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sexta-feira, 27 de abril de 2018

O discurso Odete Roitman: a guerra cultural envenenando o Brasil


Após a grotesca comemoração da prisão do Lula, promovida em larga escala pelo MBL e o cafetão Maroni(dando 9000 latinhas de cerveja) fazendo “performances” grotescas humilhando garotas na porta do prostíbulo Bahamas, com fotos gigantes, na entrada da casa, de Carmem Lúcia e de Moro[1],  pensei em começar este texto com uns versos do Cazuza, que todos já devem estar cantando em suas mentes, tentando liricizar um pouco o momento pelo qual passamos no Brasil. Mas sinto como se tivéssemos cruzado um Rubicão(do GOLPE) após o qual a poesia se tornou impossível. Como após Auschwitz. Estamos de fato sob um Holocausto político e civilizatório nessa República de Saló golpista, que nem os piores pesadelos de Pasolini poderiam prever.
Cazuza ainda era representante de uma geração artística marcada por uma certa hegemonia cultural da esquerda que, expulsa desde 1964 do poder político, construiu uma narrativa crítica, por vezes negativista e sempre avessa ao nacionalismo, como algo “dos milicos”, em seu domínio cultural nos anos 1970/80.
Nos anos 1970/80 a direita governava o Brasil no Golpe, mas deixava para a esquerda espaço de alguma hegemonia cultural no Brasil daqueles anos. Hoje, sob orientação de grupos de interesse norte-americanos, a direita decidiu disputar o espaço cultural por aqui, com consequências assustadoramente tóxicas[2]. Cazuza talvez seja um bom exemplo de um último momento daquela geração. A grande máquina da indústria cultural do Brasil (rede Globo) contratou vários desses representantes culturais como seus artistas. Sobretudo autores vindos do teatro e da esquerda para melhorarem os fraquíssimos roteiros de novelas. Realmente precisa-se de gente escrevendo nessa máquina de salsicha cultural.
Friso este ponto, pois foi numa novela do final dos anos 1980, cuja apresentação tornou-se icônica do período, com uma música do Cazuza cantada por Gal Costa, que localizo um ponto de mutação: esquerda/direita, nacionalismo/internacionalismo, liberalismo político/conservadorismo econômico, na história cultural e política do Brasil. A novela era “Vale Tudo”, escrita por Gilberto Braga, um autor que se declara de esquerda e é assumidamente homossexual. Curiosamente, no ano da novela (1988), a primeira declaração era feita com orgulho e naturalidade; a segunda, sempre com algum desconforto, senão com assombro para muitos. Em alguns círculos hoje parece que a situação se inverteu e a dita novela, defendo aqui, foi um “turning point” neste processo.
As novelas nos anos 1970 ainda respondiam à censura militar. A rede globo servia e trabalhava como uma TV pública do regime[3]. O jornal e a rádio Globo no Rio existiam há tempos, mas a emissora de televisão é fundada um ano após o golpe, em 1965, e pode ser estudada como mais uma das estatais do regime de tão próxima, coesa e financiada pelo Estado sempre foi. Depois do fim do regime militar a Globo conseguiu financiamentos no BNDES com facilidades maiores que de uma empresa pública[4]. A dita “nova direita” finge não ver o que a Globo é: um monopólio. E, desonestamente, chamam de “mercado” tudo o que é de fato capitalismo Monopolista[5], sendo a Globo um excelente exemplo disso. Em face da história de uso de fundos públicos, centralidade estratégica, importância cultural e o perigosíssimo histórico desestabilizador desse Monopólio Oligárquico que é a rede Globo, a definitiva transformação dela numa TV pública não estatal, como é a BBC, é um imperativo inescapável de segurança nacional. Tal pauta precisa se tornar CENTRAL para qualquer governo progressista, nacional/Popular que volte ao Planalto. Sobretudo depois de 2016: fazer da Globo uma BBC do Brasil.
