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domingo, 8 de dezembro de 2019

BACURAU E ITACURUBA: A HISTÓRIA SE REPETE, A PRIMEIRA COMO FICÇÃO, AMBAS COMO TRAGÉDIAS

Tal qual a personagem interpretada por Thardelly Lima, o prefeito inescrupuloso Tony Júnior, que vende seu próprio povo aos interesses escusos de estrangeiros, o deputado estadual Alberto Feitosa (partido Solidariedade), acompanhado por um time de especialistas pró-usina nuclear, se tornou o principal lobista a “abrir caminho” ao empreendimento nuclear.


Bacurau, filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, dá nome à cidade fictícia em que o enredo se desenvolve. A distopia trata de desigualdade, descaso político, morte, resistência, mas, principalmente, ilustra a atual polarização brasileira: os que lutam para sobreviver e os que lutam pelo direito de matar.
Itacuruba, município do sertão de Itaparica, Pernambuco. Pouco mais de 4 mil habitantes. Desde a década de 80 a receber “boas novas” sobre um progresso excludente.
As semelhanças entre vida e arte ora são explícitas, ora se revelam nas diversas camadas que permeiam a trama.
Partindo do cenário temos o mesmo sertão semiárido e a ambígua convivência entre alta tecnologia com a mais profunda desigualdade social. Acesso à internet é mais fácil que acesso à comida e água, no retrovisor do caminhão pipa vemos drones… as contradições soariam caricaturas exageradas da ficção, não fossem caricaturas da vida real.
Às camadas que exigem mais do olhar temos a primeira semelhança (ou profecia dos cineastas?): assim como Bacurau, Itacuruba pode “sumir do mapa”.
Caso a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Pacto Federativo seja aprovada municípios com menos de 5 mil habitantes deixam de existir.
ITACURUBA POSSUI CERCA DE 4.369 HABITANTES E, SEGUNDO A PEC, PASSARIA A SER INCORPORADA AOS VIZINHOS BELÉM DE SÃO FRANCISCO OU FLORESTA, DEIXANDO DE EXISTIR ENQUANTO CIDADE, IDENTIDADE, CULTURA, HISTÓRIA, POVO. E, TRISTEMENTE, NÃO SERIA A PRIMEIRA VEZ.
O desenvolvimento tecnológico, econômico e social, prometido com o empreendimento, não veio. As desigualdades sociais foram aprofundadas e os altos índices de depressão e suicídio, em todas as faixas etárias, são reconhecidos nacionalmente.Itacuruba, no final da década de 80, foi inundada para a construção da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga (conhecida como Usina Hidrelétrica de Itaparica) e obrigou a transferência dos moradores dos seus lugares de origem.
A nova proposta consegue ser ainda mais cruel, pois lhe nega a condição de identidade.
NOVOS ATAQUES, VELHAS MENTIRAS
Em abril, no Rio de Janeiro, durante uma articulação mundial de empresas nucleares através da “World Nuclear Spotlight” (WNA), foi apresentado um plano de expansão de usinas nucleares, onde o Ministério de Minas e Energia declarou um Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) que prevê a construção de quatro a oito usinas nucleares no País.
Itacuruba foi apresentada como um local já estudado e apto a receber propostas para construção de um Sítio Nuclear com 6 reatores, ao custo inicial de 120 bilhões de reais.
Aldeia dos Pankarás com Rio São Francisco ao fundo. Onde será construído a usina
A não emissão de carbono é apontada como pressuposto de uma “energia limpa”, não revelando que a cadeia do urânio, o combustível das usinas, seu processo de extração e “enriquecimento” são extremamente poluentes.
Os custos da desmontagem, descontaminação e armazenamento das usinas são altos e não são considerados nos custos totais da obra, o que implica ao final em riscos de abandono do sítio nuclear e aumento das tarifas de energia para arcar com os custos do descomissionamento.
A nova investida, portanto, traz os clichês de sempre: promessa de geração de empregos, desenvolvimento social e econômico à cidade e região, omissão de dados acerca dos impactos do empreendimento, protagonistas e antagonistas clássicos.
PERSONAGENS
A poderosa corporação estrangeira, os arautos das “boas novas”, lobistas, a resistência…todos os elementos estão tanto no filme quanto na história de Itacuruba.
Tal qual a personagem interpretada por Thardelly Lima, o prefeito inescrupuloso Tony Júnior, que vende seu próprio povo aos interesses escusos de estrangeiros, o deputado estadual Alberto Feitosa (partido Solidariedade), acompanhado por um time de especialistas pró-usina nuclear, se tornou o principal lobista a “abrir caminho” ao empreendimento nuclear.
A comissão antinuclear, formada por lideranças de povos tradicionais, sindicatos, movimentos sociais, com apoio de parte da igreja católica, resiste. Campanhas e mobilizações permanentes de conscientização dos riscos e impactos trazidos por um modelo de energia que já é descartado em diversos países apontam também caminhos sustentáveis de geração de energia como a solar e eólica, abundantes na região.
Entre os paralelos da ficção com a realidade ficam as incertezas de quantas almas mais serão sacrificadas até que a resistência dos que lutam para continuar a existir sobressaia-se aos que impõem seus anseios em destruir em nome do lucro.
por Daniel Filho, mestre em psicanálise na educação, Pós-Graduado em Programação do Ensino de Língua Portuguesa pela Universidade de Pernambuco, Especialista em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco, professor da rede estadual de ensino de Pernambuco.
Fonte: Jornalistas Livres

