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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

ARBITRARIEDADE - PM usa máscaras e esconde identificação em ato contra aumento do transporte

pm passe livre
Nas duas últimas manifestações, a Polícia Militar agiu de forma violenta, deixando detidos e feridos
por Redação RBA 
Manifestantes realizam terceiro ato contra tarifa de R$ 4,30 do ônibus e metrô em São Paulo, depois que o governador João Doria proibiu uso de máscaras por manifestantes, regra que não vale para a PM.
São Paulo – O Movimento Passe Livre (MPL) realiza nesta terça-feira (22) o terceiro ato contra o aumento das passagens dos ônibus e metrô em São Paulo. A concentração começou pouco depois das 17h, com um pequeno atraso em razão de uma forte chuva na capital paulista. Após as 18h30, o ato saiu em passeata do local de concentração, na Praça da Sé, região central, em direção à Avenida Paulista.
Após a manifestação acessar a Avenida Paulista, pela Avenida Brigadeiro Luis Antônio, a PM fez um bloqueio, impedindo o avanço por cerca de uma hora. Durante o cerco, os militares realizaram manobras com as tropas. Mais a frente, o ato MPL se uniu com um debate sobre a relação das armas de fogo com a violência urbana, que acontecia no vão-livre do Masp, com a presença do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. 
As passagens subiram, no início do ano, de R$ 4 para R$ 4,30. Os manifestantes consideram o aumento, que ficou acima da inflação, abusivo e cobram respostas do governador João Doria (PSDB) e do prefeito, também tucano, Bruno Covas. Nas duas últimas manifestações, em especial a última, que aconteceu no dia 16, a Polícia Militar agiu de forma violenta, deixando detidos e feridos, entre eles jornalistas. 
Após as cenas de violência, o governador ainda decretou a proibição do uso de máscaras por manifestantes, o que o MPL considera inconstitucional. Um fato chamou a atenção: todos os policiais militares que acompanharam as movimentações estavam usando máscaras. Soma-se a isso o fato deles não possuírem mais identificação com nome, apenas um código alfa-numérico extenso.
Para a jornalista Laura Capriglione, dos Jornalistas Livres, que acompanha o ato, a ausência de identificação dos policiais revela o arbítrio e a truculência da instituição. "Não querem proteger os bons policiais, mas os maus policiais que cometem excessos. Em uma situação de abuso, como a vítima vai decorar esse código enorme?! Ninguém sabe ao certo o que pode acontecer, os policiais podem ficar nervosos e agredirem a qualquer momento", disse.
Para a estudante Luna, do Diretório do Centro Acadêmico (DCE) da Universidade de São Paulo (USP), a ação policial do último ato foi um dos motivadores para seu ativismo. "Estamos aqui, principalmente para denunciar a repressão policial. No último ato teve uma repressão incrível e o Doria está fechando o cerco contra manifestações democráticas e legítimas. O principal é trazer o debate. Quando aumentamos a tarifa, excluímos parte da população mais pobre e todos que precisam andar pela cidade."
Já Dimitri Sales, do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa Humana (Condepe), pede cautela aos manifestantes. "Acompanhamos as manifestações desde o começo. Direito de protestar é direito humano. Vemos desde a eleição de Bolsonaro que a tônica é impedir manifestação. Para isso estão utilizando de muita violência policial. Por isso, o Condepe está aqui para fiscalizar a Polícia Militar e exigir que os governantes atuem em razão do interesse do povo. Acompanhamos prisões na última manifestação e a orientação é tomar cuidado, evitar mochila, é provável que a polícia plante provas."
A próxima manifestação do MPL contra o aumento das passagens já tem data marcada. Acontecerá na quarta-feira da semana que vem (30), com concentração às 17h, no Largo da Batata, zona Oeste da capital.
Fonte: RBA

MILICIANOS - Operação policial no Rio prende suspeitos do assassinato de Marielle Franco

