Achavam, muitas vezes, que estavam indo para os EUA, mas acabavam no Brasil ou na Argentina (Foto: Reprodução)
Os portos de Trípoli, no Líbano, de Gênova, na Itália, e Rio de Janeiro e Santos, no Brasil, fazem parte desta história
Os cristãos sempre foram a grande maioria de imigrantes árabes. Porém, alguns islamitas podem ter até chegado antes deles ao Brasil. Os primeiros vieram no período colonial. Uma boa leva era formada de escravos convertidos ao Islã. Eram chamados de malês. Concentrados na região de Salvador (BA), a participação dos malês nas reformas contra a escravidão está documentada.
Existe material sobre o tema no Arquivo Público da Bahia. Mas a atual presença muçulmana no Brasil remonta à segunda metade do século 19, com a imigração de sírios e libaneses portadores de documentos emitidos pela administração do Império Otomano, o que explica a denominação “turco” para todos os imigrantes árabes.
A maioria dos que vinham tanto do Líbano, quanto da Síria e de outros países árabes, porém, era de cristãos maronitas e também de católicos ortodoxos. Poucos islamitas.
Visita de Pedro II
A emigração de sírios e libaneses cresceu depois de 1860. Este processo se acentuou depois que, em 1877, D. Pedro II visitou a Síria, o Líbano e a Palestina, explica Denise Crispim, gerente de pesquisa do Centro de Estudo Family, de São Paulo.
“Os motivos principais foram as duas guerras mundiais, as crises econômicas do período, a falta de trabalho. Eles eram chamados de turcos, mas tiveram suas nacionalidades resgatadas”.
As estatísticas mostram que o fluxo de imigrantes não cessa de crescer até à véspera da Primeira Guerra Mundial: mais de onze mil pessoas foram registradas em 1913. Nos anos 1920 e até a Grande Depressão, em 1929, contava-se em torno de cinco mil entradas por ano.
No recenseamento de 1920, o Estado de São Paulo apresentava cerca de vinte mil sírios e libaneses, aproximadamente 40% do total nacional (os demais estavam instalados nos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais). Numerosos grupos se estabeleceram no interior de São Paulo e no litoral paulista.
Esses imigrantes iniciaram sua vida como mascates nas pequenas cidades e nas fazendas. Depois, se estabeleceram com pequenas “vendas” que evoluíram para grandes lojas e até pequenas indústrias.
O imigrante se estabelece, cria família, se mescla com a população local e passa a viver o cotidiano dos brasileiros tomando-lhes os hábitos, mas também, conservando suas tradições.
São várias as causas que levaram os árabes cristãos a emigrar em massa. Entre elas, destaca-se a intolerância política dos otomanos, a pobreza do país gerada pela economia insustentável, a incapacidade de alcançar um alto nível educacional e a falta de oportunidade de trabalho em seu país de origem, além da perseguição religiosa.
Foi troca de ‘riquezas’
“Se por um lado a emigração foi um mal necessário para a população e para o país que perdeu força de trabalho, por outro este êxodo representou um alento para os que lá ficaram. Os imigrantes transferiram, para o seu país de origem, grandes somas em dinheiro, um apoio econômico de grande valia para o país”, anota Denise Crispim. A gerente do Family acrescenta que a presença árabe na América Latina representa uma força para os interesses e relações comerciais e políticas com os países deste continente, em especial para o Brasil. O imigrante árabe representou um importante papel na distribuição da produção industrial e sua comercialização pelo interior do país, com a venda, de casa em casa”.
Foi o imigrante árabe que trouxe para o Brasil novas técnicas da industrialização da lã, seda e algodão. Depois da 2ª Guerra, os fios sintéticos foram introduzidos pelos alemães e japoneses.
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