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domingo, 25 de junho de 2017

MEMÓRIAS DE UM ALIENADO - "JOVENS LEIAM ESSA MATÉRIA!"


Não fosse por alguns fatos que aconteceram em minha vida e serviram para abrir meus olhos, fatalmente eu seria hoje aquele mesmo adolescente alienado, ignorante e raivoso.

- por André Lux, jornalista


Parte 1: Eu também fui papagaio da direita

Quem visita meu blog e lê meus textos com certeza deve pensar que sou socialista desde o meu nascimento e fui criado por pais radicais de esquerda, que fizeram treinamento de guerrilha em Cuba e lutaram contra a ditadura militar...


Nada mais longe da verdade. Muito pelo contrário.

Nasci em uma típica família de classe média baixa, mas que sonhava pertencer à elite mundial. Daí que, durante toda minha infância e juventude, morei em casas (alugadas) em bairros semi-nobres a preços absurdos, enquanto era transportado numa Brasília amarela e via meus pais desesperados tentando cobrir o rombo no cheque especial todo santo mês.

Mas, como que para provar nossa posição entre a elite, éramos sócios do segundo clube no nível hierárquico sócio-econômico da cidade, o Tênis Clube de Campinas. Sim, porque o número 1 na escala social era a Sociedade Hípica, cuja maioria dos sócios podres de ricos também frequentava o Tênis, embora o contrário não acontecesse (exceto quando éramos convidados para algum casamento realizado no gigantesco salão de festas daquele clube - não por acaso adaptado em uma Casa Grande de algum antigo barão do café).

Sempre fui cercado por parentes e amigos que, mesmo sendo honestos e trabalhadores, não tinham a visão crítica necessária para compreender como as coisas funcionavam. Meus familiares limitavam-se a repetir o que ouviam, liam e viam na mídia, especialmente na rede Globo, nas revistonas e nos jornalões (que apoiaram o golpe militar, embora hoje finjam que não). 

Assim, tinham medo de comunistas, pois diziam que comiam criancinhas e dividiam a casa das pessoas ao meio (o fato de não termos imóvel próprio não parecia contradizer esse receio), achavam que Che Guevara era um “baderneiro profissional” (ser pago para fazer baderna, isso é que é profissão!), acreditavam que o Brasil tinha tantos problemas “porque pobre não gosta de trabalhar” (usar o salário mensal só para pagar contas e cobrir o rombo no cheque especial, imaginavam, não era coisa de pobre) e por aí vai.


Nem preciso dizer que, obviamente, eu também repetia tudo isso e acreditava no que estava falando, mesmo sem ter o menor embasamento teórico ou prático para tanto. 

Minha vida escolar foi uma piada. Estudei em colégio particular (de freiras!) do maternal ao ensino médio. 

Para se ter uma ideia do desastre que isso significa (com raras e nobre exceções entre meus professores), nasci em 1971 e cheguei até o final da minha fase educacional básica sem nem saber que vivíamos sob um regime ditatorial ilegal e imoral.

Enquanto eu brincava no clube despreocupado, assistia à televisão ou passava a manhã inteira decorando datas e fórmulas matemáticas de maneira acrítica e alienante, centenas de brasileiros e vizinhos de continente eram torturados e mortos simplesmente por se opor àqueles regimes ditatoriais apoiados e financiados pelos EUA. No máximo, eu ouvia algo como “Bem feito pra esses baderneiros, quem mandou serem do contra?” quando alguém tocava no assunto.

Se vocês acham que estou mentindo, relaciono abaixo fatos que marcaram essa fase lamentável da minha existência:

1) Vi o filme “Comando para Matar”, aquele em que o Arnoldão detona sozinho um exército inteiro de cucarachas sul americanos, nada menos do que seis vezes nos cinemas (e contava para todo mundo orgulhoso!);

2) Iniciava comentários com as frases “Eu vi na Veja” ou “Assisti na Globo”;

3) Ridicularizava quem dizia que existia racismo no Brasil, mesmo não tendo nenhum amigo ou conhecido negro, exceto a empregada que a gente desprezava, e repetindo “piadas” do tipo “sabe qual a diferença entre um negro e uma latinha de (censurado)?”;

