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segunda-feira, 5 de março de 2018

Atriz Tônia Carrero morre aos 95 anos

No mesmo solo narrou, para delícia do público, a paixão do escritor de Rubem Braga por ela, ‘resolvida’ num namoro meteórico. E contou ainda que mesmo Drummond, o mineiro reservadíssimo, não resistiu ao galenteio ao conhecê-la na ‘casa do Aníbal’. Mas nem tudo era festa. Tônia tinha ambições. Formada em Educação Física, queria ser atriz, mas ninguém levava tal projeto a sério. Em uma época de raras escolas de teatro, deixou o filho pequeno com a babá e partiu para a França, onde fez um curso livre de iniciação teatral com Jean Louis Barrault.
De volta ao Brasil, fez testes, tentou atuar, mas ninguém lhe deu um papel. Só no cinema conseguiu atuar, no filme Querida Suzana, com direção de Alberto Pieralisi. Em 1949 volta a filmar, sob direção de Fernando de Barros, em Caminhos do Sul. Com ele, funda sua própria companhia teatral em 1949 e tenta convencer o ator amador e advogado Paulo Autran a entrar para o grupo. Mas ele não pretendia se profissionalizar, ganhava muito bem como advogado, estava satisfeito, o teatro era secundário em sua vida. Numa última cartada, ela pediu-lhe que estipulasse seu salário. Para se ver livre do assédio, Autran pediu um valor absurdamente alto, e ela pagou. Mais tarde, já consagrado, ele repetiria muitas vezes essa história, ao recordar sua longa carreira.
Assim, ambos, Tônia e Autran, que se tornariam ‘amigos para sempre’ estrearam juntos, profissionalmente, na peça Um Deus Dormiu Lá em Casa, de Guilherme Figueiredo, sob direção de Silveira Sampaio. Ambos receberam prêmios de revelação e a trupe ganhou fôlego. No ano seguinte, Ziembinski foi convidado para dirigir o espetáculo Amanhã se Não Chover, de Henrique Pongetti. E no outro ainda, o trio – Tônia, Barros e Autran – se transfere para São Paulo para atuar na Cia. Cinematográfica Vera Cruz e no Teatro Brasileiro de Comédia, ambos empreendimentos do italiano Franco Zampari.
(Foto: Reprodução)
Na Vera Cruz atuou em filmes importantes na época como Tico Tico no Fubá, sob direção de Adolfo Celi e Apassionata, de Fernando de Barros, ambos de 1952. O cinema não foi sua principal forma de arte, mas ainda assim até 1977 já tinha participado de 13 filmes. No TBC atuou sob a direção de Adolfo Celi – Uma Certa Cabana e Uma Mulher de Outro Mundo, e novamente sob a batuta de Ziembinski, em Candida, peça de Bernard Shaw, no papel título. Casou-se com Celi e um novo trio se forma para a fundação da Cia. Tônia-Celi-Autran. O repertório eclético, iniciado com o clássico Otelo, passando por Entre Quatro Paredes de Sartre e Seis Personagens à Procura de um Autor, de Pirandello, permitem a atriz um aprimoramento reconhecido pela crítica.
Tal amadurecimento não passou despercebido pela crítica da época. “Ela foi afiando pacientemente o seu instrumental interpretativo, revelando progressivamente uma sensibilidade, uma intuição e uma gama de recursos que lhe permitem abordar papéis frontalmente opostos à sua imagem padronizada”, escreveu o crítico Yan Michalski. Desfeita a companhia, cria sua própria empresa e segue atuando. Em 1968 surpreende ao despojar-se de sua beleza e elegância para encarnar a prostituta Neusa Suely numa montagem de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, dirigida por Fauzi Arap, a quem ela reputava como um de seus mestres na fase da maturidade. Atuação que lhe vale os principais prêmios do ano, entre eles o prestigiado, e cobiçado, Molière.
Além dos já citados, ao longo da carreira de seus 60 anos de carreira, levou ao palco autores como Tennessee Williams (Doce Pássaro da Juventude), George Feydeau (A Dama do Maxim’s), Shakespeare (Macbeth), Ibsen (Casa de Bonecas), Marguerite Duras (A Amante Inglesa) e Dürrenmatt (A Visita da Velha Senhora). E atuou sob a direção de Flávio Rangel, Gianni Ratto, Domingos de Oliveira e Antunes Filho.
Tônia Carrero em foto de 1955
(Foto: Cedoc/Funarte)
Em meados da década de 80 inicia uma fase de experiências mais ousadas com ao interpretar Quartett sob direção de Gerald Thomas, trabalho que lhe vale o segundo Prêmio Molière. Três anos depois, arrisca-se numa nova linguagem, em atuação coreografada, sob direção de Marcio Aurelio no espetáculo Esta Valsa É Minha, de William Luce. Outros jovens diretores entrariam em sua vida a partir daí. Em 1999, Eduardo Wotzik, na encenação de Um Equilíbrio Tão Delicado, de Edward Albee e, no ano seguinte, Élcio Nogueira, em O Jardim das Cerejeiras, de Chekhov, montagem na qual contracena com Renato Borghi.
Em 2005 volta a ser dirigida por Fauzi Arap, também autor, na peça Chega de História!. na qual, curiosamente, retoma não só a parceria bem-sucedida em Navalha na Carne, mas também uma atitude. Como fizera para viver Neusa Suely, mais uma vez se despoja de sua natural vaidade para encarnar a professoria Dona Filó, vestida de forma muito simples. “Ela não tem nada a ver comigo e isso foi o que me motivou”, disse em entrevista ao Estado.
A carreira no cinema foi menos intensa, mas só em 1988 participaria de três filmes: A Bela Palomera, de Ruy Guerra; Fogo e Paixão, de Isay Weinfeld e Marcio Kogan e Sonhos de Menina Moça, de Tereza Trautman. O papel de Dona Alice, em Chega de Saudade, de Laís Bodansky foi o mais recente nas telas do cinema. Já na telinha participou de 15 novelas, desde sucessos como Pigmaleão 70, Uma Rosa com Amor, Água Viva, Sassaricando e Senhora do Destino. Título, aliás, que bem poderia defini-la.
Depois de 60 anos de trajetória em palcos e telas, do cinema e da TV, Tônia Carrero tinha motivos para se orgulhar da atitude corajosa e da persistência de Mariinha. Só lamentava, em entrevistas, o inevitável envelhecimento. Saudade, só da beleza estonteante da juventude. Nada mais compreensível.

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