Marielle Franco
Ao menos seis testemunhas já citavam um policial, ex-capitão do Bope, como assassino da vereadora e do motorista
por Redação RBA
Indícios apontam que os presos comandem a milícia Escritório do Crime, especializada em assassinatos por encomenda. Alvos de operação foram homenageados por Flávio Bolsonaro em 2003 e 2004.
São Paulo – Uma operação policial no Rio de Janeiro realizou na manhã desta terça-feira (22) a prisão de ao menos cinco suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol) e de Anderson Gomes, que dirigia o carro em que ambos foram emboscados, em março do ano passado. De acordo com o jornal O Globo, os presos são integrantes da milícia mais perigosa e antiga do estado, a chamada Escritório do Crime.
A Justiça expediu 13 mandados de prisão preventiva contra a organização criminosa. Os principais alvos da operação são o major da Polícia Militar Ronald Paulo Alves Pereira, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Adriano Magalhães da Nóbrega, chefe da milícia de Rio das Pedras, e o subtenente reformado da PM Maurício Silvada Costa, o Maurição.
A ação foi desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil.
Apesar do objetivo da ação do MPRJ seja atacar a milícia que explora o ramo imobiliário ilega, em Rio das Pedras, com ações violentas e assassinatos, há indícios de que dois dos alvos de prisão comandem o Escritório do Crime, especializado em assassinatos por encomenda. O jornal afirma que os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos.
A Operação Os Intocáveis é resultado de seis meses de investigação conduzida pelo Gaeco e pela 23ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal. A denúncia, com os pedidos de prisão, busca e apreensão, foi distribuída para o 4º Tribunal do Júri da Capital.

Testemunhas apontavam ex-Bope

O Intercept Brasil teve acesso ao inquérito que a Justiça proibiu que a Rede Globo divulgasse. Nele, ao menos seis testemunhas citam um policial, ex-capitão do Bope, como assassino da vereadora e do motorista. 
O grupo paramilitar, na qual o policial participa, tem ao menos outros dois ex-caveiras, homens altamente, que desvirtuaram o aprendizado em troca de dinheiro. Um deles é também ex-oficial, parceiro dos tempos de academia, conforme o inquérito da Polícia Civil. Ambos tiveram participação no assassinato de Marielle, de acordo com o inquérito.
Marielle e Anderson foram assassinados em 14 de março de 2018, e após nove meses o crime segue sem que sejam apontados os culpados.

Homenagem de Bolsonaro

Principais alvos da operação, Adriano Magalhães da Nóbrega e Ronald Paulo Alves Pereira, foram homenageados, em 2003 e 2004, na Assembleia Legislativa do Rio por indicação do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL). O parlamentar sempre teve ligação estreita com policiais militares.
Adriano chegou a receber a medalha Tiradentes, a mais alta honraria do Legislativo fluminense. Já Ronald ganhou a moção honrosa quando já era investigado como um dos autores de uma chacina de cinco jovens na antiga boate Via Show, em 2003, na Baixada Fluminense. 
O texto da moção de número 2.650/2003 dizia que ele era homenageado "pelos inúmeros serviços prestados à sociedade". Flávio Bolsonaro justificou o ato: "no decorrer de sua carreira, atuou direta e indiretamente em ações promotoras de segurança e tranquilidade para a sociedade, recebendo vários elogios curriculares consignados em seus assentamentos funcionais. Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão. É com sentimento de orgulho e satisfação que presto esta homenagem".
Já em março de 2004, Ronald Paulo Alves Pereira também recebeu homenagem por meio de moção honrosa proposta por Flávio Bolsonaro. A moção de número 3.480 foi de louvor e congratulações pelos serviços prestados por Ronald, que na época estava no 22º BPM da Maré, na zona norte.
Fonte: REDE BRASIL ATUAL

