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quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Casa da Ribeira reabre as portas sábado e domingo com espetáculo teatral ´Jacy`

 Foto: Ian Rassari

Para os que estavam com saudades do teatro presencial com todo o calor da cena ao vivo, a Casa da Ribeira vai reabrir suas portas para espetáculos, seguindo as recomendações do decreto estadual nº 30.676, de 22 de junho de 2021, que permitiu a retomada de funcionamento de cinemas, museus, teatros, circos e parques no RN.
 
A reabertura da Casa da Ribeira acontecerá nos dias 7 e 8 de agosto, às 19h, com exibição da peça Jacy, do Grupo Carmin. Os ingressos já estão sendo vendidos pelo site www.sympla.com/teatrocarmin ao preço de R$50,00, garantindo 50% da quantidade disponível no valor de meia-entrada.
 
Sobre o retorno aos palcos, o Grupo Carmin comenta “que é um momento de extrema emoção, não apenas porque, após um ano e meio afastados estamos podendo voltar, mas, principalmente, por todo esse trágico contexto de pandemia que estamos atravessando”.
 
“Nossa volta com a apresentação de Jacy é um marco para o Grupo Carmin. Esta peça nos levou para mais de 20 estados brasileiros e nos fala de tantas coisas importantes, através da vida dessa mulher extraordinária que foi Jacy”, afirma Quitéria Kelly, atriz do espetáculo.
 
A peça toca em temas como: a vanguarda das mulheres, a política coronelista no Brasil, o abandono de idosos, a falsa ideia de progresso, os militares historicamente influenciados pelos americanos, a manipulação da História e o eterno ato de resistência do Teatro.
 
O retorno do teatro presencial obedecerá as normas do decreto nº 30.676, de 22 de junho de 2021, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Desta forma, apenas 80% da capacidade da Sala Cosern de Teatro na Casa da Ribeira será ofertada, o que equivale ao máximo de 104 pessoas por sessão.
 
Para entrada no espaço será exigido o uso de máscaras do tipo PFF2 ou descartáveis de tripla proteção. Não será permitido o acesso de pessoas com máscaras exclusivamente de pano.
 
Serviço:
 
O quê? Reabertura da Casa da Ribeira com espetáculo Jacy
 
Quando? 7 e 8 de agosto, às 19h
 
Onde? Casa da Ribeira, Rua Frei Miguelinho, 52, Ribeira, Natal
 
Quanto? R$ 50 (inteira) | R$ 25 (meia) através do link www.sympla.com/teatrocarmin

Fonte> Potiguar Notícias

Comissão da Câmara rejeita PL do voto impresso - por Hellen Alves

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Evaristo Sá / AFP

A comissão especial da Câmara dos Deputados rejeitou, nesta quinta-feira (05), a aprovação da PEC do Voto Impresso. A votação foi encerrada com 23 votos contra e 11 a favor.

O resultado representa uma grande derrota para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que é defensor do voto impresso e chegou a ameaçar a realização das eleições do ano que vem caso a pauta não fosse aprovada.

O bolsonarista Filipe Barros (PSL-PR), relator do projeto, lamentou a rejeição do projeto nas redes sociais: “Infelizmente, VOTO IMPRESSO + APURAÇÃO PÚBLICA foi rejeitado”.

A proposta de emenda à Constituição, de autoria da deputada bolsonarista Bia Kicis (PSL-DF), prevê a impressão de votos nas eleições, referendos e plebiscitos.pesar de rejeitada, a proposta pode ser levada ao plenário por decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

O deputado Junior Mano (PL-CE) foi designado novo relator.

Veja, abaixo, como cada deputado votou:

Fonte> Diário do Centro do Mundo - DCM


De esquerda até a morte. Jorge Amado e o Partido Comunista.

