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sábado, 13 de março de 2021

As lutas da guerreira Sônia Guajajara

 

Os povos indígenas, militância, genocídio e o Plano de Enfrentamento da Covid-19

Por João Paulo Guimarães

Sônia Guajajara é uma Surara (guerreira). Nascida na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, se tornou uma das principais vozes da luta indígena no mundo. Se formou em Letras e Enfermagem e fez uma Pós Graduação em Educação Especial.

A guerreira, Sônia Guajajara

Em 2017 Alicia Keys convidou Guajajara para subir no palco principal onde a indígena falou sobre demarcação de terras ao som de gritos de Fora Temer, presidente do Brasil na época que participou do golpe político que depôs a Presidenta Dilma Rousseff em um falso impeachment. 

Em 2018 Sônia participou como vice presidente da chapa de Guilherme Boulos para a presidência, pelo PSOL. Foi a primeira vez em que uma indígena concorreu para o Governo Federal. 

Por todos esses motivos que envolvem uma história de luta foi eleita uma das pessoas mais influentes da América Latina, reconhecimento que vem de um conjunto de organizações internacionais que compõem o grupo Latinos por la Tierra. 

Neste reconhecimento, Sônia Guajajara está junto de cantores como Shakira e Carlos Vives (Colômbia), Alejandro Sanz (Espanha), Emmanuel (México) e Camila Cabello (Cuba). A atriz Alice Braga (Brasil), o ator Joaquin Phoenix (Porto Rico) e a modelo Gisele Bundchen (Brasil) entre outros nomes que compõe a lista de pessoas que estão mudando o mundo através da liderança.

João Paulo Guimarães, fotógrafo ativista e documental conversou com Sônia sobre militância política, presidência da República, a pandemia e os impactos sobre os povos indígenas onde abordamos o Plano de Enfrentamento da Covid-19 que o Governo Federal vem desenvolvendo de forma arbitrária, parca, enganosa, genocida e criminosa contra os povos ancestrais.

João Paulo Guimarães

Professora Sônia, o plano de Enfrentamento da covid para os povos indigenas foi uma criação da apib e aperfeiçoado, entre aspas, pelo Governo federal. O que exatamente o governo federal fez até agora além de acusar os indígenas de serem responsáveis pelas queimadas e pelo desmatamento?

Sônia Guajajara

A gente, a APIB, fez o plano por conta da falta de um plano do gov federal pra atender os povos indígenas então a gente mobilizou a comunidade nacional e internacional, foram vários especialistas em indígenas e não indígenas lideranças e paralelo ao nosso plano apresentamos uma ação ao supremo tribunal federal então esse plano do governo não foi vontade própria. Foi uma decisão judicial, e mesmo assim terminou o ano e o gov não conseguiu implementar o plano. Foram 4 versões apresentadas ao supremo e todas foram rejeitadas. Planos genéricos totalmente sem organicidade e paralelo a isso a gente mobilizou um projeto de lei no congresso e foi aprovado, a lei 14021 de 2020, foi aprovada na Câmara e no senado, mas Bolsonaro vetou os principais pontos que constavam no plano. A primeira coisa que ele fez foi negar a água potável aos povos indígenas e isso repercutiu muito. Negou também a distribuição de materiais informativos e negou o acesso aos leitos de UTI. Tudo isso atrapalhou demais a proteção aos povos indígenas e até hoje o governo federal não conseguiu aplicar o plano de enfrentamento.

Mas nós seguimos articulando recursos financeiros, medidas judiciais, visibilidade por meio de comunicação nas redes para poder denunciar essa falta de atendimento o que ajudou a prevenir e evitar mais mortes ainda entre os povos indígenas. Na nossa ação no congresso a gente ja previu a chegada da vacina e ja deixou solicitado que quando a vacina chegasse nós indígenas precisaríamos estar entre os grupos prioritários considerando que a própria lei 14021 considerou ali, estava escrito,  os povos indígenas como um dos grupos mais vulneráveis e se é grupo vulnerável então precisa estar entre os primeiros a serem vacinados por conta desse risco de eliminação, porque se essas mortes seguem como estão seguindo então corre um risco muito grande de um genocídio em massa.

Considerando a população e o número de indígenas no Brasil ser menos de um milhão segundo o IBGE e o número de mortes ser maior entre os indígenas que na população em geral, então corremos risco sim de um extermínio em massa. Então a gente lutou muito pra que estivéssemos como prioridade. Mas mesmo assim com essa determinação na de estarmos como prioridade, mesmo assim Bolsonaro fez a sua seleção. Só garantiu a vacina para indígenas aldeados e com isso ficam de fora metade da população indígena. Estão indígenas em contexto urbano e estão indígenas fora de áreas demarcadas e fora do plano Nacional de vacina. Isso é outra batalha que travaremos esse ano. O Governo nada fez pra garantir o atendimento à saúde e a proteção dos povos durante a pandemia. Tudo que ele fez foi sob medida judicial, sob pressão da sociedade e mobilização  dos movimentos indígenas pra que a gente pudesse amenizar e evitar mais danos. Se não fosse toda essa mobilização a situação estaria sendo muito mais grave que essa que vemos agora. O prejuízo. 

