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sábado, 22 de agosto de 2020

Guiné-Bissau: Nação africana forjada na luta! - Por Jornalistas Livres

Por por Yussef, do Movimento Africano de Trabalhadores e Estudantes – RGB

Nunca um título fora tão feliz para designar a criação de uma nação. Nós, guineenses, somos frutos de uma luta política armada, enquadrada primeiramente num plano pan-africano independentista e, apoiado, por correntes internacionalistas revolucionárias.Quando se coloca a questão “Pan-africanismo ou nacionalismo xenófobo e tribalista”, os méritos da nossa própria História colectiva indicam-nos a escolha a fazer.

Esboçámos uma reflexão sobre o tribalismo político com o título “Tribalismo – sintoma da miséria material do nosso povo e do oportunismo político.” É um tema inesgotável, e sempre latente no debate político, enquanto as nossas miseráveis condições de existência dos trabalhadores guineenses existirem.

A questão do tribalismo nos países africanos é fundamentalmente é uma questão que deriva das nossas miseráveis condições de existência. A luta pela sobrevivência age sobre a nossa visão do mundo e é estruturante.

De uma consciência universal e aberta – fruto da nossa luta de libertação nacional e, ao mesmo tempo, internacionalista –, a actual luta pela sobrevivência, tende a impelir o retrocesso da consciência para uma visão estreita identitária que pode ser nacionalista-xenófoba e/ou tribalista-religiosa fundamentalista excludente.Essa é a condição objectiva do tribalismo: “miséria de nó pubis*”.

A condição subjectiva é a existência de partidos políticos que à dimensão nacional, pelo exercício do poder político e acesso aos meios de comunicação, directa ou indirectamente, exacerbam essa mentalidade/atraso de consciência política com o fito de chegarem e permanecerem no poder, ao serviço de classes económicas que dividem para melhor explorar.

A uma escala menor, podemos ter militantes, activistas – muitos por uma ignorância histórica abismal e “ausência de ideologia” – a fomentar o tribalismo. Certo, o impacto é diferente, mas não deve desmerecer uma reflexão tanto mais quando é instigado por indivíduos que se posicionam contra o retrocesso que é um golpe de Estado, num espaço neocolonizado no qual a Guiné-Bissau está integrado e, aproveitado por golpistas oportunistas para afirmarem o que não são!

Quando existe uma organização, composta por senhores com determinado poder económico e organizados com base na sua pertença étnica comum, e que querem colocar em lugares de poder político e de decisão indivíduos do seu grupo étnico – único critério relevante aos seus olhos – estamos perante uma deriva tribalista que deve ser firmemente, mas sabiamente criticada.

Essa sapiência na crítica deve ser sinónimo de distinguir esse poder económico de uma minoria, que instrumentaliza a pertença étnica para os “seus” interesses económicos, da imensa maioria de elementos desse tal determinado grupo étnico – tanto mais quando esse grupo étnico é dividido em castas bem vincadas e trespassado por classes sociais distintas (como já alertara Amílcar Cabral na “Breve análise da estrutura social da Guiné portuguesa”)(1).

Fazer esta dissociação é importante pela simples razão de que, por mais “Presidentes” ou “Primeiros-ministros” ou “Ministros” que esse lobby económico de base tribal consiga colocar no(s) poder(s) político(s) da sub-região, neste sistema económico cimentado na exploração económica a nível nacional e internacional e consequente opressão social, não existe saída da miséria para aqueles milhões de pessoas do mesmo grupo étnico e para os outros dos demais grupos étnicos senão pela destruição deste sistema político e económico neocolonial.

A solidariedade étnica, ou religiosa, é falsa enquanto caminho libertador emancipatório civilizacional, não só para a Guiné-Bissau, mas para toda a África. É preciso afirmá-lo.

Como Cabral dizia, que não se confunda “a identidade original, em que o biológico é a determinante principal, com a identidade actual, na qual a determinante principal é o elemento sociológico (2)”.

Não deve ser jamais critério a pertença étnica/familiar ou religião em comum para o agrupamento de indivíduos para objectivos políticos! Deve ser a nossa condição objectiva de classe social presente e comunhão de interesses económicos comuns a definir a nossa unidade política a curto, médio e longo prazo.