 

Em 2001, no dia 6 de agosto, morre aos 88 anos, Jorge Amado, escritor e membro da academia brasileira de letras.. Jorge Amado estava no exílio quando escreveu Vida de Luís Carlos Prestes: O Cavaleiro da Esperança. O livro foi lançado antes na Argentina, em 1942, com o título Luis Carlos Prestes, el Caballero de la Esperanza, pela Editorial Claridad. Com isso, o escritor baiano concluiu a tarefa que o levou a se exilar. Exemplares eram negociados clandestinamente para o Brasil até o governo de Juan Domingo Perón ordenar a queima da edição argentina. A obra só foi publicada em português três anos depois.

 

Jorge Amado, na Assembleia Constituinte, ao lado da bancada comunista. À esquerda, cartaz de sua campanha a deputado federal pelo Partido Comunista do Brasil

“No Brasil, os leitores receberiam a obra clandestinamente: encontradas por vezes a preços exorbitantes, era também consumida por meio de cópias datilografadas e fac-símiles”, registra a historiadora Joselia Aguiar em Uma biografia: Jorge Amado. “O aluguel do exemplar também era possível. Para despistar, leitores referiam-se ao livro por títulos como ‘Vida de são Luís’, Vida do rei Luís’ e ‘Travessuras de Luisinho’.”

O livro voltou a sumir do mercado nacional com o golpe militar de 1964 e reapareceu em 1979. Traduzida para 20 línguas, a biografia do líder comunista é resquício da fase em que a vida e a obra de Jorge Amado se confundiam com sua ideologia.

O engajamento surgiu cedo em Amado. Ainda adolescente, indo de Itabuna para estudar em Salvador, criou um pasquim chamado A Folha em oposição ao A Pátria, o informativo oficial do grêmio estudantil do Ginásio Ipiranga. Na sequência, integrou a Academia dos Rebeldes, grupo que se propunha a renovar o circuito literário baiano.

Mas foi no Rio de Janeiro que a política iria fazer a cabeça do jovem de 18 anos. Recém-egresso na faculdade de Direito, ele estreou com O País do Carnaval em 1931 – e se aproximou do Partido Comunista do Brasil. “Ele entra para a juventude comunista em 1932”, afirma Joselia Aguiar. “Nesse período, faz uma obra que é considerada muito militante – Cacau, Suor, Jubiabá, Seara Vermelha –, em que, quase sempre no final, o herói sempre se engaja na luta. Eram nos livros que ele indicava ao leitor para se tornar comunista e fazer greve.”

No Partido Comunista, ele foi considerado um quadro fiel. Participava das reuniões e atuava inclusive nas questões burocráticas da sigla. Naquele começo de década tumultuado pela tomada da presidência da República por Getúlio Vargas, muitos escritores passaram a debater os problemas sociais do país. Personagens e questões até então pouco abordadas pela intelectualidade brasileira, como o retirante nordestino, a luta de classes e a influência das oligarquias rurais, entraram em cena.

Com Amado não seria diferente. Cacau (1933) já trazia a polaridade exploradores versus explorados ou, no vocabulário marxista, a burguesia contra o proletariado. Vendeu 2 mil cópias em 40 dias, um sucesso. Donde a formatura, em 1935, tornou-se mera formalidade para Amado. A usar o diploma, ele preferiu advogar em prol do que acreditava em seus livros e nas páginas de A Manhã, jornal da Aliança Nacional Libertadora (ALN, apoiada pelo Partido Comunista). O viés doutrinário fez com que Cacau e Suor (1934) saíssem na União Soviética, dando início à bem-sucedida carreira internacional do autor.

Dentro do Brasil, porém, a militância custou-lhe a liberdade: acusado de ter participado da Intentona Comunista, ficaria preso em 1936, em Natal, em sua primeira detenção por subversão. Pelo mesmo motivo, Amado também acabou no xilindró em 1937, em Manaus, e em 1942, ao retornar da Argentina e do Uruguai. Meses depois, seria solto com a condição de se mudar para Salvador e se apresentar semanalmente na Delegacia de Ordem Política e Social.

Com a queda da ditadura Vargas e a volta do Partido Comunista à legalidade em 1945, o baiano concorreu a deputado federal por São Paulo. “Hesitei longamente, e aceitei a custo”, escrevera em seu diário em novembro de 1945, colhido pela biógrafa. Elegeu-se com mais de 15 mil votos.