Artistas e parlamentares reagem ao ataque de Bolsonaro à cultura

A decisão do governo Bolsonaro de excluir do sistema de Microempreendedor Individual (MEI) 17 ocupações, dentre elas várias do setor artístico-cultural, foi contestada por artistas e parlamentares. Eles analisam formas de reverter a medida que poderá agravar ainda mais a informalidade no trabalho. Um abaixo-assinado virtual pedido a anulação da resolução já recebeu milhares de apoios.
O rapper Emicida considera a medida um crime  O rapper Emicida considera a medida um crime
O rapper Emicida considera que é ”criminoso excluir atividades artísticas e culturais do MEI. Empurra mais gente ainda para um lugar obscuro sem chance de emancipação econômica baseada em seus maiores talentos”. Ele alfineta eleitores que votaram em Bolsonaro dizendo não saber o que motivou tal voto e enfatiza “a essa altura já dá pra chamar esse governo de catástrofe assassina”.
Para o cantor e músico Roberto Frejat, a medida vai aumentar o desemprego na área cultural. Ele chega a chamar a decisão de “sabotagem vil, que faz mal ao Brasil e aos brasileiros só para vencer uma pendenga pessoal”. Ele falou ainda de medidas que estão sendo tomadas no âmbito do Poder Legislativo e entre os músicos para reverter o que chamou de “estrado irresponsável”.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que Jair Bolsonaro, além de promover a censura, tenta desestruturar a arte no Brasil. “Retirar profissionais deste setor do MEI é massacrar trabalhadores que constroem e promovem a cultura, o saber, a expressão artística. Retrocesso gigantesco de um inepto no poder”, afirmou a parlamentar comunista através de suas redes sociais. Já a ex-deputada Manuela d’Ávila, também do PCdoB, chamou a medida de “ataque à cultura”.
Para Fernando Haddad, ex-candidato a presidente da República, a medida é uma retaliação ao setor cultural. Segundo o ex-prefeito de São Paulo, a cultura para o presidente da República “é ideológica em si, independentemente da posição política do artista. E ele está certo: Cultura é liberdade e criatividade, uma verdadeira ameaça aos fascistas e obscurantistas.”
Maria do Rosário, deputada federal do PT-RS Maria do Rosário afirmou que “a extinção do MEI para essas profissões só gera mais desemprego e precarização” e anuncia que já estão sendo tomando providências.
O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) vai além do ataque à cultura e diz que “Bolsonaro tem ódio dos pobres! A retirada de atividades do programa MEI não afeta apenas a produção cultural, mas até as manicures e barbeiros nas periferias”. Acostumando a circular nas comunidades pobres, o parlamentar enfatiza que bares, manicures e barbeiros são o grosso do empreendedorismo popular e serão duramente atingidos, agravando ainda mais as dificuldades vividas por grandes parcelas do povo trabalhador.
Abaixo assinado
A reação à medida autoritária de Bolsonaro veio em forma de um abaixo-assinado virtual que em pouco tempo já obteve mais de vinte mil assinatura. O abaixo-assinado afirma que “a classe artística vem sendo atacada há meses. Agora com a extinção de vários cnaes da área do MEI, toda uma cadeia produtiva será afetada. Vamos recolher o máximo de assinatura para pressionar Rodrigo Maia de pautar a votação de um PDL anulando esse decreto absurdo e cruel com artistas de todo o Brasil”.
Para dar seu apoio à está luta, assine aqui.
Desemprego
O aumento da informalidade no setor de cultura, apontado pelo Sistema de Informações e Indicadores Culturais (SIIC), divulgado na quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) , pode se tornar ainda maior a partir do ano que vem. A razão é a Resolução nº 150, publicada no Diário Oficial da União (DOU) na sexta-feira (6) pelo Ministério da Economia, que exclui uma série de ocupações ligadas à cultura do sistema de Microempreendedor Individual (MEI), a partir de 1º de janeiro.
Pela resolução elaborada pelo Comitê Gestor do Simples Nacional, foram excluídas 17 ocupações, dentre elas seis ligadas diretamente ao setor cultural: Cantor/Músico Independente; DJ/VJ; Humorista/Contador de Histórias; Instrutor de Arte e Cultura/ Instrutor de Música. Outras três subclasses, voltadas ao desenvolvimento e licenciamento de programas de computador, também podem ter impacto no setor. A mesma resolução incluiu outras cinco categorias no MEI, como motorista de aplicativo, serralheiro e quintandeiro.
Ao aderir ao programa de Micrompreendedor Individual, o profissional que fatura até R$ 81 mil por tem a possibilidade de ter um CNPJ, emitir notas fiscais por um custo fixo de R$ 55,90 ao mês e de contribuir para o INSS. Quem optar por transformar o registro de MEI em Micro Empresa (ME), passa a ter uma tributação fixa por cada nota emitida, com percentual definido por cada categoria, além de despesas mensais obrigatórias de contabilidade.
A exclusão de várias ocuações gerou um temor é de muitos profissionais do mercado, que hoje atuam como MEI, voltem à informalidade. Segundo o estudo divulgado pelo IBGE, este percentual de trabalhadores aumentou de 38,3% em 2014 para 45,2% em 2018. A análise leva em conta tanto trabalhadores com carteira assinada quanto trabalhadores que contribuem para a previdência social, mesmo que autônomos. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), uma das fontes de dados usados pelo IBGE no estudo, o setor cultural ocupava, em 2018, mais de 5 milhões de pessoas, representando 5,7% do total de ocupados no país.
O programa de Microempreendedor Individual completou 10 anos em 2019. Segundo dados divulgados pelo Sebrae, o MEI é a única fonte de renda de 1,7 milhão de famílias no Brasil e  foi responsável por tirar mais de 2 milhões de empreendedores da informalidade.
Veja o que muda com a Resolução:
Fonte Portal BRASIL CULTURA