4) Sentia prazer em irritar petistas, repetindo jargões que são usados até hoje (“Lula é vagabundo, ex-presidiário, arrancou o dedo para não precisar mais trabalhar”, “Sindicalista só sabe fazer baderna”, “Petista é tudo igual", "Se gosta tanto de Cuba, por que não vai pra lá plantar cana??”). Isso mesmo sem conhecer absolutamente nada de política, sociologia ou história;

5) Acreditava que o Stallone, o Arnoldão e o Chuck Norris lutavam pela liberdade, pela democracia e pela justiça para nos salvar dos vilões comunistas (eu tinha até pôster deles no meu quarto) e que os Bandeirantes foram corajosos desbravadores dos sertões brasileiros;

6) Vivia falando mal do Brasil e do “povo” brasileiro (do qual eu não fazia parte, é claro, afinal meus bisavôs eram europeus) e começava a concluir esse tipo de argumentação com a frase “Ah, mas lá nos Estados Unidos...”;


7) Passava a tarde inteira e o domingo inteiro na frente da TV, assistindo qualquer porcaria, e só ia dormir depois de ver o Fantástico, sempre deprimido por lembrar que no outro dia voltavam as aulas e eu não havia feito a lição de casa nem decorado a matéria para as provas;

8) Cantava a música “Vamos Construir Juntos!” (que eu sei de cor até hoje!) e colecionava o álbum de figurinhas do “Paulistinha”, que faziam parte do marketing institucional do governo ditatorial para nos convencer que o Brasil era "o país do futuro";

9) Assistia às novelas da rede Globo, embora ficasse falando mal delas (porque naquela época, macho que era macho não via novela, a não ser para reclamar);

10) Ficava realmente preocupado com a situação da Ponte Preta no campeonato paulista;

11) Comemorava toda vez que um novo McDonald’s era inaugurado no Brasil, pois era sinal de que o país estava progredindo (sim, eu também acreditei na ladainha sobre as maravilhas da "globalização neoliberal");

12) Queria ser astronauta da NASA quando crescesse (mas, desisti depois que me falaram que eles têm que ser bons em matemática);

13) Proferia afirmações como "não voto em partidos, mas em pessoas" (isso porque eu nem podia votar!), pois tinha aprendido que partidos eram coisas ruins e inúteis (assim, quando algum político de direita caia em desgraça, era culpa só dele, não do partido), especialmente aqueles que defendiam ideologias de esquerda;

14) Ideologia também era outro palavrão, coisa de baderneiro profissional, por isso eu também dizia, todo faceiro: "Não existe esse negócio de esquerda e direita, isso é coisa de gente revoltada que não gosta de trabalhar e só sabe ser do contra!".


Isso só para ficar no básico. Tenho certeza que você já testemunhou alguém falando ou fazendo coisas parecidas, certo?

Sinceramente, eu era um caso quase sem salvação.

Mas a sorte sorriu para mim.

Não fosse por alguns fatos que aconteceram em minha vida e serviram para abrir meus olhos, fatalmente eu seria hoje aquele mesmo adolescente alienado, ignorante e raivoso. 

Só que pesando 50 quilos a mais, com barba na cara e com um daqueles adesivos nojentos quatro-dedos dizendo "Fora Lula!" colado no vidro do carro.

*As imagens dessa postagem são do filme "Pink Floyd - The Wall", do Alan Parker

Parte 2: Saindo da Matrix
.

Antes de prosseguir com o relato do meu processo de “abertura dos olhos”, gostaria de esclarecer um ponto. 

Pode ser que meu texto anterior tenha passado a impressão de que sou um sujeito rancoroso, recalcado, que culpa e recrimina os pais e os amigos pelo processo de alienação pelo qual fui submetido durante a infância e a juventude.

Embora seja verdade que esses sentimentos venham à tona quando você percebe que foi, para colocar de maneira bem simples, enganado e induzido por pessoas que gostava a pensar de uma certa forma que não condiz com a realidade, é verdade também que fica fácil entender suas ações e perdoá-los.