Na Assembleia Constituinte, ao lado de Marighella, foi autor do primeiro discurso feito pela bancada comunista, proferido por Claudino José da Silva. Ex-ferroviário e marceneiro, Claudino era o único negro ali. Os dois acabaram se tornando os redatores oficiais do partido no período.

Não foi apenas do talento oratório que Jorge se firmou no Parlamento. Ele foi autor de projeto de lei que passou a vigorar a partir da Constituição de 1946, que garantia a liberdade religiosa do país. “Não se extinguiu o preconceito, no entanto, não havia mais permissão para perseguir pais e mães de santos nos terreiros”.

“Para a aprovação do projeto, Jorge usou de uma habilidade que carregou a vida inteira: conversar com todos os setores”, conta Joselia. Ele buscou apoio da direita antes de procurar seus companheiros de sigla. Com isso, aprovou tranquilamente seu projeto.

Jorge apresentou outras 14 emendas ao projeto de Constituição. Alguma delas previam a isenção do tributo a importação e produção de livros, periódicos e papel de imprensa; a concessão de habeas corpus aqueles que eram vítimas de arbitrariedades policiais; o fim da censura prévia em livros e jornais; e a contrariedade a obrigação do ensino religioso nas escolas.

Amado perdeu o mandato em 1948 devido à aliança do Brasil com os Estados Unidos. A falsa alegação para a cassação era de que, em plena Guerra Fria entre americanos e soviéticos, a bancada comunista atendia aos interesses de Moscou. Sem partido (novamente ilegal) e sob ameaça da polícia do presidente Gaspar Dutra, não restou alternativa a Amado que não se refugiar outra vez no exterior.

“Jorge vai para o exílio na França e na República Tcheca. Nessa época, se torna um quadro importante entre artistas, escritores e cientistas do Movimento pela Paz, braço soviético na batalha cultural”, conta Joselia. Em Paris, manteve as atividades de militante, chegando a entrar na cidade com o poeta chileno Pablo Neruda, também exilado, escondido no porta-malas do seu carro.

Em 1951, mudou-se de lá para a Tchecoslováquia (hoje República Tcheca) e viajou por diversos países da ex-Cortina de Ferro, sempre criticando a submissão da América Latina à Casa Branca. Foi nessa época que escreveuO Mundo da Paz, que lhe valeu o Prêmio Stálin da Paz em 1953. O escritor só retornou ao Brasil em 1952.

Homem de esquerda até a morte, nunca deixou de conversar com a direita, aliás, encargo que o fazia tão precioso ao partido. A partir de 1956, decide sair à francesa das atividades partidária. Segundo a biógrafa, “Jorge se afasta para ser escritor, mas ele não deixa de ser um homem de esquerda. O que ele diz é que na época dele você só era comunista e que hoje – quando ele dá essas entrevistas nos anos 90 – já é possível ser de esquerda de outra maneira, não apenas da maneira dele, no passado”.

Da Redação, com agências

Fonte: Portal BRASIL CULTURA

 

Volta às aulas põe em teste a contenção da pandemia no Brasil

Todos os estados do Brasil vão reabrir as escolas para aulas presenciais. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no Vermelho:

Pela primeira vez desde o início da pandemia de Covid-19, todos os estados brasileiros vão abrir suas escolas para a volta às aulas presenciais. O segundo semestre escolar começa simbolicamente nesta segunda-feira (2) com a promessa de marcar o primeiro movimento consistente de reabertura parcial dos colégios em todo o País, num teste para a contenção da crise sanitária.

A velocidade da reabertura, porém, deve repetir o padrão da pandemia e ser marcada por desigualdade entre as regiões. Até hoje, 11 redes estaduais já adotavam o esquema híbrido, com aulas a distância e presenciais, sendo quatro delas só a partir de julho. Agora, mais 16 estados começarão a receber parte dos estudantes alguns dias por semana, de acordo com levantamento do Vozes da Educação.