JPG – Você falou sobre a vacinação e sobre a pressão das instituições e sociedade pra que os povos fossem vacinados, mas o que a gente vê são situações como a que vem acontecendo no Amazonas. O Estado do amazonas aparece agora com escândalos de pessoas ricas e privilegiadas furando a fila sa vacina logo após o colapso do oxigênio no estado que foi previsto pelo próprio Ministro Pazuello. Em Manaus o Parque das Pedras é um bairro indígena que foi entregue à sorte pelo município sem assistencialismo nenhum contra a Covid19. Manaus é uma pequena amostragem do desprezo do Brasil pela população indígena e ancestral através dessa corrupção sem medo?

S G – Sim. É uma amostra desses indígenas em contexto urbano. São muitas as etnias morando em áreas urbanas. E essa maioria que vive na metrópole não mora lá porque quis sair da aldeia pra ir pra cidade. Eles estão la por uma série de fatores, mas quando eles chegam na cidade eles não perdem a sua identidade indígena e origem. Não deixam de ser indígenas,  mas o que o Governo está fazendo é tratar assim, excluir de qualquer política ou plano do governo federal. Manaus pode ser considerada uma capital de amostragem do que está acontecendo no resto do Brasil quanto aos indígenas vivendo em situação urbana. A população indígena de Manaus tem cerca de 30.000 indígenas e todos ali lutando pela sobrevivência. Durante a pandemia isso ficou muito mais evidente essa marginalização do povo e fora das políticas tanto do gov federal e do gov estadual.

JPG – Sobre a vacinação? Você foi vacinada finalmente. Qual a sensação em finalmente receber a primeira dose?

S G – Fui vacinada. Menino que sensação boa e diferente. É como ganhar um antídoto de vida. Todo mundo preocupado pensando que vai pegar né  e toda hora a gente ta ali naquela tensão.  Não pode pegar na mão e nem abraçar ninguém que ja fica tenso,  aí vem a vacina e dá aquela sensação de liberdade. Como se  gente se desacorrentasse, mas aí vem o pensamento de que a gente é uma no meio de milhões que precisam e aí vokta de novo pra luta pra garantir que todo mundo tenha acesso pra que todos possam ter essa sensação de liberdade também. 

JPG – Sônia, a mídia independente e colaborativa ajuda, mas e necessário mais Mídia de massa? O que temos visto também é uma colaboração de mídia independente e colaborativa na causa indígena. Mas você acha necessária mais cobertura de mídias de massa como a Revista Cenarium que atingem um público variado?

S G – Olha. Sim. É muito importante e necessário. Quanto maior a visibilidade, maior é a sensibilização e a conscientização das pessoas. Ainda hoje a pandemia está aí matando milhares de pessoas, continua morrendo muita gente em 24h e as pessoas tratam a pandemia como se ela tivesse acabado. Isso dificulta muito mais a conter as mortes porque a população banalizou as mortes. E o principal responsável por essa flexibilização é o Bolsonaro. Incentiva as aglomerações, incentiva a não usar máscara e agora incentiva as pessoas a não tomarem a vacina então não há outro culpado.

Ele assim como essa conjuntura política são os principais responsáveis por todo esse caos. Então a imprensa precisa assumir esse papel de colocar no lugar, mostrara realidade do wue tá acontecendo. Manaus por exemplo, está escondida a situação. Teve uma semana de alta que todo mundo acompanhou. Nós e vários colectivos criamos campanhas como a RESPIRA MANAUS e a O PULMÃO DO MUNDO ESTÁ SEM OXIGÊNIO. A gente foi falando, mas o ministro foi pra lá,  apareceu, mas aí acabou. Agora continuamos com as redes alternativas e mídias sociais pra continuar a mostrar a realidade. 

Maria Gadu está conosco e está lá. É nossa parceira e trabalho conosco há algum tempo. Ela está com a Thelminha, que ganhou o BBB 2020, que está tirando plantão no hospital. A Gadu está articulando apoio, parcerias e levando cilindros de oxigênio, mas cadê? Onde isso está aparecendo? Não está. Ontem mesmo há noite a gente reuniu com Maria Gadu e ela disse que distribuíram listas de pessoas que estão precisando de apoio e oxigênio. Ela ficou com 30 pessoas pra ligar e articular de entregar oxigênio. Dos 30 que Gadu iria ajudar, 15 pessoas morreram.

Ela ligava e dizia que tinha conseguido o oxigênio, mas o familiar avisava que a pessoa já havia falecido.