Tal TV, nos anos 1970, era a “TV do regime”, mas parece que hoje o Brasil tem se transformado “no país da Globo”. Houve uma inversão histórica dos sujeitos: nos anos 1960/70 os militares (apoiados por civis, sobretudo pelo judiciário) organizaram pela força uma modernização do Capitalismo Monopolista no Brasil. Sob um EUA ainda em Bretton Woods até 1973, o regime militar foi industrializante até quando permitiram (chegamos a 8ª economia do Mundo capitalista ao fim do governo Geisel, e ouvimos Kissinger nos alertar que os EUA “Não tolerariam outro Japão ao sul do equador”). Parte menos à direita dos militares brasileiros, preocupados com questões de segurança, era industrializante, se compararmos o Brasil dos militares com a Argentina e o Chile após seus golpes. Pinochet e os golpistas argentinos foram pornograficamente anti industriais: literalmente desindustrializaram seus países, para destruir as combativas classes operárias de Argentina e Chile.
O Brasil dos militares não foi anti-indústria. Defendo que se matou nos períodos autoritários bem menos no Brasil do que na Argentina e no Chile (países muito menores em população) justamente pela opção desindustrailizante daquelas ditaduras. Não foi nenhuma questão cultural “weberiana” que fez com que os militares do Brasil matassem menos: isso foi resultado de uma opção econômica do regime. Mas a rede globo sempre defendeu cegamente a agenda liberalóide anti-industrialização para o Brasil, morrendo de inveja de Argentina e Chile dos anos 1976 e 1973(confesso sofrer arrepios escutando as campanhas na TV hoje de que “Agro é Pop”… a República Velha, personificada no bacharel medíocre do Temer, volta como um ataque de zumbis do Thriller do Michael Jackson. Os 1980 anteciparam muito da decadência que vivemos).
A Globo, coerente com sua cartilha de formação Time Life,[6]sempre foi pró imperialismo e anti-industrialização do Brasil. Contudo, sob os militares, tal defesa era contida nos noticiários, como as narrativas mais críticas à nação eram censuradas nas novelas. Lembremos que outra novela icônica, Roque Santeiro, de outro autor vindo da esquerda, Dias Gomes, que usava a pequena cidade fictícia de Asa Branca como metáfora do Brasil, foi proibida de ir ao ar em 1975: passou apenas 10 anos depois. Justamente no ano do fim, oficial, do regime militar.
Busco destacar que a rede Globo, fiel escudeira do regime militar brasileiro, sempre foi em economia: liberalóide, pró imperialismo, anti-indústria no Brasil. Mas disfarçou isso até a queda do regime. Após tal momento a emissora embarca no discurso liberal não só em economia, mas travestida de “defensora” do liberalismo político em geral, que estava em alta no Brasil então e usa as energias culturais da esquerda, represadas em sua folha de pagamentos e com as mágoas de uma geração excluída politicamente, com uma pletora de narrativas “anti” nacionalistas. Tal tradição crítica da esquerda brasileira, lastreada nas críticas tradicionais da esquerda europeia aos fascismos, foi, e é, usada pela rede Globo para construir um discurso de desprezo ao Brasil e a qualquer expressão de nacionalismo. Bem afinada com seu anti-Varguismo, anti-Brizolismo, anti-Trabalhismo, como “atrasados”.
Volto à novela de Gilberto Braga de 1988: nela os personagens mais sedutores, antecipando os minions, eram os bandidos mais vis. A riqueza é a busca que interessa e tudo vale para alcançá-la. Sendo a vilã principal, Maria de Fátima: nome da padroeira de Portugal, numa irônica maledicência, vinda da esquerda laica, contra as tradições ibero-católicas. Tal audácia, com “perfume” esquerdista, não passaria nos anos 1970. E revelam que após o fim do regime a Globo, se travestindo de “liberal”, “progressista”, até de “esquerda”, pôde assumir uma narrativa muito mais pró imperialismo do que foi percebido: pois usou o antinacionalismo “crítico” da esquerda de disfarce para isso.
Entre os vilões icônicos dessa novela havia a Odete Roitman, que declaradamente odiava o Brasil e os brasileiros, num total racismo e desprezo antinacional.