A triste despedida de Marcelo Yuka da realidade brasileira

Principal compositor do grupo O Rappa e ativista político engajado, o músico sai de cena num momento político brasileiro avesso às suas utopias
por Alexandre Matias para o UOL
É triste a partida de Marcelo Yuka neste momento da história do Brasil. Embora sempre associado ao grupo O Rappa e ao incidente que o deixou preso a uma cadeira de rodas pelo resto da vida, o compositor e baterista, que morreu nesta sexta-feira (18), reconstruiu sua vida para além deste trecho de sua biografia. Foram sete anos com a banda e 18 depois de sua saída. E uma de suas maiores frustrações era ver a ascensão do fascismo à rotina de nosso país, normalizando a violência e tirando o ódio do armário dos brasileiros.
Ele é um dos personagens-chave na música pop do fim do século passado que ajudou o legado cultural brasileiro do período ir além das monoculturas industrializadas da axé music, do sertanejo e do pagode, puxando temas importantes para serem discutidos em canções que poderiam ser simples hits vazios. Sua presença no grupo O Rappa, que ajudou a fundar no início dos anos 90, era mais importante do que seu papel como músico ou compositor, cargo que dividia com seus companheiros de banda.
Yuka era um ativista da arte e sabia da importância da política nos pequenos atos do dia a dia. Pertencia a uma geração disposta a contar a história das ruas em canções que vão para os rádios, como a Nação Zumbi de Chico Science e os Racionais MC’s de Mano Brown. Juntos, os três delimitaram um território musical no imaginário musical brasileiro que via o levante cultural de uma nova periferia como o começo de um rascunho de um novo país.
“Da Lama ao Caos” (a estreia da Nação Zumbi em 1994), “Sobrevivendo no Inferno” (o disco-manifesto que os Racionais lançaram em 1997) e “Lado B Lado A” (o disco d’O Rappa de 1999 dirigido por Yuka) criaram, através da música, uma nova consciência de classe e uniram diferentes focos do público ouvinte brasileiro que não se identificava com o romantismo escapista do pop que tomava conta das rádios da época.
“Lado B Lado A” é um dos grandes discos de nossa música e a responsabilidade é toda de Yuka, que colocou em prática o que sabia em teoria: a música poderia ter um impacto na vida das pessoas para além da simples diversão. Nos discos anteriores (o homônimo álbum de estreia, de 1994, e “Rappa Mundi”, de 1996), o baterista já se destacava como o principal compositor da banda, assinando letras que sintetizavam sua consciência social, como “Todo Camburão tem um Pouco de Navio Negreiro”, “Fogo Cruzado”, “Brixton, Bronx ou Baixada”, “Catequeses do Medo”, “Pescador de Ilusões”, “A Feira”, “O Homem Bomba” e a versão da letra de “Hey Joe”, imortalizada por Jimi Hendrix.
Sem as canções de Yuka, O Rappa, que foi montado às pressas para acompanhar o cantor jamaicano Pato Banton em uma turnê em 1993, talvez nem existisse –ou se existisse seria menos relevante que outros grupos de reggae no Brasil, como Cidade Negra ou Tribo de Jah.
Com Yuka, O Rappa era um colosso. Em seu terceiro disco, Yuka ia além e afundava ainda mais o dedo na ferida brasileira, em canções imortais como “Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero)”, “Cristo e Oxalá”, “Me Deixa”, “Tribunal de Rua” e “O Que Sobrou do Céu”, transformando O Rappa em uma potência musical de fortes matizes políticas, como alguns dos artistas que inspiraram o baterista, como Bob Marley, Public Enemy e The Clash.