É uma situação caótica ainda que Manaus enfrenta. Isso está se alastrando por demais  estados da Amazônia. Rondônia já está começando a pedir socorro, pedindo pra transferir pacientes. O Pará tem vários municípios nessa situação também, então ajudar Manaus hoje é conter que isso se alastre pro restante do País. 

JPG – Sônia, queria que você falasse sobre ser uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2020 assim como a importância disso pra luta indígena no mundo. Existe ainda impacto na sociedade de uma forma positiva quando uma brasileira atinge esse tipo de reconhecimento?

S G – É excelente. É um reconhecimento fundamental pra se continuar exigindo a visibilidade e o respeito pela luta, mas eu acho que como tem tantas coisas acontecendo que não chega a ter tempo de ver isso como fato comemorativo. A gente espera que isso se configure em ações concretas de ajudar o nosso povo, mudar a realidade e transformar a situação social que as pessoas se encontram hoje, mas eu acho que a gente tem conseguido avançar bastante nesse sentido de reconhecimento da sociedade e dos veículos de comunicação e comunidade internacional. Eu acredito que as pessoas só vão respeitar e apoiar de maneira geral a causa indígena se as pessoas conhecerem a realidade. Hoje o fato do meu nome estar sendo reconhecido por veículos como esse e em vários meios, ajuda muito às pessoas despertarem mais pra  conhecer e se aproximar. É isso que a gente busca.

“QUE A CAUSA INDÍGENA SEJA CONHECIDA, RECONHECIDA E RESPEITADA PELO MUNDO INTEIRO”.

JPG – Já houve alguma conversa com Boulos sobre a Chapa de 2022 pra termos a Sônia Guajajara como candidata para presidente do Brasil (risos)? 

S G – Conversas (Risos), muitas conversas, (mais risos), a política muda muito e os cenários mudam demais. Eu mesma estou avaliando como vou chegar em 2022 nesse cenário político. Tem muita gente aqui no Maranhão e no Brasil que me questiona e tem muita sede sobre eu vir como candidata a deputada federal. Tem muita vontade e especulação, mas teve oportunidade  em 2018 de compor a chapa de Boulos e topamos. E ainda preciso pensar bastante sobre essas mudanças que vem ocorrendo no quadro político do país pra que não haja erro. O Boulos é muito tranquilo, pessoa amiga e preocupado. O que ele diz e mostra é o que ele é no dia a dia.

O VÍRUS DA CORRUPÇÃO

OS alertas da APIB, de pesquisadores e de lideranças indígenas como Sônia Guajajara e do Cacique Raoni para o resto do país e para a comunidade internacional  parecem não surtir efeito nas lideranças políticas brasileiras cada vez mais envolvidas em escândalos de desvios de capital direcionado para a luta contra o vírus e agora das recém chegadas e tardias vacinas, supostamente direcionadas para os grupos prioritários e profissionais da linha de frente.

No Estado do Amazonas a administração corrupta do atual prefeito David Almeida foi obrigada a revelar a lista de pessoas que seriam vacinadas após vazar que pessoas de famílias ricas estavam passando na frente dos grupos prioritários. Após entregar a lista foi constatado que alguns dos Cpfs nem sequer existem. Ao que tudo indica o caminho para a imunização no país será árduo e demorado. O País se aproxima dos 300.000 mortos semanalmente com recordes diários de mortes em 24h que ultrapassam os 2.000 óbitos.

Mais mortal que a Pandemia que assola nosso povo é a corrupção. E pra essa doença, infelizmente, não existe vacina.

Fonte: JORNALISTAS LIVRES

Delfim Netto e o caso Coroa Brastel, um dos maiores escândalos financeiros da ditadura que Bolsonaro ama

 

Anúncio da Brastel nos jornais

O DCM apresenta uma série sobre os maiores escândalos da ditadura. 

A primeira matéria, sobre o caso Delfin, foi publicada. A segunda é sobre o escândalo Coroa-Brastel.

Esta é a terceira e última. 

A empreitada coube a J. CARLOS DE ASSIS, jornalista e economista, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política brasileira e mundial, entre os quais “A Chave do Tesouro”, “Os Mandarins da República” e “Sete Mandamentos do Jornalismo Investigativo”, todos sobre casos daquele período.

“Aos 72 anos, há décadas afastado do jornalismo diário, convém que me apresente: sou jornalista, e também economista político – o que de certa forma me roubou do jornalismo. Trabalhei em todos os principais jornais  do país. Hoje tenho escrito como editor ou colaborador voluntário para blogs e revistas”, conta Assis.

“Aceitei com prazer o convite do DCM para fazer esta série de matérias sobre os escândalos financeiros da ditadura como um serviço público, e como uma contribuição à formação dos jovens jornalistas que foram distorcidos pela Lava Jato”.

O caso Coroa – Brastel

“Do caso Halles até o Coroa-Brastel, quantos casos se passaram? Em dois meses, este último grupo conseguiu faturar em duplicatas frias o faturamento de um ano do Grupo Votorantim, no qual existem 55 mil pessoas trabalhando. E o que aconteceu? Estamos num regime de impunidade”.