Longe de ter sido um momento, tal construção de personagem é um padrão interpretativo do Brasil reproduzido em seus vilões (personagens mais sedutores) e cada vez mais, por todos os personagens. A Globo canalizou, seletivamente, partes das energias da esquerda para lastrear seu discurso Anti-Brasil. O que chamo de o “discurso Odete Roitman”, que tanta gente pobre, adestrada culturalmente pelas novelas, repete hoje como papagaios.
Os do 1 por cento mais ricos que arrotam o discurso Odete Roitman, já é lastimável. Mas o assustador é a penetração em todas as classes do Brasil desse discurso de que “o Brasil é um lixo, nada funciona…”.Quando estudamos como um país que saiu da escravidão (oficialmente) em 1888, chegou em 1980 como a 8ª economia do mundo capitalista (em 2002 era a 14ª, mas em 2010, depois de 8 anos do Lula chegou a 6ª) nos damos conta de que essa narrativa Dark, do discurso Odete Roitman, é uma arma cultural de destruição nacional. Sim: a Globo, que deveria ser um monopólio brasileiro de produção cultural e jornalístico em língua portuguesa, trabalha contra o Brasil. Assim como funcionários públicos do Estado brasileiro são treinados abertamente em potência estrangeira[7] para trabalhar internamente contra um grupo político e a favor de outro, mas sempre contra a produção industrial brasileira, como as centenas de milhares de empregos industriais fechados pela Lava-Jato[8]: na indústria naval, petroquímica, construção civil e tantos outros setores, nos dão prova de forma chocante.
A Globo incorporou pautas feministas e liberais em comportamento, para radicalizar sem culpa seu monopólico “liberalismo” econômico pró monopólios privados internacionais e contrários a produção nacional. Chegamos a 6ª posição na economia mundial em 2010 em parte via a defesa de “Campeãs Nacionais” (copiada hoje pelo atual presidente francês, em suas “Campeãs Europeias). Tal política petista de fortalecimento dos monopólios internos pode ser passível de várias críticas, mas nos levou a essa posição e, parece que as pessoas não se lembram, ao quase Pleno Emprego no Brasil também.
Os EUA, porém, não estão mais em Bretton Woods. Quem representa uma força análoga ao o que os EUA foram no mundo dos “30 anos gloriosos” do capitalismo após a II Guerra hoje é a China. Obviamente a melhor aposta histórica para o Brasil seria seguir nos BRICS, equilibrando-se entre China e EUA. Contudo, as forças que tomaram o poder no Brasil em 2016 não são muito simpáticas a “equilíbrios”. Estamos sendo submetidos cegamente aos EUA nessa Nova Guerra Fria (que até já nos deu um novo Golpe, como houve na 1ª Guerra Fria), com o judiciário agindo politicamente contra um grupo político, de centro-esquerda, e a favor de outro, cada vez mais de extrema-direita. Mas talvez o mais bizarro, num governo que tomou o poder sob gritos de pessoas fantasiadas de verde-amarelo: estamos, sob orientação do departamento de justiça dos EUA, destruindo o que existe de Capitalismo no Brasil. Privatizando empresas nacionais lucrativas e estratégicas[9], destruindo setores indústrias e produtivos inteiros, com risco sistêmico no setor financeiro (que passou a ter seus fortes bancos públicos sistematicamente enfraquecidos pelos novos governantes). Evidente que o desemprego é um projeto central do golpe. É assustador ver uma classe média trabalhadora bater panela pelo desemprego. Defender o Moro, mesmo após ele prender Lula (sem provas)[10] e inocentar a titular de contas não declaradas na Suíça da mulher do Cunha, Claudia Cruz[11]. Aliás, os paneleiros ousaram fingir revolta contra a “corrupção”, pra tirar a Honesta Dilma, sob a liderança…do gangster Cunha.
Toda essa alucinação narrativa dos golpistas só é possível porque há o monopólio midiático que os blinda. Não adianta argumentar que a esposa do Cunha tem conta não declarada na Suíça e o Lula não. Alegam que o Lula “deve ter recebido propina sim”, “eu ACHO que sim” e desconversam sobre ele não ter nenhuma conta não declarada em Paraíso fiscais. Enquanto tantos dos golpistas, como suas irmãs, filhas e esposas, que têm contas não declaradas comprovadas, não são presos na “lava-jato”.