Mas foi drasticamente interrompido quando, no dia 9 de novembro do ano 2000, ao tentar parar um assalto que testemunhara no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro, Yuka foi vítima de uma chuva de 15 tiros disparados contra seu carro. Um deles atingiu uma de suas vértebras, deixando-o paraplégico. Mas nem as balas foram o suficiente para pará-lo e o músico seguiu com a banda, mesmo sem poder tocar mais bateria.
Lembro de uma noite memorável no Recife, no primeiro dia do festival Abril Pro Rock de 2001, num dos últimos shows com o músico – já cadeirante – na banda, quando dividiram o palco com a Nação Zumbi e o grupo anglo-indiano Asian Dub Foundation e a tensão política atingia o mesmo clímax que a potência musical dos três grupos reunidos. Yuka deixou O Rappa naquele mesmo 2001, insatisfeito com o rumo que seus ex-companheiros queriam dar para a banda. Ele lamentava que o grupo, que encerrou suas atividades em 2017, mantinha-se como “a maior banda cover de si mesmo do Brasil”, sobrevivendo de um repertório que o baterista havia composto duas décadas antes.
A partir de então, ele passou a se dedicar a seu projeto solo, que logo virou um grupo. Resumido na sigla F.Ur.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), ele seguia a fusão de rap, rock, reggae e punk d’O Rappa acrescentando funk, dub e música eletrônica à mistura, ao lado do guitarrista carioca Maurício Pacheco (ex-Mulheres Q Dizem Sim e Stereo Maracanã) e dos pernambucanos Alexandre Garnizé (do grupo de rap Faces do Subúrbio) e Jamilson da Silva (da banda de DJ Dolores Orchestra Santa Massa). Seu único disco, “Sangueaudiência”, foi lançado em 2005.
O F.Ur.T.O. também o engajou definitivamente em causas sociais e ele era uma voz constante na periferia, sempre lutando pelo desarmamento e pelo diálogo junto aos mais desassistidos pelo estado. Sua luta política foi para a prática: além de filiado ao PSOL, Yuka também foi candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Marcelo Freixo, em 2012. Antes disso, foi assunto do documentário “Marcelo Yuka no Caminho das Setas”, dirigido por Daniela Broitman, em 2011, quando tentou, sem sucesso, encontrar-se com os assaltantes que lhe fizeram vítima, e depois lançou sua versão para os fatos na biografia “Não Se Preocupe Comigo”, assinada ao lado do jornalista Bruno Levinson, em 2014.
Em 2017, Yuka lançou seu primeiro disco solo, “Canções para Depois do Ódio”, que contava com participações das cantoras Céu e Cibelle e lidava com o tema da depressão, que o atacou após o incidente de 2001. Sempre engajado, detectou o início da onda reacionária no Brasil quando o público vibrava ao ver os bandidos mortos no filme Tropa de Elite, de 2007, e numa entrevista na TV com um ator global que se gabava de não ler nem nunca ter feito teatro. “Ele só teve coragem (de falar isso) porque existe um pensamento burro no ar que o respalda”, disse em uma entrevista de 2014.
Por isso mesmo é triste saber que ele partiu deste plano sabendo que a lógica oposta à que sempre trabalhou chegou ao poder justamente por orgulhar-se de sua abjeção. Fica, no entanto, seu legado.
Fonte: UOL