Antonio Ermírio de Moraes, em “A Dupla Face da Corrupção”

O desabafo acima do empresário Antônio Ermírio de Moraes, então o maior industrial do país, reflete a indignação da sociedade brasileira em face dos escândalos financeiros da ditadura. O regime enriqueceu muitos apaniguados, e a maioria ficou sob a proteção palaciana. Contudo um deles, Assis Paim Cunha, se excedeu. Deu um rombo tão grande no mercado que tornou impossível que continuasse sendo protegido. Processado depois de 10 anos do estouro do escândalo, foi condenado a 8 anos e 3 meses de prisão. O recurso salvou-o da prisão. Morreu com 80 anos.

Em seus depoimentos no processo, Assis foi ao ataque para defender-se. Eu tive uma longa conversa com ele, sugerida pelo advogado civilista Sergio Bermudes, e depois acompanhei sua defesa por um dos maiores criminalistas do Rio, Heleno Fragoso, que acreditava ou dizia acreditar em sua inocência, como é papel de todo advogado. O foco de seus ataques era então presidente do Banco Central, segundo ele co-responsável por sua quebra.

Entretanto, pelas informações que eu tinha, Langoni não poderia ser culpado de nada. Cumpria determinações de Delfim Netto, ministro do Planejamento, e de Ernane Galvêas, ministro da Fazenda, que haviam sugerido cobertura financeira do grupo antes da quebra. Os ministros foram acusados no processo e inocentados pelo Supremo Tribunal Federal.

Não se podia garantir que Delfim, o plenipotenciário ministro do Planejamento, favorecera diretamente Paim, mas a situação era sem dúvida suspeita. A cúpula econômica do governo havia se reunido no Planalto para tratar de mais uma das múltiplas facetas do acordo com o FMI, cuja equipe de supervisão estava no Brasil. Era 30 de maio de 1983. Ficara claro que iriam estourar as metas principais de política monetária e financeira previstas nas duas cartas  de intenção anteriores, aprovadas pelo Fundo, e a administração preparava uma terceira versão, com a credibilidade interna e externa cada vez mais abalada. O clima era tenso. Mas havia, porém, assuntos domésticos igualmente urgentes a tratar.

À saída da reunião, o ministro Delfim Netto dirigiu-se casualmente ao presidente do Banco Central, Carlos Langoni, que conversava com o diretor da Área Bancária, Antônio Chagas Meirelles:

– Paim teve dificuldades de liquidez hoje, você sabia?

Era estranho que o ministro tomara conhecimento da situação antes do presidente do Banco Central, encarregado da área. Consultou Meirelles. Também não sabia. Mas, mesmo sendo as duas principais autoridades do governo que, por suas funções, deviam estar melhor informadas sobre qualquer anormalidade no mercado financeiro, ambos não tinham por que duvidar do ministro. Na realidade, Assis Paim Cunha, em pessoa, estava naquele momento numa sala contígua no Planalto, assessorado por um consultor de confiança, Álvaro Armando Leal, e atendido pelo antigo sócio deste e agora secretário geral da Seplan, José Flávio Pécora, ligado a Delfim.

Desencadeou-se então uma tumultuada operação de salvamento da Coroa-Brastel e da corretora Laureano, a ela vinculada, que tinha entre seus ativos o filho do condestável da República, Golbery do Couto e Silva.Verificou-se, após várias e bilionárias injeções de liquidez nas empresas, por parte do Banco Central, que não era possível salvá-las. Na época, estimei o rombo em cerca de 400 milhões de dólares. Nada se comparava a esse escândalo. Entretanto, por ser essencialmente emissão de letras frias, ou sem lastro, e sem garantia pública, como as cadernetas de poupança, os grande perdedores foram o mercado, não apenas o governo. Os portadores das letras Coroa tentaram organizar um movimento em seu favor, mas não havia como impedir o prejuízo.

Tudo isso, no início, estava em sigilo, e era tratado como assistência de liquidez a uma corretora/financeira em dificuldades. Contudo, por uma combinação de sorte e competência, o caso Coroa Brastel caiu em minhas mãos. Eu estava esperando descer do prédio do Banco Central no Rio, ao fim de um dia péssimo em notícia, quando ouvi uma conversa entre duas pessoas, uma delas o assessor de imprensa, e a outra que não conhecia. Esta última, que parecia irritada, desceu antes de mim, o que me deu oportunidade de perguntar ao Alcino, o assessor de imprensa, o que havia acontecido.

“Veja você”, explicou, “a gente dedica a vida toda ao ser viço público e agora vem nos acusar por desídia ou corrupção”. “Esse cara – continuou Alcino – é um fiscal extremamente consciencioso, fez um trabalho rigoroso na corretora Coroa, e foi impedido de levá-lo adiante.  Agora querem culpá-lo pela ausência de fiscalização na empresa.”

