadado a abandonar o Rio de Janeiro neste lamentável ano de 2017. Em meio a um cenário que mistura falência financeira do estado, crise orçamentária no governo e na prefeitura da capital, atrasos nos pagamentos de fornecedores e salários, aumento generalizado da violência e piora dos serviços públicos, uma das maiores manifestações culturais – e alegrias – do povo do Rio e dos turistas que visitam a cidade sofreu com o fechamento de locais emblemáticos.

Segundo o Sindicato dos Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro, até o meio do ano pelo menos 70 estabelecimentos foram fechados, e a estimativa é que o total de fechamentos em 2017 se aproxime dos 100, consequência direta da crise financeira que afastou a clientela e também fez cessar os investimento no setor. Em meio a tantas vítimas, o fechamento de alguns locais tradicionais e que fazem parte da história cultural da cidade doeram fundo na alma daqueles que amam delícias cariocas como o samba, a roda de samba, o choro, o jongo e a música de gafieira.
Nesta lista está o Bar Semente, símbolo da revitalização cultural e econômica do tradicional bairro boêmio da Lapa (região central) no final do século passado e, mais do que isso, principal vetor do movimento de revalorização do samba de raiz que começou no Rio e depois se espalhou por todo o Brasil. Outra vítima da crise é a gafieira Estudantina, talvez o maior templo brasileiro da dança de salão. Até mesmo o restaurante Petisco da Vila, localizado no também bairro boêmio de Vila Isabel, na zona norte, e ponto de encontro de sambistas anônimos e famosos, foi obrigado a encerrar suas atividades.
O caso do Bar Semente é um exemplo que parece refletir perfeitamente a sensação de que o Rio, assim como todo o Brasil, viveu em 2017 um ano de interrupção e retrocesso no processo de abertura e democratização que vinha experimentando há alguns anos na área cultural. Aberto em 1998, o Semente sempre apostou no samba de qualidade e revelou ou consolidou nomes como Teresa Cristina, Moyseis Marques, Zé Paulo Becker e o grupo Casuarina, entre outros. Além do valor da prata (ouro) da casa, o Semente conquistou frequentadores do porte de Chico Buarque, Guinga, João Bosco, Marisa Monte, Ney Matogrosso e Moacyr Luz, entre outros, que muitas vezes tomaram o violão ou o microfone para canjas inesperadas em noites memoráveis.
Tanto prestígio não impediu que a crise financeira, aliada à desordem urbana e ao aumento dos roubos e furtos na região da Lapa, decretasse o fim do Bar Semente. Em 2018, ano em que deveria comemorar 20 anos de existência e ser celebrado por sua importância histórica, o local que é ícone da retomada do samba de raiz estará com suas portas fechadas. Em outubro, ironicamente apenas três meses após receber o Prêmio Música RJ, concedido pela Secretaria Estadual de Cultura por sua “contribuição à música do Rio de Janeiro”, a casa anunciou seu fechamento.
Teresa Cristina não hesita ao apontar os principais responsáveis pelo fechamento do palco onde sua carreira decolou. “Fiquei bem triste com o fechamento do Semente. Encaro isso como mais uma consequência da falência do Rio e do desmonte cultural generalizado que vem acontecendo. O PMDB matou nossa cidade e o prefeito Marcelo Crivella veio com a bala de prata”, afirma a cantora.
Figura sempre presente nos atos político-culturais contra os retrocessos promovidos pelo governo de Michel Temer, Teresa Cristina lamenta que este processo esteja se concretizando. “Minha impressão é que ficamos anestesiados depois do golpe. Efeito rivotril na caixa d´água. Ninguém se abala com nada, e olha que é tudo preto no branco, não precisa nem de metáforas. Os vilões venceram”, diz.
Ela lamenta a passividade da sociedade frente aos retrocessos. “Depois daquele áudio do senador Romero Jucá, ele continua sendo líder do governo. O STF (Supremo Tribunal Federal) continua acovardado. Como dizia aquele personagem do Chico Anysio, o deputado Justo Veríssimo, o povo continua sendo só um detalhe”.
Tristeza no salão
O encerramento das atividades também foi a única opção que restou à Gafieira Estudantina Musical, a mais conhecida e tradicional do Rio, que, com dívidas acumuladas que beiram os R$ 800 mil, foi obrigada a cumprir uma ordem de despejo e baixou definitivamente suas portas em outubro. Inaugurada em 1928, no bairro do Flamengo, por um grupo de amigos que queria divulgar a dança de salão, a Estudantina se mudou quatro anos depois para a Praça Tiradentes, no centro da cidade, onde permaneceu até este ano como uma das casas simbólicas da noite carioca.
Entre os milhares de turistas que a Estudantina recebeu em todos esses anos, se incluem alguns nomes mundialmente conhecidos que sempre batiam ponto no salão da Praça Tiradentes quando em visita ao Rio. Costumavam passar para bailar na gafieira carioca celebridades como o ator italiano Marcelo Mastroianni, o cantor inglês Mick Jagger ou o cineasta espanhol Pedro Almodóvar, entre muitos outros.
Berço do samba de gafieira, estilo criado no Rio, a Estudantina foi tombada em 2012 como Patrimônio Cultural Carioca. No entanto, assim como no caso do Bar Semente, o reconhecimento oficial soa agora como piada de mau gosto, já que de nada serviu para a preservação do espaço que, à época da premiação, foi distinguido pelas autoridades por “abrigar uma manifestação cultural típica do estilo de vida carioca”.
Sem samba, sem petiscos
O samba carioca foi golpeado em 2017 até mesmo pela crise que levou ao expressivo fechamento de restaurantes. Inaugurado em 1969 pelo comerciante português Manoel de Souza e, desde então, tradicional ponto de encontros de sambistas de várias vertentes e de admiradores do samba, o restaurante, Petisco da Vila fechou suas portas em março.
Ao longo dos anos, o restaurante de Vila Isabel que, como o nome sugere, era também conhecido por seus variados e gostosos petiscos, era um local onde não raro o cliente podia sentar-se à mesa ao lado de figuras como Cartola, Jamelão, Beth Carvalho e Neguinho da Beija-Flor, entre outros. Sem falar em jornalistas próximos à música, como Jaguar, Sérgio Cabral (pai) e João Máximo, entre outros.
Diante da morte que já estava anunciada, vários sambistas se solidarizaram ao Petisco – Martinho da Vila, talvez o seu mais emblemático cliente, chegou a comemorar seu aniversário em uma feijoada no restaurante, um mês antes de seu fechamento. O esforço, no entanto, de nada adiantou: “Para mim, fechar o Petisco da Vila é como saber que Noel Rosa morreu de novo”, resume José de Souza, que era gerente do estabelecimento.
Foto: Gafieira Estudantina Musical
"Um absurdo por parte da prefeitura do Rio! Procurar "fechar/- acabar" com o SAMBA nas praças do Rio! , cultura e raízes viva do carioca! A Lapa  e o Centro do Rio (ARTISTAS), resistem! Eu tive a oportunidade de participar de uma importante reunião na Praça Tiradentes - Centro do Rio ocorrido no último dia 14/12, ondem foram discutidos, debatidos e denunciado portaria da prefeitura do Rio sobre o tema. E os mesmo estão unidos e irão lutar para que isso não aconteça. O povo brasileiro e em especial o CARIOCA tem que se unir e barrar essa arbitrariedade. O SAMBA É A CARA DO RIO!" - Eduardo Vasconcelos - Presidente do CENTRO POTIGUAR DE CULTURA - CPC/RN.