Afinal, eles também foram enganados e induzidos durante toda sua vida para pensar e agir daquela forma e, infelizmente, acreditavam estar fazendo o melhor, sem condições ou vontade de quebrar aquele ciclo de alienação e dominação ideológica que os massacrava e os manipulava como gado que vai cantando feliz rumo ao matadouro.

Quando lembro, com um frio na espinha, que eu mesmo poderia estar assim até hoje - cheio de medo, ódio, intolerância e preconceitos - e que, provavelmente, iria educar meus filhos da mesma maneira, fica mais fácil ainda ser condescendente...

Bom, dito isso, vamos prosseguir.

Afinal, como eu consegui “abrir meus olhos”, perceber a Matrix à minha volta e romper a prisão mental da alienação, do ódio e do medo? Vários fatores me ajudaram nessa jornada que, confesso, foi longa e nada fácil. Vou enumerá-los em ordem cronológica, para facilitar.


1) CINEMA: tudo começou quando me levaram para assistir “Guerra nas Estrelas”. Mas, o que esse filme-pipoca roliudiano tem a ver com isso? Antes de torcer o nariz, explico que assisti ao primeiro nos cinemas, quando tinha por volta dos 8 anos de idade. 

Não vou entrar em detalhes a cerca da minha adoração pela obra do George Lucas, que deve ter durado até pouco tempo (confesso), mas basta dizer que foi aquela obra que me abriu para o cinema e, por tabela, para o mundo das artes em geral.

E, mesmo que isso fosse imperceptível para meu limitado cérebro na época, tratava-se da história de um grupo de “rebeldes” idealistas que lutava para derrubar um império “fascista” (embora essa realidade tenha sido deturpada depois pelos extremistas de direita quando Reagan tomou o poder nos EUA, e foi usado como símbolo para a guerra fria, com o Império maligno representando a ex-União Soviética). 

Enfim, aquele filme mudou minha vida. Depois dele nunca mais fui o mesmo, para o bem e para o mal.

2) O MODO DE VIDA NERD: por causa do meu apego ao cinema e tudo que estava relacionada a ele, especialmente as trilhas sonoras dos filmes, nem preciso dizer que me transformei em um verdadeiro nerd. 

Assim, enquanto meus amigos começavam a gostar de tudo que era “normal” naquela sociedade (do rock n’ roll enquadrado aos parâmetros do consumismo, ao consumo de drogas e bebidas alcoólicas) lá estava eu tentando arrumar dinheiro para comprar o disco de “Jornada nas Estrelas” ou o álbum de figurinhas do “Flash Gordon”...

Embora nada disso tenha me ajudado a abrir os olhos naquele momento, certamente me transformou num sujeito meio estranho, marginalizado e com um forte sentimento de inquietação. 

Afinal, eu só tinha amigos nerds como eu e nunca conseguia me enturmar com os “descolados”, que adoram ridicularizar os “diferentes”. Eu comecei a sentir que alguma coisa estava errada, mas eu não sabia o que era e nem me preocupava muito em descobrir. Porém, já era um começo.

3) INFLUÊNCIAS DECISIVAS: fiquei mais ou menos na mesma até o meio da minha adolescência. Foi a partir dos 16 anos, quando um primo entrou na faculdade em Campinas e veio morar conosco, que as coisas começaram a mudar. Não sei dizer se ele era de esquerda ou de direita (talvez fosse ainda indiferente como eu), mas a verdade é que era um sujeito muito mais culto e antenado do que eu – até porque teve uma educação mais rica e politizada que a minha.

Foi graças a esse cara que eu comecei a gostar de qualquer tipo de filme (e não só de ficção científica, aventura e terror) e, mais importante, aprendi a decifrar mensagens e idéias que estavam contidas nas obras de arte. Até então, eu pensava, “um filme é só um filme, puro entretenimento, nada mais”. Ledo engano. Não fosse pelo meu primo, jamais teria assistido (e entendido) a filmes como “Brazil”, “A Missão”, “Coração Satânico”, “Amadeus”, conhecido o Monty Phyton ou lido quadrinhos como “Batman, O Cavaleiro das Trevas”, “Ronin”, “Watchmen” ou “V de Vingança”.