“Essa”, pensei, “não vou perder nunca”. Eu estava com meu prestígio de jornalista investigativo no auge, de forma que não me custou muito combinar com Alcino uma conversa com o fiscal, desde que rigorosamente reservada. Queria antes de mais nada ouvir a história, depois cuidaríamos dos detalhes e das provas. Ele ficou de conversar com meu potencial informante e a resposta veio em alguns dias. Foi uma conversa extremamente produtiva, mas de poucos resultados imediatos. O fiscal me contou os resultados de uma fiscalização na Coroa, a corretora de Assis Paim Cunha, feita na sucursal de Vitória, e que encontrara lá múltiplas irregularidades. Contudo, o processo tinha sido trancafiado na área de fiscalização comandada por Deli Borges, no Rio. Ele não tinha cópia, e eu, apenas com o depoimento reservado dele – afinal, não havíamos chegado ainda no tempo das delações premiadas da Lava Jato -, não tinha matéria.

Delfim Netto (à esq.), Ernane Galvêas (à dir.) e Carlos Langoni (atrás, à dir.) durante reunião de negociação com o FMI e bancos credores, em Nova York

Entretanto, tinha uma bela história envolvendo notáveis da República, diretores do Banco Central teleguiados de Brasília. A questão era recheá-la com documentos ou depoimentos irrefutáveis. Numa sexta-feira, fui visitar um amigo que era liquidante de uma instituição financeira na Av. Rio Branco, centro do Rio. A conversa estava muito pouco promissora. De repente, decidi jogar verde: disse a meu amigo que estava com uma matéria pronta sobre o engavetamento de uma fiscalização na Coroa. Só precisava, para publicá-la, que três fontes me confirmassem sua veracidade. Nem precisava de papel.

Para minha surpresa, meu amigo pegou no telefone, chamou quatro fiscais, mandou fechar a porta, e disse: “O que você sabe?”, perguntou. “Sei que engavetaram uma fiscalização na Coroa, a corretora comprada por Paim, aparentemente para agradar o chefe da Casa Civil, general Golbery do Couto e Silva, e o ministro Delfim Netto”. Então, para minha surpresa, eles inverteram o curso normal de uma entrevista: em vez de perguntar para eles, eles é que perguntavam para mim. Fizemos uma varredura completa da investigação abortada. Eu não poderia ter uma cópia dele porque isso denunciaria quem o tirasse do arquivo. “Não se incomodem”, disse eu. “Vocês sabem exatamente onde ele está?” “Sabemos”, respondeu um deles. “Combinamos então assim: vou dar a matéria a partir de seu testemunho coletivo sem revelar a fonte, e vocês me avisam onde o processo está exatamente, se eu for processado.”

No fim de semana, sob o título “Banco Central proibiu fiscais de inspecionar financeira Coroa”, iniciamos s a matéria com a seguinte abertura:

“Rio- O diretor da área de mercado de capitais do Banco Central, Herman Wagner Wey, suspendeu por três meses a fiscalização na financeira Coroa, no início do ano passado, e a partir daí o chefe do Departamento de Fiscalização da mesma área, Deli Borges, impediu os fiscais do banco de fazerem até mesmo a inspeção anual de rotina, embora os próprios balanços revelassem indícios de emissão de letras frias.

Herman Wey justificou seu voto que está arquivado no Banco Central como em atendimento ao pedido dos antigos administradores da financeira dirigida por Assis Paim Cunha. Eles confessaram a desorganização de sua contabilidade e manifestaram ao mesmo tempo o propósito de colocá-la em ordem, pedindo tempo. Passados os três meses, contudo, na primeira tentativa de inspecionar a Coroa, fiscais do Rio de Janeiro foram retirados dela quando já haviam iniciado o trabalho.

No Rio, exercia a chefia do Departamento Regional de Fiscalização, até março, Devanildo de Oliveira. Era através dele que o chefe do Departamento em Brasília, Deli Borges, transmitia as instruções aos inspetores. Ele manteve os fiscais afastados da financeira até que, em abril, aposentou-se no Banco Central e assumiu imediatamente uma assessoria numa das empresas do grupo Coroa-Brastel.

A intervenção na financeira, decretada em junho, tornou-se inevitável quando finalmente a fiscalização pode entrar na Coroa. Mas isso só ocorreu porque Assis Paim Cunha recorreu a linha de assistência financeira do Banco Central com um pedido de Cr$ 30 bilhões. Diante disso não havia como evitar uma inspeção. Deli Borges despachou de Brasília para o Rio Fiscais de sua confiança, a que se juntaram outros do Rio. Para surpresa de todos, o próprio Paim Cunha confessou as emissões frias.”