Zé Celso Martinez: ‘Esse governo não tem nem pé nem cabeça’

“É um governo imbecil, desde o primeiro momento, até a posse, antes da posse, tudo. Estão fazendo uma coisa fora de época, essa coisa de globalismo marxista. Não têm a menor ideia do que é Marx”
Por Eduardo Maretti, da RBA
“Eu digo menos pelas palavras e mais pela encenação. Tudo o que eu tenho a dizer está na encenação de Roda Viva”, diz o diretor, ator e dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, resumindo o que tem a dizer sobre a atual conjuntura política do país. Ele se refere à peça em cartaz no Teatro Oficina até “antes do Carnaval”, como enfatiza. A montagem é baseada no célebre texto de Chico Buarque de Holanda de 1967.
Diretor da histórica montagem de O Rei da Vela (1967), a partir do original do modernista Oswald de Andrade, Zé Celso não se faz de rogado, como é de seu estilo, ao falar do governo de Jair Bolsonaro e a extinção do Ministério da Cultura, criado em 1985 pelo governo de José Sarney.
“Acho que não é uma questão de pedir a esse governo um ministro da Cultura, porque eles vão colocar um idiota qualquer. Porque eles são imbecis.” A opinião do diretor é semelhante à do próprio Chico Buarque, que, ao jornal El País, declarou: “Com esses ministros, é preferível que A Cultura não tenha ministério”.
Na opinião de Zé Celso, o governo de Jair Bolsonaro é, de fato, “imbecil”. “Não é um governo de direita moderna, mas de direita arcaica. Botar a embaixada em Jerusalém, esse alinhamento com Trump, que está para ter um impeachment… É um governo imbecil, desde o primeiro momento, até a posse, antes da posse, tudo. Eles estão fazendo uma coisa totalmente fora de época, essa coisa de globalismo marxista. Não têm a menor ideia do que é Marx”, diz o dramaturgo, em entrevista à RBA.
O que você tem a dizer sobre a extinção do Ministério da Cultura?
Só o Ministério da Cultura que foi extinto? Ele já declarou o fim da reforma agrária, entregou tudo nas mãos da ministra da Agricultura (Tereza Cristina). Se tivesse Ministério da Cultura, ele ia botar um desses caras, como o do Itamaraty (Ernesto Araújo), ou o da Educação (Ricardo Vélez Rodriguez). Eu sou a favor do Ministério da Cultura, sim. Mas não na mão desse cara.
Muitas pessoas da área artística e cultural estão pessimistas…
Eu não estou pessimista, não. Roda Viva é o maior sucesso de todos os tempos. A gente exprime tudo o que está acontecendo agora, é atualíssimo, maravilhoso. Eu acredito muito mais no teatro, no cinema, nas artes todas, na mídia… Os jornais estão ótimos. Acho que não é uma questão de pedir a esse governo um ministro da Cultura porque eles vão colocar um idiota qualquer. Porque eles são imbecis. A gente conseguiu apoio para ensaiar a peça, conseguiu o Sesc, que está correndo risco também, e o público está lotando, está bancando, está sendo o nosso Ministério da Cultura.
Mas não estou pessimista porque, num certo sentido, a cultura está muito forte, a imprensa está forte, a Globo não está compartilhando totalmente com ele (Bolsonaro). O próprio Faustão desmentiu, mas falou que ele é um imbecil. A gente quer o combate pela própria arte que a gente faz.
Acredita que a democracia está ameaçada?
Super ameaçada! Mas se você quiser entregar um ministério da Cultura a esses fascistas, vai ser um horror. Eles vão ter, aliás, uma secretaria de Cultura para substituir o ministério. Talvez até mantenham a Lei Rouanet. Mas eu acho que a atual situação está fascista mesmo, péssima. Quem não votou nele, que não foram só os que votaram no Haddad, mas também quem votou em branco, nulo, todo esse povo está insatisfeito. Mesmo as pessoas que votaram nele, talvez, estão vendo as loucuras que ele está fazendo. Está a maior confusão, esse governo.
O ministro das Relações Exteriores está em luta com o (Paulo) Guedes, que é o cara mais objetivo, na economia, porque com essa coisa de embaixada em Jerusalém vai fuder com a economia brasileira. Não está dando certo esse governo. A única esperança que eles têm é na economia, o neoliberalismo.
Minha posição é a seguinte: diante do movimento de oposição, dos jornalistas, dos artistas de teatro, de cinema, de música, da grande arte popular brasileira, tudo isso dá uma força enorme agora, porque a maioria do povo brasileiro, inclusive talvez os que votaram nele, agora estão vendo o que acontece.
O que é pior para a cultura, o regime militar ou agora?