Este ambiente tóxico de Desonestidade Intelectual crônica é fruto da imbecilização de um país em que todas as classes sociais têm seu centro cultural em novelas cretinas que, em todas, reproduzem o discurso Odete Roitman. Estamos sob um envenenamento político/cultural de dimensões inauditas. Este golpe, cada dia é mais evidente, é um ato Antinacional. O Brasil está sob um ataque Neocolonial, sob uma Guerra Híbrida[12]em que os principais agentes do imperialismo são internos, pagos pelo Estado Nacional brasileiro: juízes, procuradores, Policiais, MP (todos fortalecidos nos governos Petistas), assim como o Monopólio de comunicação Globo lidera a narrativa de defesa desse Golpe Neocolonial.
Enquanto nos EUA os vilões (e alguns mocinhos) dos roteiros que ficam ricos em suas narrativas são criticados/valorizados de forma contraditória com os crimes que os enriquece, mas o capitalismo americano resultante é endeusando, no Monopólio midiático da Globo tais vilões são sempre erotizados pessoalmente, mas o Brasil que vem daí “não vale nada”. Enquanto que nas narrativas de séries e filmes norte-americanos, o fato dos crimes nas origens das riquezas familiares norte-americanas são vistos como problemáticos e errados, mas o capitalismo que brota deles é valorizado em suas narrativas nacionais, nos roteiros da Globo os vilões são valorizados e o Brasil resultante sempre desprezado.
Vendo pessoas obcecadas pela criminalização do Lula, mesmo diante da concreta falta de provas, grita em minha mente a força de reprodução, por esses midiotas, do discurso Odete Roitman. Lembro de um dentista dizendo: “devem prender mesmo, mesmo não tendo achado nada, mas ainda vão achar”. Voltaire dá cambalhotas no túmulo: estamos na presunção da culpa.
Em 2015, com a Dilma reeleita, a Globo fez uma novela, “A Regra do Jogo”. Assisti o Jornal Nacional do dia de estreia, que fez uma retrospectiva da Lava-Jato de mais de 15 minutos. Nela o juiz Moro aparecia, sempre muito editado (como sempre), dizendo a cada três frases que “a regra do jogo dessa organização criminosa”seria isso ou aquilo, fazendo um evidente trabalho de publicidade da novela no jornal da Globo de forma pornográfica para um funcionário público. Trabalhou para a globo, no que já é chamado de “justiça globeleza”, por seu servilismo e exibicionismo midiático.  Envenenando corações e mentes, num processo macabro de desprezo pela sobriedade e neutralidade que deveria ter um juiz, gerando o clima punitivista inquisitorial seletivo do Brasil do golpe que vivemos.
Tal envenenamento é fruto do Monopólio midiático gerando uma hegemonia do ódio ao Brasil, inclusive ao capitalismo brasileiro. Hoje a direita militante, sob orientação e treinamento internacional, trabalha para competir com e destruir a esquerda no campo cultural. Este fenômeno atual tem produzido as consequências mais tóxicas e destrutivas para o Brasil, institucionalizando o discurso Odete Roitman como único. Assim buscam nacionalizar a corrupção, que é sistêmica em qualquer país capitalista: EUA e Inglaterra mentem na ONU para fazer Guerras para suas empresas, mas para os midiotas do Brasil, corrupto é o Lula por levar empregos e internacionalizar as empresas brasileiras (não levar Guerras)[13]. Aceitam o absurdo da prisão dele “porque ele deve ter recebido propina.”. Explique para qualquer americano ou inglês isso: condenar porque “eu acredito que deve ter acontecido”.