Para nós, isso significa organização e união de todos os trabalhadores da Guiné-Bissau, de Cacheu a Tombali e, num quadro pan-africanista, de todos os trabalhadores africanos, com o fito de tomar e ser poder político, de facto.

Quando existe ausência de ideologia – tão cara a Amílcar Cabral (3) – inexiste a análise concreta dos fenómenos concretos. Generaliza-se sem qualquer prumo, sem qualquer fineza de análise política. Hélas, erro de análise da realidade gera sempre erro de estratégia político.

Os indivíduos que o fazem por ignorância, não obstante as supostas boas intenções devem ser denunciados pedagogicamente e, quiçá, possam ser recuperáveis – contudo devem ser abertamente criticados. Os que o fazem por desonestidade intelectual devem ser denunciados de forma implacável pois são inimigos da unidade de todo um povo, o que significa serem forças reacionárias da História.

E como dizia Cabral:

“a definição de povo depende do nosso momento histórico que se vive na terra” (4) ou mais assertivo: “(…) o povo define-se consoante a linha mestra da História dessa sociedade, consoante os interesses máximos da maioria dessa sociedade”.

Povo atualmente na Guiné-Bissau é todo aquele que está contra o golpe de forma consequente, i.e., que luta como pode contra o golpe de Estado mas que, nessa diligência, não nos divide…

Unidade e Luta!

*Miséria (material) do nosso povo (em Crioulo da Guiné-Bissau)

(1)A arma da teoria, Unidade e Luta, volume1, pg.,101

(2)A arma da teoria, Unidade e Luta, volume1, pg.,240

(3)A arma da teoria, Unidade e Luta, volume 1, pg.,201;

(4) A arma da teoria, Unidade e Luta, volume 1, pg.,168

“Deus, Pátria e Família”: com Bolsonaro, integralismo recupera fôlego, mas não é mais a força que teve simpatia de Vinícius e Dom Hélder

por
 Walter Atsushi Niyama

É interessante notar que o movimento integralista, que no seu auge teve um número expressivo de membros reunidos em torno da Associação Integralista Brasileira (AIB), também contou com figuras conhecidas em outras áreas. Em capítulos anteriores desta série, foram citados Gustavo Barroso, membro da Academia Brasileira de Letras, e Miguel Reale, que também foi da ABL e que também era professor titular de Filosofia do Direito na USP (onde foi inclusive reitor).

Hélio Gracie, um dos difusores do Jiu-Jitsu no país, segundo Leandro Pereira Gonçalves, em entrevista para o portal UOL, era membro ativo do núcleo de Ipanema dos integralistas. Em sua pesquisa, ele encontrou a foto de Hélio no jornal do grupo “A Offensiva”. Inclusive há uma em que ele veste o uniforme verde-oliva e o símbolo do movimento (sigma).

Capa de uma das edições do jornal A Offensiva. Imagem: Reprodução.

Na mesma reportagem do UOL, Reila Gracie, sobrinha de Hélio, disse que a filiação de seu tio, falecido em 2009, se deu por um “modismo da época de grupos mais conservadores” e destacou ainda a filiação dele ao PSD nos anos 1950, o partido de Juscelino Kubitschek. Além do apoio dado a Leonel Brizola durante a Ditadura Militar.

Ainda no texto, o historiador José Tufy Carius disse que a filiação de Hélio pode levar alguém a “ficar tentado a afirmar que ele estava apenas se colocando no meio de uma tendência política passageira”, mas destacou que, levando em conta a “personalidade belicosa de Hélio e suas transgressões do passado”, sua filiação ao partido que valorizada juventude, virilidade e agressividade masculina não chega a ser uma surpresa.

Nos anos 1930, a AIB ganhou a simpatia do compositor e poeta Vinicius de Moraes, um dos pais da Bossa Nova. Ano passado (2019) inclusive foi a leilão uma coleção encadernada da revista Anauê, que o movimento produziu entre 1935 e 1937. Na edição 15, há um poema Moraes que era publicado pela primeira vez.