Muito pior agora! Fui até torturado no regime militar, mas agora é muito pior. A cultura estava ótima, inclusive. Foi no período militar que surgiu a Tropicália, Rei da Vela, Terra em Transe, Hélio Oiticica, Caetano. A gente conseguiu trabalhar até um determinado momento, depois foi ficando pior, depois do AI-5. Mas a gente conseguiu trabalhar até fazer As Três Irmãs (1972), nosso último espetáculo. Depois a pressão era muito forte, não tinha mais condições de fazer. Mas a cultura não fica fraca nesses momentos. Ela fica forte, mas sem o patrocínio do governo.
E a Cultura hoje?
A cultura está ótima agora. Os teatros estão cheios, estão fazendo filmes ótimos, músicas ótimas, os artistas fazendo memes na internet, ridicularizando. O que a gente tem que fazer é ridicularizar ao máximo.
Seria como no poema de Carlos Drummond, “e o humor”?
Muito humor, cara! O festival de besteira do Stanislaw Ponte Preta. É um absurdo esse governo, não tem pé nem cabeça. O estadual também. Aqui em São Paulo nem sei ainda, mas no Rio de Janeiro aquele cara (Wilson Witzel) está fazendo loucura, a própria Globo está contra ele. O cara quer matar as pessoas. Hoje eu vi na própria Globo que o cara enlouqueceu.
Nesse contexto o que você espera para o futuro da nova geração?
A nova geração não vai embarcar muito nessa, não. Uma parte embarca, mas outra não, se a gente continuar trabalhando na cultura, fazendo o que estamos fazendo, de uma maneira mais satírica, mais paródica, como é o caso de Rei da Vela, de Roda Viva, no meu caso. Mas no caso de outras peças em cartaz, tá todo mundo mandando o pau, a não ser os grupos que são alienados mesmo. Mas a cultura está muito forte.
O que acha do fato de o povo ter elegido esse governo?
O povo não elegeu esse governo, porque além do Haddad ter tido 47 milhões de votos, somando tudo, com os votos brancos e nulos, é muito maior do que os votos no Bolsonaro. O povo elegeu porque foi feita uma campanha de WhatSapp. Além da esquerda, tem muita gente que nem é de esquerda que já tá curtindo na cara desse governo. Não é só esquerda. A esquerda não está sozinha. Acho que nesse momento a gente tem que continuar criando, provocando.
E o teatro é muito importante, porque é uma aglutinação de pessoas juntas, então passa a ter uma força muito grande nesses momentos de crise. Tem muitos teatros com coisas muito boas, cheios. Tem os que ficam ali fazendo teatrão, mas a maior parte dos melhores teatros está em combate, como o cinema também, as artes plásticas, a literatura, a música. É um momento forte no Brasil. Se você assistir Roda Viva você vai ficar pasmo.
Não tem pé nem cabeça, esse governo. Não é um governo de direita moderna, mas de direita arcaica. Botar a embaixada em Jerusalém, esse alinhamento com Trump, que está para ter um impeachment. É um governo imbecil, desde o primeiro momento, até a posse, antes da posse, tudo. Eles estão fazendo uma coisa totalmente fora de época, essa coisa de globalismo marxista. Não têm a menor ideia do que é Marx. É ignorância sobre o que é globalização, que é uma coisa do capitalismo. E aquele cara então, Olavo de Carvalho? Não é filósofo nem aqui nem em lugar nenhum. Ele diz palavrão de uma maneira tão nojenta. Ele xinga como se fosse uma criança analfabeta. Xinga grandes artistas, como xingou o Caetano, xinga todo mundo.
Estão dizendo agora até que a Terra é plana. Estão negando Galileu Galilei. Estão negando que a Terra é redonda. Os astronautas viram a Terra redonda. Então, é um regime que eu tenho a impressão de que não vai muito adiante, não. Ele é totalmente irracional, além de ser fascista, mas é um fascismo totalmente ignorante – acho que todo fascismo deve ser assim, não sei. Não tem fundamentação científica, filosófica, nada. É inacreditável. Eu não acredito no que eu tô vendo. É surreal. É um governo totalmente ideológico, abstrato – eu não tenho ideologia, acredito no aqui e agora. É um governo messiânico, acredita em messias. É um retrógrado que vai para a Idade Média. É uma coisa anticientífica, antitudo.
Eu digo menos pelas palavras e mais pela encenação. Tudo o que eu tenho a dizer está na encenação de Roda Viva.
Serviço:
Roda Viva
Teatro Oficina, Rua Jaceguai, 520, tel. (11) 3106-2818
Horários: sexta e sábado às 20h e domingo às 19h. Ingressos: de R$15 a R$ 60. Duração: 3h30. Classificação: 18 anos. Temporada: até 10 de fevereiro de 2019.