Que interessante que as escolas não nos ensinam....



Vivendo e aprendendo!!
Você tinha conhecimento disso?

"As oferendas deixadas nas encruzilhadas era uma forma de os negros alimentarem seus irmãos escravos que estavam fugindo dos feitores.

Eles escolhiam lugares estratégicos por onde escravos fugitivos passariam e colocavam comida pesada; carne, frango e farofa porque sabiam da fome e dos vários dias sem comer desses indivíduos e deixavam também uma boa cachaça pra aliviar as dores do corpo e dar-lhes algum prazer na luta cotidiana.

As velas eram postas em volta dos alimentos pra que animais não se aproximassem e consumissem o que estava reservado para o irmão em fuga e aí surge o que todos conhecem como macumba.

O rito permanece sendo realizado pelas religiões afro como forma de agradecimento e pedidos aos seus ancestrais e em homenagem a seus santos. A cultura branca e eurocêntrica foi quem desvirtou a prática, para causar medo, terror e abominação e reforçar os preconceitos e discriminações contra os negros.

Não tenho religião e não pratico nenhum culto mas gosto de saber que já houve tanta solidariedade no mundo e que as pessoas se preocupavam muito umas com as outras a ponto de fazerem um esforço pra alimentarem alguém mesmo sem conhecerem o seu rosto.

Hoje vejo tanta gente em igrejas e igrejas em tantos lugares servindo apenas como instrumento de manipulação e exploração da fé alheia para manutenção do poder.
Enfim, nós não evoluímos."


