Addis Abeba, (Prensa Latina) A alguns lhes vê chegar esgotados e invadidos pelo medo à costa europeia, outros levarão consigo seu anseio ao fundo do Mediterrâneo, mas todos têm hoje um objetivo em comum: fugir da pobreza.
Para os especialistas, conhecendo alguns detalhes relacionados com a África talvez possa ser compreendido melhor a corresponsabilidade no drama humano deste continente.
É verdadeiro, a maldição africana vem de suas riquezas naturais; a região abriga 99% do cromo mundial, 85% do platino, 70% das tentalita; 68% do cobalto, 54% do ouro, destacou o sociólogo Meseret Behailu.
Também tem reservas significativas de petróleo e de gás, e grandes quantidades de bauxita, diamantes e madeiras tropicais.
A exploração de mão de obra infantil para extrair o coltán, que é fundamental para a fabricação de telefones móveis, é um dos desafios aqui, assegurou Behailu.
Alguns, como o comentarista Dargie Kahsay, qualificam a África como o supermercado do mundo, mais exatamente das multinacionais. Mas nesse contexto, situa 38 países entre os 50 menos desenvolvidos do mundo.
A maioria dos governantes são ricos, ainda que não estão nada interessados em ajudar a fazer melhor a vida dos cidadãos, não chegam até eles: perdem-se entre as elites locais, os senhores da guerra e as trasnacionais mineradoras, detalhou Kahsay.
O especialista recordou que no ano passado se reuniu em Johannesburgo, África do Sul, o Tribunal Permanente dos Povos, para examinar e denunciar o espólio.
As deliberações constataram que a influência e a impunidade empresarial afetam cada vez mais às comunidades, sobretudo em zonas rurais, onde se produzem grande parte das expropriações de terras.
Os analistas consideram que tudo isto se remonta ao tempo em que os poderes coloniais se repartiram o continente para alimentar com seus recursos as economias.
O Tribunal afirmou que nos últimos anos se deu uma nova onda de açambarcamento, depois de uma crise alimentar global que se caracterizou pelos elevados preços e a necessidade de energias renováveis alternativas como os agro combustíveis, considerados erroneamente uma solução aos desafios na ordem climática.
Assim, por toda a área se estendem agroempresas que compram terras em condições muito vantajosas; as multinacionais ganham acesso a solos férteis e a corredores agrícolas com a conivência de líderes corruptos, referiu o economista Haile Demeke.
Quando as potências se repartiram estes territórios no final do século XIX, os contingentes militares não tinham papéis, não chegaram em bateiras; impuseram a lei da violência: ocupação e colonialismo, escravatura, manifestou, por sua vez o professor de Relações Internacionais, da Universidade de Addis Abeba, Alemayehu Kassa.
Para os observadores, a história africana está infestada de saque e de exploração violenta dos povos por parte de potências estrangeiras enriquecidas à custa do sofrimento e da destruição.
A organização não governamental Oxfam Internacional em um relatório assinala que em 2010 -último ano do que se têm dados contrastados- as entidades estrangeiras evitaram pagar 35 bilhões de euros.
Se este dinheiro tivesse sido investido em educação e previdência, as sociedades progrediriam mais, pontuou Kassa.
O financiamento para o Desenvolvimento Sustentável da África devesse ser o objeto de uma conferência internacional que comprometa à totalidade de países, começando por aqueles que foram potências coloniais. Uma política de investimentos, planificada e vinculada às economias locais, seria muito beneficente, acrescentou.
A sua consideração, um esforço assim deveria ir da mão da agenda de equidade fiscal, assunto que deve ser visto conjuntamente por todos os fatores implicados.
A solução ao problema imparável da migração não consiste em abonar mais dinheiro a Marrocos, Tunísia e Líbia para que façam de gendarmes repressivos, mas em planificar investimentos focados em que nas nações de origem seja possível viver dignamente, realçaram os especialistas.
Na realidade é uma obrigação adquirida historicamente. Uma boa parte do que somos e de como vivemos está diretamente relacionado com o passado colonial, indicou Demeke.
Agregou que a melhor maneira de enfrentar a maré humana para Europa é a legalizar e deste modo a regular e libertar os migrantes das máfias, desde uma posição de acolhida ordenada e em regime cooperativo dentro da União Europeia e junto com outros Estados que também podem o fazer.
Fonte: patrialatina.com.br
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