Vinicius, como se pode supor, aderiu a ideias mais progressistas com o tempo e se arrependeu de sua aproximação com o integralismo. Em uma entrevista, ele falou sobre essa virada na sua vida que aconteceu graças a uma viagem feita com o escritor americano Waldo Frank: “Saí um homem de direita e voltei um homem de esquerda. Foi o fato de ter visto a realidade brasileira, principalmente o Nordeste e o Norte”.

Um nome que pode surpreender ainda mais é o de Dom Helder Câmara, bispo que combateu ditadura e que em 2017, por lei, foi declarado Patrono Brasileiro dos Direitos Humanos. Um dos fundadores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi um membro entusiasta da AIB. Mas, antes mesmo dos anos 1940, se afastou do movimento e posteriormente chamaria esse momento de sua vida como “Um erro de juventude”.

O Instituto Vladimir Herzog possui em seu site um texto que fala um pouco sobre essa passagem na vida de Dom Helder Câmara, explicando que seu afastamento ocorreu quando percebeu que o integralismo apoiava regimes como o fascismo e o nazismo e que, quando pessoas importantes abandonavam o grupo, eram perseguidas e algumas mortas. O artigo conta que o indicado ao Nobel da Paz em 1972 precisou fugir por conta de seu desligamento.

Violência

Sobre outros casos de violência em que o nome “integralista” é citado, o professor de História da Universidade Federal de Juiz de Fora, Leandro Pereira Gonçalves, explica que, apesar do discurso ser baseado no cristianismo, a AIB também tinha milícias fortemente armadas. Um episódio que mostra isso bem é o assalto ao Palácio Guanabara.

“Não é uma atividade frequente essa de violência, mas ela foi colocada em prática em 38, e também em outros momentos. Nos anos 80, quando o integralismo passava por reestruturação, houve um comício na Praça da Sé no dia 1o. de maio, com a CUT e outros grupos, e os integralistas os atacaram. Vários membros foram presos. Foi uma atividade muito forte naquele momento, porque muitos nem sabiam que o Integralismo ainda existia”, afirma Gonçalves.

Para o professor, o episódio do ataque ao Porta dos Fundos, no fim do ano passado, não pode ser considerado um caso de “um indivíduo louco que decidiu fazer isso”. Gonçalves ressalva que Eduardo Fauzi não pode ser considerado culpado, já que não confessou a autoria nem foi condenado. Ele teve a prisão preventiva decretada e estaria hoje na Rússia.

Na hipótese de que ele seja considerado culpado, é preciso considerar que Fauzi possui uma formação sólida no Integralismo, histórico de militância, e é responsável por um dos principais grupos do neointegralismo, que é ACCALE (Associação Cívica e Cultural Arcy Lopes Estrella). Movimento feito em homenagem a um militante muito importante pós-Plínio e de viés mais radical.

A Accale divulgou nota em que admite que Fauzi foi participante ativo do movimento, mas não seu responsável.

O professor Gonçalves, por sua vez, afirma que é precoce considerar que o ataque ao Porta dos Fundos seja um caso isolado ou fruto da iniciativa pessoal. O documento toma sempre o cuidado de ressalta que ainda não há condenação nem confissão.

Em vídeo, bandeira com mensagem antifascista é queimada por integralistas. Foto: Reprodução.

Vale lembrar também que o grupo que reivindicou o ataque ao Porta dos Fundos, o Comando de Insurgência Popular Nacionalista, pertencente à Família Integralista Brasileira, em 2018 roubou bandeiras com mensagens contra o fascismo de diretórios acadêmicos da UniRio, no campus de Botafogo, e as queimaram em um vídeo que circulou nas redes sociais.

Fragmentado

Gonçalves destaca ainda que, desde a morte de Salgado, não existe uma liderança, mas uma briga pela liderança. “Nos anos 1980, principalmente 1990, existiu uma série de atividades para reestruturar o movimento. Só que não existia uma convergência entre todos os militantes. O que existia era uma mescla entre militantes históricos que passaram pela AIB, PRP, Ditadura, e os jovens que estavam entrando no movimento”.

