Cucciola e Volonté, magníficos...
Foi um
verdadeiro achado, o filme certo no momento exato: acabo de encontrar novamente
disponibilizado no Youtube, agora com legendas em espanhol, a obra-prima
de Giuliano Montaldo, seguramente uma das melhores reconstituições
cinematográficas de um assassinato de inocentes pela via judicial em todos os
tempos:Sacco e Vanzetti.
A dramaticidade do episódio se deve a
ter sido um dos piores assassinatos legalizados cometidos pela Justiça
estadunidense em todos os tempos: um sapateiro e um peixeiro italianos foram
condenados à pena capital, sem provas, por um latrocínio ocorrido em abril de
1920.
A evidente tendenciosidade do tribunal
de Massachussetts causou enorme indignação –manifestações de protesto reuniram
multidões por todo o mundo, um sem-número de celebridades e juristas deram
declarações candentes e até o Papa tentou evitar que eles fossem executados.
Tudo inútil.
O fato de serem ambos anarquistas havia
sido o fator preponderante para sua condenação –os EUA viviam um período de
histeria anticomunista após a revolução soviética de 1917– e a inevitável
politização do caso acabou determinando a não aceitação, por parte do tribunal,
de provas e de uma confissão que os inocentavam.
Ou seja, quando surgiram gritantes
evidências de que os crimes haviam sido cometidos por bandidos comuns, as
autoridades já tinham ido muito longe e preferiram perseverar no erro do que o
admitir honestamente. Cometeram homicídio premeditado, portanto; elas sim
mereciam a cadeira elétrica!
Em agosto de 1927, após mais de sete
anos de tensão e sofrimento, foram eletrocutados. Meio século depois, o governador
do Massachussets reconheceu-lhes oficialmente a inocência.
Esta saga foi levada às telas em 1971
pelo diretor e roteirista Giuliano Montaldo, um especialista em cinebiografias
e dramas que têm acontecimentos históricos como pano de fundo (Giordano
Bruno, Deus está conosco, L'Agnese va a morire, L'addio
a Enrico Berlinguer, a mini-série Marco Polo, etc.).
Ele foi feliz em apresentar uma síntese
bem essencializada do caso, sem prejuízo da sua enorme carga emocional. E teve
a felicidade de contar com uma dupla de atores magníficos, extremamente
identificados com seus papéis (Gian-Maria Volonté e Riccardo Cucciola); e com
mais uma trilha musical memorável do gênio Ennio Morricone, incluindo a
felicíssima escolha de Joan Baez para interpretar as três partes da Balada
de Sacco e Vanzetti e o tema final, Here's to You.
Na minha opinião, o Caso
Battisti foi um Caso
Sacco e Vanzetti que,
pelo menos por enquanto, acabou bem. A tendenciosidade dos dois relatores do
processo no STF (primeiramente Cezar Peluso e depois Gilmar Mendes) foi, p.
ex., idêntica à dos promotores estadunidenses.
E o empenho de reacionários poderosos,
no sentido de que o assassinato de ambos servisse como exemplo para intimidar
os movimentos de inconformismo com as injustiças sociais que estavam pipocando
nos EUA, também tem tudo a ver com a santa aliança que aqui se formou para
impingir uma narrativa falsa e justificar o que seria uma decisão tão infame
quanto a entrega de Olga Benário aos carrascos nazistas no século passado.
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Vejam e avaliem. É um filmaço!
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