Planalto planeja última cartada pela reforma da Previdência

Ueslei Marcelino/Reuters
 
 


O presidente Michel Temer guarda uma carta na manga para usar nas negociações pela aprovação das novas regras previdenciárias: a distribuição de cargos. Há cerca de 100 postos de 2º e 3º escalões para negociação com congressistas dispostos a votar a favor do projeto.

As vagas são resultado de demissões e admissões de apadrinhados dos políticos durante as votações das duas denúncias da Procuradoria Geral da República contra Temer.

A expectativa do governo é de que a emenda constitucional da Previdência seja aprovada em fevereiro ou março. Bem próximo dali, até 7 de abril, terão que se desincompatibilizar do governo ministros e demais ocupantes de cargos de confiança que concorrerão às eleições de outubro. Portanto, haverá ainda mais 1 punhado vagas.

Todos esses cargos estarão à espera de novos nomeados. Mas os padrinhos serão escolhidos a dedo após a votação da Previdência. Só poderão fazer indicações aqueles congressistas que se mantiverem fiéis ao Planalto. Apadrinhados de políticos em cargos públicos servem como cabos eleitorais. Uma contratação por agora, mesmo com o governo fraco, garante alguns meses de emprego e prestígio para 1 esforçado auxiliar de campanha.

Emendas

O governo também acelerou o empenho de emendas em dezembro. Já reservou R$ 1,6 bilhão, o 3º maior valor em 1 mês neste ano. Fica apenas abaixo de junho e julho, meses que antecederam à votação das denúncias contra Michel Temer na Câmara. O valor representa mais que o dobro do que foi reservado em novembro (R$ 665 milhões). E corresponde a 17,6% do total de R$ 9,1 bilhões empenhados em 2017. 



Poder 360

Temer diz que está 'mais barato para viver': Só na casa dele, rebate aposentada


"Em um curto espaço de tempo colocamos a economia em ordem, saímos da recessão e temos as taxas de juros mais baixas dos últimos anos", afirmou o peemedebista.

A afirmação de Temer ignora a realidade, inclusive os sucessivos aumentos nos preços do botijão de gás – cujo valor chegou a R$ 80 em alguns estados – e no litro da gasolina. Desde junho, o gás de cozinha que acumula alta de cerca de 70%.

"Está mais barato para comer, para vestir, para morar. Está mais barato para viver", acrescentou Temer, que diz que o governo conseguiu "baixar os preços dos alimentos e aumentar o poder de compra dos brasileiros". 

A realidade é que, apesar das quedas na taxa básica de juros e na inflação, 2017 registrou sucessivos aumentos nos preços do botijão de gás – cujo valor chegou a cerca de R$ 80 em alguns estados – e no litro da gasolina.

Com a maior rejeição da história - apenas 3% de aprovação nas pesquisas, Temer diz em outro trecho do pronunciamento que o governo não adotou "modelos populistas" e não "escondeu a realidade".