Depois de quase um ano e meio de escolas fechadas, o diagnóstico de que já é possível retomar as aulas presenciais se baseia em dois pontos: o avanço da vacinação e a estabilização da pandemia, ainda que em patamares elevados. Porém, conforme pondera João Marcelo Borges, pesquisador do centro de desenvolvimento da gestão pública e políticas educacionais (FGV DGPE), “não estamos voltando para a situação de antes”.

A expectativa é que os estados que já largaram na frente tenham vantagem para aumentar a presença nos bancos escolares. Mas o sucesso de uma reabertura mais ampla vai depender dos aprendizados acumulados em cada rede com a crise sanitária. A presença dos alunos não é obrigatória e, em geral, cada cidade ou escola ainda pode optar por permanecer fechada por ora.

Nos municípios, a diferença de maturidade para a reabertura também é elevada. Pesquisa da Confederação Nacional de Municípios (CNM) realizada entre 19 e 22 de julho indica que 17,7% das redes municipais ainda não tinham previsão de ter aulas presenciais. Em 29,5%, as aulas já começaram e em 38,5% a previsão é ter aulas presenciais em agosto.

Outro levantamento do mês passado, da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), indicava que 40,4% dos municípios ainda não tinham protocolo de segurança sanitária. Para piorar, nos Estados e municípios, dados orçamentários reunidos pelo Tesouro têm apontado redução dos gastos com educação em 2020 e 2021.ara Gregório Grisa, doutor em Educação e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), mais do que criar regras como uso de máscaras e distanciamento social, é preciso ter verba para cumpri-las: “A área de educação foi vista como grande oportunidade de poupar recursos durante a pandemia, uma vez que não havia aulas presenciais. Boa parte dos municípios terão de refazer contratos, como os de transporte escolar”.

O enfrentamento às dificuldades que podem surgir, ele pontua, deve carregar algum grau de improviso. “É o momento de tentar essa janela para retomar as atividades presenciais, mas a tendência é que o retorno reflita a falta de planejamento e de investimentos observados na pandemia como um todo”, acrescenta.

O que não se sabe ainda é se haverá por aqui uma disseminação acelerada da variante Delta do novo coronavírus, o que pode novamente interromper a retomada. Estudos divulgados nos Estados Unidos indicam que, embora tenham menos probabilidade de contrair a nova variante, as pessoas vacinadas têm a mesma capacidade de transmitir o vírus do que as não vacinadas.

“Não há evidências de que houve um aumento de contaminações por Covid-19 nos Estados que já reabriram as escolas. Mas essas experiências ocorreram durante meses de retrocesso da doença”, afirma Grisa. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo já permitem 100% dos alunos no esquema presencial. Mas, na prática, isso só é viável por meio de rodízio.

Nas escolas paulistas, um dos critérios é o distanciamento mínimo de um metro entre os alunos, o que não é possível em todas as instituições de ensino por causa da estrutura física. Na rede capixaba, a liberação total foi autorizada em 26 de julho, mas ainda em esquema intercalado. A diferença é que o rodízio passou de semanal para diário.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br

Luiz Gama: textos inéditos mostram como abolicionista denunciava violência policial no século 19

Estátua de Luiz Gama (Foto Raoos)_

Matar o senhor e voluntariamente confessar o crime era comum à época. Muitos negros preferiam a prisão à escravidão, que vivia seu período final e só seria abolida pela Lei Áurea oito anos depois, em 13 de maio de 1888. Mas a punição da Justiça aos quatro jovens foi diferente neste caso.

Segundo Luiz Gama, as autoridades policiais, ao saberem do assassinato, chamaram a população da cidade à delegacia. Compareceram 300 pessoas armadas e sedentas de vingança pelo assassinato de um membro importante da sociedade. A polícia então abriu as portas da delegacia.

Em um texto publicado em um jornal da época, Gama narra as cenas de barbárie que se seguiram. Ironicamente, ele pede aplausos aos linchadores, a quem chama “patriotas armados”:

” (…) E, aí, a virtude exaspera-se, a piedade contrai-se, a liberdade confrange-se, a indignação referve, o patriotismo arma-se, trezentos concidadãos congregam-se, ajustam-se, marcham direitos ao cárcere e aí (oh! é preciso que o mundo inteiro aplauda), à faca, a pau, à enxada, a machado, matam valentemente a quatro homens; menos ainda, a quatro negros; ou, ainda menos, a quatro escravos manietados em uma prisão!”