Foi nesse momento que eu comecei a perceber algumas coisas surpreendentes: não existem mocinhos e bandidos na vida real, o USA não era assim um país tão bacana e justo, a religião poderia causar (e causou) grandes males às pessoas e ao mundo, nem sempre quem era chamado de “terrorista” lutava por uma causa ruim, muita coisa que era vendida pela mídia como sendo uma verdade única ou normal tinha um outro lado que não era divulgado, etc. 

Mesmo assim, eu ainda não havia ligado os pontos para formar o grande quadro. Isso só aconteceu quando eu entrei para a universidade.

4) UNIVERSIDADE FEDERAL: ser um jovem alienado e perdido no mundo me trouxe uma grande vantagem naquele ponto. Eu não tinha a menor idéia do que fazer da minha vida. Assim, ao chegar à encruzilhada da adolescência e ter que escolher qual faculdade deveria fazer, mais perdido que cego em tiroteio, optei pelo curso de... Química! 

Prestei vários vestibulares e consegui entrar na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). E foi ali que tudo começou a mudar em minha vida. O ano era 1989 e estávamos prestes a ter a primeira eleição direita para Presidente da República em mais de 20 anos (embora eu não desse a mínima para esse fato, afinal “odiava política”, lembram?).

Meu primeiro choque, depois de ficar décadas praticamente falando besteiras sem sentido e me relacionando com gente vazia e alienada, foi perceber que existiam pessoas que conheciam, discutiam e debatiam diversos temas que eu não tinha a menor noção do que significavam. E eram jovens da minha idade! Como aquilo era possível? - eu me perguntava.

Obviamente, como eu não entendia quase nada do que discutiam, meus primeiros sentimentos em relação àquelas pessoas foram de raiva e inveja. E, como não poderia deixar de ser, comecei a entrar no meio das conversas transformando esses sentimentos negativos e mesquinhos em petulância, cinismo e provocações baratas. 

Foi naquele período que me tornei oficialmente um “papagaio da direita”, afinal de contas a maioria dos jovens que estudavam lá era de esquerda e defendia a candidatura de Lula contra o marajá das Alagoas, Fernando Collor. Nem preciso dizer que, para irritar “aqueles petistas” eu dizia que ia votar no Collor, que Lula era baderneiro profissional, etc, etc. Tudo aquilo que eu havia “aprendido” na escola da ditadura e que fora reforçado no ambiente em que fui criado.

Fiquei nessa um bom tempo, diria que uns seis meses mais ou menos. Então coisas estranhas começaram a acontecer.

Como é perfeitamente natural após um semestre inteiro de contato diário com um grupo, passei a gostar de várias pessoas e até admirá-las. Percebi que ali havia muita gente bacana, inteligente e companheira, que sabia ouvir meus problemas, me apoiava quando eu precisava de ajuda (principalmente nas matérias, pois eu “boiava” em quase tudo) e, acima de tudo, não me ridicularizava quando dizia que gostava de cinema, música erudita e quadrinhos – pelo contrário. 

Para aquelas pessoas, eu não era mais um “babaca” ou um nerd esquisitão, mas sim um sujeito sensível que gostava de arte! Descobri que muitos ali também gostavam das mesmas coisas, tinham inclusive os mesmos problemas familiares e carências afetivas.


Entretanto, quando eu entrava no modo “papagaio da direita”, aquelas pessoas que, no fundo eu invejava e queria impressionar, simplesmente me deixavam falar e, assim que eu terminava de vomitar minhas asneiras, continuavam o assunto de onde haviam parado. Ninguém me hostilizava, muito menos me ridicularizava. Simplesmente me ignoravam...

Depois de umas três ou quatro situações como essa comecei a me sentir constrangido e patético. Afinal, eu não gostava daquelas pessoas, não as admirava? Não gostava da maneira sensível e humana que me tratavam e ouviam? Então, por que diabos eu estava querendo provocá-las e irritá-las, repetindo coisas ditas pelos meus pais e por outras pessoas que nunca me respeitaram nem me ouviram antes? 