"Não adotamos modelos populistas, nem escondemos a realidade. Nada de esperar por milagres e contar com salvadores da pátria", disse ele, que após muitas manobras e uso de emendas parlamentares, garantiu o engavetamento de duas denúncias contra ele pela Procuradoria-Geral da República (PGR), por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Temer também comemorou o fim de garantias e direitos previstos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com a reforma trabalhista. Disse que a mudança "criou empregos", mas admitiu que o "desemprego ainda é grande". Ele não citou, mas o desemprego atinge mais de 13 milhões de brasileiros. No entanto, disse que os números "demonstram que estamos no caminho certo".

Na projeção de Temer, as mudanças da reforma trabalhista "vão aumentar o número de postos de trabalho". De acordo com especialistas, a medida precariza as relações de trabalho, pois a flexibilização da lei vai favorecer o surgimento de contratos fracionados, com salários mais baixos.

Temer voltou a defender a proposta de reforma da Previdência, medida que também é rejeitada pela população e já sofreu um revés na Câmara. Temer queria votar e aprovar a proposta neste mês de dezembro, antes do fim do recesso parlamentar. Mas a impopularidade da proposta não garantiu os 308 votos necessários, obrigando o governo a recuar e adiar a votação para depois do Carnaval. 

"É uma questão do futuro do país e para garantir que os aposentados de hoje e os de amanhã possam receber suas pensões", disse Temer, que ainda tentou surfar na aprovação da proposta de reforma da Previdência na Argentina, na última semana. Mas a medida foi aprovada após uma negociação do governo Macri em troca de verbas - o toma lá, dá cá - e sob forte rejeição dos argentinos que ocuparam às ruas de manifestações gigantescas contra o texto. 


Do Portal Vermelho

Uma história de Natal ...

A comemoração do Natal se iniciou ente os romanos antigos.

A festa pagã ainda ocorria paralelamente com o Natal até se propagar totalmente pelo mundo e o Ocidente proclamar de NATAL.

"A primeira vez que se teve algum indício da comemoração do natal foi em 25 de dezembro do ano de 354 D.C., no qual ocorreu em Roma uma festa em celebração ao nascimento do menino Jesus."

A celebração é pelo solstício de inverno ? a partir daquele dia, as noites seriam cada vez mais curtas e os dias, mais duradouros. Breve, chegaria o verão novamente e os dias frios de escassez, tidos como obra de bruxas e espíritos ruins, ficariam para trás. Qualquer semelhança da Festa do Sol Invicto com o Natal religioso não é mera coincidência.

As celebrações em torno do Sol eram praticadas já muito antes que o cristianismo fosse a religião dominante. Até então, as festas mais importantes dos cristãos se davam em torno do 
martírio e da morte de Jesus. Mesmo os calendários de judeus e pagãos não coincidiam. Os
cristãos guiavam-se pela lua – por isso a Páscoa é, por definição, no primeiro domingo após a lua cheia do equinócio vernal – e os pagãos, pelo Sol, com dias fixos, como se usa atualmente. O cristianismo crescia em Roma um tanto à parte dessa coisa toda. Até que, no século 3, percebeu a importância das festas dos solstícios ? de inverno e de verão – para os romanos e o quão difícil seria proibi-las à revelia.A Festa do Sol Invicto continuaria, exceto que o homenageado seria outro: a Igreja decidiu que Jesus teria nascido no dia 25 de dezembro ? embora não exista nenhum registro sobre isso ? e, daí por diante, a festança toda seria ao aniversariante. “O que os cristãos fizeram, na verdade, foi dizer para os pagãos: ‘Olha, essa festa aí que vocês comemoram não tem nada de Sol. É pelo nascimento de Jesus’. E assim nasceu o Natal”, resume o historiador Pedro Funari, da Unicamp. “E daí associaram o Sol à luz, por sua vez associado a Jesus”, continua o especialista. O outro solstício, o de verão, virou o que hoje é nossa festa junina, que aqui, na verdade, é no inverno. As fogueiras, aliás, eram originalmente uma celebração ao clima quente de verão. 

Ninguém sabe ao certo a data de nascimento de Jesus, porém, essa data foi escolhida
devido à existir uma comemoração pagã nessa mesma data que homenageava o Deus persa MITRA que representa a luz (Deus Solar), no qual ocorriam celebrações que eram reprovadas pelos Cristãos.


Tradições Natalinas
Não seria mentira dizer que a árvore de Natal é o novo presépio. A montagem, que representa a noite do nascimento de Jesus, é tida como a primeira tradição verdadeiramente católica de Natal, em um tempo em que velhinhos gorduchos e árvores enfeitadas não contavam com a importância que têm hoje nas festividades natalinas. Segundo conta o historiador da Universidade de Brasília Jaime de Almeida, cujo tema da tese de doutorado foi festas tradicionais, a história de como a miniatura – algumas vezes nem tão pequena assim – virou símbolo da celebração remonta à Itália Medieval, lá pelo século 13. Foi nessa época que São Francisco, quando atuava em Assis, juntou animais, reis magos, Maria, José e Jesus na mesma cena. “O presépio de São Francisco de Assis passava uma ideia mais humana de cristianismo. Foi uma maneira de ajudar a aproximar os fiéis, principalmente os analfabetos, que eram boa parte da população”, pontua Jaime de Almeida.

O PAPAI NOEL -O século é 4 depois de Cristo e a cidade é Myra, onde hoje fica a Turquia. Vem daí, e não da Lapônia, a história contada pela Igreja para justificar a existência do velhinho gorducho que distribui presentes às crianças comportadas.