Professor Leandro (historiador da UnB)

Começou a circular dia 13 de junho de 2017, na página do Facebook “Ìkóòdídé” (1) um texto atribuído a professor “Leandro”, “historiador da UNB” (embora nos quadros de docentes do departamento de história na UNB não existe nenhum professor Leandro: http://www.his.unb.br/en/docentes). A publicação discorre algumas linhas sobre a prática de religiões de matriz africana de oferecer comidas nas encruzilhadas, mas é um festival de besteiras e invencionices que beira o absurdo. Infelizmente, quanto mais estúpido e sem noção são esses clickbaits, mais seguidores atraem (a última vez que olhamos já tinha ultrapassado 43 mil compartilhamentos).
Segundo este suposto autor “as oferendas deixadas nas encruzilhadas era uma forma dos negros alimentarem seus irmãos escravos que estavam fugindo dos feitores”. Pois bem, o processo de escravidão no Brasil, durou de 1539 até 1888 e foi de norte a sul do Brasil. Os primeiros escravizados foram trazidos para o Brasil, eram oriundos do Antigo Reino do Kongo. Seguido pelo Reino do Dahomey e finalizando pelos Reinos Yorubá.
O texto não cita exatamente qual região isso acontecia, quais as etnias envolvidas nesse processo, nem a época que isso aconteceu. Sendo o Brasil um país continental e o período de tempo longo da escravidão (349 anos), seriam uma informações importantes para situar e entender a prática.
A primeira leva de africanos que chegou ao Brasil, foi enviada para as fazendas de cana de açúcar no nordeste. Confinados, trabalhando de sol a sol, com muita sorte tinham o domingo de folga, onde eram obrigados a adotar práticas cristãs. Quando muito, tinham comida suficiente para se manter em pé no trabalho árduo, não tinham NENHUM acesso livre a “encruzilhadas” (se tivessem, com certeza iriam atrás dos seus irmão fugidos!) e muito menos comida de sobra para distribuir para “os irmãos foragidos”.
Outro exemplo é Minas Gerais, a escravidão era dentro das minas de ouro e pedras preciosas: os escravos de pequena estatura eram escolhidos para procriar, dando a luz a mais mão de obra. Viviam e morriam dentro de minas apertadas, apenas com pequenas lamparinas de óleo de baleia para iluminar sua labuta forçada em túneis insalubres. Morriam muito cedo e eram tratados pior que mercadoria.
Mais a frente, diz o autor não identificado: “colocavam comida pesada; carne, frango e farofa porque sabiam da fome e dos vários dias”. Como o autor não cita o local e a época, também não cita onde eles encontravam “carne sobrando”, ainda mais COZIDA, para deixar na encruzilhada. Nesse ponto, o autor mostra um total desconhecimento das oferendas: comidas não são “depositadas nas encruzilhadas”: as refeições sagradas são COMPARTILHADAS NA COMUNIDADE. E essa prática já veio da África: os ancestrais e divindades participam à mesa do banquete sagrado.
Existem diversos tipos de oferendas feitas pelos adeptos da religião de matriz africana: o mais conhecido é o padê (2): uma mistura de farinha, água, mel ou dendê e bebida alcóolica. No padê do candomblé, NÃO VÃO CARNES, ao contrário do que daria a entender o autor do texto. O padê com pimenta, carne, frango, peixes, cebola, etc é uma adaptação recente da Umbanda para o antigo costume do Candomblé.
A carne do animal sacrificado, também NÃO é oferecida diretamente às divindades: a parte oferecida é conhecida como axé do animal: são o sangue e outras partes que NÃO são usualmente consumidas. Animais largados inteiros em encruzilhadas NÃO são práticas das religiões de matriz africana. entenda que a carne JAMAIS é desperdiçada. Muitas vezes os animais sacrificados são a única forma de proteína disponível para a comunidade ao entorno do terreiro!!! Isso já tem sido tema de debate pois evangélicos inescrupulosos distorcem estas informações para angariar defensores dos animais contra as religiões africanas, fazendo-os acreditar que os religiosos afros “torturam animais” o que é uma enorme mentira.