Para piorar tudo, comecei a perceber que os que repetiam aquelas mesmas asneiras provocativas e me davam força para que eu continuasse a proferi-las eram justamente aqueles tipos mais idiotas, os “mauricinhos” e os filhinhos de papai que me cercavam aos montes...

Lembro como se fosse hoje de uma festa realizada na casa da minha primeira namorada, onde toda a moçada estava reunida, tocando violão, comendo churrasco e bebendo cerveja. De repente, começou um papo sobre política e um rapaz, que era inclusive membro do DCE, colocou seu ponto de vista e defendeu Lula com muita propriedade e civilidade. 

Quando eu ia começar a falar asneiras contra o petista, outro sujeito passou na minha frente e verbalizou tudo aquilo que estava na ponta da minha língua. Olhei para ele e vi que era um tipinho que ninguém gostava, um playboy folgado e mesquinho, que chegava a exigir grana dos que moravam com ele para dar carona até a faculdade e vivia invadindo festas mesmo sem ter sido convidado.

Aquilo me transtornou. Quer dizer que eu era igual àquele imbecil? Não era possível! Logo eu, um cara que se julgava tão bacana, sensível, amante das artes, romântico e incompreendido, no fundo me portava igual aos tipos mais desprezíveis e irritantes? Não preciso dizer que foi ali que a ficha caiu e, finalmente, após longos anos de alienação e estupidez eu finalmente comecei a tomar consciência do mundo à minha volta e de todos os problemas reais que existiam nele.

Antes tarde do que nunca, não é mesmo? Ah, esqueci de um outro fator que também foi decisivo para o meu crescimento intelectual e espiritual:


5) AUSÊNCIA DE TELEVISÃO. Quando mudei para São Carlos, fui morar com amigos em uma república. 

Detalhe: ninguém conseguiu levar uma TV! Assim, passei praticamente um ano da minha vida impedido de alimentar meu vício de ficar horas sentado em frente àquela “máquina de fazer doido”. 

No começou quase tive um treco, mas depois de uns dois meses, me acostumei a viver sem aquele monte de lixo ideológico que era enfiado na minha mente e, assim, passei a investir meu tempo em coisas mais importantes, como debates, conversas e leituras.

Só quem passou por isso tem noção do quanto a vida melhora sem a influência nefasta da TV, principalmente a rede Globo que é um verdadeiro câncer que corrói corações e mentes todos os dias!

Tanto é que, depois disso, nunca mais consegui ficar mais de cinco minutos na frente de uma televisão que não apresentasse algo minimamente inteligente e instigante - que, convenhamos, se resume a 1% da programação das redes e olhe lá...

Mas, essa mudança toda em minha consciência trouxe várias conseqüências para a minha vida...

Parte 3: Fale-me sobre política e direi quem tu és...





Dando sequência às minhas "Memórias de Um Alienado", vou falar agora sobre o que aconteceu com minha vida depois que deixei de ser um papagaio da direita e fui conscientemente para a esquerda.



A primeira conseqüência é positiva. 

Trata-se, claro, de deixar de ser um boçal alienado convicto que fica dado palpite em tudo quanto é assunto sem entender nada do que está sendo dito – só para fazer de conta que entende ou então, pior, para irritar “esquerdistas”. 

Quando você passa a ter consciência das coisas e “sai da Matrix”, percebe que é muito melhor ficar quieto escutando o que os outros tem a dizer.

Isso me ensinou grandes lições que todo boçal alienado convicto não conhece, tais como: ser humilde, saber ouvir, entender que quanto mais você aprende mais percebe que nada sabe e que não conseguir admitir tudo isso é coisa de gente fraca e covarde.

Agora vem o lado ruim. O problema de você sair da direita e ir para a esquerda, especialmente quando ainda é adolescente, é o choque de perceber quanta gente que antes dizia te adorar vai começar a tratá-lo como o se fosse o belzebu em pessoa! Comigo não foi diferente.

Familiares, amigos e conhecidos, que antes apertavam minhas bochechas, davam tapinhas nas costas e me elogiavam quando eu concordava com o que diziam, de repente passaram a me xingar e agredir só porque ousei defender o Lula ou o Fidel Castro. 