A inércia do PT em reagir, mesmo juridicamente, contra pessoas que em vários “programas de TV” (como um recente Roda Viva, que foi um debate sobre o Brasil atual) dizem e repetem sem provas ou evidências de nada que: “o PT, PMDB e PP organizaram a maior quadrilha para assaltar o Brasil”. Tal repetição xerocada me assusta: são profissionais que não demonstram honestidade. Querem agradar chefes, servindo ao Tsunami de ódio que destrói a República. A desonestidade mais evidente dessa receita de acusação sempre repetida a serviço de criar uma opinião pública punitivista envenenada, é o fato de que a “quadrilha” expulsou o PT ao fazer o impeachment da Dilma. E o fizeram com o PSDB e DEM. Logo, há uma falha Lógica nessa acusação sem provas sempre repetidas por alguns: se PT, PMDB e PP são uma mesma quadrilha, por que expulsar a Dilma e governar PMDB PP, mais DEM e PSDB? Respondo: porque  tal acusação é desonesta, a serviço de alimentar um clima de ódio mentiroso, criado pela lava-jato com a mídia.
Esse clima de envenenamento antinacional esquizofrênico tem gerado círculos bizarros de ódio, nos quais busca-se uma construção do inimigo, no Brasil, hoje, análoga ao o que os nazistas fizeram com os judeus, pondo os “petistas” no pelourinho pós moderno. Curiosamente no Brasil o fascismo é, caso único no mundo, xenófobo contra o próprio povo: é a autoxenofobia. Grupos extremistas proliferam, sendo tais falanges vanguardas macabras dessa onda fascista. Mas a onda se alimenta de uma constante manifestação de desprezo nacional expressa regularmente nessas novelas, nessa indústria cultural que manipula corações e mentes de forma perigosa.
No atual Golpe a direita busca uma assustadora hegemonia Total, controlando além do poder político e econômico, o poder cultural. Aonde almejam impor uma narrativa única, de ódio ao Brasil típico do discurso Odete Roitman, marcada pela mais torpe desonestidade intelectual, sem o menor embaraço frente às mentiras de “suas ideias que não correspondem aos fatos”. Que se mude a História a força. O único Totalitarismo que ameaça o Brasil é o da direita. E de forma aterrorizante: ele não está muito longe do sucesso.
CRISTIANO ADDARIO DE ABREU
BRASIL CULTURA

UNE Volante chega ao Recife para debater política, educação e cultura na universidade


Hoje sexta-feira (27) o Campus Recife da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) recebeu a UNE Volante, onde promoveu atividades de arte e cultura gratuitamente para estudantes tanto da própria instituição como de outras universidades que estejam interessados em participar. A UNE Volante é parte da campanha “Universidade não se vende, se defende”, encabeçada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade representativa dos estudantes universitários do Brasil. A atividade vai circular por 13 universidades em 11 estados brasileiros. Pernambuco é o terceiro estado do percurso.
Em cada estado a UNE Volante traz uma temática diferente para ser debatida e praticada através de oficinas. O tema escolhido para Pernambuco é a cultura, pensando o papel da universidade como espaço de produção cultural e de elaboração de políticas públicas para a cultura. A principal atividade do dia 27 ocorre no auditório do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA), a partir das 9h da manhã: uma mesa de debate com a presença da presidenta e vice da UNE, além de artistas pernambucanos e pensadores da cultura do nosso estado.
À tarde será de oficinas de produção de cultura, teatro, literatura, música, dança e turbante, além de uma homenagem ao Movimento de Cultura Popular (MCP), encabeçado pelo pedagogo pernambucano Paulo Freire entre os anos 1950 e 1964, centrado em alfabetizar as camadas mais pobres através da arte e cultura populares. Ao fim do dia haverá uma noite cultural com shows gratuitos dentro da universidade.
A estudante de teatro Rosa Amorim destaca o papel da arte nesse momento histórico do Brasil. “Nesta conjuntura política o diálogo entre os estudantes se faz extremamente necessário, porque precisamos debater o projeto de universidade que queremos para nós e para as próximas gerações. Mas como fazer o debate político chegar ao máximo de estudantes? Através da arte e da cultura. E isso tem tudo a ver com o que é a UNE Volante”, pontua Amorim.
A frente da construção dessa passagem da UNE por Pernambuco está a União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), entidade estadual de representação dos estudantes universitários. A presidenta da UEP, Manuella Mirella, vê a passagem da UNE Volante no estado como algo histórico. “Em tempos de repressão, retirada de direitos e ataques à democracia, nós trazemos o debate político para dentro da universidade e mostramos que somos filhos deste momento histórico, uma época que pede política. É colocar a política no centro do debate”, diz Manuella. “Precisamos politizar a universidade. Este é o nosso maior desafio e será o nosso maior ganho”, completa a estudante, que fez questão de lembrar da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 395, de 2014, que propõe o pagamento de mensalidades nas universidades públicas.