A CEIA -A história da comilança na véspera de Natal é dos mistérios natalinos para os quais 
os livros de História não apontam muito bem a origem. Alguns acreditam que tenha viajado gerações pelos séculos desde os primórdios das comemorações, quando a festa do dia 25 de dezembro era em homenagem ao Sol e o banquete à meia-noite, oferecido ao deus da agricultura para que a colheita fosse próspera no verão que aproximava. 

O CARTÃO -Desejar feliz Natal e um próspero ano-novo é uma tradição milenar. Não porque o Natal também o é, mas porque em 1843 o artista inglês John Calcott Horsley recebeu uma encomenda que, mal sabia ele, o tornaria imortal entre as tradições de Natal. Naquele ano Sir 
Henry Cole não teria tempo de escrever aos amigos durante a época festiva, como fazia todos os anos. Terceirizou a tarefa e Horsley ficou encarregado. 

A ÁRVORE -Geralmente é ela quem dá a largada na temporada de Natal. Quando as vitrines começam a exibi-la junto às ofertas e os shoppings montam suas versões gigantescas, é hora de planejar as compras natalinas e tirar as caixas de enfeites do maleiro. Embora originalmente não tenha significado religioso, o pinheiro de Natal subiu na vida, ganhou status de protagonista natalino, somou novos e divertidos penduricalhos às já antigas e tradicionais bolas. 

A FOLIA DE REIS -A bagunça da Folia de Reis, em 6 de janeiro, não tem origem brasileira, mas ganhou status de festa folclórica por aqui. A farra popular, na data fixada pela Igreja como o dia em que os três reis magos -Melchior, Baltasar e Gaspar – teriam visitado Jesus após seu nascimento, foi, na verdade, importada de Portugal provavelmente ainda nos nossos tempos de colônia. E se aqui é o dia de começar a despedir-se dos enfeites natalinos, em muitos países essa é a hora de trocar presentes – em alusão a mirra, ouro e incenso que teriam sido presenteados pelos reis ao menino recém-nascido.

Nesta parte do texto, um retrato da sociedade-“As festas do Natal e da Páscoa, sempre favorecidas no Brasil por um tempo magnífico, constituem épocas de divertimentos tanto mais generalizados quanto provocam mais de uma semana de interrupção no trabalho das administrações e nos negócios do comércio; o descanso é igualmente aproveitado pela classe média e pela classe alta, isto é, a dos diretores de repartições e dos ricos negociantes, todos proprietários rurais e interessados, portanto, em fazer essa excursão em visita às suas usinas de açúcar ou plantações de café a sete ou oito léguas da capital.

Quanto aos artífices, reunidos na casa de seus parentes ou amigos, proprietários de sítios vizinhos da cidade, aproveitam essas festas para gozar em liberdade os prazeres que essas 
curtas e pouco dispendiosas excursões lhes permitem. Basta-lhes com efeito mandar levar sua esteira e sua roupa pelo seu escravo. À noite, à hora de dormir, as esteiras desenroladas no chão, cada qual com seu pequeno travesseiro, formam leitos de emergência distribuídos pelas três ou quatro salas do rés-do-chão, que constituem uma residência desse tipo. No dia seguinte, ao romper do dia, ergue-se o acampamento e os mais ativos se separam para ir passear ou banhar-se nos pequenos rios que descem das montanhas vizinhas. O exercício da manhã abre o apetite; volta-se para almoçar, mas inventam-se divertimentos mais tranquilos para o momento do sol forte até uma hora da tarde quando se janta. De quatro às sete dorme-se e, depois da Ave-Maria dança-se durante toda a noite ao som do violão. Deliciosos momentos de fresca, empregados pelos velhos na narrativa de suas aventuras do passado e pelos moços em dar origem a alguns episódios felizes, cuja recordação encantará um dia a sua velhice.

Este ligeiro esboço dá entretanto apenas uma pobre ideia das brilhantes recepções realizadas na mesma época nas imensas propriedades dos ricos que, por vaidade, reúnem numerosa sociedade, tendo o cuidado de convidar poetas sempre dispostos a improvisar lindas quadrinhas e músicos encarregados de deleitar as senhoras com suas modinhazinhas. Os donos da casa também escolhem, por sua vez, alguns amigos distintos, conselheiros acatados do proprietário na exploração da fazenda que visitam demoradamente com ele, ao passo que, ao contrário, os jovens convidados, ágeis e turbulentos, entregam-se a essa louca alegria sempre tolerada no interior. Aí todos os dias começam, para os homens, com uma caçada, uma pescaria ou um passeio a cavalo; as 
mulheres ocupam-se de sua toilette para o almoço das dez horas. À uma hora todos se reúnem e se põem à mesa; depois de saborear, durante quatro a cinco horas, com vinhos do Porto, Madeira ou Tenerife, as diferentes espécies de aves, caça, peixes e répteis da região, passam aos vinhos mais finos da Europa. Então o champanha estimula o poeta, anima o músico, e os prazeres da mesa confundem-se com os do espírito, através do perfume do café e dos licores. A reunião prossegue em torno das mesas de jogo; à meia noite serve-se o chá, depois do qual cada um se retira para o seu aposento, onde não é raro deparar com móveis, perfeitamente conservados, de fins do século de Luiz XIV.