Esse texto, um dos mais conhecidos do abolicionista, faz parte das Obras Completas de Luiz Gama que serão lançadas nos próximos dias pela editora Hedra, um acontecimento importante para os estudos do abolicionismo, da escravidão e do pensamento do advogado. Serão dez volumes com 750 textos, mais de 600 deles inéditos, segundo a editora. O material, que também contém teses jurídicas, nunca tinha vindo a público depois de publicados em jornais da época ou processos judiciais.

Os textos foram garimpados pelo historiador Bruno Rodrigues de Lima, doutorando em História do Direito na Universidade de Frankfurt, na Alemanha, e pesquisador do Instituto Max Planck. Lima estuda a vida e a obra de Luiz Gama há mais de uma década e descobriu a maioria dos artigos em arquivos públicos espalhados por São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

A obra vem à luz em um momento de crescente interesse por Luiz Gama, um ex-escravo que se tornou tipógrafo, jornalista, dono de jornal, poeta, escrivão de polícia, abolicionista e advogado autodidata que, usando apenas a lei, libertou centenas de pessoas da escravidão no século 19.

Nos últimos anos, uma série de publicações tem resgatado seu legado, como o livro Lições de resistência: artigos de Luiz Gama na imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro (Edições Sesc), lançado no ano passado e organizado pela pesquisadora Lígia Fonseca Ferreira.

Na quinta-feira (5/8), estreia o filme Doutor Gama, baseado na vida do abolicionista e dirigido pelo cineasta Jeferson De. O ator César Mello interpreta o advogado no longa.

Crônica policial

Parte dos textos inéditos revelados agora reforçam uma característica de Gama pouco conhecida do grande público: além de advogado que lutava contra a escravidão nos tribunais, ele foi um dos primeiros jornalistas que se dedicaram a denunciar nos jornais a violência sofrida pela população negra do país, principalmente no Estado de São Paulo.

“Gama era uma espécie de cronista da violência e da cidade”, explica Bruno Lima, que escreveu milhares de notas explicativas sobre os textos no calhamaço de 5 mil páginas das Obras Completas do advogado. “Como ele viajava bastante para atuar nos tribunais, ficava sabendo de casos que aconteciam em muitas comarcas de São Paulo. Ele usava os jornais para fazer essas denúncias, que, em alguns casos, até viraram processos em que ele mesmo atuava.”

Muito antes do jornalismo policial ter importância na imprensa brasileira, Gama escreveu sobre casos de violência policial, espancamentos, invasão de domicílio e assassinatos. “Ele sempre teve como mote a denúncia da violência da escravidão, mas também a violência racista sofrida pela comunidade negra que já era livre”, diz Lima.

Segundo o historiador, o caso dos quatro jovens espancados até a morte não é importante apenas como registro histórico, mas também para entender o pensamento de Gama em relação à escravidão.

Há uma frase atribuída ao ativista, embora ele nunca tenha escrito exatamente dessa forma: “O escravo que mata o senhor, seja em que circunstância for, mata, sempre, em legítima defesa”.

“Esse conceito aparece muitas vezes na obra de Gama. Ele acreditava que, como a escravidão era uma violência contra o direito natural e inalienável do homem, o escravizado não só podia matar o seu senhor, como tinha razão moral de fazê-lo. Para Gama, os criminosos não eram os quatro jovens, mas o senhor que os escravizava. Então, quando mataram o senhor, eles praticaram um direito natural à legítima defesa contra essa primeira violência. Para Gama, eles eram as vítimas”, explica Lima.

No texto, o jornalista diz invejar os “quatro Spartacus” envolvidos no assassinato do fidalgo. Spartacus, escravo que liderou uma revolta contra o Império Romano, é um personagem importante na trajetória do Gama, que assinou vários de seus artigos com esse nome. Ele também escreveu sob o codinome de John Brown, em referência a um abolicionista americano que liderou uma revolta armada contra a escravidão, no século 19.

