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domingo, 15 de julho de 2018

Idiossincrasias

até certo ponto, o roberto foi racional e calculista mas, no dia de sua morte, começou a perder a razão quando telefonou para idalga e disse a frase que poderia comprometer todo o fio de relacionamento ainda restante: “eu li as mensagens.”, disse.
Por Luiz Henrique Dias*
Luiz Henrique Dias
e leu mesmo, sabia de tudo, da paixão dela pelo Robson, dos gozos – inexistentes em seu casamento -abundantes nos encontros dela com o amante, da intenção dela em pedir o divórcio e de como lutava para achar uma forma de conseguir terminar sem conflitos. “afinal, foram doze anos”, sempre repetia ao amante amado. ao dizer a ela ter lido, o silêncio ao telefone era quase uma pintura do mar depois da ressaca, um espaço eterno, um compasso mudo, e foi ela quem – enfim – pontuou “pois bem, se sabe, o que eu devo dizer?”, “que me ama e que vai abandonar o robson. por mim.”. era tudo que ela não queria. teve a certeza sempre de que, se ele soubesse de algo, iria embora, não suportaria a traição, até se mataria, mas nunca que iria pedir a ela deixar o amante e ficar. agora ela precisava ser certeira nas palavras. “quero o divórcio”, disse ela, que ouviu o telefone desligar. um misto de preocupação e conforto. “ele vai se matar”, pensou. e ele ia: caminhou até o quarto, abriu as portas dos guarda-roupas, jogou tudo no chão, tudo, todas as histórias, as vestes da mulher que conheceu numa manhã de chuva, numa feira, comprando enquanto ele vendia alhos, colocou tudo em um círculo formado por tecidos coloridos e lembranças. foi à cozinha, pegou o álcool, entrou no círculo e jogou o combustível nas roupas. ateou fogo. abaixou as calças e gritou “agora você vai gozar pela última vez!” e, num ritual somente seu, e mágico, se masturbou pegando fogo, a pele e alma queimavam e o gozo não chegou a tempo de perder o controle do braço e morreu com as mãos agarrando as lascas queimadas do piso de madeira. lá fora, um carro vendia morangos.
*Luiz Henrique Dias é escritor. As frases todas iniciadas em letra minúscula é uma opção estética do autor

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