Assim, de “menininho querido da titia” me transformei “naquele moleque perdido que sofreu lavagem cerebral dos comunistas”. E de nada adianta você tentar dizer que ninguém fez lavagem cerebral em você, muito pelo contrário: antes é que faziam...

Comigo foi assim. Lembro até hoje do dia que, depois de deixar de ser um papagaio da direita, cheguei em casa e resolvi falar sobre política com meu pai – coisa que nunca tinha feito antes. 

Imaginem a cena. Eu, com 18 anos, todo empolgado querendo falar com meu velho sobre aquelas coisas novas que tinha aprendido, de repente sendo tratado com um trapo sujo e repelente! Sim, foi isso que aconteceu. Foi só eu falar todo ingênuo que ia votar no Lula e pronto. Só faltou me dar um sopapo na orelha!

E com minha mãe não foi diferente. Nem com o vizinho, que de velinho simpático e bonachão, transformou-se num clone do Adolf Hitler assim que eu falei bem do “sapo barbudo”! Meus amigos de infância então, nem preciso dizer o que aconteceu, preciso? Óbvio: foi só eu falar da minha nova ideologia que começaram todos a me ridicularizar e repetir aquelas papagaiadas “para irritar esquerdista”...


Foi nessa época que aprendi uma coisa triste. As pessoas só revelam mesmo quem realmente são e o que pensam quando falam de política. 

O sujeito pode ser o mais bonzinho do mundo, fã de Beatles, Pinky Floyd e dos filmes de Walt Disney, amante da paz e da natureza...

Mas, na hora que começa a falar de política transforma-se, como aquele meu vizinho, numa cópia mal feita do Hitler e passa a vomitar preconceitos, elitismo, racismo, homofobia, ignorância e outras nojeiras que deveriam deixar qualquer pessoa com bom senso envergonhada. 

E olha que estou falando aqui de pessoas de classe média, que tiveram acesso a tudo do bom e do melhor em relação a estudo e cultura!

Nem preciso dizer que, daquela época em diante, perdi muitos “amigos” e deixei de ser o “queridinho” de muitos familiares, que passaram a me hostilizar ou me irritar constantemente com provocações baratas e ridículas. Por que eu não percebia o quanto aquelas pessoas eram rancorosas, odiosas e preconceituosas antes, perguntava-me. 

A resposta é simples: porque antes não falávamos de política, exceto talvez para repetir um ou outro jargão idiota da direita, do tipo “detesto política” ou “político é tudo igual”.

E tem gente, incluindo familiares e amigos, que ainda fazem isso comigo até hoje. Nem preciso dizer também que, depois das duas vitórias do Lula e da ascensão de políticos como Chávez, Evo Morales e afins, tudo ficou ainda pior e até aqueles que conseguiam disfarçar um pouco melhor seus ódios perderam completamente o controle!

Depois de todas essas experiências, criei uma máxima que, infelizmente, continua valendo até agora: “Fale-me sobre política que direi quem tu és”...


Fonte: TUDO EM CIMA

Direção do SINAI-RN promove Arraiá do Esquenta 30 para festejar o mês junino e divulgar a Greve Geral do dia 30 de junho

Para festejar o mês junino e divulgar a Greve Geral do dia 30/06, a coordenação da mulher trabalhadora do SINAI-RN está organizando o Arraiá do Esquenta 30.

O evento acontecerá no dia 28 de junho, a partir das 14h, na sede estadual do Sindicato. Comidas típicas e um trio de forró vão embalar a festa. Os interessados devem confirmar presença através dos telefones (84) 3206-1851 / 3206-1861.


Fonte: SINAI/RN

Centrais e Frentes definem atividade unificada que acontecerá na Greve Geral desta sexta 30/06, em Natal



Reunidas, as centrais sindicais e frentes populares locais definiram como será a atividade unificada que acontecerá em Natal na Greve Geral desta sexta-feira (30/06). A reunião deliberou que uma grande caminhada será realizada pelas ruas da capital. A concentração será a partir das 15h, em frente ao shopping Midway Mall, Lagoa Nova. Os manifestantes vão caminhar em direção à Praça de Mirassol. Pela manhã cada categoria poderá mobilizar-se e fazer o esquenta.