No dia seguinte, para variar, vai-se visitar um amigo numa propriedade mais afastada; tais cortesias aumentam ainda os prazeres dessa semana que sempre parece curta demais. Alguns amigos íntimos, que dispõem de seu tempo, ficam com a dona da casa, cuja estada
se prolonga durante mais seis semanas ainda, em geral, depois do que todos tornam a encontrar-se na cidade.”


- "É na época de Natal, quando os encontros e os questionamentos sobre os valores da vida vêm à tona, que os sentimentos mais puros e as emoções tomam conta de cada um. A época é de reflexão, promessas, renovação e esperança".

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.

fontes: Gerry Bowler, professor da Universidade de Manitoba e autor de Santa Claus: A Biography, os historiadores Pedro Funari, da Unicamp, e Jaime Almeida, da UnB, o site History.com, e Mary Beard, professora da Universidade de Cambridge e autora de Religions of Rome: A History

Mário Magalhães, biógrafo de Marighela: “A hora é de não calar”

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O livro foi lançado em 2012 e está em sua sétima reimpressão. Ele apresenta a vida do deputado federal da Bahia, que também foi escritor e estrategista da guerrilha no Brasil. A obra, editada pela Companhia das Letras, atravessa a história do revolucionário, contando episódios da vida de um dos maiores símbolos da esquerda brasileira e até hoje considerado o inimigo número 1 da ditadura militar.
Em entrevista ao Porém.net, Mário Magalhães falou de suas expectativas para o filme, sobre o elenco – que terá o cantor Seu Jorge no papel de Marighella – e as declarações de Wagner Moura que recentemente declarou à imprensa que seu filme “não será imparcial, mas sim um filme de quem está resistindo”.
O jornalista também falou de seu próximo trabalho. Ele prepara, de novo para a Companhia das Letras, uma biografia de Carlos Lacerda (1914-1977), personagem controverso do Brasil do século 20.
Confira a entrevista na íntegra.

Porém.net: Você teve contribuição na idealização do filme? Como foi o contato do Wagner Moura e com a O2 Filmes?

Mário Magalhães: Minha contribuição essencial foram os nove anos de trabalho que eu dediquei à elaboração da biografia “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo”. O livro constitui a matéria-prima, não ficcional, para o filme de ficção que o Wagner Moura (foto) está dirigindo e a O2 Filmes, produzindo. Ao ler “Marighella”, na virada de 2012 para 2013, o Wagner quis contar aquela história em sua estreia como diretor de longa-metragem. Fiquei feliz e honrado em ceder para ele e a O2, produtora comandada por craques como Fernando Meirelles e Bel Berlinck, os direitos de adaptação para o cinema. Conversei com o elenco, em São Paulo. Impressionaram-me o profissionalismo e a garra com que o pessoal se preparou para as filmagens, que já começaram.


 Wagner Moura dirige o longa baseado na biografia
Porém.net: O que você achou da escolha do elenco?

Magalhães: A equipe do filme só tem fera, em todas as áreas. Inclusive no elenco, integrado por atrizes e atores como Seu Jorge (intérprete do protagonista), Adriana Esteves, Luiz Carlos Vasconcelos, Ana Paula Bouzas, Bruno Gagliasso, Maria Marighella (a neta de Carlos Marighella é uma excepcional atriz), Humberto Carrão, Bella Camero e muito mais gente de talento. Vem aí um filmaço.

Porém.net: Em entrevista ao O Globo, Wagner Moura citou que o filme não será imparcial e que o atual momento do país pede o posicionamento. Como avalia?

Magalhães: O Wagner filmará um filme de ação, como é o meu livro e foi a vida de Carlos Marighella. Como cineasta, ele decidiu criar uma obra escolhendo o seu lado da barricada, o que é legítimo. Como autor de biografias jornalísticas, o meu comportamento é distinto. Não quero ser advogado (para defender personagens), promotor (para acusá-los) ou juiz (para julgá-los). Empenho-me em narrar o que os personagens fizeram, disseram e, na medida do possível, pensaram e sentiram. Forneço informações que permitam ao leitor formar o seu próprio juízo. A escolha do Wagner diz respeito a um filme de ficção, ainda que baseado numa história real. Essa escolha deve tornar seu filme mais forte, autoral. Em tempo: imparcialidade quimicamente pura não existe; ninguém é filho de chocadeira.

Porém.net: Ainda sobre o atual cenário, vivemos um momento de escalada de repressão, que chegou até as universidades. Como avalia este cenário?

Magalhães: De regressão política, cultural, acadêmica e existencial. São golpes da barbárie contra a civilização. O horror.

Porém.net: Em passagem por Curitiba para o lançamento do livro Confesso que perdi, Juca Kfouri falou sobre a falta de posição de muitos jornalistas diante de todo esse cenário. Por que o jornalismo está calado?

Magalhães: Não são somente os jornalistas, correto? Eu poderia falar muito, mas prefiro ser sintético, reproduzindo meu breve comentário sobre as intoleráveis ações policiais contra docentes da UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais]: quem cala consente; na noite do Brasil, a hora é de não calar.                                                                                       Seu Jorge no papel de Marighela

Porém.net: Nesta mesma linha, “jornalismo é oposição”, parafraseando Millôr Fernandes?
Magalhães: Eu concordo com o Millôr Fernandes: jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados. Mas há muitos, muitíssimos jornalistas que supõem que jornalismo é oposição a alguns e bajulação a outros. Quando digo oposição não me refiro a antagonismo partidário, e sim a jornalismo crítico, rigoroso, que contribui para que os cidadãos se informem sobre as coisas como as coisas são. Para mim, compra de deputado será sempre um escândalo, contudo há quem trate corretamente tal crime como “suborno”, quando os personagens são uns, e noutros casos empregue o eufemismo “negociação”.