O caso Coroa Brastel teria ficado escondido como operações mal sucedidas de um empresário arrivista se não houvesse tido a denúncia pela imprensa. Até a intervenção, e algum tempo depois, não havia aparecido a  frondosa árvore de ligações perigosas dos notáveis da República que patrocinaram Assis Paim Cunha. A condenação veio no plano moral. Depois de nossa matéria na Folha outros jornais seguiram a trilha do escândalo, que tinha um veio próprio que consistiu nos interesses lesados de cerca de  35 mil aplicadores em letras Coroa.

Além disso, se não fosse o apetite exagerado de Paim por fraudes financeiras, não teria ocorrido assistências financeiras na escala dos bilhões de cruzeiro da época, que tornaram a intervenção pelo Banco Central inevitável. Conversei a respeito com Mário Henrique Simonsen. Ele então me disse uma coisa curiosa. A debilidade financeira de Paim não era que emitira letras em excesso em relação ao lastro, mas a ausência absoluta de lastro.

Golbery e Geisel

Isso se deveu a uma falha institucional. Diante de um grande aperto de liquidez, o governo possibilitou a detentores de títulos públicos e privados desagiá-los praticamente pelo valor de face. Paim não tinha títulos públicos ou privados disponíveis, mas supunha-se que tinha obrigações da Eletrobrás (ORE) com prazo de 20 anos e juros de 8%. Esses títulos, absurdamente desagiados quase pelo valor de face, deveriam bastar como lastro das operações de Paim.

Não bastaram. Paim não tinha títulos da Eletrobrás. Tinha contas de luz, a serem convertidas em títulos. Finalmente, soube-se que não tinha sequer contas de luz em valor expressivo. Ou seja, não tinha nenhum lastro. Por isso sofreu intervenção, quando o governo concluiu que não havia como bancá-lo.

Em honra de Langoni, odiado por Paim porque decretou a liquidação do Grupo, devo dizer que, até onde é do meu conhecimento, não cometeu qualquer irregularidade em sua atuação. Cumpriu o dever dele. E minha convicção a esse respeito surgiu de um detalhe secundário: Paim me disse que entrou diretamente na sala de Langoni, no Banco Central, para desacatá-lo. Ora, ninguém entra sem aviso na sala de um presidente do Banco Central. Era óbvio que estava blefando.

Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

Pagode de viola no “Almoço à Brasileira”

O Programa Almoço à Brasileira deste sábado fará desfilar o Pagode de viola (também conhecido como pagode caipira ou pagode sertanejo) é uma variante da música sertaneja brasileira, marcada pelo ritmo diferente dado ao modo de tocar juntos o violão e a viola caipira, que incluía um “recortado”.

O Pagode de Viola é uma vertente do ritmo do catira, o primeiro tocado com violão, e o segundo, com a viola. Foi inventado por Tião Carreiro em 1959, na cidade paranaense de Maringá juntamente com Lourival dos Santos, como sugere o nome, foi feito para ser executado na viola caipira. É comumente acompanhado pelo ritmo cipó preto, que pode ser executado pela própria viola caipira ou, na maioria dos casos, no violão.

Nesse ritmo, a dupla compôs “Jangadeiro Cearense”, “Pagode em Brasília”, “A Viola e o Violeiro” e vários outros. Em 1979, Tião Carreiro lançou o LP O criador e o rei do pagode em solo de viola caipira. O progra irá também lembrar de Bambico, paranaense que nasceu em Umuarama. Se no viola o Tião Carreiro é Pelé, Bambico seria o Garrincha.

Hoje às 13 horas

O programa “Almoço à Brasileira” apresentado pelo jornalista e compositor Cláudio Ribeiro, todos os sábados pelas ondas da Rádio Cidade 670 AM de Curitiba e FM 97.3 de Paranaguá. Programa tem a colaboração e participação de: Direção Artística Gustavo Sella, Edições e Montagens  Rafa Ribeiro e Direção Geral João Arruda.

Arte, politica e vida se entrelaçam quando o comunicador/compositor/poeta faz, de sua história, um caminho empenhado na escritura e no fazimento da cultura de seu país. É ocaso do múltiplo CLÁUDIO RIBEIRO, principal apresentador paranaense em oficio e que além de esbanjar sua criatividade em composições de própria autoria e em importantes parcerias, ainda se desdobra no exímio oficio de falar, escrever e poetar. Como “agitador” politico e cultural e, de uma forma precisa e profundamente poética vem traçando rumos e participando ativamente das mudanças politicas e sociais brasileiras.

OUÇA CLICANDO AQUI…

FONTE: Portal BRASIL CULTURA

Cinema experimental no Brasil rachou estéticas, formas e conteúdos

Professor da USP lança e-book sobre a produção cinematográfica que nos anos 70 formou nova vanguarda artística

Existe uma história subterrânea, misteriosa e malcontada no cinema nacional. Se ainda é possível ligar os pontos e visualizar uma narrativa que inclua os sucessos de bilheteria, os favoritos da crítica e as esperanças de um cadinho brasileiro nos festivais mundo afora, documentar as delícias e delírios do cinema dito experimental ainda é um campo necessitando de muita enxada.