Segundo Lima, a escolha dos heterônimos não foi aleatória: era uma característica do projeto abolicionista e literário de Gama. “Ele se colocava nessa posição, não apenas de um advogado que trabalhava com as leis, mas de um escritor que radicalizava os conceitos e a prática. Uma pessoa que enxergava a resistência radical à escravidão como uma saída”, diz.

Para Marcelo Ferraro, doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Gama foi nos últimos anos celebrado por movimentos conservadores em contraponto a nomes do movimento negro ligados a uma resistência guerreira, como Zumbi dos Palmares. Isso porque Gama ainda é visto como um ativista “moderado”.

“Mas essa é uma visão equivocada da trajetória dele. Gama tinha um pensamento radical, de enfrentamento da escravidão com uso da reação como legítima defesa. Esse texto sobre o linchamento dos jovens deixa explícita essa ideia”, explica.

Segundo Ferraro, o linchamento dos “quatro Spartacus” era uma “violência nova” no Brasil do século 19: esse tipo de crime era mais comum nos Estados Unidos.

“Nessa época, em 1880, esse tipo de violência já era contestada e criticada entre as classes mais esclarecidas, que já se colocavam contra a escravidão em alguns jornais que não pertenciam às elites escravocratas. José do Patrocínio também fazia denúncias parecidas nos jornais do Rio. Era para esse público que Gama e outros abolicionistas escreviam”, diz Ferraro, que pesquisa violência e escravidão no Brasil e nos Estados Unidos.

‘Não é permitido ao negro divertir-se’

Um dos textos inéditos de Luiz Gama, revelado agora pelo historiador Bruno Rodrigues de Lima, conta outra história de abuso policial contra a população negra de São Paulo.

Em uma curta crônica no jornal Gazeta do Povo em junho de 1881, Gama relatou que um moçambicano livre chamado Joaquim Antonio tinha sido autorizado pela polícia a dar uma festa em casa. Na época, pessoas negras precisavam informar e até pagar às autoridades pelo direito de realizar alguma comemoração.

“O africano livre Joaquim Antonio, morador ao marco da Meia Légua, obteve do digno sr. capitão Almeida Cabral, subdelegado do distrito, licença para dar um divertimento. Já não é pouco: neste país clássico da liberdade não é permitido ao negro divertir-se, em sua casa, sem licença da polícia!”, escreveu Gama, sempre com um toque irônico ao falar do Brasil.

O texto não diz exatamente onde ocorria a festa. Mas, segundo Lima, provavelmente foi no Brás, Zona Leste de São Paulo, bairro à época de periferia e ocupado principalmente por trabalhadores negros livres. “Os marcos de meia légua demarcavam a distância de 3,3 km de cada ponto cardeal com a praça da Sé. Gama e sua família viviam nessa região. Provavelmente, ele soube do caso porque era vizinho do africano”, diz o historiador.

O jornalista continua a crônica: o moçambicano Joaquim Antonio festejava com os amigos dentro de casa quando escutou um chamado da polícia do lado de fora, pedindo para que ele interrompesse o encontro.

“Joaquim Antonio fechou a sua porta e continuou a divertir-se, com outros seus amigos negros. A patrulha arrombou a porta, penetrou na casa (era meia noite!), saqueou-a, mediante rigorosa busca, prendeu o africano livre, que reclamara contra o ato e, em seguida, arrombou mais duas casas de africanos, sem fundamento nem razão!”, relatou Gama.

Ele finaliza a crônica com um alerta às autoridades: “A pessoa que isto escreve está de tudo bem informada; e já instruiu aos pretos que, em análogas circunstâncias, repilam a agressão a ferro e à bala. O exmo. sr. dr. chefe de polícia tem meios de impedir desaforos desta ordem. Sabemos, pelo seu nobre caráter, que é incapaz de autorizar tropelias tais”.