Porém.net: Sua pesquisa atual está focada em Carlos Lacerda, próximo biografado. Há similaridades como a biografia do Marighella, mesmo com personagens tão distintos?

Magalhães: São personagens igualmente fascinantes. Suas vidas são de tirar o fôlego. Além das vidas que viveram, permitem reconstituir a política, a arte, a cultura e o comportamento de várias épocas. Co-protagonistas, coadjuvantes e figurantes são também personagens marcantes, goste-se ou não deles. Uma diferença é que, a despeito dos altos e baixos da existência, Marighella manteve uma trajetória linear, ainda jovem embicou num caminho, no qual perseverou até a morte. Lacerda, não. Esse contraste não faz um melhor do que o outro. Os inimigos acusavam Lacerda de incoerência. Num exemplo, por ter se tornado um combativo anticomunista depois da militância comunista de muitos anos. Ele respondia dizendo que seus valores fundamentais – liberdade e justiça – não mudavam, e sim a forma com o se expressavam. Que não tinha por que, ao se deparar com ideias melhores do que as suas, não mudar de opinião.

Porém.net: Você afirma que é legítimo amar ou odiar Marighella, mas é impossível permanecer indiferente à sua trajetória. Diante disso, por que ainda é importante lermos sua biografia e assistirmos ao filme quando for lançado?

Magalhães: Acho que é impossível entender a história do Brasil do século 20 sem conhecer a trajetória dos “meus” dois Carlos, Lacerda e Marighella. Não sugiro que ninguém concorde ou discorde das ações e das ideias deles. Mas ignorá-los, eles e seus contemporâneos, é eliminar capítulos maiores da nossa história.

Porém.net: Quando o livro foi lançado a polarização política do Brasil não estava tão clara quanto hoje. O livro, inclusive, recebeu críticas de pessoas que aparentemente sequer conhecem Marighella. A publicação acabou tendo um papel extra que você não esperava pela mudança da conjuntura?

Magalhães: A biografia “Marighella”, graças à generosidade de muita gente, é sucesso de público e de crítica. O livro está na sétima reimpressão. Recebeu seis prêmios, incluindo o Jabuti como melhor biografia. Amealhou elogios tanto de quem se identifica com Marighella como de quem o rejeita. Há quem cite o livro para incensar Marighella, e quem malhe o revolucionário baiano mencionando passagens do livro. Para um autor que se recusou a julgar seu protagonista, isso é motivo de satisfação. A partir dos mesmos relatos, coexistem opiniões conflitantes. Para gostar ou não de Marighella é preciso conhecê-lo, e não somente de ouvir falar. Os mesmos critérios jornalísticos, históricos e narrativos adotados com Marighella serão reproduzidos com Lacerda, que também pode ser amado ou odiado, porém, penso eu, não ignorado. Quanto a quem se tornou patrulheiro da leitura alheia, “denunciando” recentemente um leitor da biografia “Marighella”, eu não tenho dúvida: se esses patrulheiros vivessem na Alemanha da década de 1930, teriam se unido aos nazistas nas grandes fogueiras em que eles queimavam livros.

***

Mário Magalhães (foto) nasceu no Rio de Janeiro em abril de 1964. Formou-se em Jornalismo na Escola de Comunicação da UFRJ. Trabalhou nos jornais “Tribuna da Imprensa”, “O Globo”, “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S. Paulo”, diário do qual foi repórter especial, colunista e ombudsman. Manteve um blog no portal UOL. Foi professor de dois cursos de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro: Cinema Documentário e Jornalismo Investigativo. Cursou parcialmente Pedagogia na Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas.

Recebeu 25 prêmios jornalísticos e literários no Brasil e no exterior, incluindo menções honrosas. É autor da biografia “Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo”, editada pela Companhia das Letras. Também é autor do livro “O Narcotráfico” (Publifolha, 1999) e co-autor dos livros “Viagem ao país do futebol” (DBA, 1998, parceria com o fotógrafo Antônio Gaudério); “Crecer a golpes” (C. A. Press/Penguin Group, 2013, edição de Diego Fonseca); “Ciudades visibles: 21 crónicas latinoamericanas” (RM, 2016, edição de Boris Muñoz), “11 gols de placa: Uma seleção de grandes reportagens sobre o nosso futebol” (Record, 2010, organização de Fernando Molica); e “O melhor da gastronomia e do bem-viver” (DBA, 2004, organização de Luiz Horta).
BRASIL CULTURA