O professor de História Contemporânea da UFJF, Odilon Caldeira Neto, destaca ainda que essa divisão se deu por uma falta de “herdeiro político” para Plínio Salgado. O que aconteceu justamente por ser uma liderança que se formou politicamente na era do fascismo, onde o culto a personalidade era uma questão primordial. Plinio fez questão, por meio da AIB, de criar uma idolatria em torno da sua imagem e inviabilizou que o capital politico integralista fosse compartilhado com os demais líderes:

“É necessário lembrar que após a volta de Plínio do exílio, o momento era de declínio político do integralismo, então para ele era interessante se mostrar como a única liderança para assim ter algum capital político, seja para eleições ou movimentação golpista. Além disso, a filha dele não quis entrar para a vida política”.

Em 2004, foi promovido um congresso entre os diversos grupos espalhados no país para reorganizar a AIB. A FIB teria inclusive surgido após esse congresso.

Professor Gonçalves explica que a FIB defende uma interpretação fiel da doutrina, seguindo de forma inquestionável a palavra de Salgado. E que eles têm uma relação muito próxima com movimentos e partidos. No passado, os integralistas teriam entrado no PRONA para terem uma representação político-partidária.

O Prona não chegou a ser legenda de Jair Bolsonaro, porém ele era muito próximo de Eneas Carneiro, o fundador do partido, já falecido, e chegou a cogitar filiar à agremiação extremista.

Levy Fidelix (PRTB) segura um livro sobre Plínio Salgado ao lado do presidente nacional da FIB, Victor Emanuel Viela Barbuy. Em 2018, a FIB apoiou a candidatura de Fidelix a deputado federal. Foto: Reprodução/Facebook.

“Eles buscaram relações e possuem com alguns outros partidos como o PRTB do Levy Fidelix, que diz publicamente ser um admirador de Plínio Salgado. PRTB, partido do nosso vice-presidente, general Hamilton Mourão. Tem uma pessoa muito próxima aos integralistas que é o deputado Carlos Jordi, do PSL, enfim, há uma serie de aspectos que promovem essa relação de proximidade da FIB”, acrescenta Gonçalves. A simpatia do de Jordi com o Integralismo foi revelada pelo jornalista Chico Alves, em sua coluna no UOL.

O professor relembra ainda que hoje o integralismo está pulverizado em grupos neofascistas e neointegralistas, e há uma proximidade muito forte com grupos neofascistas internacionais da Europa e dos EUA: “A ACCALE é um grupo com dialogo muito próximo com a FIB, dois grupos, mas com uma mesma identidade basicamente, só que a ACCALE tem um discurso mais, talvez, radical em alguns aspectos”.

O professor Odilon explica ainda que essas relações com grupos internacionais, por meio da internet, estão dentro da questão da fragmentação: “Na medida em que são grupos pequenos, eles precisam estabelecer relações com os seus próximos, ou seja, grupos neofacistas, extrema-direita, no Brasil, mas também na América Latina e na Europa, pois eles têm que ser legitimados do ponto de vista desse campo neofascista internacional”.

Governo Bolsonaro

Sigla de Bolsonaro usa o mesmo lema da AIB “Deus, Pátria e Família”.

Nota: O depoimento sobre o governo Bolsonaro foi feito no dia 24 de janeiro.

Apesar de terem algumas críticas e dizerem que ainda é cedo para avaliar a gestão do presidente Jair Bolsonaro, Lucas Carvalho diz que o governo está aquém, mas que, se fosse classificá-lo, diria como “regular”.

Sobre Paulo Guedes, eles colocam o discurso liberal dele como “infantil”, dizendo que ele veio graças à “modinha liberal”, mas que tais falas não vão prosperar, pois ele não poderá fazer muita coisa no governo.

Lucas fala ainda que Guedes não é tão liberal como diz, citando a questão do cheque especial e que a FIB defende que prevaleça o interesse nacional: “Vender uma estatal de energia para o estado chinês é uma aberração”.

A respeito da cultura, eles criticam os comitês técnicos de avaliação de projetos culturais, o que, para eles, representa um “tribunal ideológico”.

Ainda sobre o momento atual do país, professor Odilon afirma: “É interessante frisar que, em momentos de radicalização politica, como no Brasil hoje, é bastante provável e propicio que os grupelhos integralistas se tornem ainda mais radicais para disputar espaço e fazer valer as suas bandeiras e tentar instalar essas ideias no campo politico majoritário”.

Bolsonaro com Eneas Carneiro, fundador do Prona, partido abrigou integralistas e ideias integralistas

.x.x.x.