O autor também cita: “uma boa cachaça pra aliviar as dores do corpo e dar-lhes algum prazer na luta cotidiana” reforçando o estereótipo de que o negro é dado ao vício e a bebedeira. A bebida alcoólica é oferta votiva em diversas religiões, incluindo a igreja católica, onde o sangue do Cristo é representado pelo vinho: mas ninguém insinua que o padre bebe por prazer. Voltando ao assunto do texto, a “pinga” (nome dado à aguardente pela forma como o álcool resultado das fermentações da cana de açúcar pingava do teto durante o processo, causando dor nos ferimentos nas costas dos escravos, daí o outro nome: água-ardente) era algo que os escravos NÃO tinham acesso fácil.
Mais para frente no texto outra besteirada que não possui nenhum fundamento histórico ou cultural: “As velas eram postas em volta dos alimentos pra que animais não se aproximassem”. A vela NÃO pertence à cosmogonia africana; é algo típico da cultura européia. Não existia na época da escravidão lojas de velas disponíveis para que os escravizados fossem para adquirir velas. Com qual dinheiro fariam isso? como conseguiriam a parafina? como produziriam as velas na senzala, debaixo dos olhos dos capatazes?
Continuando a leitura, surgem mais incongruências preconceituosas: “aí surge o que todos conhecem como macumba” NÃO! O que conhecemos como Macumba (3) é a prática de reunir africanos, afro-brasileiros, mestiços de brancos e índios, marginalizados pela sociedade européia da época. Essa prática da macumba é típica do Rio de Janeiro, uma cidade urbana, onde existia essa possibilidade de encontro, entre escravos, libertos, pobres, índios, brancos, etc. A palavra macumba tem origem no idioma Kimbundo: sua tradução literal é: reunião de pessoas veneráveis, reconhecidas. E o nome de um instrumento musical, muito usado nestas reuniões.
Ao continuar a leitura, vemos mais besteiras e desinformação: “O rito permanece sendo realizado pelas religiões afro”. O termo “religiões afro” coloca todas as práticas e crenças africanas, afro-brasileiras e afro-indígenas no mesmo balaio! As religiões de matriz africana são inumeras: Calundus, Candomblés de Caboclo, Candomblés de Angola, Nagô e Jêje, Xangôs, Amburaxó, Xambá, Terecô, Omoloko, Kimbanda, Babaçuê, Batuque, Umbanda . . . entre outras que surgiram e desapareceram e não tiveram a chance de deixar o seu nome na história. Cada prática tem suas particularidades e não cabe a ninguém de fora falar em nome das práticas. E certamente não cabe a alguém falar em nome de todas.
Por fim, ao aparentemente tentar defender as práticas afro-brasileiras, o autor faz um ataque covarde a essas práticas: “cultura branca e eurocêntrica foi quem desvirtou (sic) a prática, para causar medo, terror e abominação e reforçar os preconceitos e discriminações contra os negros”. No parágrafo anterior, ele afirma que os negros repetem práticas que hoje perderam o sentido, já que não existem mais escravos fugitivos. Agora ele afirma que as práticas atuais são para causar medo e terror e reforçar preconceitos, ou seja: ou as práticas são vazias e sem sentido ou são abominações.
Aparentemente o autor tentou dar um ar evangélico-cristão e condescendente para as antigas práticas ancestrais. Ou talvez em sua ignorância extrema tente racionalizar tais rituais, tentando dar um sentido prático de algo que faz parte da cultura/fé de um povo. Talvez ele nem se de conta do preconceito que suas palavras carregam.
Esperamos que o tal texto, apesar de mentiroso, preconceituoso e distorcido, seja útil para trazer mais debate e entendimento. Para cada linha de baboseira que se encontra na internet, precisamos sentar e escrever uma página de texto para refutá-la.
Por Kesa dia Nzaambi com comentários de Marcelo Del Debbio
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1- Ìkóòdídé: pena do rabo do do papagaio africano Odidé, largamente utilizada nos candomblés de origem Yorubá (keto ou nagô).
2- O Ìpàdé, feito de farinha de mandioca no Brasil e de farinha de Inhame na África é uma prática ancestral: Ìpàdé significa reunião é uma forma de agradar Exu Orixá. Na umbanda, ganhou o diversos complementos, como carne, pimenta, cebola, etc para servir de oferenda ao Exu Espírito.
3- O idioma kimbundo o plural não está no final da frase, mas no começo: Kumba é uma grande pessoa, viva ou morta. Ma é o prefixo que indica plural. Kumba: Venerável. Makumba: Veneráveis.