A felicidade não se compra – um filme de 1946 para o Natal de 2017

HOJE
Pode um filme realizado há setenta anos manter a sua atualidade neste Natal de 2017?
Por Jose M. Bastos
A resposta depende, como sempre, e obviamente, de quem o vê. Será afirmativa se, tal como George Bailey, a personagem central da história, o espectador for um idealista formado nos princípios da solidariedade e da partilha com os seus concidadãos. Se, pelo contrário, se tiver rendido à lógica da usura e da procura do lucro a qualquer preço que se tornou a ‘religião’ dos nossos dias então achará este ‘It’s a Wonderful Life’ um filme com um discurso ultrapassado, ao gosto das ‘esquerdas’ mais ou menos radicais ou, com alguma condescendência, uma ‘treta sentimental’ como diz Henry F. Potter, outra personagem da trama.
Em 1947, Frank Capra era uma das grandes figuras do cinema norte-americano. Na década anterior ‘só’ tinha conquistado cinco ‘Oscars’ – dois do melhor filme e três de melhor realizador e em 1943 o ‘Oscar’ para o Melhor Documentário – ’Prelude to War’ – um dos vários retratos que fez da 2ª Guerra Mundial. A abordagem que fez do conflito valeu-lhe as mais altas distinções americanas e britânicas. Italiano, nasceu na Sicília no final do século XIX, no seio de uma família pobre, analfabeta e numerosa, que no início do século passado emigrou para os Estados Unidos. Naturalizado norte-americano, ao mesmo tempo que trabalhava em empregos precários formou-se em Engenharia Química e, em 1922, realizou o seu primeiro filme.
Seguiu para Hollywood na altura já a ‘Meca’ do cinema… ainda mudo. Aí foi ‘pau para toda obra’. Escritor de argumentos trabalhou com Mack Sennet e para a ‘Columbia’, uma produtora quase desconhecida. Em 1934 ganhou dois ‘Oscars’ com ‘It Happened One Night’. Em 1936 o de melhor realizador com ‘Mr. Deeds Goes to Town’ e em 1938 outros dois, com ‘You Can’t Take It With You’. Depois da guerra fundou, com William Wyler e Georges Stevens a sua própria produtora: a ‘Liberty Films’. Foi aí que fez ‘It’s a Wonderful Life’ / A felicidade não se compra, ‘Globo de Ouro’ de 1947 para o melhor realizador. Frank Capra morreu em 1991 com 94 anos.
A felicidade não se compra é a história de um homem, George Bailey, representado por James Stewart, que numa pequena cidade americana se vê à frente de uma empresa fundada pelo pai. Uma espécie de cooperativa na qual as pessoas colocavam as suas economias que serviam para financiar a construção das suas próprias casas. Assim escapavam ao raio de influência de Henry Potter o magnata que dominava a terra e que também construía casas que as pessoas habitavam, mas em troca de rendas exorbitantes.
A oposição entre estas duas figuras, e afinal entre duas concepções do mundo e da vida, é o tema central desta obra, que tem ainda uma componente transcendental ou religiosa: a presença de um anjo caído do céu que vem à terra salvar, na noite de Natal, um George Bailey mergulhado em dificuldades e à beira do suicídio. Mas nem os ateus ou agnósticos mais empedernidos deixarão de sorrir perante a figura de um anjo que tem que cumprir satisfatoriamente a missão que lhe foi confiada e assim e, finalmente, ganhar as asas que espera há duzentos anos.
A felicidade não se compra, eleito em 2006 como o filme americano mais inspirador da História, em votação promovida pelo American Film Institute, é, nos nossos dias, um filme contra a corrente e contra os discursos dominantes. Com setenta anos de antecipação um filme ‘anti-trumpista’. Um hino ao humanismo e à solidariedade e um libelo contra a usura, a especulação e a obsessão pelo lucro. E, ainda por cima feito por um emigrante… Mas não foram emigrantes os grandes nomes do cinema norte-americano durante boa parte do século XX? 
Fonte: Tornado; adaptado para o português do Brasil por José Carlos Ruy

Vai Malandra: Anitta, subversão, afroconveniência e mercado

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Por Victória Damasceno
A combinação, por sua vez, divide a cena com as pernas da cantora, que em um enquadramento privilegiado destaca seu andar, sua bunda, suas pernas com celulite e seu cabelo trançado até a altura do quadril.
“Vai malandra, an, an. Ê, tá louca, tu brincando com o bum bum, an, an”. A fala de Mc Zaac acompanha a abertura do novo single de Anitta, cuja parceria com o rapper Maejor, Tropkillaz, DJ Yuri Martins, e o próprio Mc, finaliza o projeto Check Mate.
Com foco nas parcerias internacionais, o pacote do Check Mate incluiu o lançamento de quatro novas músicas, que misturam ritmos brasileiros, música pop e conta com a participação de artistas estrangeiros. Com isso, busca consolidar a carreira da funkeira do bairro de Honório Gurgel no mercado internacional.
Em meio à chuva de visualizações, um novo boom. A volta para a favela do Vidigal, o retorno ao funk, ao pancadão e a participação de personagens da própria comunidade deu a cantora a marca de 14 milhões de visualizações no YouTube em apenas um dia, gerando críticas, elogios e textões sobre a forma que a própria cantora, os moradores e a comunidade foram representados.
Anitta começou pelo fim. Antes de lançar a primeira música do projeto, vazou imagens de Vai Malandra, em que ela tomava sol em uma laje com fitas isolantes simulando um biquíni no corpo. Enquanto o público esperava por este clipe, a artista preparava o terreno com outros lançamentos. Will I see you, o abre alas da sequência, apresenta uma bossa nova cantada em inglês, em parceria com produtor Poo Bear, conhecido por trabalhar com Justin Bieber, Usher e Chris Brown.
Um mês depois, a música eletrônica Is that for me lança Anitta no mercado pop. Para atingir o público latino, Anitta apresenta o single Downtown, cantado em espanhol em parceria com J. Balvin, intérprete e compositor colombiano que deu à produção o toque do raggaeton, ritmo latino mais ouvido nas plataformas de streaming. Até o último lançamento, a cantora já acumulava 10 milhões de novos ouvintes no Spotify através do projeto Check Mate.
A criminalização do funk

Alvo de discussões, as críticas passam longe da letra de Vai Malandra. O clipe é marcado pela favela como protagonista das imagens. Em uma visão romantizada, a artista apresenta as ruas estreitas e esburacadas da comunidade, o mototáxi, os bares, além das lajes reservadas para o banho de sol, onde as mulheres desenham biquínis com fita isolante e por horas buscam o bronzeado ideal.