Para Lima, a crônica tinha também um caráter de “petição jurídica”, porque Gama endereçou o texto ao chefe de polícia de São Paulo, além de citar o capitão responsável pelo caso e o nome da vítima da agressão.

“Há uma estrutura de petição de direito. Gama ainda avisa que, como advogado, instruiu as vítimas a atirar nos policiais caso ocorresse uma nova invasão ilegal. Isso é o abolicionismo negro radical, fincado na defesa armada”, explica o historiador.

Crimes atuais

Os textos de Gama sobre crimes e abusos no século 19 apontam para um problema que ainda hoje assombra a sociedade brasileira: a violência policial. No ano passado, por exemplo, 6.416 pessoas foram mortas pelas forças de segurança no país, segundo relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Público. É um recorde histórico.

Desse total, 78,9% das vítimas eram negras e 76,2% tinham entre 12 e 29 anos. Das 50 mil mortes violentas registradas no Brasil no ano passado, 76,2% tiveram pessoas negras como vítimas – 54% da população brasileira é formada por negros (pretos e pardos), segundo o Instituto Brasileiro de Geografoa e Estatística.

Essa proporção desigual se repete quando os policiais são as vítimas: 62,% dos 194 policiais mortos violentamente no ano passado também eram negros.

Para Lívio Rocha, investigador da Polícia Civil de São Paulo e mestre em Gestão Pública pela Fundação Getúlio Vargas, a violência denunciada por Luiz Gama demonstra que, já no século 19, as forças de segurança tinham como projeto a proteção e o cuidado da elite branca e rica, em detrimento da população pobre e negra, muitas vezes tratada com brutalidade.

“A violência estatal é uma característica da história do Brasil. Ela passa pela Monarquia, por Getúlio Vargas, pela ditadura militar e pela democracia. É um problema estrutural, que independe se o governo é de esquerda, de direita, de centro. Nunca houve interesse político em tornar a polícia mais democrática”, diz Rocha, que também é pesquisador na Universidade Presbiteriana Mackenzie e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

“A formação do policial não é crítica. Discussões sobre racismo e direitos humanos são feitas de maneira formalista e protocolar, sem espaço para reflexão sobre a atuação do policial. Costumo perguntar para meus colegas: quantos chefes negros você já teve na polícia? São muito poucos. Os policiais negros também são os que mais morrem no trabalho, mas o próprio policial não fala sobre isso”, diz Rocha, que também milita no movimento negro.

Morrer livre

Luiz Gama morreu em 24 de agosto de 1882. Portanto, depois de décadas militando contra a escravidão, o advogado e jornalista não viu a abolição completa que só viria pela Lei Áurea.

Pouco mais de um ano antes, ele escreveu uma crônica, redescoberta por Lima, sobre uma escravizada que “sonhava em morrer livre”. Para isso, ela guardou dinheiro durante a vida para comprar sua liberdade, como tinha direito de fazer.

“Há mais de um ano a preta Brandina, maior de 70 anos, escrava do fazendeiro sr. Barbosa Pires, do distrito de Pirassununga, requereu a alforria por meio de retribuição pecuniária e exibiu, com a sua petição, pecúlio regularmente constituído, no valor de 200$000 em dinheiro”, começa Gama.

Mas, dessa vez, o obstáculo para a liberdade não era só o senhor de escravos, mas a Justiça. O fidalgo, “para evitar maus exemplos” contra seu direito patrimonial, não aceitou a libertação de Brandina. O caso chegou ao tribunal. “Os juízes, que não apreciam monomania emancipadora e dão razão ao sr. Barbosa Pires, não depositaram a libertanda, deixaram-na em poder do senhor”, conta Gama.

Mas a história de Brandina, impedida pela Justiça de gozar uma morte livre, não termina aí.

“Brandina, a desgraçada velha candidata à mortalha, para evitar os rigores do cativeiro, no derradeiro quartel da vida, fugiu da casa do senhor, meteu-se pelos matos, já que não encontrou juízes humanos nas povoações, no seio das sociedades civilizadas”, escreveu Luiz Gama.

Fonte: https://www.geledes.org.br