Impossibilidade de estabelecer parentescos e árvores genealógicas, dificuldade de encontrar e catalogar os títulos, carência de crítica e, não menos determinante, a polêmica tarefa de definir exatamente o que faz de um filme experimental. São essas algumas das provações no caminho de qualquer aventureiro disposto a escrever essa história.

“Ao contrário da história geral do cinema, o experimental não conta, via de regra, com uma recepção crítica comparável, em padrões, regularidade, quantidade: há aqui e ali artigos de elogio, saudação, alguns ensaios e estudos isolados num amplo painel fragmentário, de falhas predominantes, enormes vazios a ocupar”, escreve o professor Rubens Machado Jr., da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP.

Machado vem, há anos, tentando ocupar esse espaço através do garimpo da produção experimental e de sua crítica séria. Agora, reúne um punhado de seus registros textuais no e-book Contribuições Para Uma História do Cinema Experimental Brasileiro: Momentos Obscuros, Desafio Crítico. A obra está disponível para leitura gratuita no site do Projeto Cine Brasil Experimental.

O livro agrega um conjunto de escritos, em versões ampliadas e modificadas, originalmente publicados em folders e catálogos de exposições, dossiês, coletâneas e revistas especializadas. Como o próprio autor explicita no título, não se trata de um itinerário que desembarca o leitor didaticamente em cada estação da trajetória experimental do cinema brasileiro, mas sim enquadramentos de momentos decisivos para se mapear essa trajetória. É como se fosse um road movie: longas paradas nas quais o principal da ação se desenrola em elipses e alta velocidade.

“Trata-se de um pequeno panorama histórico do cinema experimental no Brasil (e outros estão a caminho, espero que a curto prazo), visto do ângulo da relação dos filmes com as concepções históricas de vanguarda, invenção, experimentação ou modernidade estética radical”, comenta Machado. “Detém-se na análise (por vezes comparativa) de obras que desafiam a crítica imanente no sentido de se propor uma leitura interpretativa que possa legitimar ou questionar o seu teor estético e artístico enquanto obra experimental, sempre atenta às suas relações para com os padrões vigentes nas práticas industriais ou pseudo-industriais.”

Ainda que seja um panorama, o que significa uma extensão histórica horizontal, Machado empreende também análises verticais, nas quais se aprofunda em algumas obras, rastreando suas singularidades. “A escolha dessas obras é vista como um work in progress que se dirige a um esforço coletivo de debate crítico sobre as produções audiovisuais e filmes de artistas brasileiros ou pouco vistos, ou ainda muito isolados de um quadro histórico mais conhecido, assim como obras que recusam ou questionam os padrões estéticos vigentes historicamente. Predomina uma atenção maior a obras menos discutidas, ou ignoradas, obras difíceis ou ainda carentes de alguma análise crítica; e por isso mesmo mitificadas ou subestimadas. E, nos casos em que não se possam analisar filmes por serem obras pouco projetadas ou desconhecidas, propõe-se um mapeamento indicativo de qualidades que levantem questões e apontem características que possam também, e de algum modo, desafiar novos empenhos e novas gerações de textos analíticos dessa obscura produção”, explica.

Ao contrário da história geral do cinema, o experimental não conta com uma recepção crítica comparável em padrões, regularidade e quantidade

Do pioneirismo de Limite ao pré-Cinema Novo de Glauber

Limite (1931) é um dos nós que Machado articula em sua contribuição e dificilmente seria diferente. Filho único de Mário Peixoto, eleito como o melhor filme brasileiro de todos os tempos pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), a obra é sinônimo de experimental já em seu primeiro plano, a onírica imagem da cabeça de mulher enredada por mãos algemadas.

Sua demora/deriva que dilata de branco o tempo e esgarça o caminhar reminiscente dos fugitivos sem esperança é uma espécie de cavalo-de-pau em câmera lenta na cadência do cinema de então, seus planos equilibrados em deslumbre atrás de deslumbre. Uma experiência que, mesmo em 2021, ainda arrebata os espíritos dispostos ao entusiasmo.

“O presente radiante que se ofusca regido pelas sombras esquecidas da tradição desatinada, do passado que hesita e demora por se articular atinando seus sentidos num desígnio virtuoso qualquer: eis a profusão derramada, obscura e singular que nos ilumina em Limite”, escreve Machado.

CLÁSSICOS DO CINEMA NACIONAL: ‘LIMITE’, DE MÁRIO PEIXOTO (1931)
Limite, de Mário peixoto – Foto: Reprodução








Profusão tripla que o autor articula a O Pátio (1959), primeiro filme de Glauber Rocha, quando o construtivismo era ainda uma das ideias que povoavam a cabeça do cineasta e orientavam a câmera em sua mão. Colocando um jovem casal para desperdiçar olhares e rolar sobre o piso quadriculado que batiza a película, Glauber criou o que Machado considera uma chave entre a vanguarda clássica e a moderna.

