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segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Vai Malandra: Anitta, subversão, afroconveniência e mercado

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Por Victória Damasceno
A combinação, por sua vez, divide a cena com as pernas da cantora, que em um enquadramento privilegiado destaca seu andar, sua bunda, suas pernas com celulite e seu cabelo trançado até a altura do quadril.
“Vai malandra, an, an. Ê, tá louca, tu brincando com o bum bum, an, an”. A fala de Mc Zaac acompanha a abertura do novo single de Anitta, cuja parceria com o rapper Maejor, Tropkillaz, DJ Yuri Martins, e o próprio Mc, finaliza o projeto Check Mate.
Com foco nas parcerias internacionais, o pacote do Check Mate incluiu o lançamento de quatro novas músicas, que misturam ritmos brasileiros, música pop e conta com a participação de artistas estrangeiros. Com isso, busca consolidar a carreira da funkeira do bairro de Honório Gurgel no mercado internacional.
Em meio à chuva de visualizações, um novo boom. A volta para a favela do Vidigal, o retorno ao funk, ao pancadão e a participação de personagens da própria comunidade deu a cantora a marca de 14 milhões de visualizações no YouTube em apenas um dia, gerando críticas, elogios e textões sobre a forma que a própria cantora, os moradores e a comunidade foram representados.
Anitta começou pelo fim. Antes de lançar a primeira música do projeto, vazou imagens de Vai Malandra, em que ela tomava sol em uma laje com fitas isolantes simulando um biquíni no corpo. Enquanto o público esperava por este clipe, a artista preparava o terreno com outros lançamentos. Will I see you, o abre alas da sequência, apresenta uma bossa nova cantada em inglês, em parceria com produtor Poo Bear, conhecido por trabalhar com Justin Bieber, Usher e Chris Brown.
Um mês depois, a música eletrônica Is that for me lança Anitta no mercado pop. Para atingir o público latino, Anitta apresenta o single Downtown, cantado em espanhol em parceria com J. Balvin, intérprete e compositor colombiano que deu à produção o toque do raggaeton, ritmo latino mais ouvido nas plataformas de streaming. Até o último lançamento, a cantora já acumulava 10 milhões de novos ouvintes no Spotify através do projeto Check Mate.
A criminalização do funk

Alvo de discussões, as críticas passam longe da letra de Vai Malandra. O clipe é marcado pela favela como protagonista das imagens. Em uma visão romantizada, a artista apresenta as ruas estreitas e esburacadas da comunidade, o mototáxi, os bares, além das lajes reservadas para o banho de sol, onde as mulheres desenham biquínis com fita isolante e por horas buscam o bronzeado ideal.

O protesto também está presente. Sua subida na garupa do mototáxi, com a bunda como centro da cena, revela também a placa da moto “ANT 1256”: trata-se de uma referência ao projeto de lei de criminalização do funk, proposto pelo empresário Marcelo Afonso.
A apresentação sexualizada do corpo feminino no clipe ecoa o próprio funk ostentação, no qual cantores de funk exibem condomínios de alto padrão, carros de luxo, dinheiro e jóias.
Enquanto nesta estética os homens são o centro das relações, o clipe de Anitta também sexualiza o corpo masculino: musculosos de sunga, molhados na piscina e com enquadramentos que privilegiam o formato de seus órgãos sexuais. Em uma forma de subversão, a cantora utiliza estereótipos femininos colocados como negativos para reivindicar o poder sobre o próprio corpo.
Anitta peferiu manter as celulites no clipe, e proibiu qualquer tipo de edição do seu corpo nas imagens
Costumes da juventude da periferia brasileira são destacados pelo olhar americanizado da cultura pop, que pode ser justificado pela direção de Terry Richardson, acusado de assédio sexual por modelos que fotografava quando trabalhava nos editoriais de moda.

Por outro lado, o protagonismo do filme é das mulheres do próprio Vidigal e de Anitta, que exigiu o fim de qualquer tratamento de imagem em relação à realidade de seu corpo, deixando à mostra as celulites, estrias e outros aspectos que o olhar (masculino) poderia enxergar como imperfeições.
A ótica americana, porém, também é de uma empresária que busca encantar o mercado internacional. Seguindo a lógica dos grandes símbolos do pop americanos como Snoopy Dog, Pharrell Williams, Michael Jackson, e a bandas U2 e Black Eyed Peas, ela utiliza a favela do Rio de Janeiro como cenário para sua produção.
O que a difere, porém, é falar sobre uma realidade vivida por ela.
Anitta alia as particularidades do Rio de Janeiro, ainda que em uma visão romantizada, o funk como identidade e a parceria com o rapper americano Maejor para apresentar um produto com a aprovação do público brasileiro, usado como base para alçá-la à carreira internacional.
Do samba ao funk: a voz dos excluídos

A questão racial de Anitta também foi alvo de polêmicas. No início da carreira, a funkeira recebeu críticas por “embranquecer” sua estética. Uma reportagem do jornal inglês The Guardian, publicada em 2013, afirmou que a artista teria feito procedimentos para clarear a pele. Ela classificou a declaração como “inveja”. “Lógico que não fiz nada disso, gente! Meu pai e a família dele são negros lá de BH (Minas), e a minha mãe é branca, da Paraíba. É que estou sem tempo de ir à praia. Quando eu for, você vai ver: volto neguinha”, afirmou em entrevista ao site R7.

Terry Richardson

As primeiras três produções de seu novo projeto, entretanto, não destacam a temática racial. Nas produções de Will I see You, Is that for me ou Downtown, Anitta não apresenta qualquer relação com pautas que valorizem seu recente reconhecimento enquanto mulher negra, características valorizadas por cantoras como Beyoncé ou Rihanna.

Após sua entrada no mercado internacional, de carona nos discursos sobre as temáticas raciais, seu reconhecimento enquanto negra é entendido como uma “afroconveniência”, já que, como uma mulher latina e não-branca, Anitta precisaria encontrar um nicho dentro do panorama pop musical para que pudesse ter sua identidade reconhecida. Daí a aparentemente repentina adesão ao cabelo trançado ou crespo, e ao corpão bronzeado.
A arquiteta ativista Stephanie Ribeiro, por meio de uma postagem em sua rede social, afirma que o fato de Anitta ser uma mulher de origem periférica a torna apta a falar desta temáticas sem precisar “emular” algo. “Fora desse clipe em questão, ela vende uma imagem de nariz afinado, cabelo liso escorrido até a bunda e nenhuma celulite aparente.” Para ela, até mesmo a opção de mostrar a “beleza real” faz parte da performance.
“Até aquela bunda com celulite no começo do clipe faz parte da performance da ‘periférica’ feita no clipe. A mesma bunda com celulite não aparece naquele clipe dela semi nua cantando em inglês”, conclui a ativista, ao afirmar que “identidade racial não é fantasia”.
A estratégia do projeto Check Mate, encerrado com a produção de Vai Malandra, apresenta ao mundo uma artista que busca contemplar as ânsias de diversos públicos.
Para o bem ou para o mal, Anitta é a única brasileira na lista dos 50 artistas mais influentes do mundo segundo a Billboard. Em 2017, foi o nome brasileiro mais procurado nos sites de busca. Ganhou até do Neymar.
Carta Capital

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