O protesto também está presente. Sua subida na garupa do mototáxi, com a bunda como centro da cena, revela também a placa da moto “ANT 1256”: trata-se de uma referência ao projeto de lei de criminalização do funk, proposto pelo empresário Marcelo Afonso.
A apresentação sexualizada do corpo feminino no clipe ecoa o próprio funk ostentação, no qual cantores de funk exibem condomínios de alto padrão, carros de luxo, dinheiro e jóias.
Enquanto nesta estética os homens são o centro das relações, o clipe de Anitta também sexualiza o corpo masculino: musculosos de sunga, molhados na piscina e com enquadramentos que privilegiam o formato de seus órgãos sexuais. Em uma forma de subversão, a cantora utiliza estereótipos femininos colocados como negativos para reivindicar o poder sobre o próprio corpo.
Anitta peferiu manter as celulites no clipe, e proibiu qualquer tipo de edição do seu corpo nas imagens
Costumes da juventude da periferia brasileira são destacados pelo olhar americanizado da cultura pop, que pode ser justificado pela direção de Terry Richardson, acusado de assédio sexual por modelos que fotografava quando trabalhava nos editoriais de moda.

Por outro lado, o protagonismo do filme é das mulheres do próprio Vidigal e de Anitta, que exigiu o fim de qualquer tratamento de imagem em relação à realidade de seu corpo, deixando à mostra as celulites, estrias e outros aspectos que o olhar (masculino) poderia enxergar como imperfeições.
A ótica americana, porém, também é de uma empresária que busca encantar o mercado internacional. Seguindo a lógica dos grandes símbolos do pop americanos como Snoopy Dog, Pharrell Williams, Michael Jackson, e a bandas U2 e Black Eyed Peas, ela utiliza a favela do Rio de Janeiro como cenário para sua produção.
O que a difere, porém, é falar sobre uma realidade vivida por ela.
Anitta alia as particularidades do Rio de Janeiro, ainda que em uma visão romantizada, o funk como identidade e a parceria com o rapper americano Maejor para apresentar um produto com a aprovação do público brasileiro, usado como base para alçá-la à carreira internacional.
Do samba ao funk: a voz dos excluídos

A questão racial de Anitta também foi alvo de polêmicas. No início da carreira, a funkeira recebeu críticas por “embranquecer” sua estética. Uma reportagem do jornal inglês The Guardian, publicada em 2013, afirmou que a artista teria feito procedimentos para clarear a pele. Ela classificou a declaração como “inveja”. “Lógico que não fiz nada disso, gente! Meu pai e a família dele são negros lá de BH (Minas), e a minha mãe é branca, da Paraíba. É que estou sem tempo de ir à praia. Quando eu for, você vai ver: volto neguinha”, afirmou em entrevista ao site R7.

Terry Richardson

As primeiras três produções de seu novo projeto, entretanto, não destacam a temática racial. Nas produções de Will I see You, Is that for me ou Downtown, Anitta não apresenta qualquer relação com pautas que valorizem seu recente reconhecimento enquanto mulher negra, características valorizadas por cantoras como Beyoncé ou Rihanna.

Após sua entrada no mercado internacional, de carona nos discursos sobre as temáticas raciais, seu reconhecimento enquanto negra é entendido como uma “afroconveniência”, já que, como uma mulher latina e não-branca, Anitta precisaria encontrar um nicho dentro do panorama pop musical para que pudesse ter sua identidade reconhecida. Daí a aparentemente repentina adesão ao cabelo trançado ou crespo, e ao corpão bronzeado.
A arquiteta ativista Stephanie Ribeiro, por meio de uma postagem em sua rede social, afirma que o fato de Anitta ser uma mulher de origem periférica a torna apta a falar desta temáticas sem precisar “emular” algo. “Fora desse clipe em questão, ela vende uma imagem de nariz afinado, cabelo liso escorrido até a bunda e nenhuma celulite aparente.” Para ela, até mesmo a opção de mostrar a “beleza real” faz parte da performance.
“Até aquela bunda com celulite no começo do clipe faz parte da performance da ‘periférica’ feita no clipe. A mesma bunda com celulite não aparece naquele clipe dela semi nua cantando em inglês”, conclui a ativista, ao afirmar que “identidade racial não é fantasia”.
A estratégia do projeto Check Mate, encerrado com a produção de Vai Malandra, apresenta ao mundo uma artista que busca contemplar as ânsias de diversos públicos.
Para o bem ou para o mal, Anitta é a única brasileira na lista dos 50 artistas mais influentes do mundo segundo a Billboard. Em 2017, foi o nome brasileiro mais procurado nos sites de busca. Ganhou até do Neymar.
Carta Capital