O Pátio prefigura, antes de existir o Cinema Novo, uma vanguarda que ainda podia ser chamada de ‘experimental’ (ver letreiros iniciais do filme) – termo eclipsado nos anos 60, totalmente esquecido pelo novo sentido social da vanguarda cinematográfica brasileira.”


O Pátio
, de Glauber Rocha – Foto: Reprodução


Câmera Super 8 – Foto: Alejandro Piñero Amerio – Pixabay

Movimento experimental mesmo, como vaga coletiva, Machado vai identificar com a produção em Super-8 que fervilha no Brasil durante os anos 1970 e início dos 1980. De acordo com o professor, metade ou mesmo dois terços do que se pode chamar de filme experimental brasileiro foram feitos graças às câmeras, projetores e editores Super-8, lançados nos Estados Unidos em 1965 e responsáveis por irradiar o amadorismo cinematográfico.

“A descoberta recente de uma grande produção quase ‘clandestina’ dos anos 1970 em Super-8 obriga-nos a reconsiderar completamente esse lugar-comum de que o cinema experimental brasileiro não existe para além de meia dúzia de nomes salpicados ao longo do século”, escreve celebrante Machado, que em 2001 organizou a mostra Marginália 70 e arremessou para o século 21 mais de uma centena de produções caseiras, amadoras, clandestinas e que pouquíssima gente havia visto até então.

“Há uma história a ser escrita. Sua concentração na década de 70 e início dos 80 coincide com os estertores do regime militar desde os seus momentos mais duros. Tanto a tensão da pesquisa estética filmada em espaços forçosamente reclusos quanto um corpo a corpo irônico com o espaço público juntaram poetas, artistas plásticos e uma nova geração de cineastas radicais. Seus filmes não podem ser confundidos com o Cinema Marginal nem com o Cinema Novo, mesmo quando neles se inspiram: são uma terceira vaga, marcada pela busca da diferença.”

Uma espécie de prima audiovisual da poesia de mimeógrafo e do happening, a produção experimental em Super-8 carrega no DNA as consequências do Tropicalismo e seus desdobramentos, o que Machado percebe como a fragmentação da dimensão política da arte em experimentos de espontaneidade radical e visceralidade existencial. A pulsão era por rupturas, com a ordem política sufocante, o mercado nos tempos do “milagre” econômico e o bate-estacas cultural da televisão.

Existiu, contudo, ligação. Não por hereditariedade, mas provavelmente através de relações mais ao modo rizomático de Deleuze e Guattari, acrescenta o professor. Porque, se o experimentalismo do Super-8 não era Cinema Marginal e tampouco Cinema Novo, por outro lado foi a mais fecunda aplicação de certas perspectivas glauberianas.

O cineasta Glauber Rocha – Foto: Reprodução

“Essa consciência do meio de expressão, compreendida em sua precariedade, configura num certo sentido a mais funda repercussão em nosso universo audiovisual da Estética da Fome, que foi escrita por Glauber Rocha anos antes, em 1965, tornando-a talvez mais profética do que ele próprio gostaria”, escreve Machado.

Se as entranhas do leitor estão gangorreando de curiosidade, a síntese do que foi o movimento superoitista para Machado pode ser apreciada em Agrippina é Roma-Manhattan (1972), a experiência de “quase-cinema” de Hélio Oiticica nos Estados Unidos, disponível em uma busca rápida pelo YouTube. “Em seu experimento cosmopolita, em suas ancoragens latino-americanas ou brasileiras, Agrippina traz algo de comparável a Glauber em seu terceiro-mundismo, seu filmar no desterro – Der leone have sept cabeças (1970), realizado no Congo, e Claro (1975), em Roma”, anota o autor.

São relâmpagos, esses momentos do cinema experimental brasileiro, de uma história de negação selvagem e contínua de convenções estéticas e demanda por rachas de conteúdo e forma. Tão plural quanto explicitam suas denominações no espaço e no tempo: filme estrutural, abstrato, independente, radical, marginal, de invenção, de intervenção, diferente, não alinhado, negacionista, anticinema, de found-footage, onírico, conceitual, minimalista, materialista, prop-art, construtivo, pop, noturno, odara, puro, absoluto, livre, beat, visionário, underground, paramétrico, concreto, neoconcreto, rudimentar, cineviver, quase-cinema, vivencial, primitivista, antropofagia erótica, terrir, cinema ovo, cafajeste, vanguarda acadêmica, neocinemanovíssimo, cinema de salão, anarco-superoitismo. E é uma listagem incompleta.

“Bem longe do proscênio, um cinema insaciado, famélico, magro e incontinente ganhava agilidade, repentes, franqueza, deboche, acenos cifrados, alegoria, introspecção, arremedo, imersão em profundas radicações do nosso temperamento, e agudeza para com as inervações amortecidas do próprio cinema brasileiro”, arremata Machado.

Fonte< Portal BRASIL CULTURA