A Greve Geral, convocada pela Intersindical, outra centrais sindicais e as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, visa paralisar o Brasil em protesto contra as reformas previdenciária, trabalhista e pela revogação da lei da terceirização. O movimento tem ainda dentro da sua pauta a luta em favor da saída de Michel Temer da presidência da república e a realização de eleições diretas.

SINAI-RN mobilizará sua base no período da manhã

Durante a manhã a direção do SINAI-RN vai mobilizar a sua base para participar da Greve Geral. Estão previstos piquetes em frente ao DETRAN e Fundação José Augusto. Os outros órgãos ainda vão definir, em assembleias que acontecerão ao longo da semana, as atividades da sexta-feira 30.


Fonte: SINAI/RN

Decisão do STF não atinge liminar do Sindsaúde sobre pagamento em dia e correção por atraso

Lima Barreto escreveu crônica contra o feminicídio em 1915

“Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes”. Esse trecho é de uma crônica de 1915 escrita por Lima Barreto, o homenageado na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano, provando que feminicídio não é um problema dos nossos tempos.

Criação: Andocides Bezerra

O texto “Não as matem” é parte da publicação “Vida Urbana”, uma coletânea de crônicas e artigos do autor publicada em 1953.

Confira a íntegra:

Não as matem

Esse rapaz que, em Deodoro, quis matar a ex-noiva e suicidou-se em seguida, é um sintoma da revivescência de um sentimento que parecia ter morrido no coração dos homens: o domínio, quand même, sobre a mulher.

O caso não é único. Não há muito tempo, em dias de carnaval, um rapaz atirou sobre a ex-noiva, lá pelas bandas do Estácio, matando-se em seguida. A moça com a bala na espinha, veio morrer, dias após, entre sofrimentos atrozes.

Um outro, também, pelo carnaval, ali pelas bandas do ex-futuro Hotel Monumental, que substituiu com montões de pedras o vetusto Convento da Ajuda, alvejou a sua ex-noiva e matou-a.

Todos esses senhores parece que não sabem o que é a vontade dos outros.

Eles se julgam com o direito de impor o seu amor ou o seu desejo a quem não os quer. Não sei se se julgam muito diferentes dos ladrões à mão armada; mas o certo é que estes não nos arrebatam senão o dinheiro, enquanto esses tais noivos assassinos querem tudo que é de mais sagrado em outro ente, de pistola na mão.

O ladrão ainda nos deixa com vida, se lhe passamos o dinheiro; os tais passionais, porém, nem estabelecem a alternativa: a bolsa ou a vida. Eles, não; matam logo.

Nós já tínhamos os maridos que matavam as esposas adúlteras; agora temos os noivos que matam as ex-noivas.

De resto, semelhantes cidadãos são idiotas. É de supor que, quem quer casar, deseje que a sua futura mulher venha para o tálamo conjugal com a máxima liberdade, com a melhor boa-vontade, sem coação de espécie alguma, com ardor até, com ânsia e grandes desejos; como e então que se castigam as moças que confessam não sentir mais pelos namorados amor ou coisa equivalente?

Todas as considerações que se possam fazer, tendentes a convencer os homens de que eles não têm sobre as mulheres domínio outro que não aquele que venha da afeição, não devem ser desprezadas.

Esse obsoleto domínio à valentona, do homem sobre a mulher, é coisa tão horrorosa, que enche de indignação.

O esquecimento de que elas são, como todos nós, sujeitas, a influências várias que fazem flutuar as suas inclinações, as suas amizades, os seus gostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que, só entre selvagens deve ter existido.

Todos os experimentadores e observadores dos fatos morais têm mostrado a inanidade de generalizar a eternidade do amor.

Pode existir, existe, mas, excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano de revólver, é um absurdo tão grande como querer impedir que o sol varie a hora do seu nascimento.

Deixem as mulheres amar à vontade.

Não as matem, pelo amor de Deus!