Inquietações
Ela destaca ainda que, no contexto da UNE Volante, algumas universidades do estado também sediam o Festival Inquietações. “O festival também dialoga muito com a temática escolhida pela UNE para Pernambuco, porque apontamos a ausência de espaços de cultura nas universidades. Outras têm esses espaços, mas os estudantes não podem utilizá-los. É algo que precisa ser regulamentado, porque no momento muitas universidades não permitem atividades culturais”, diz Manuella. “E no nosso estado isso é fundamental, porque temos uma relação muito forte com o que já foi chamado de ‘folclore’, mas que hoje é reconhecido como cultura popular. Essa cultura é um caminho para debatermos nossa história e a política”, completa.
Para ambas as entrevistadas, construir na UFPE a passagem da principal entidade de representação estudantil do país é um desafio extra, porque a UFPE, apesar de sua importância, não tem um histórico recente positivo em relação à representatividade estudantil. “A UFPE é uma universidade que está há mais de 7 anos sem Diretório Central de Estudantes (DCE). E esta universidade receber a UNE Volante neste momento é dizer para os estudantes que este é o momento de nos organizarmos, de escutarmos uns dos outros as principais questões que envolvem a nossa vida na universidade”, diz Rosa. “Precisamos fazer o debate político através da arte e cultura enquanto despertamos o sonho de uma nova sociedade”, avalia Amorim, que também é militante do Levante Popular da Juventude.
Para ela, já passou da hora de os estudantes se organizarem para enfrentar os desafios. “O momento do Brasil é de extremo ataque a esse projeto de educação que busca incluir as camadas mais pobres na universidade. Então precisamos retomar o movimento estudantil, porque precisamos impedir a retirada de direitos na educação. Não podemos ficar parados assistindo isso acontecer”, reclama Amorim. “Marcar esse espaço na UFPE mostra que queremos construir um DCE também aqui. Através de um Diretório Central é muito mais fácil dialogar com os estudantes”, completa Manuella, que milita na União da Juventude Socialista (UJS).
De acordo com as entrevistadas, durante a semana haverá atividades de mobilização de estudantes para participarem do evento na sexta-feira (27). E a mobilização não se restringe à UFPE. Na vizinha UFRPE já foi realizado, na última quinta-feira (19), o Festival Inquietações. Segundo a presidenta da UEP, também está confirmada a chegada de um ônibus saindo de Caruaru e trazendo estudantes da região Agreste para participar do evento.
A UNE Volante surgiu na década de 1960, durante o governo popular de João Goulart, já no contexto de polarização e tensão pré-golpe militar. Naquele momento a UNE circulou o Brasil debatendo a reforma universitária e, na opinião de Rosa Amorim, “praticamente fundando o movimento estudantil em vários centros de ensino”, já que teve centralidade em estimular a fundação de centros acadêmicos (CAs), diretórios acadêmicos (DAs) e diretórios centrais de estudantes (DCEs). Como a atividade deste ano está inserida no contexto da campanha em defesa de universidades públicas, gratuitas e de qualidade, os locais escolhidos para sediar a UNE Volante são as universidades públicas.
UEP Itinerante reproduzirá modelo
A entrevistada Manuella Mirela pontuou ainda que a entidade estadual deve circular todas as regiões de Pernambuco realizando festivais culturais e trazendo debates políticos urgentes para os estudantes. “Sabemos as dificuldades da UNE para circular todas as universidades do país. Então também cabe a nós fazer com que o debate alcance os estudantes que não poderão participar da UNE Volante”, diz a estudante. O lançamento da UEP Itinerante ocorre no dia de atividades da UNE Volante, passando posteriormente noutras cidades. De acordo com a entrevistada, o roteiro ainda não está fechado, mas o plano é passar em pelo menos uma universidade de cada região.
Edição: Catarina de Angola
Fonte: Brasil Cultura
Adaptado por CPC/RN