Esta reportagem encerra a série de quatro reportagens sobre o integralismo, movimento que voltou ao noticiário depois do ataque ao Porta dos Fundos, no fim do ano passado.

Reportagem atualizada em 21/08/2020.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br

O plano de desenvolvimento de Flávio Dino e o abismo de Bolsonaro

Publicado originalmente pelo Vermelho:

O Plano Emergencial de Empregos Celso Furtado lançado pelo governador do estado do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) representa um forte contraste com a política econômica do governo Bolsonaro. Ao todo, serão investidos R$ 558 milhões em obras e compras públicas, com investimentos que serão realizados entre os meses de agosto a dezembro deste ano. Uma das principais metas, segundo o governo maranhense, é a manutenção do número de empregos criados no mesmo período de 2019, que foi de 62.927 admissões.

Enquanto o governo Bolsonaro lança a economia do país no abismo com a política de “ajuste fiscal” do ministro da Economia Paulo Guedes, o governo do Maranhão adota medidas voltadas para o desenvolvimento e o progresso social. São resultados de concepções que se opõem exatamente pela definição de prioridades, especialmente num país com enormes desigualdades sociais como o Brasil, duramente agravadas pelo descaso do governo federal com a pandemia do coronavírus.

Governar pela concepção do plano Celso Furtado do Maranhão significa priorizar um mínimo de bem-estar econômico e seguridade social, além de promover o desenvolvimento econômico, uma importante novidade nesse cenário de restauração do misticismo econômico neoliberal, impulsionado por ameaças autoritárias. É a volta da falsa ideia de que as forças do “mercado” são mais eficientes do que a vontade dos governos na promoção do crescimento econômico e na distribuição de renda.

Essa tese cai por terra pela simples constatação de que o crescimento econômico é decisivo para um mínimo de bem-estar social. E isso leva imediatamente à pergunta (particularmente importante para os países com muita pobreza, como é o caso do Brasil): como distribuir esta riqueza de forma eficiente? Entre os fatores determinantes está o papel do Estado como ente preparado para a prestação de serviços sociais, para alavancar os investimentos e para garantir direitos.

Desenvolvimento e progresso social são conceitos bem visíveis no Plano do governador Flávio Dino. Um está diretamente ligado ao outro. Só investimento não basta. Entre o final dos anos 1960 e o início da década de 1980, o Brasil cresceu a taxas anuais superiores a 8% e nem por isso as desigualdades de renda diminuíram na mesma proporção. O Estado não se credenciou para cumprir a meta de universalização dos serviços públicos e promover a distribuição de renda.

Não se pode acreditar que a ordem neoliberal restabelecida pelo governo Bolsonaro e ditada por Paulo Guedes de forma radical e autoritária conserva alguma veleidade de que ela dará os frutos prometidos. A base da retomada do crescimento é o investimento, que pelo caminho apontado pelo governo passa por um violento arrocho fiscal – cortes de direitos e desmonte do Estado –, sem nenhuma probabilidade de que ele virá. Não existe exemplo na história econômica do mundo de algo parecido numa economia em declínio ou estagnada. Mesmo no Brasil as experiências foram amargas.

Quando essa ideia foi adotada no período neoliberal dos anos 1990 e na ditadura militar, o resultado foi desastroso. Os autores da então chamada “nova economia brasileira” nos anos de chumbo diziam que o dilema produtivismo ou distribuitivismo estava resolvido com a prioridade do crescimento, mesmo com o ônus de curto prazo da permanência de apreciáveis desigualdades sociais individuais de renda, a calamitosa teoria de fazer o bolo crescer para depois reparti-lo – ideia reeditada, com outra roupagem, no período neoliberal.

Na economia, a linguagem cifrada em geral tem o objetivo de ofuscar as verdadeiras intenções de uma determinada política. Essa ordem estabelecida com o golpe de 1964 e agora restaurada inaugurou a gestão econômica do país por uma tecnocracia que representa os negócios privados dentro do governo. Já em 1981, no livro O Brasil pós-milagre, Celso Furtado constatou amargamente: “Poucas vezes ter-se-á imposto a um povo um modelo de desenvolvimento de caráter tão antissocial.”

Fonte:https://www.diariodocentrodomundo.com.br