Fonte: http://www.brasilcultura.com.br

O tempo da infância e a infância de nossos tempos

Curadoria de Julieta Jerusalinsky
A infância frequentemente é idealizada como um momento idílico da vida e a criança como alguém cujo único compromisso seria com o gozo de viver. Mas, a infância – ao caracterizar-se pelo crescimento, maturação desenvolvimento e constituição psíquica – implica um intenso trabalho da criança para situar-se e construir o seu vir a ser diante do outro familiar, escolar e social.
Daí que, mesmo com todas as legislações que protegem a infância, deparemos com o fato de que as crianças, tais como a infantaria de um exército, estão expostas na linha de frente dos impasses produzidos pela cultura e sociedade de cada época, diante dos quais elas tentam produzir respostas, se ocupando e se preocupando com aquilo que as cerca. Por isso é relevante escutarmos as respostas que as crianças têm produzido diante dos ideais e sintomas sociais de nossos tempos.
Vivemos tempos da virtualidade das relações. A web e a internet que, por um lado possibilitaram uma democratização do acesso à informação, também têm sido instrumento da sociedade pós-fática, na qual os acontecimentos que permeiam as notícias importam menos pelo seu compromisso com a verdade do que com o escândalo que causam; se por um lado possibilitam trocas simbólicas com aqueles que geograficamente estão longe, ao mesmo tempo, incrementam os dispositivos da sociedade de controle, de formações narcísicas do “parecer” e nos linchamentos virtuais produzidos nas redes sociais em uma gangorra entre a fama e a difamação; se por um lado permitem sustentar relações, por outro são instrumentos da supressão de bordas entre o público e o privado e entre o tempo de trabalho e de lazer, já que a exigência de estar permanentemente on-line traz como consequência um convívio no qual as pessoas passam a estar de corpo presente, mas, muitas vezes, psiquicamente ausentes, olhando cada um para sua janela virtual. Isso tem desencadeado intoxicações eletrônicas em pequenas crianças que ficam capturadas nas telas de seus gadgets eletrônicos, em lugar de entrarem em relação com os outros. Crianças um pouco maiores, por sua vez, passam a ter acesso a conhecimento supostamente pleno ao alcance de um clic no Dr. Google, mas, frequentemente carecem de ter com quem compartilhar as experiências para produzir um saber-viver singular.
Diante das transformações familiares, tais como uma menor estabilidade do laço conjugal, as crianças passam a circular entre casais separados com guarda compartilhada e famílias compostas por novos casamentos em que os filhos de cada um dos pais passam a ter o lugar de irmãos adquiridos tardiamente. A definição de família deixa de ser a composta pela prole de um casal heterossexual e passa a ser estabelecida por casais gays, com prole adotiva ou composta a partir de técnicas de fecundação. No entanto se bem isso produza a necessidade de elaboração psíquica por parte das crianças, bem sabemos que o tradicionalismo familiar nunca foi garantia de saúde psíquica e torna-se central colocar em relevo a maternidade e a paternidade como exercício de funções que pode ser realizada por diferentes agentes, assim como garantir os direitos sociais dos membros que pertencem a famílias com diversas configurações.
A polarização nos posicionamentos políticos tem sido vivida na atualidade, não como uma discussão necessária ao exercício da cidadania, mas atuada como rivalidade. Curioso resulta que, simultaneamente a isso, nas histórias infantis contemporâneas se suavizem tanto as manifestações do mal. Desde personagens como o lobo mau até musicas infantis ganham versões tais como “não atire o pau no gato” apresentando sua cínica faceta do politicamente correto, enquanto a realidade parece ser lida em um total maniqueísmo e vividas em uma total intolerância com o diferente. Desse modo deixam de se oferecer para as crianças os elementos simbólicos que lhe permitem alguma elaboração, enquanto uma crueldade cada vez mais deslavada parece impor-se diante de perdas de direitos humanos com crianças refugiadas, imigrantes ou filhos de minorias, tais como sociedades indígenas.
Estas questões colocam em relevo a importância de que seja possível às crianças terem acesso a narrativas que historizem as experiências de gerações anteriores, recuperando-as, não de modo idealizado, mas como testemunho de possibilidades e impasses vividos em outros tempos, considerando que os desafios de cada geração não são equivalentes aos da anterior, mas que justamente por isso tornam necessária uma transmissão com lugar à invenção.
Fonte: http://www.institutocpfl.org.br